Le Téâtre Imaginaire. escrita por Diddy


Capítulo 2
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Notas iniciais do capítulo

Bom, aí está o segundo capítulo, consegui escrevê-lo. E foi fantástico. Queria agradecer pelos reviews do capítulo passado. Fiquei muito feliz, sinceramente eu nem esperava por eles.

Seus sonhos, são causados por algo que aconteceu. Um gatilho que disparava sua imaginação. Algo que faz você se perder em você mesmo. Essas coisas são os portais dos sonhos.

Boa leitura e espero que goste. ^^ Ah! leia sem pressa. =)



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O sol surgiu resplandecente naquela manhã sem vida que ressuscitava todos os dias.

O frio e o vento das ruas mal iluminadas entravam pela grande janela do quarto fazendo a garota de curtos cabelos negros mal cortados, arrepiar-se com sacolejos de frio.

                                  Que horas eram?


Talvez já estivesse na hora de acordar se ela tivesse dormido pelo menos um pouco nessa noite. Seria, se seus olhos azuis claro tivessem descansado da realidade à sua volta. Pois só em sonho ela realmente se perdia em suas fantasias, somente em um sonho ela podia escapar desse lugar.

Acordada e com olhos vidrados a noite toda na janela a frente de sua cama. Encolhida ela abraçava os joelhos com uma colcha de retalhos jogada sobre sua cabeça como um manto.

Assistiu a noite olhando para a janela aberta. A madrugada paralisada do lado de fora, que agora ganhava uma vida com os primeiros raios de sol apáticos que tocavam o carpete e com um ligeiro vento que movia a cortina com graciosidade fazendo-a flutuar sutilmente e essas cortinas brancas desenhavam, em parceria com a luz do sol, jogos de sombra no carpete redondo e também branco de seu quarto.

Luz essa que ainda não era muito eficaz em iluminar todo aquele quarto desprovido de uma alma, necessitado de alegria e cheio de segredos tenebrosos ainda para serem descobertos.

Com coragem ela levantou-se de sua cama, tocando os pés quentes no chão gelado e arrastando o cobertor que a envolvia até a janela de vidro. Foi caminhando devagar e silenciosamente, apenas com o rangido de seus passos e o arrastar de seu cobertor ecoando pelo quarto. Foi esquivando-se das cortinas que bailavam com o sopro de um vento matinal gélido e triste na tentativa de alegrá-lo.

Observou o mundo lá de fora que a aguardava pacientemente. Do alto de sua torre contemplou seu quintal por toda sua extensão. Pousou então seu olhar perdido no jardim colorido que se destacava da manhã cinza.

Havia uma árvore grande que crescia até a janela de seu quarto, que era como uma escada que por ela nunca utilizada. Uma escada até seus sonhos. Pois sabe se lá até onde essa árvore cresceria e o quão fundo fincavam suas raízes dentro da terra. Teria ela um nome dado por Gaia?  Quem seriam seus pais e quem serão seus filhos? Teria ela presenciado e cooperado com a fuga de casais apaixonados e suas iniciais como cicatrizes eternas que testemunharam um amor proibido? Ou quem sabe guardava fadas e outros seres inacreditáveis em seu interior. E balançava crianças sozinhas que brincavam no balanço pendurado em um de seus galhos, que jamais se quebrariam.

 Suas folhas choravam o orvalho de despedida da madrugada que partia e as deixava naquela manhã fria que prometia surpresas ao léu. Mas ninguém ouve a manhã quando se está dormindo.

Ah madrugada... Cheia de histórias silenciosas para os poucos que a escutam; que a vivem; aqueles que têm insônia, aqueles que não têm um olhar para dormir. Para sonhar. Pois estes vivem em sonhos muitas vezes.

Grandes nuvens levemente acinzentadas passavam lentamente por cima do sol como um pequeno barco que se deixa levar por águas tranqüilas.

A luz solar tomava aos poucos o lugar do breu naquele quarto enquanto seu sol ia crescendo aos poucos no horizonte.

Talvez assim como as folhas chorassem o orvalho o céu também desabafasse a chuva no ombro da terra. E o pobre sol tão preocupado com seus irmãos se esforçaria para enxugar suas lágrimas tão sentidas, com seu calor.

                   “Mary choraria as suas lágrimas, ou ajudaria o sol com seu calor hoje?”

Virou-se de súbito para seu quarto com um pequeno sorriso sereno incrustado em seus lábios esbranquiçados e levemente roxos. Tomou então sua primeira decisão do dia e rodopiou no centro do tapete nas pontas dos pés descalços, fazendo seu cobertor dançar junto com ela e com suas cortinas ondulantes.

O vento parou de soprar e as cortinas aquietaram-se, assim como a pequena menina que parou em um rodopio de olhos fechados e fez uma graciosa mesura para a janela agradecendo pelo fim do espetáculo.

Jogou seu cobertor na cama e o arrumou perfeitamente de seu jeito. Enrolando-o como uma bola de pano e colocando seu travesseiro em cima da pequena bagunça como o toque final de uma obra de arte.

Um frio repentino congelou seus ossos e trespassou por todo seu corpo, agora desprotegido pelo cobertor, fazendo-a bater os dentes e arrepiar-se, esfregando os braços com as mãos em uma tentativa sempre frustrada de amenizar a friagem. Contava apenas com uma camisola rosa pastel que mal cobria seu pequeno corpo direito.

Pensou talvez precisar de um banho quente, ou quem sabe uma roupa para se esquentar. Optou por um banho para começar um dia que continha um pressentimento estranho. Um dia em que talvez as coisas mudassem, assim como era a sua esperança em todas as manhãs. Para que algo novo e inesperado surgisse de algum lugar. Para sair da vida monocromática na qual um destino é traçado e você somente tem de segui-lo.

Colocou um chinelo de pelúcia e caminhou até o banheiro, sempre de portas fechadas para não permitir a passagem de algo com más intenções que se esconde em algum lugar inesperado pronto para atacar. Que se escondesse onde ela não pode ver. No escuro era onde mais temia.                                         

Olhou-se no espelho e apreciou seu eu duplicado do outro lado da dimensão que separava os mundos. Viu olheiras abaixo de seus olhos e perdeu-se no rosto cansado de continuar lutando sozinho. E seu cabelo curto, com mechas mais compridas que as outras, todo despenteado e cortado de qualquer jeito por ela mesma. Seus tios ainda não tinham visto o que ela fez ontem antes de se sentar na cama e chorar de insônia. E se vissem iriam ficar espantados, depois do banho ela consertaria o que fez.

Ligou a torneira que derramava água escaldante e enchia progressivamente a banheira de porcelana. Sentou-se na borda da mesma enquanto esperava que enchesse e divagou em seus pensamentos.

“Hoje o pai de Mary faz aniversário... O amanhã nunca mudará, se o hoje não mudar... Tio Christian trará algo de sua próxima vigem...? O que fará com seu cabelo agora? Tia Eleanor cuidará dele? Bem que podia fazer calor...”

“Queria que a minha mãe estivesse perto de mim agora.”

- Frio... – Sua voz ecoou pelo banheiro, uma voz feminina e rouca por falta de uso. Uma voz melodiosa e fina, como uma nota de violino.

Ela sentia o vapor quente do banheiro que ia crescendo e invadindo todo o banheiro, embaçando sua vista, embaçando o espelho. Envolvendo-a como uma fina camada de um leve cobertor. Esquentando sua pele. E quando se deu conta a banheira estava cheia de água, demorara tanto assim só em seus poucos pensamentos?

Mary se levantou, tirou as alças da camisola e a deixou cair pelo seu corpo no chão. Um corpo ainda em desenvolvimento, pequeno, magro. O corpo de uma criança de 12 em uma que agora tinha 15.

Tirou os pezinhos da pantufa, e os afundou na água fervente, um súbito alívio e um formigamento fizeram-se presentes.

Afundou seu corpo, deitando-se na banheira com cuidado e apoiou sua cabeça na borda. Ouvia o silencio de sua tia que provavelmente ainda estava dormindo, do movimento da água e de sua própria respiração

Logo o silêncio virou um temor inexplicável, o medo da solidão. Um receio de algo em algum lugar estivesse observando-a. Engoliu em seco, ainda com desconfiança fechou os olhos tentando acalmar-se. Respirou fundo e deu um longo suspiro. Queria ser rápida e sair logo do banheiro, mas ao mesmo tempo queria ficar, pois a água quente relaxava seu corpo.

Seu coração foi se acalmando... E começou a cantar na sua cabeça, cantando com a garganta, murmurando a canção, e uma voz feminina fez-se presente ecoando.

“Se essa rua, se essa rua fosse minha... Eu mandava, eu mandava ladrilhar. Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes... Para o meu, para o meu amor passar...”

Uma voz familiar, voz de alguém que a muito ela não via. Uma fala mansa, tranqüilizadora, nostálgica, terna.

- Não abra seus olhos minha querida...

- Mamãe?

Uma mão tocou-lhe o alto da cabeça e afagou-lhe os cabelos ainda secos com as pontas molhadas. Mais do que tudo seu coração encheu-se de alegria, e ela queria abrir os olhos, porém seu próprio coração ainda lhe dizia que havia algo de errado, que ela devia permanecer com os olhos fechados...

- Porque você cortou o cabelo minha criança? Porque fez isso? – A voz adquiriu um tom de repreensão.

- Não tinha mais ninguém para penteá-lo para mim, me aborreci. – Respondeu com receio, mas convicta do que disse e com uma ponta de arrependimento na voz.

- Deixe-o crescer novamente... – Como uma ordem, Marry acatou, e seu espírito livrou-se um pouco da culpa que sentia por ter cometido tal crime com um cabelo tão admirado daquele.

- Me diga, é você mesmo minha mãe?

E a voz continuou a cantar:

Nessa rua, nessa rua tem um bosque... Que se chama, que se chama solidão. Dentro dele, dentro dele mora um anjo... Que roubou, que roubou meu coração.”

Marry sorriu de olhos fechados. Agora tinha absoluta certeza de que era ela.

- Ele não é um anjo. – A mulher sussurrou com dor na voz, com mágoa. E repetiu – Ele não é um anjo.

- Posso abrir meus olhos? – Perguntou com esperança de que pudesse ver o rosto de sua mãe novamente.

-Não! – Disse rigorosamente – Mantenha-os fechados! Porque você é tão teimosa?

- Me desculpe! – Ela só viu o escuro de suas pálpebras fechadas, e sua expressão fechou-se.

Mary ainda sentia a mãe lhe acariciando os cabelos danificados.

- Ele não é um anjo Mary! – Mamãe advertiu chorosa.

Mary sentiu medo. Não podia ser sua mãe. E sentiu pesar, por não ser ela. Ainda com medo de abrir os olhos, ela os manteve fechados.

-Você... Está morta, não pode ser minha mãe. – Ela disse com a voz baixa e gaguejando.

- Menina levada, porque você me faz tão mal? Eu dei tudo por você! Tudo!

-Você está morta! – Mary disse com um tom de voz mais alto, esforçando sua fala apesar do medo que a calava.

O silêncio dominou o local por segundos, e a voz do fantasma o cortou.

-... Você também! – A mãe disse com ódio e afundou a cabeça de sua própria filha na água quente.

Mary se debatia desesperada, havia soltado todo o amor no susto que levou e a água quente demais queimava seu rosto. Sentiu a morte, a escuridão e a falta de ar. Seu corpo suplicava por oxigênio, exigia que ela respirasse. A mão segurava sua cabeça.

                        “Mas... Mamãe me ama muito. Ela jamais me machucaria.”

A mão puxou o cabelo de Mary para fora da água com força, e a menina assustada respirou puxando todo o ar que seu pulmão permitiu e tossiu logo em seguida cuspindo toda a água que bebeu e respirou.

- Eu morri por culpa sua, e é assim que você trata a sua própria mãe? Assim que me respeita?

Dessa vez Mary ia abrir os olhos hesitar, porém algo não permitia, ela não conseguia abrir seus olhos, por mais que forçasse. Entrou em total desespero em questão de segundos.

- É um pesadelo, você não é real, nada disso pode ser real! - Ela se amaldiçoou por não poder gritar mais alto do que aquilo. Pareceu mais um sussurro ofegante.

- Sou tão real quanto a culpa que você sente todos os dias! – O fantasma pareceu gritar dentro de sua alma

E dentro de sua alma ela suplicou por ajuda, porque já não tinha voz, porque estava engasgada com o seu próprio terror. Então começou a chorar e suas lágrimas lhe saíam pelos cantos dos olhos, seus gritos não ressoavam. A água era viscosa, e nada ela enxergava. Um cheiro forte entrava pelo seu nariz.

                                    “Isso nunca terá um fim?”

E de repente... Tudo se acalmou e ela sentiu uma mão diferente tocando seu rosto suavemente. Uma grande mão macia, com dedos finos e suaves. Ouviu uma caixinha de música que começou a tocar acompanhando a voz masculina e seu ritmo. Uma voz adocicada de veludo.

“Se eu roubei, se eu roubei seu coração... Tu roubaste, tu roubaste o meu também. Se eu roubei, se eu roubei seu coração... É porque, é porque te quero bem.”

- Shh... Acalme-se mon cher. É tudo um sonho ruim minha pequena senhorita...

                                “Abra seus olhos agora”

Ressoou a voz ainda mais alta em sua alma perturbada.

E a caixinha de musica parou de tocar, e a mão retirou-se de seu rosto, e a voz afastou-se de seus ouvidos. Ela já não ouvia mais nada.

Abriu os olhos como se tivesse acabado de acordar. Ainda na banheira e com falta de ar. Seu coração estava disparado e o barulho ambiente natural voltou aos seus ouvidos. O silêncio agora era inofensivo novamente.

Respirava rapidamente e ainda com dificuldade de pensar claramente nas coisas que aconteceram, tinha uma certeza estranha de que tudo aquilo que aconteceu teve uma realidade assustadora e incerta.

- É tudo um... Sonho ruim? - Ela passou as mãos nos rosto, e depois no cabelo que estava molhado.

Lembrava-se de tudo nitidamente. As vozes, os toques... A caixinha de música.

 Sim, ela afundou-se na água em algum momento, e o único que se lembrava foi quando a sua suposta mãe tentou afogá-la.

                             Tentativa de suicídio ou de assassinato?

                                           Fim do primeiro ato.

                                           “II n’est pas un ange


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Notas finais do capítulo

Olá novamente, se você ainda tem paciência para ler a nota final, muito obrigada ^^

A culpa sentida por Mary resultou em um pesadelo. Mas o que foi real de verdade?

Gostaria de dizer também que enquanto escrevia esse capítulo, eu escutei muito um cara chamado Yann Tiersen. As suas músicas me passam muitas sensações diferentes e realmente influenciam meus sentimentos. Pelo menos para pessoas mais sensíveis à esse tipo de música eu acho, porque eu sou apaixonada por elas.
Na maioria das vezes é instrumental, mas tem também vozes cantando e letras lindas.
Me deu uma calma anormal, e uma paciência imensa para com meus erros. É realmente mágico o que as músicas dele despertam em mim. Vale a pena experimentar, eu recomendo ^^

Obrigada se você leu até o final, e até o próximo capítulo.

Beijos! ;*



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