Caí com um baque surdo no chão. Ergui meu corpo enquanto me apoiava com as mãos na terra. Ela estava lá. Não queria que Sookie me visse. Seu avô tinha poucos minutos de vida e, não queria atrapalhar esse momento de ambos. Curiosa, me escondi atrás de uma grossa arvore. Corri entre o parque, com os pés envoltos em uma leve sandália e parei por um minuto perto das casas. Havia algumas mudanças, principalmente na cor das casas. Que estranho... Eu estava fora apenas a alguns minutos.

Olhei para meus pés, sujos de terra fresca. Devia estar horrível. Passei a mão em meus cabelos e percebi que estava com algumas folhas. Só pude naquele instante agradecer por não ter mordido aquela fruta iluminada, alguma coisa reprimiu minha curiosidade ao provar o seu sabor. Já meus pais, jamais retornariam. Era incrível voltar ao mundo real, tão diferente, em uma dimensão contrária. Lembro-me apenas do portal se fechando. Meus pais gritaram, implorando para que eu pulasse. O desespero surgiu em mim, enquanto os outros chegavam para impedir que alguém fugisse. Ela pulou e, antes que pudessem me ver, corri até sentir meus pulmões explodirem e pulei, em minha tentativa única e desesperada de sair daquele mundo de ilusões. Atendendo ao último pedido de meus pais. Dera certo. E agora eu tinha certeza, nunca mais retornaria aquele mundo. Nem meus pais a este.

Estava completamente perdida. Senti-me como uma criança desorientada. Pensei em seguir Sookie, porém, se ela ainda vivia naquela cidade pequena, qualquer morador me informaria onde ela vivia. Restaria apenas a esperança de que ela se lembrasse de mim. Costumávamos brincar na infância. Até que, aos 14 anos de idade, me mudei para o Brasil, onde meu pai fora promovido na multinacional. Moramos no Rio de Janeiro. A Petrobrás havia fornecido nossa moradia e, após ser demitido, voltamos a nossa cidade natal. Mal haviamos chegado e encontramos aquele portal no antigo bosque do parque. Como sabiamos o que éramos, morar no Brasil era uma coisa boa. Haviam poucos vampiros lá. Senti meu peito apertar ao lembrar de minha mãe e meu pai. Uma lágrima silenciosa escapou do olho esquerdo.

Um barulho na casa ao meu lado despertou-me de meus pensamentos. Estava ficando tarde. O sol ameaçava se esconder no horizonte distante. A primeira providência que tomei foi ir até a delegacia, para me informar sobre minha casa, ou qualquer outra coisa uma vez que estava completamente perdida.

Aguardei na sala de espera, com outra meia dúzia de pessoas. Nunca havia entrado naquele prédio da minha cidade. As paredes eram brancas e sob os balcões jazia uma enorme quantidade de pastas e papéis. Qual foi minha surpresa quando Jason Stackhouse veio em minha direção, com a roupa de policial.

- Seu nome, por favor. – Ele disse, com uma prancheta na mão. Seus olhos passaram por mim, curiosos. E eu, com essa aparência de uma louca. O que eu poderia dizer para ele? Droga, droga, droga.

- Brenda Jenkins – Nossa! Como ele havia crescido. Ele era apenas um crianção que gostava de atrapalhar minhas brincadeiras com sua irmã. Ela sendo mais velha que nós dois, sempre batia nele e este saia chorando pelo jardim, indignado por não participar de nada.

- Bree? – Ele disse meu apelido, que era utilizado há tantos anos atrás. Sorri em resposta. Ele se aproximou e me deu um abraço. – Caramba Bree, você esta de volta a cidade?

- É. – não sabia o que falar com ele. Precisava de tempo para processar alguma desculpa ou historia convincente, e não que eu tinha ido até uma dimensão cheia de fadas malignas que queriam me prender lá para sempre. -  A Sookie esta por ai? Precisava falar com ela. – A urgência em meus olhos levantou a suspeita de Jason, mas ele comentou, com tom urgente em sua voz.

- Você nem faz idéia do que aconteceu! Ela ficou desaparecida um ano, pensávamos que ela havia morrid...

- Um ano? – Não estava entendendo... Ela havia chegado lá quase ao mesmo tempo em que eu cheguei. Tentava reconhecê-la enquanto ela conversava com um grupo, e eu e meus pais desvendávamos o novo mundo em que estávamos. Jason não entendia e me fitava complexo. – Jason, eu preciso muito falar com a Sookie. Você pode me mostrar onde ela mora? Por favor?

- C-claro, mas antes você não quer preencher isso aqui? – Ele ergueu a prancheta.

- Não será mais necessário – Sorri tímida. Ele pedira para esperar, o turno dele acabava às cinco e meia. Apenas dez minutos. Fiquei sentada lendo os jornais da cidade. Meu Deus, tanta coisa havia acontecido... Pelo jeito, tinha ficado mais de um ano fora, e ninguém soubera em tempo suficiente que minha família e eu tínhamos retornado a cidade.

Entrei na viatura e seguimos para a casa dos Stackhouse. Ele me contara sobre o sumiço de sua irmã, os vampiros e o tráfico de V, como entrara para a policia e que agora queriam comprar a casa novamente. Perguntei sobre a vovó, que sempre fazia lanches e tortas maravilhosos. Ele me contou sobre o óbito da querida senhora. Chegamos a casa e pisei na varanda que fora palco de diversas brincadeiras de infância. Jason chamou pela irmã enquanto entrava na casa e abria a porta para mim. Eu observava surpresa, eles haviam mantido a decoração da vovó, como eu perfeitamente me lembrava.

- Ela deve estar no quarto. Suba, enquanto preparo alguma coisa para a gente comer. Sinta-se em casa. - Jason falava sem jeito. Era meio bobo, mas sincero e gentil.

                Acenei com a cabeça, agradeci com uma sinceridade pulsante em minha voz e subi as escadas. Sookie veio ao meu encontro no corredor e seus olhos se arregalaram quando me viram. Seus cabelos estavam molhados, e ela vestia uma curta camisola. Sempre fora fã de vestidinhos. Estava linda!

                - Oh meu Deus! Bree!? – Ela me abraçou forte e não contive minhas lágrimas – Por que esta chorando? Faz tanto tempo! – sorrindo, me guiou até seu quarto.

                - Tanta coisa aconteceu, preciso da sua ajuda – eu falava, em meio a soluços. Nossas mãos estavam entrelaçadas em um aperto, ambas sentadas na beira da cama grande. – Eu te vi... Mais cedo, Com seu avô. N-não quis interromper... Também estava presa naquele lugar, com meus pais. Eles comeram aquela fruta, não vão voltar... não sei mais quanto tempo se passou...estou tão perdida !

                Me esforcei e contive as lágrimas. Minha velha amiga me abraçava e repetia que entendia, e que passava quase pela mesma situação.

                -  Quanto tempo se passou?

                A loira me encarou com os olhos úmidos, em um silêncio que dizia muitas coisas.  Acenei com a cabeça, encorajando-a a prosseguir, ja entendendo a encrenca em que estava.

                - Acho que se você chegou lá antes de mim, mais de um ano. Mas antes de qualquer coisa, você precisa de um banho quente e um prato de comida. Você pode ficar aqui comigo, pelo menos até tudo se resolver.  E a senhora tem muito para me contar. Apesar da situação, você esta linda!

                Ela me abraçou novamente, e eu me senti segura. Confusa, perdida, um ano se passara e eu só tinha a roupa do corpo. Meus pais haviam morrido... Era tanto para se pensar! Felizmente não estava sozinha. Tinha certeza que Sookie me ajudaria a voltar com minha vida. E, naquele momento, parecia que nunca havíamos nos separado. Naquele momento, eu senti que teria forças para lutar.

                Ouvi alguém entrando no quarto e pensei que era Jason. Estava de costas para a porta, não podia ver quem era. Estranhei a ausência de palavras, e podia ver uma sombra alta no chão. Sookie levantou-se rapidamente e disse ríspida:

- Pensei que tinha dito para ir embora. Não é uma boa hora, Eric.

 Virei meu rosto brevemente, de modo a observar o estranho, encostado na porta do quarto, de braços cruzados. O loiro alto chamado Eric olhava para Sookie, com os olhos brilhantes.