- Doutor, eu estou morrendo. Estou me sentindo comprometido e desumanizado, eu perdi a minha última batalha para esta doença e sinto que é aqui que isso acaba.

  Um jovem precisando de um transplante de coração, caso não tenha ninguém disposto a ajudar, ele irá morrer, com apenas 25 anos de vida. Jimmy Sullivan, esse era seu nome.

- Ainda temos tempo, Jimmy. Fique calmo.

- Não, não há como ficar calmo! Você não está entendendo, sou eu que estou quase batendo as botas, não você, doutor! Ninguém nunca vai querer fazer um transplante de coração.

- Estamos vendo alguém disponível, calma.

- Estou cansado. Eu quero me sentir vivo de novo, doutor. Mas não quero que alguém tenha que doar seu coração para mim. Não quero que alguém se sacrifique.

- Temos a solução para o seu problema. Por um tempo, pelo menos.

- E qual é?

- Existe um remédio chamado Brompton Cocktail, você irá tomá-lo antes de dormir todos os dias. Isso vai fazer com que viva mais alguns anos. Aqui está a receita.

Jimmy se levantou da cama do consultório com mil pensamentos. É, não tinha jeito. Uma hora ou outra, ele iria morrer, era melhor já ir se conformando desde já.

- Tudo bem, obrigado.

  No caminho da farmácia, Jimmy pensou em muitas coisas. Na família, na irmãzinha mais nova que tanto amava, nos amigos, na banda. Ah, sua banda. Eles eram sua segunda família, como falar sobre seu problema para eles? Será tão difícil informá-los sobre tal tanto quanto será difícil ouvir.

  Quando Jimmy estava chegando a casa, não conseguia nem esconder a expressão de tristeza que estava estampada em seu rosto. Seu vizinho, guitarrista da sua banda e seu melhor amigo de infância, Brian, estava pela rua, logo que o avistou foi em sua direção. Jimmy tentou disfarçar, não estava pronto para contar essa noticia ainda. Talvez nunca ficasse pronto para isso, mas se fosse para contar, teria que ser com a banda reunida.

- Eaí Sullivan, como você ta? – Brian perguntou enquanto dava um tapinha nas suas costas.

- Eaí cara.

- Ta tudo bem com você?

- Ah… Só estou cansado. – odiava mentir para seu melhor amigo, mas era necessário.

- Certeza?

- Hum… Sim.

- Conta logo, o que houve? Brigou com a Leana de novo?

Droga, ele odiava quando Brian não caia nas mentiras dele. Isso que dá conhecer demais um ao outro.

- Não… É outra coisa. Um problema, na verdade. Um problema bem sério.

- Conte, então.

- Vem, vamos entrando.

  Jimmy abriu a porta da casa dele e checou se tinha alguém. Ninguém. Olhou para o quintal e viu sua irmã brincando com umas bonecas e sorrindo. Ficou parado por alguns instantes, observando a irmãzinha querida e então ele abriu um sorriso e deu um suspiro. Só de pensar que um dia vai ter que abandoná-la seu corpo já tremia todo. Olhou para as escadas tentando despertar esse pensamento. Foram para seu quarto. Brian deu uma olhada. Fazia bastante tempo que eles não subiam lá, as reuniões costumavam ser na casa do Matthew. Mas o quarto continuava o mesmo, cheio de pôsteres de todas as bandas possíveis, uma escrivaninha e um notebook, e o seu querido piano com uma foto da Leana em cima. E é claro, do lado uma caveira. Todos os membros da banda eram apaixonados por caveiras. Vai saber por que, né.

- Então cara… – Jimmy começou a sentir suas mãos suarem, isso sempre acontecia quando ficava nervoso. Brian olhou em seus olhos e esperou ele continuar.

- Você sabe que você é o meu melhor amigo e eu não consigo esconder nada de você, não é mesmo?

Brian fez que sim com a cabeça, sem abrir a boca, encorajando-o a continuar.

- Então… Quero confiar que esse assunto vai morrer aqui, ok?

- Tudo bem. Você sabe que pode confiar em mim.

- Ok. Bom, há um tempo eu venho sentindo uns sintomas ruins, eu estou mal. Mas não é uma doença qualquer, eu estou mal do coração. Eu preciso de um transplante, Brian.

Brian arregalou os olhos e ia interromper, mas preferiu deixá-lo continuar. Jimmy abaixou a cabeça.

- Eu estava com um especialista, eu vou ter que tomar um remédio para poder viver durante alguns anos.

- Alguns anos?

- Isso mesmo, Brian. Somente por alguns anos. – caiu uma lágrima dos olhos de Jimmy e os olhos de Brian fizeram o mesmo. Dizem que tudo que seu melhor amigo sente você também sente. Não é?

- Olha… A gente pode arranjar um transplante, quantas pessoas iriam fazer isso por você? Eu, por exemplo…

- Não! – Jimmy interrompeu os pensamentos dele – Não quero que ninguém faça isso para mim, entende? Eu tenho um remédio aqui, irei tomar até o dia de minha morte. Se for para ser assim, vai ser assim. Eu sei que você não pode concordar, mas essa decisão é minha, Brian. Me desculpe.

Jimmy se levantou e saiu do quarto deixando Brian sozinho. Ele não estava acreditando que seu melhor amigo ia morrer e ele não podia fazer nada a respeito.