Kyle sentou-se na cama, olhou sério para aquela sombra e disse:

— Não – falou rispidamente.

— Por quê? – perguntou a sombra calmamente.

— Por que deveria confiar em você? – rebateu Kyle com outra pergunta.

— Não sei, talvez porque eu queira a mesma coisa que você.

— Ah! O que eu quero então?

— Justiça? – disse ela em tom sério.

Era o que Kyle queria, mas algo dizia que esta sombra queria algo a mais.

— É claro que quero isso, mas fica a questão: o que você ganha com tudo isso? – questionou.

— Satisfação própria, felicidade por ter ajudado alguém, ou talvez eu goste de ver os outros sofrerem – falou. – Existem vários motivos.

— Eu sei... – falou Kyle baixinho, deixando-se levar pelas palavras daquele espectro.

— Olha. Vou lhe contar algo – disse a sombra. – Eu conheço o Jack há muito tempo.

— Como assim?

— Eu sou um espírito e não faz muito tempo que morri.

Essa notícia incomodou Kyle.

— Vá para o cemitério e procure por um túmulo perto de um gigantesco mausoléu. O nome da pessoa será Richard. Lá você entenderá meus motivos.

No cemitério

O feixe de luz que provia da lanterna cortava novamente a escuridão da noite. Teve que esperar um dia inteiro para ir lá e a adrenalina percorria suas veias. O que poderia haver naquele túmulo?

Viu o grandioso mausoléu, o único desta estatura que tinha na cidade. Não era mais usada há dois séculos, desde que a família que descansava lá não possuía mais herdeiros.

Foi até lá e procurou o fatídico túmulo. Achou-o atrás do gigantesco sepulcro. Nele estava escrito:

“Aqui jaz Richard F. Smith.

Amado irmão e marido.

1929 – 1959”

Kyle não acreditava no que estava vendo. Era o túmulo do falecido irmão de Jack e seu adorado tio.

— Agora você sabe quem eu sou? – disse a sombra, aparecendo por trás do rapaz.

— Você é o tio Richard? – perguntou Kyle tremendo.

— Não mais. Agora sou apenas um espírito vagando por este mundo – falou tristemente.

— Mas por que você está querendo o mal de seu próprio irmão?

— Porque ele me matou – disse ela por fim. – Quando nossa mãe morreu e recebemos uma gorda herança. Mas antes da justiça liberá-la, ele tomou uma atitude gananciosa. Matou-me enquanto dormia com minha mulher. Como meu coração doeu quando o vi com aquele bastão de alumínio na mão, esmagando a cabeça da minha amada.

— Então não foram ladrões? – disse Kyle, lembrando-se do ocorrido.

— Não. Agora você entende meus motivos? – falou a sombra. – Os mesmos que os seus: vingança e justiça.

O rapaz não estava acreditando no que estava ouvindo. Jack era tão ruim assim? Ele realmente matara seu irmão? Agora tudo fazia sentido. Lembrou-se que Jack não derramou nem uma lágrima quando soube da morte de Richard. E como ele tinha conseguido o dinheiro para comprar sua caminhonete semanas depois.

— Só te peço uma coisa, nunca me chame de Richard, nem de tio. Essas nomeações não me pertencem mais, agora sou o que sou. O nada.

— Tudo bem – disse Kyle baixinho.

— E agora, está pronto para o próximo passo?

— Sim – respondeu o rapaz.

Agora ele estava mais determinado do que nunca na sua vingança.