1921

Winsconsin

A biblioteca se encontrava exepcionalmente calma.

Era uma noite de verão e as árvores exibiam um lindo tom de verde em suas folhas, elas balançavam por causa da leve brisa que passava por lá. Eu assisti ao espetáculo de dança delas. Uma delicadamente se moveu em direção á outra, que por sua vez, caiu.

Era algo belo de se ver. Eu jamais perdera uma única oportunidade de observar a natureza. Era o único jeito de deixar minha mente vagar por um tempo até que se esquecesse de todos os problemas humanos em minha volta.

É claro que eu jamais conseguiria deixar minha mente vazia. Como vampiro, isso era impossível, mas, para que deixar de olhar aquilo?

Eu suspirei enquanto fechava um dos livros ao meu lado. Me levantei e o guardei no lugar.

Fiz isso na velocidade humana. Alguém poderia estar por perto, mas foi nesse exato momento em que a porta se escancarou revelando um homem magro de aparência macilenta. Sua palidez era ainda mais destacada pelo suor que escorria lentamente de sua testa até o decote de suas roupas.

Aquele era Sr. Michael Shaw.

Ele sempre tinha sido um dos poucos médicos naquele hospital em Wisconsin. Ele me acolheu quando me mudei para lá e sempre foi um homem muito gentil, mas naquele momento, ele não esperou que eu fechasse os livros e me agarrou pelo braço.

"Dr. Cullen! É uma emergência! Uma garota tentou se suicidar! Ela pulou de um penhasco!"

Com uma certa tristeza, desviei meus pensamentos das folhas, e me foquei no caso á minha frente.

"Quantos ferimentos?" perguntei.

Á essa altura, nós já estávamos correndo pela rua de pedras até o hospital que ficava á uma quadra de distância.

"Ela tem uma hemorragia interna nos pulmões. Todos os ossos da cintura para baixo estão quebrados, seus sinais vitais estão fracos."

Eu engoli em seco.

Seria outra vida perdida?

"Eu acho que consigo dar um jeito"

Sr. Shaw abriu a porta para mim e voltamos a correr, ele estacou diante de uma porta no fim do corredor e a abriu apressadamente, indo em direção á bandeija contendo todos os materias precisos para uma cirurgia.

"Bisturi" murmurei.

Fiz um corte abaixo de seus seios e me preparei para estancar aquilo, mas a situação não era tão boa.

"Droga..."

Seu ventrículo esquerdo exibia um pequeno corte, mas era o suficiente para causar um pequeno estrago.

Eu peguei a agulha mais próxima e linha, e começei a fechar aquilo, mas já era tarde demais, pelo menos para mim era. Não teria jeito.

Sr. Shaw não disse nada enquanto eu continuava a trabalhar, ele pegou minhas mãos.

"Acabou. Ela não tem salvação. Vou levá-la ao necrotério."

Eu somentei fiquei ali, chocado. Ela iria morrer? Só isso?

Balancei a cabeça e esperei Michael voltar, assim que isso aconteceu, disse que iria para casa, mas não fui.

Escalei as paredes do hospital e entrei no necrotério pela janela.

O "corpo" estava coberto, e não havia barulho algum além de minha respiração.

Achei que tinha o direito de ver o rosto dela. Queria saber quem era aquela mulher.

E quando o vi, foi como  se a minha vida tivesse acabado.

Aquela era Esme.

Sim, aquela Esme.

A garotinha que havia quebrado o braço quando tinha 5 anos de idade, e pela qual eu me apaixonei quando a vi de volta á cidade.

Eu juro que se eu pudesse chorar, choraria o maior tempo já visto.
          Aquele rosto angelical... Ela não podia morrer. Esme era minha vida, e eu faria de tudo para salvá-la. Mas, já era tarde demais.

Olhei para as paredes pretas do cômodo, tentando saber como eu iria superar aquilo.

E chorei. Tentei chorar, mas não consegui.

Um desespero se apossou de mim e me abracei, como uma criança faria.

Mas, de repente um som salvou minha vida.

Um som baixo, de tempo em tempo. Um martelar.

Meu rosto se levantou quando as batidas vacilantes ecoaram novamente em meus ouvidos.

Ela estava viva.