Smile For Me. escrita por believingg


Capítulo 13
The last day? Or the beginning?




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Frio, frio, frio e mais frio: era o sábado resumido.
As cortinas voavam com o vento enquanto Luísa falava ao telefone, jogada em sua cama, tomando uma deliciosa caneca de chocolate quente. Mesmo com o frio ela preferiu deixar uma fresta da janela aberta, as cobertas felpudas aqueciam-na e nada parecia preocupá-la.
Subitamente, lembrou de sua casa no Brasil. Em São Paulo quase não podia andar sozinha pelas ruas, havia policiais por todo canto e táxis levavam as pessoas de um lugar à outro.
Lá, para chegar na escola eram necessários trinta minutos; trinta longos minutos de táxi que mais pareciam trinta anos. Aqui, eram necessários apenas dez.
E com a sua voz fina e aguda, sentiu falta da presença de Manoela ali. Perdida em seus devaneios, nem notou que havia [i]alguém[/i] estressada no outro lado da linha, no outro hemisfério, o Sul.
- Desculpa – Murmurou, tentando se lembrar do assunto que tratavam agora a pouco.
Um vento forte e alguns respingos de água caíram sobre suas mãos gélidas e pálidas. Luísa correu para fechar a janela. Chuva, pensou.
- Olha, quando eu for aí, você vai me contar absolutamente [i]tudo[/i], tá legal? Eu sei que você tá escondendo alguma coisa, Luísa.
E ela estava. Mas não porque não queria contar, havia se esquecido mesmo. Não mencionou o dia em que dormira na casa de Justin. Mas resolveu não falar agora, não pretendia ficar surda, não nesse momento. Ao invés disso, tratou de mudar de assunto:
- Manu, acho melhor você vir pra cá no dia vinte e dois de dezembro... Eu não tenho férias longas no fim do ano aqui, só duas semanas para o Natal. As férias prolongadas são só no verão, e eu não quero que você fique sozinha – Violet havia dito para Luísa sobre isso.
- Tudo bem... Só quero ter a certeza de que você ainda não me trocou por uma americanazinha qualquer...
Luísa se lembrou o quão possessiva Manoela poderia ser, principalmente com ela.
- Pode deixar.
Virou o rosto de relance para a esquerda, a janelinha do Skype piscava no notebook. Há trinta minutos alguém mandara uma mensagem para ela. Pensou ser tão boba a ponto de deixar ele alguém esperando. Podia sentir o olhar de raiva da outra pessoa na frente do computador esperando pela resposta, seja lá quem fosse. Mas o usuário já estava offline.
[i] Oito horas, ok?
Espere a sua surpresa chegar.  ;) [/i]
Oito horas... [i]Oito horas[/i]. Por que aquilo soava familiar? Oito horas... Claro! O jantar. Olhou para o reloginho no canto da tela do notebook, e ele marcava exatamente seis horas.
Mas ela não estava intrigada com isso. Surpresa? De fato, Justin sabia como surpreender e agradar uma mulher.
- Preciso desligar agora! Depois a gente se fala, tá bem? – E desligou, sem dar chance nenhuma de Manu responder.
A primeira coisa que veio a sua mente foi que ela não tinha roupas adequadas para um jantar formal ao lado de Justin. Quando aceitou vir para os Estados Unidos, metade de seus guarda roupa foi doado para a caridade. Não imaginou que precisasse de tantas roupas formais. E, claro, ela não precisaria delas se não tivesse conhecido Justin. Sentiu-se burra, ela sempre se prevenia com esse tipo de coisa, mas houve um deslize.
Foi quando estava revirando o seu guarda roupas, o som de toques na porta de madeira a despertarem de seus xingamentos internos.
Luísa puxou a maçaneta prateada e sua mãe apareceu atrás da porta com duas caixas vermelhas embrulhadas com uma fita dourada.
- Deixaram para você – Disse ela, balançando a cabeça.
Imediatamente ela fechou a porta, não dando chances para sua mãe entrar. Só podia ser [i]ele[/i].
Puxou o laço da fita e instantaneamente o pacote se abriu. Um bilhete escrito com letras elegantes estava em cima do papel de seda branco.
[i] Imaginei que fosse precisar disso.
Te espero aqui em casa oito horas, ok?
Desculpe, mas não poderei te buscar.
Beijos, Justin. =)[/i]
Seus lábios se repuxaram e um sorriso brincou em seu rosto. Imediatamente ela desembrulhou o papel de seda e seus dedos tocaram numa renda francesa delicada e bonita. Puxou o pano para cima e um vestido longo, preto e sem mangas se formou diante de seus olhos. As rendas caíam em babados compridos e o corpo tinha bordados que ela não conseguia diferenciar.
Novamente um sorriso se formou em sua face e ela se lembrou do segundo pacote. Ela riu, imaginado se toda vez que ele não viesse buscá-la mandaria presentes. Puxou o outro laço dourado. Novamente a caixa se abriu, um sapato preto de salto agulha apareceu diante dela. Sorriu boba, afirmando mentalmente que Pattie o ajudara a fazer compras hoje.

Já era oito horas e ela estava imensamente atrasada. Por sorte a rua estava completamente deserta e foi fácil chamar a atenção de um táxi – daqueles amarelinhos que só existem nos Estados Unidos.
Quando a brisa gelada entrou pela janela do carro, seus pêlos se eriçaram e ela sentiu-se totalmente boba por não se lembrar do inverno que fazia em Atlanta – devia ter pego algum bolero ou algo parecido. As árvores passavam depressa e ela contava quantas casas faltavam para chegar a de Justin.
Luísa percebeu o olhar atento do motorista para ela através do espelho retrovisor. Provavelmente ele estava se perguntando o que uma moçinha fazia vestida para uma festa sem um cavalheiro para lhe buscar. Talvez Justin estivesse ocupado, mas mandou os presentes. Luísa ficara muito agradecida, mas de forma alguma queria que Justin gastasse seu dinheiro com ela. Afinal, ele batalhou muito para consegui-lo, não queria que ele o gastasse com uma estranha que conhecia em uma semana mais ou menos. Mas, por outro lado, guardar tudo só para si é uma atitude mesquinha e egoísta, mas isso cabe a Justin e sua família decidir, não a ela. Tratou logo de tirar esses pensamentos da cabeça; ou pelo menos tentar.
Quando o táxi parou em frente a “modesta” casa de Justin, abriu a porta e a brisa gelada bateu contra seu rosto, fazendo-a arrepiar-se toda.
Luísa afirmava para si mesma que aquela não era uma boa idéia. Afinal, a ocasião era preparada para pessoas da alta sociedade e ela definitivamente não se encaixava nesse padrão.
Pattie abriu a porta com um sorriso tímido e duvidoso em sua face.
- Está adiantada, querida.
Perfeito. Provavelmente Justin levaria uma ótima bofetada na bochecha.
- Adiantada? Justin me disse para vir às oito horas... Desculpe – Disse, com o rosto enrubescido.
Pattie riu delicadamente e Luísa entendeu aquilo como um “tudo bem”.
Subiu as escadas lentamente e observava atenta a cada detalhe daquele reconhecível caminho, do lugar que ela esteve somente uma vez, numa noite de show turbulenta e chuvosa. A porta do quarto de Justin estava aberta e ele se enrolava todo tentando arrumar uma gravata. Sinceramente, Justin de terno fica lindo, Luísa pensou.
-Mãe! – Ele gritou lá de dentro.
Luísa levou as mãos a boca para reprimir um riso. Justin definitivamente ainda não tinha crescido.
- Sua mãe está se arrumando, Bieber – Ela disse. Justin virou a cabeça subitamente e a fitou assustado – Da próxima vez você fecha a porta.
Provavelmente não haveria uma próxima vez.
- Acho que você merece um tapa, Justin.
Justin riu.
- Você me disse para vir às oito! – Respondeu, ameaçadora. Caminhou até a janela para fechar as cortinas, mas, na verdade, ela queria somente desviar seus olhos dos de Justin – Morri de vergonha quando sua mãe disse que eu estava adiantada.
- Vocês mulheres se atrasam demais. Achei melhor adiantar – Justin deu de ombros.
Luísa levou a mão direita num tapa na cabeça dele e o abraçou de lado, rindo:
- Achou melhor me ver envergonhada?
Justin se virou e abraçou-a corretamente. Luísa inspirou seu cheiro doce e o soltou, remexendo em seu terno.
- Tá legal, agora deixe-me ver isso aqui...
Justin suspirou puxando o queixo para baixo para tentar examinar o que ela fazia. Luísa sorria percebendo que nunca havia passado pela cabeça de Justin que ela sabia dar nós em gravatas. Aos doze anos precisou aprender, já que seu pai trabalha numa empresa que é necessário terno e gravata, e sua mãe vivia fora. Mas agora, depois de três anos, era a primeira vez que ela dava um nó de gravata. Esperava não estar enferrujada demais.
- O dragão passa pela ponte, atravessa o laço e entra no castelo.
Justin riu com a comparação dela.
- Não sabia que você gosta de citar frases de filmes.
Ela o virou de frente para o espelho e sorriu arrumando o colarinho da camisa.
- E não gosto. Só acho fofinhos os filmes do Shrek. Você não?
Justin deu de ombros e sentou-se na cama. Luísa cruzou as mãos atrás do corpo e olhou para ele, tentando decifrar o que ele estava pensando, e imaginando se ele tentava descobrir seus pensamentos também. As cortinas – que antes Luísa havia fechado – balançavam com o vento e se abriam vagarosamente. Um corvo passou voando baixo e, num descuido, chocou-se contra uma árvore. Luísa levantou a barra do vestido e caminhou o mais rápido que pode até a janela. O pássaro, que se debatia no gramado verde-oliva, encontrou o olhar dela e meneou a cabeça, parecendo absorver toda a expressão de ternura que exalava dos olhos de Luísa.
- Por favor, me leve para casa... – Sussurrou, na esperança de que o corvo ouvisse e atendesse ao seu pedido.
Apesar da ótima companhia, ela sabia que não se sentiria bem naquele lugar. Pattie apareceu na porta extremamente elegante. Os olhos de Luísa brilharam.
- Vamos, crianças?

-Justin, não insista, tá bem? Não vou pra mais nenhum evento formal com você! Sua mãe deve estar me odiando, agora – Luísa andava de um lugar para o outro na calçada de pedra da sua casa. Depois do desastre – definitivamente um desastre -, ela veio embora sozinha, com Justin em seu encalço.
- Luísa! Dá pra parar quieta?
O céu extremamente estrelado de noites anteriores quase não podia ser visto. Nuvens negras corriam rapidamente pelo céu como as águas correm num rio. Meia noite e meia, não se via ninguém nas ruas. Realmente, aquilo não tinha nada de semelhante aos sábados à noite brasileiros.
As imagens daquele terrível acidente – para pessoas de classe alta – voltaram como um foguete na mente de Luísa. E as risadas de todos os convidados ecoaram nas paredes das casas.  Ela se virou e no mesmo momento em que Justin tocou seus braços ela recuou, entendendo aquilo como um perfeito “não foi nada”. Luísa deu dois passos para trás e suspirou.
- Eu derrubei champanhe no garçom. Ele caiu em cima de praticamente cinqüenta convidados da festa, inclusive a menina que o Scooter tava flertando – Soltou tudo de uma vez. Justin apenas olhava com um sorriso de você-fica-muito-boba-falando-desse-jeito. Luísa suspirou novamente e tirou a franja da testa – Preciso enfiar minha cabeça num buraco. Não! Não... Preciso me enfiar na frente de um caminhão. Não, não... Preciso bater a minha testa num poste...
Justin revirou os olhos com o mesmo sorriso e segurou os braços de Luísa, deixando seus corpos colados.
- Você precisa calar a boca – Ele disse, antes de unir seus lábios por inteiro.
Suas mãos começaram a se afrouxar em volta dos braços de Luísa, e ela se derreteu nos braços dele. Os dedos quentes de Justin afagavam a cintura coberta de Luísa, e ela fazia o mesmo com os cabelos dele. Aos poucos, ele foi se separando, e ela soube que aquela fora a melhor sensação de sua vida.
- Eu precisava disso antes de ir embora – Justin disse, e depois abraçou-a, sem dar chance nenhuma de Luísa olhar diretamente nos olhos dele e tentar absorver toda aquela situação. Definitivamente inesperada.
- Eu não... – Ela sussurrou no ouvido dele – Não esperava por isso.
O vento pareceu amenizar, e Luísa se sentiu extremamente aquecida nos braços dele. Um cachorro passou correndo pela grama e, subitamente, ela se separou dos braços de Justin. Sua imagem refletia nos olhos cor de mel dele era nítida, tal qual um espelho.
- Desde o primeiro dia em que te vi, sabia que algo mais estava por vir. Eu só tentava mascarar isso, tentando ser apenas seu amigo. Por isso aquela tentativa repugnante de te beijar – Justin disse, olhando profundamente para os olhos lacrimejantes de Luísa, e afagando a costa da mão dela com o polegar um tanto quanto áspero. Ele soltou um suspiro longo e Luísa podia até mesmo ver o turbilhão de imagens passando pela mente dele.
- Como assim?
Justin sorriu.
- Eu queria algo mais com você. Apenas isso. Queria ter você só pra mim. E poder te ter quando eu quisesse. Toda hora.
Luísa arregalou os olhos e Justin balançou a cabeça. Ela recuou com o braço e ele se assustou. Ela se sentia como uma boneca usada.
- Quando você quisesse? – Ela cuspiu as palavras e Justin assentiu receoso – Quando você quisesse? – Repetiu, e novamente ele assentiu – Ora, Justin, por favor! Você pensa que eu sou o que? Uma boneca, que você pode ter quando quer, usa e depois guarda na estante como um brinquedo? Não, você não pode me ter quando quer, porque eu sou uma mulher, eu tenho sentimentos! Eu não sou uma Barbie! – Luísa dizia, um pouco rápido demais, mas sem elevar o tom de voz. Justin estava estupefato, e ela percebeu – Aquele diz no parque você quase me beijou, no aniversário do Usher também... Agora é isso? Conseguiu o que queria e vai me deixar de lado agora? Você me beija, me diz isso e acha que eu fico feliz? E toda aquela amizade que você dizia ter comigo? Acabou? Não. Você não pode me ter quando quer. – Ela abaixou a cabeça e suspirou, fechando os olhos – Acho que me enganei sobre você.
E então partiu correndo pelo gramado, batendo a porta de sua casa. Deixando para trás um astro pop totalmente desolado, junto ao vento frio de um início de inverno.



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