rei no quarto e tirei minhas botas, as deixando no chão perto da cama. Entrei no banheiro, me despi e liguei o chuveiro. Deixei a água morna cair sobre meu corpo. Era relaxante, calmante.

Saí do banho, me enrolei na toalha branca e fui até o pequeno closet que ficava do outro lado do quarto, mas minhas roupas não estavam ali. E então me lembrei que não as tinha colocado no closet.

Fui em direção a minha mala, que estava em cima de um sofá perto da janela. Tirei de lá um shorts jeans, uma blusa azul e meus chinelos prateados.

Desci as escadas em direção a cozinha, mas ouvi meu pai conversando com alguém no telefone.

- É uma ótima ideia. Sim, sim. E porque vocês não vem jantar aqui. Não é incômodo algum. Isso, claro. As oito está ótimo. Tudo bem, até lá.

Ele desligou. E me viu ali parada na escada ouvindo sua conversa.

- Oi pai. - disse descendo o último degrau da escada.

- Você estava ouvindo minha conversa? - perguntou sério.

- Na verdade sim. Estava descendo a escada e acabei ouvindo a conversa. Me desculpe.

- Tudo bem, filha. Não tem problema.

- Bom, mas então. Quem vem para o jantar? - perguntei curiosa.

- Os Metgomery. - ele disse meio cauteloso.

Metgomery. Essa palavra ecoava em minha cabeça. Metgomery. Tyler Metgomery. Oh, mas que droga. Por que meu pai tinha que ser tão amigo justamente deles? Por que não de outra família? Hein? Me diz? Ah, claro. Porque se eu não fosse torturada nesse verão não teria graça alguma.

- O que? Como assim? Você não pode fazer isso comigo! - eu gritei.

Nesse momento todos estava na sala tentando entender o motivo de meu surto.

- Querida eu sei que você está tentando se afastar deles mas são meus amigos. Eu não posso simplesmente ignorá-los só porque você teve um romancezinho de verão com o Tyler.

Romancezinho de verão. Não acredito que era isso que ele pensava.

Não consegui dizer nada. Apenas subi para meu quarto chorando. Fechei a porta e deitei na cama. As lágrimas começaram a cair. Uma por uma molhando meu travesseiro.

- Querida, é a vovó e Pattie. Podemos entrar?

- Claro. - tentei enxugar as lágrimas.

- Ah meu bem, não chore. Sabe que eu não gosto de te ver assim. - minha vó disse afagando meus cabelos.

Pattie permanecia imóvel perto da porta. Parecia não saber o que fazer.

- Melanie, acho que seu pai foi muito grosso mas de certa forma ele está certo. Você e Tyler tiveram um romance durante o verão mas depois disso vocês nem se falaram mais querida. - vovó disse.

- Eu sei, vovó. É só que doeu, sabe, ouvi-lo falar daquele jeito e com aquelas palavras. - disse me levantando e sentando ao lado dela.

- Sei como é. - Pattie se pronunciou pela primeira. - Sei como é quando você acha que ainda está apaixonada por alguém. Mas no fundo não está. Eu passei anos achando que eu amava meu ex-marido quando no fundo eu só me sentia carente e sozinha. Se estivesse no seu lugar, eu desceria para jantar e mostraria a ele tudo que ele está perdendo.

- Obrigada por terem vindo aqui, mas eu acho que não vou descer para jantar. Eu só quero ficar aqui e dormir um pouco.

- Tem certeza querida? - minha avó perguntou. Assenti e elas se foram.

Decidi ligar pra minha mãe. Peguei o celular na minha bolsa e disquei seu número. Tocou algumas vezes até ela atender.

- Melanie! Até que enfim filha!

- Mãe como sabia que era eu? Você vê o futuro agora? - eu disse rindo.

- Não bobinha, eu tenho algo mais mágico conhecido como identificador de chamadas. - ela disse gargalhando da própria piada.

- Obrigada mãe. Mas então está tudo bem aí?

- Ah sim querida. Seus irmãos estão aqui, então a casa está uma bagunça.

- Eles já chegaram? Nossa!

- Rápido não? Mas e você mocinha?

- Estou bem mãe, só um pouco cansada.

- E me diga Mel, como ela é?

- Ah, é normal. Ela até que é legal sabe.

- Sei. Espero que você se divirta bastante aí.

- Vou tentar.

- Querida tenho que ir, seu irmão está tentando cozinhar e eu tenho medo de que algo pegue fogo.

- Tudo bem. Eu te amo.

- Também te amo.

Desliguei e fui terminar de colocar minhas roupas no closet. Depois deitei na minha cama e dormi. Estava cansada.

- Hey, Mel. Acorda. - ouvi uma voz masculina me chamar, mas não parecia ser meu pai. Abri os olhos devagar. Justin estava ali. Com um prato de macarrão na mão.

- Ah oi, o que você está fazendo aqui?

- Bom, você não foi jantar então eu pensei em vir trazer alguma coisa pra você comer.

- Obrigada Justin. Eles já foram embora?

- Ainda não. Estão na sala assistindo um jogo de futebol antigo. - ele disse olhando pra cima.

- Claro, eles sempre fazem isso.

- Melanie posso te perguntar uma coisa?

- Tudo bem.

- O que aconteceu entre você e esse tal de Tyler?

Ele tocou na ferida. Não queria falar sobre isso. Não agora, mas Justin parecia confiável e esperava uma resposta.

- Nós namoramos. - eu disse apenas.

- Por quanto tempo?

- Durante o último verão.

- Ah! E você ainda gosta dele?

- Eu não sei. Mas acho que não.

- Eu espero que não. - ele disse baixo, mais pra si mesmo. Mas eu pude ouvir.

- O que disse?

- Ah nada não Mel. Só pensei alto.

- Tá. Será que você pode me dar o prato? Estou morrendo de fome. - disse fazendo uma careta.

- Claro, foi mal. - ele disse dando aquele sorriso de lado.

Sorri também, foi algo involuntário.

- Mas então, sabe eu vi umas fotos no escritório lá embaixo e eu queria te perguntar se você acha que o seu pai ainda sente alguma coisa pela sua mãe. - ele disse olhando para baixo.

- Não. Eles são só amigos, ele se separaram de forma civilizada e se tornaram bons amigos depois disso. É claro que eles não conversam sobre tudo, como por exemplo sobre a sua mãe mas eles tentam sabe, por nós. Eu acho. - disse olhando fundo em seus olhos.

- É que sei lá eles parecem tão felizes nas fotos. Não acho que um amor assim acaba do nada.

- Justin, o amor deles não acabou do nada. Foi aos poucos. A cada dia eles brigavam mais até que se tornou insuportável morar com eles. Meus irmãos e eu fazíamos o possível para ficar mais tempo fora de casa. Era horrível. Mas depois do divórcio as coisas melhoraram, ele passaram a se falar sem gritar um com o outro e viraram amigos. - eu disse.

- Meus pais também são amigos, mas eles não conversam muito. Só quando o assunto sou eu ou a minha carreira ou então o meu futuro. - disse rindo.

- Pelo menos eles não brigam certo? - disse colocando a mão em seu braço. Senti ele se arrepiar então tirei a mão.

- Er...certo, certo. - disse se levantando da cama. - Acho que eu já vou indo. Tchau.

Ele saiu e fechou a porta. Tudo bem, vamos concordar que isso foi muito estranho.

Terminei de comer, coloquei o prato na mesinha. Não queria descer, não quero encontrar com ninguém desagradável. Decidi dormir de novo, aposto que o dia amanhã vai ser longo.