O Jogo da Vida escrita por Machene


Capítulo 9
O Reflexo do Sucesso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/150584/chapter/9

Cap. 9
O Reflexo do Sucesso


Emília – Ah, fabuloso! Você vai ficar linda com este vestido! - mamãe e eu sorrimos.

Ela ergue o vestido verde-claro tomara-que-caia justo no busto e solto abaixo dele, com a barra presa como se estivesse rodeando o resto do tecido. Essa é a peça de roupa que a senhora Hyuga fez pra mim para o baile das debutantes. As meninas e eu estamos terminando de nos arrumar em uma sala atrás do palco do teatro estadual, para sermos apresentadas ao público mundial. Os repórteres já estão nos esperando com mais uma multidão de gente no salão.

Ser uma debutante, realmente, nunca foi importante para mim, mas agora, vendo o ritmo que a minha vida e as do time Hotter tomaram, já não parece tão ruim fazer coisas de mulher como essa. Nós abandonamos o nosso jeito e a nossa independência feminista. Pensando bem, eu até mais! E agora, vendo elas se arrumando e esperando ansiosamente pelos seus namorados acompanha-las, acho que dá pra dizer o quanto a intimidade com os meus conhecidos me afeta...

Gabriele – Obrigada mãe, mas... Eu não tenho acompanhante, então...

Emília – Bobagem! Você não precisa de um homem para usar um vestido lindo! – nós voltamos a sorrir e ela sai junto da senhora Hyuga.

Gabriele – Mas mal nem faz, né? – rimos enquanto eu termino de arrumar o cabelo da Sanae – Pronto; você tá linda! – gradativamente o nosso sorriso cai – Bom... Eu preciso tomar um pouco de ar. Volto logo... – antes que elas tenham tempo de argumentar contra, eu saio.

Graças a Deus as garotas resolveram o mal-entendido escutado por mim! Ah, mas quem ia imaginar que "Elas estão atrapalhando a nossa vida!" vinha seguido da frase "Não é ótimo terem feito isso pra nos tirar do tédio?"?... Tenho que me lembrar de pedir desculpas a eles por tê-las confundido. Bem, qual a importância agora? Eu estou rodando pelo jardim e vendo aqui do fundo a Natasha de braços dados com o Hyuga na entrada do teatro.

Afinal, se agora o Hyuga tá ao lado dela, eles devem ter voltado... Entendi a razão de todo o seu mau humor depois daquela quermesse até o fim do jogo de ontem; a Natasha o largou pra anunciar que tava tendo um falso namoro com o Justin. Quando eu fui dizer pra ela que resolvi por mim mesma desfazer a parceria com ele, Natasha voltou correndo e deve tê-lo convencido de que tudo era apenas um plano para chamar a atenção da mídia. E de fato era...!

Talvez fosse mesmo para terem ficado juntos, quem sabe... Eu não posso mais negar cada pensamento e impulso meu. Eu mudei muito por ciúme, porque gostei do Hyuga a partir do momento em que ele disse que eu sou teimosa, agitada e linda no seu ponto de vista. Claro que isso foi no meio de uma conversa dentro do avião partindo para Jyrdan... Agora essas palavras podem ter mudado para "teimosa, agitada e inconsequente".

E ele de quebra ainda acrescenta um "inconveniente"! "entes" a parte, o Roberto merece ter a mamãe e a Talita o tio Mark. O amor deles é puro. Quanto a mim? Venho mentindo para todos e até eu mesma a partir do instante em que pisei no campo do estádio da universidade Tilibra com mamãe e minhas amigas em busca de ajuda, pelo corte do time, e conheci o Hyuga. Bastou conviver umas semanas com ele e tudo começou: o meu inferno sentimental.

Eu não quis contar pra ninguém que gostava dele por ter consciência que estava gostando de um cara cuja personalidade é um buraco sem fundo. O meu desabafo do outro dia, saindo da casa dele depois de brincar com seus irmãos, explica bem o que eu vinha acumulando faz tanto tempo. Eu já estava planejando acabar com aquela parceria entre nós desde a quermesse. Esse comportamento dele ao longo dos dias apenas me ajudou a ter mais certeza de que fiz o certo.

Era a melhor escolha ir conversar com a Natasha... Lembrando-me daquela bonequinha de porcelana que a mamãe me deu, é afirmável comentar como sempre afastava os caras de mim. Cá entre nós, o Hyuga ia entender o meu desabafo? Naquela hora, um momento capaz de quase arrancar fora o meu coração, ele entendeu que com "eu odeio você" eu quis dizer...

Justin – Gabriele! – ai Pai, lá vem – Espera, não foge! – ele fica na minha frente.

Gabriele – Eu nem pensei nisso! – dou um meio sorriso e cruzo os braços – O que quer agora? Diz logo! – ele parece nervoso e está ofegante.

Justin – A gente não pode conversar um pouco? Sinto falta... – ok, chega!

Gabriele – Justin, "a gente" nem existe! A gente já conversou, não temos mais nada pra conversar! Voltarmos é uma ideia fora de questão por três ótimos motivos... – começo a contar nos dedos – Você dizia coisas legais sobre mim na minha frente, mas desmentia tudo na frente daqueles seus amigos exibidos, como quando falou que eu era melhor do que a metade dos caras do seu time e depois disse nunca ter falado isso quando eles estavam olhando!

Justin – Você não entende! Como capitão, eu não podia deixar que eles soubessem que eu achava a minha namorada melhor do que eles!

Gabriele – Se você dissesse que a sua avó era melhor jogando futebol do que eles eu até ia concordar, mas se tratando de mim, foi o mesmo que dizer que uma garota não pode superar os homens, porque eu estava tão em forma quanto qualquer um deles na época! – ele se cala e eu levanto outro dedo – Nas vezes em que eu já precisei muito de você, nunca estava lá! Vivia só saindo com aqueles seus amiguinhos.

Justin – Ah Gabriele, não era sempre assim, vai!...

Gabriele – Você acha que eu não me lembro do dia do aniversário de morte dos meus pais? Você estava lá? Eu acho que não! – ele volta a se calar e eu ergo meu último dedo – Para piorar tudo, você se sentia intimidado por minha causa no futebol. Por causa disso não queria deixar que eu jogasse! Admita! – aponto pra ele.

Justin – O que? Não! De todas as besteiras que você já disse, esta foi a pior de todas!

Gabriele – Então por que não me permitia jogar com o seu time e nem ia ver meus jogos?

Justin – Ei, isso não é justo! Eu já assisti a uns jogos seus, se não lembra! Eu só não ia a todos porque precisava treinar o time. Quando você se machucava no campo, eu sempre ia ver como estava se sentindo, e era justamente por isso que eu não queria vê-la jogando! Futebol é um esporte violento e eu não queria que você se machucasse! Eu pensei em você todo o tempo!

É a minha vez de ficar muda. Segundo Natasha, Justin gosta mesmo de mim. Por que eu acreditaria logo nela depois de tudo? Bom... Também não condeno sua atitude contando com o meu temperamento. Só faltou sairmos nos estapeando! Eu fiquei maluca assim porque estava muito confusa, mas ainda estou! Eu devia mesmo acreditar nele?

Gabriele – Ainda quer ficar comigo depois do campeonato? – pergunta bomba.

Justin – Quero! A Natasha não significa nada...

Gabriele – Eu sei! Você sabe que eu acelerei o fim daquele namoro de vocês por conhecer a mentira. Ela sempre quis o Hyuga e a mudança foi estranha.

Justin – Eu pensei que você tinha feito isso por nós...

Gabriele – Não mesmo. – tomo fôlego – Agora com licença que eu tenho um baile para ir. – eu passo por ele, mas logo sinto o meu braço sendo puxado.

Justin – Antes de você ir, responde uma coisa: vai voltar pro Hyuga? – não respondo de imediato, porém, viro para ele segundos mais tarde.

Gabriele – Consegue ver a Natasha ao lado dele? – solto o meu braço e aponto na direção dos dois – Os dois estão juntos novamente. Mas sabe qual é a única coisa que me deixa irritada mesmo com isso? É que eu vou precisar arranjar outro parceiro. Só isso.

Começo a andar na direção do casal. Não dá para fazer nada se eles estão bem no meio da passagem para entrar no teatro!... Mas antes de atingir meu objetivo, olho para a direita e vejo Rivaul parado perto da grade de proteção que cobre o teatro. Ele está olhando na minha direção. Suspiro lentamente e vou até ele.

Rivaul – Gabi... – ele sorri levemente e estende os braços. Eu seguro um soluço e o abraço – Não fique assim. Ele não vale a pena!

Gabriele – É sim, eu sei! Não estou triste por isso. – afasto-me para observá-lo – A Molly te mandou, não é? – ele ri e levanta as mãos em sinal de rendição – Diz pra ela e pras outras não se preocuparem. Eu só estou precisando de um pouco de amor dos meus fãs e logo, logo vou pular de alegria, vocês vão ver! – nós dois rimos – Vamos?

Ele oferece o braço direito para mim com um sorriso e eu aceito sorrindo de forma boba do mesmo jeito. Ele não é um dos meus, se assim posso considerar agora, amigos preferidos, já que costuma ser muito sério, mas Rivaul é gentil quando quer! Agora sim nós vamos até a entrada.

Natasha – Querida Gabriele! – lá vem aquele tom – Como está?

Gabriele – Olhe só, eu dispenso a sua antipatia, mas estou bem, obrigada por perguntar! Daqui a alguns meses vai dar pra tirar o gesso. – quase esqueci que minha perna está quebrada.

Natasha – Que ótimo! Quem sabe teremos outra partida algum dia desses.

Gabriele – Claro, quando quiser! – sorrio de forma verdadeira, embora ainda esteja com tanta vontade de ser gentil com ela quanto o recíproco – Se me dão licença, eu também tenho de me arrumar. Tchau! – aceno e praticamente saio correndo, deixando Rivaul para trás no meio do caminho com um sorriso de agradecimento pela companhia.

Os repórteres de plantão só faltam pular em cima de mim, mas eu continuo seguindo meu caminho com um sorriso enorme, enquanto respondo cada uma das suas incessantes perguntas. A Barbie perde feio para mim!... Hyuga e Natasha me seguem mais atrás. Eu paro pouco antes dos "camarins" onde estão as meninas e subo no palco, chamando a atenção das poucas pessoas distraídas. É tanto flash de câmera que eu já estou ficando cega!

– Senhorita Gabriele, algum comentário sobre a nova vitória do time Hotter? – a mulher mais próxima pergunta e uns vinte microfones aparecem na minha frente.

Gabriele – Claro! – faço uma pausa – Bem, como todos sabem, eu sempre fui a favor da igualdade de sexo, principalmente no futebol, e não é segredo de ninguém que sou uma garota muito feminista. Ganhar o campeonato mundial já foi uma grande vitória para o nosso time, e não dá pra descrever como nós estamos contentes com o resultado da revanche, mas acho que dá pra falar por todas quando eu digo que nós estamos ainda mais contentes comemorando ao lado das pessoas que realmente amamos. Nossas famílias nos ajudaram muito ao longo dos anos, ou apoiando de perto ou simplesmente da torcida, e nossos amigos nos ajudaram a passar por todo tipo de situação difícil que se possa imaginar. Aos rapazes do time Fuji, eu agradeço com toda a sinceridade pela sua amizade! Sem vocês, nós não estaríamos aqui hoje... – os rapazes, sentados nas cadeiras das respectivas mesas nomeadas ou espalhados em pé pelo salão, começam a sorrir – Agora todos sabem do relacionamento entre nossa técnica Emília e o treinador do Fuji, nosso amigo Roberto, além do que está acontecendo entre meu tio de criação, Mark, e a tia de Natasha, Talita. Eu posso ser a primeira a confirmar que os noivados são reais e sem segundas intenções! Com eles também, eu passei a ser mais gentil, fiquei paciente e aprendi truques de maquiagem incríveis com minha nova tia! – muitas pessoas riem junto comigo e os repórteres – A minha mentalidade fechada mudou e agora eu posso dizer que o estágio complicado pelo qual passei, e alguns jornalistas descreveram como "fase rebelde" – certos homens se constrangeram, eu vi -, já se passou. – sorrio – Aliás, eu acho que ainda nem tive oportunidade de parabenizar o mais novo casal formado! Não sei se eles já contaram a vocês, mas Kojiro Hyuga e Natasha Petrovity estão namorando! – todo mundo se volta para eles. Claro que ficam constrangidos – Então, os meus parabéns! Bye, bye! – eu aceno rindo, aproveitando a distração dos repórteres e câmeras já voando sobre o casal de pombinhos e fujo da multidão.

Talita – Gabi! Rápido, querida, nós vamos te arrumar e...! Que algazarra é essa? – ela olha o salão pela cortina, mas eu logo fecho a fresta.

Gabriele – Nada não. Vamos tia? – sorrio e tiro o meu vestido das mãos dela.

Talita – Você me chamou de titia? – ela sorri e eu rio.

Eu começo a me arrumar rapidamente, quase sem a ajuda das meninas e da titia. Bem... Agora, sobre holofotes, aplausos e assovios vindos dos presentes levantados após os casais que já passaram, digo que independente de ter ou não acompanhante, que por sinal fiquei com dois, papa e o titio, eu me sinto viva de novo e o meu sorriso cresce!

– A Gabriele está de volta! – as garotas e a mamãe falam ao mesmo tempo quando chego perto da mesa onde elas estão junto dos tios, o Fuji e meu futuro papai, fazendo nós rirmos.

Sento justo entre o tio Mark e a Talita, sentados de frente um par ao outro, e tendo como vista o formosíssimo capitão do time masculino Fórtica, de Jyrdan, sentado na mesa próxima. O cara não é dos mais bonitos, mas é um ótimo jogador. Tia Talita olha com o canto dos olhos.

Talita – Gabi? – ela sussurra na minha direção – Tudo bem?

Gabriele – Tão focada no campeonato mundial como eu estava, por que nunca notei os outros caras, como o líder da equipe Fórtica? – sussurro de volta.

Talita – Ah! – ri e o encara também – É sim, um homem interessante.

Gabriele – E muito! – nós concordamos, dando risadinhas discretas, mas acho que o titio deve ter notado pelo sorrisinho de canto as duas crianças aqui paquerando o vizinho – É bem estranho, mas ele me parece familiar. – comento mais pra mim.

Talita – Cá entre nós Gabi, se o presidente de Jyrdan, um homem tão influenciável, não tivesse negado em nome do Fórtica aquela disputa inicial que vocês pediram para competir no campeonato mundial, isso após conversar em uma reunião particular muito estranha na época com o Carlo, porque hoje nós sabemos o assunto subordinativo – concordo com a cabeça -, eu já tenho quase certeza do compromisso do capitão. Ele poderia ter dito sim!

Gabriele – Bom, é melhor esperar ele me chamar pra sair então!

Nós voltamos a rir. O restante da festa é bacana. Alguns autógrafos aqui, poses para as fotos ali, logo todos retornam para suas respectivas casas. O time Fuji se dispersa pra passar a sua véspera de Natal com a família, assim como as Hotters, que já estavam planejando almoçar junto dos familiares dos namorados, obviamente as comprometidas, no dia seguinte. Chegando a minha casa, hora de ir dormir. Eu estou cansada... Opa, o meu celular tocando!

Gabriele – Alô?... Ah, oi tia! – uma pausa e eu rio – Claro que não é por obrigação! Eu te amo como a minha titia sim! – nós duas rimos – Qual o problema? – começo a escutar – Jantar de Natal na casa dos Hyuga? – torço meu nariz – A mãe vai?... Ah, mas eu não sei se quero ir... Da última vez fiz um escândalo, né? – ela recomeça a me convencer – Sim, também adoro a senhora Hyuga! Felizmente ela não chamou a polícia quando eu pretendia matar a Natasha! – nós rimos outra vez, mas eu logo paro – Negativo! O Hyuga não é motivo...! Quer saber? Eu vou!

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Jogo da Vida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.