-Esse é o melhor chessecake, que eu já comi em toda minha vida! – comentou o garoto, fazendo a avó ficar levemente envergonhada pelo elogio.

            -Não é pra tanto! – disse encabulada, enquanto mexia na toalha, que estava sobre a enorme mesa de mogno. Diane ajeitou os olhos, observando os dois, que comiam seu chessecake, com vontade.

            -Ah, é sim! – disse Isabella, dando uma pausa.

            A garota continuou a comer, enquanto fazia milhares de caretas, todas de satisfação, é claro. Diane sentou- se em uma das cadeiras, apoiando o cotovelo sobre a mesa e passando o dedo sobre um desenho, que havia na toalha de mesa.

            [...]

            Diane caminhava até a sala, com uma enorme caixa azul nas mãos. Ali estava contida todas as fotos antigas de família e também fitas de vídeo. Algumas delas tinham como protagonistas Justin e Isabella. A mulher sorriu, assim que chegou a sala, vendo os dois sentados no sofá.

            O neto “brincava” com os dedos da garota, mexendo freneticamente no anel de compromisso dela, enquanto a abraçava de lado. Ela mantinha a cabeça deitada sobre o ombro dele.

            -Eu trouxe as fotos! – disse Diane colocando a caixa azul sobre a mesinha de centro.

            Os dois se olharam e Isabella levantou-se do sofá, mas logo se sentou no chão, cruzando as pernas. Justin sentou-se de frente para a garota, enquanto pegava a caixa, colocando-a no meio deles. O garoto abriu a mesma, olhando o seu conteúdo.

            -Olha isso aqui! – ele quase gritou, enquanto ria baixinho.

            -O que é? – perguntou Isabella, tentando ver.

            O menino riu, deixando a foto cair no tapete. Bella rapidamente apanhou a mesma e franziu a testa com o que viu. Era ela, no primeiro dia de aula. Estava com os cabelos presos em dois rabos de cavalo e um batom vermelho nos lábios. Sorria, mostrando sua “janelinha”, enquanto Justin estava sentado ao seu lado, nos degraus que havia em frente a casa, e olhava para a câmera entediado. Como minha mãe me deixava ir pra escola com esse batom? Acho que é por isso que muita gente me odeia. Eu mesma me odiaria, se me conhecesse à nove anos atrás com esse batom! Pensou.

            Ela encarou o menino, que ainda ria sem controle.

            -Para! – ela gritou, batendo nele com a foto.

            -Não dá. – ele continuava a rir, enquanto mantinha uma mão na barriga. – Você tá muito engraçada!  

            -Idiota! – ela revirou os olhos, logo após fingir uma risada. – Me dá isso aqui!

            Isabella tomou a caixa das mãos do garoto, revirando a mesma, enquanto procurava por uma foto dele. De preferência, uma em que ele estivesse bizarro. Mas a procura foi interrompida, assim que achou uma foto de quando seus pais eram jovens.

            Na foto eles estavam com Pattie, Jeremy, Nathan e mais duas pessoas, que ela não sabia quem era.

            -Eu nunca mais vou me esquecer dessa foto! – ele bateu as mãos na perna, curvando o corpo para frente. – Acho que vou colocá-la em um quadro!

            -Cala a boca! – ela disse olhando atenciosamente a foto, que estava em suas mãos. – Ei, já viu essa foto aqui?

            Justin suspirou, controlando-se e encarou a foto, que a menina esticava para ele. Franziu a testa e tomou-a em mãos. Observou atentamente e sorriu, assim que reconheceu seus pais e os de Isabella. Mas pousou os olhos sobre os outros três. Reconheceu Nathan de imediato, sua barba o denunciava, mas não conseguiu decifrar quem era os outros dois. Talvez sejam amigos de adolescência! Pensou, dando de ombros e deixando a foto de lado.

            A garota olhava uma foto de cada vez, mas tudo muito rápido. Logo uma pilha de fotografias já se fazia espalhada ao lado dela. Parecia procurar algo específico.

             Justin se aproximou mais dela, pegando a primeira foto que viu em sua frente. Surpreendeu-se com o que viu. Era Peter e Isabella. O menino ficou sem reação, apenas fitou a foto, olhando-a com carinho. Não podia negar, ele sentia uma falta imensa de Peter, assim como Bella.

            Na foto, o pai ajudava a filha a descer no velho escorregador, que havia em um parquinho muito próximo dali.

            Continuaram a ver fotos, até enjoar. Diane tinha fotos até de quando Sarah estava grávida. O mesmo acontecia com Pattie, só que em um número maior ainda. Tinha fotos de Justin, quando pequeno. O que devo dizer que era uma graça. E de Isabella também. Fotos da época em que os pais deles eram adolescentes. Fotos diversas. 

            [...]

            -Oi, meu nome é Justin e eu adoro batucar assim! – dizia o pequeno menino, que logo depois começava um batuque ritmado, em uma cadeira. Isabella sorriu, prestando a atenção na TV. O garotinho parou de batucar e encarou a câmera. – Obrigada, eu amo você! – mandou um beijo e a câmera foi desligada.

            Isabella sorriu e olhou discretamente para o menino, que ainda mantinha os olhos fixos na TV.

            -Olá, meu nome é Justin! – Bella olhou imediatamente para a TV, assim que ouviu a voz do Bieber.  Ao olhar para o aparelho e TV, uma surpresa. Justin não estava sozinho no vídeo, ela também estava.

            -Sorria Justin, e apresente-nos sua amiga! – dizia uma voz. A voz de Pattie, pra ser exata.

            -O nome dela é Bella, Isabella! – a câmera focou a pequena, que se distraia com um ursinho, mas assim que percebeu que estava sendo gravada, ela esticou os braçinhos e mexeu as mãos, tentando pegar algo. – Ela é minha irmãzinha! – o garoto sorriu e beijou a cabeça da garota.

            -Ela é sua irmãzinha, é?

            -É. – sorriu novamente. – E eu a protejo!

            -Sério? De quê?

            -Monstros embaixo da cama! – uma risada pode ser ouvida ao fundo e Isabella não pode deixar de rir também.

            -Que bom que temos você pra protegê-la, não é?

            -É!

            Os dois não conseguiam tirar os olhos da TV. Estavam vidrados. Lembranças tomavam conta de suas mentes, portanto, estavam ocupados demais para prestar atenção em qualquer outra coisa.

            O vídeo que passava agora era um dos milhares que foram gravados durante os Natais, que passaram no Star Lake. O ano era algo como 2000 ou 2001, quando Isabella tinha apenas cinco anos e Justin sete.

            O menino fitou o aparelho de TV sorridente. Na imagem ele e a menina faziam bonecos de neve, enquanto riam e ouviam seus pais ao fundo.

            A câmera focava os dois, sem ao menos eles percebem.

            -O que estão fazendo? – perguntou Pattie, aproximando-se mais deles.

            -Bonecos de neve! – o garoto respondeu alegremente.

            -É! – foi a única coisa que Bella disse, enquanto ajudava Justin a “construir” uma bola de neve.

            -Está ficando ótimo! – a mulher se abaixou, ficando ao lado dos pequenos. – E o que mais vai ter nele?

            -Braços feitos de gravetos e... – disse colocando a mão na cabeça pensando em mais alguma coisa.

            -Nariz de cenoura! – gritou a garotinha.

            -É, nariz de cenoura! – concordou.

            -Mas ele precisa mesmo de um nariz?

            -Claro né mãe! – Justin fez uma careta e riu de leve, fazendo Pattie rir com ele. – Ele precisa de um nariz, senão não vai sentir o cheiro das coisas!

            -Como o que?

            -O cheiro da comida da vovó! – Pattie riu se levantando, enquanto ainda filmava os dois que continuaram o que estavam fazendo.

            Justin riu ao lado da garota, que o olhou imediatamente. Fazia tanto tempo que eles mesmos não se lembravam, dez anos pra ser mais exata. Na verdade eles guardavam pouquíssimas lembranças dessa época tão maravilhosa e que passara tão rápido, quanto um piscar de olhos.

            -Eu juro que não me lembrava disso! – exclamou perplexo.

            Isabella apenas suspirou, deitando a cabeça no ombro dele. Imagens de seus pais vieram em seguida, fazendo os dois sentirem uma saudade enorme, corroer-lhes o peito. 

            Era horrível pensar que a única coisa que ainda lhe restavam dessa época, prá lá de maravilhosa, eram apenas lembranças, saudades e... Lágrimas. Lágrimas que ficaram guardadas durante todo esse tempo. Escondidas até deles mesmos.

            Tempos que não voltam mais! Pensou a garota, observando atentamente o vídeo.