A partir daquele dia, minha vida voltou a ser um completo inferno. Os dias eram intermináveis e as noites, as mais frias e tristes possíveis. Já que não teria mais dinheiro para morar na casa que eu e Will alugamos, me vi obrigada a voltar para a casa dos meus pais.

Quando souberam de tudo, os velhos faltaram fazer uma festa para comemorar. A presença de Will representava uma ameaça para eles, e agora que ele não estaria mais aqui, eles estariam livres para me forçar a tudo de novo. Só que eles se ferraram mais uma vez.

Ao contrário do que meus pais esperavam, eu prometi pra mim mesma que não abaixaria mais a guarda para eles. Quando me vi sozinha, tentei fugir ao máximo da família e então resolvi procurar um emprego para juntar dinheiro e ir para L.A também.

Balconista, garçonete, entregadora de jornais, vendedora, babá... Passei por uma infinita lista de subempregos de Lafayette e nenhum deles me dava estabilidade suficiente para eu finalmente fugir de casa. Mas foi assim que eu fui me virando até completar o ensino médio, foi entre portas na cara e mãos generosas.

Sobre as mãos generosas, destaco a figura de Judy Craft. A conheci na lanchonete em que trabalhei como garçonete (ela também servia mesas), e por incrível que pareça, agradeço o emprego por ter tido a chance de conhecê-la. Judy é aquele tipo ''hardcore'' de garota. As belas curvas de seu corpo e o longo cabelo esvoaçado davam uns 7 anos a mais para ela que tinha um atrevido piercing no lábio. Por sua personalidade do tipo ''8 ou 80'', ela era dura na queda e faltava arrancar os dentes dos marmanjões que ousavam assediá-la. E foi no momento mais difícil longe de Will que Judy aparece e, mesmo de forma explosiva, começa a fazer os meus dias melhores.

Ela também estava querendo ir embora daquela cidade e foi principalmente por isso que nos aproximamos, pela mesma esperança de uma vida melhor. Judy tinha o sonho de ser atriz e até já tinha feito alguns papéis em filmes de pequena produção. Mas ela queria algo maior e por isso queria fazer as malas e ir pra Los Angeles, Nova York, talvez Houston... Em L.A ela tinha um contato, um homem que se dizia apaixonado por cinema e que queria formar um elenco para produzir um filme. Judy estava muito animada com a história e praticamente decidida a ir pra lá. Mas faltava a grana, é claro.

Quando completaram 4 meses da ida de Will, recebi sua primeira carta. Como chorei ao ver aquele papel, a dor ainda era muito grande. E para matar mais a saudade, ele passou seu perfume na carta e pude relembrar mais alguns momentos inesquecíveis, os quais passamos juntos. A carta dizia assim:

Querida e amada Samantha,

Você não sabe o quanto está sendo difícil aqui sem você. Como pensei nunca estar longe, está sendo a maior barra que estou tendo que enfrentar. Por mais que meses se passaram, a dor que sinto é a mais presente possível, acho que não vou me recuperar nem tão cedo.

Só quero que não se preocupe comigo, mesmo com essas palavras tão tristes. Mesmo distante da coisa mais preciosa que tenho na vida, estou me dando bem na cidade. Já procurei escola e não demorarei muito para voltar a estudar. Os negócios de meu pai estão caminhando também, como ele planejara, espero que valha todo esse sacrifício que estou fazendo. Entenda que logo que nesse lugar eu me firmar, irei a Lafayette só pra te buscar meu amor, tenha certeza disso. E peço milhares de desculpas por ter sumido por tanto tempo. Confesso que nos primeiros meses eu me isolei completamente, não havia outro pensamento em minha mente a não ser você. Mas estou procurando me recuperar, pense que a cada dia que passa, mais perto estará de nos vermos novamente.

Como você está? Quero saber de tudo o que se passa por aí, mesmo crendo que por aí também não estará sendo fácil. E seus estudos, como estão? Me conte todos os detalhes.

Qualquer novidade que tiver por aqui irei te comunicar, tenha certeza. A partir de agora, quero sempre poder falar com você, mesmo que seja por uma muda carta. Nunca se esqueça: TE AMO MUITO E SEMPRE AMAREI, SEMPRE. Com muito amor, carinho e saudades,

Do seu Will.

Além da carta havia um papel separado com o novo número de seu telefone. Não via a hora de ouvir sua voz de novo, aquela voz que fazia meu coração acelerar de forma inesplicavelmente única.