Ressentimento escrita por Fabio_DOliveira


Capítulo 2
Capítulo 2 - Funeral




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A noite havia caído sobre Silent Hill quando Kyle acordou. Ainda tonto, ele se sentou. Procurou algo ao redor, passando a mão pela cama.

— Thor?! – disse baixinho.

Sentiu seu coração apertar: tinha caído a ficha, seu cachorro estava realmente morto. As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Kyle. Sem fazer nenhum som, chorou por algumas horas.

Durante seus lamentos, Kyle não permitiu pensar em outra coisa senão em Thor. Sentia falta de seu cheiro, de sua lambida carinhosa, de seu chamado. Sabia que nunca mais iria vê-lo; isso sim era a sua maior agonia.

Mas logo se lembrou de algo. Ainda podia enterrar seu cachorro, não seu corpo, mas sim em memória. Era o mínimo que podia fazer. Levantou-se de sua cama e foi ver a hora. Três e meia da madrugada, ainda tinha bastante tempo antes de Jack acordar. Pegou a bolinha favorita de Thor e sua coleira de passear. Abriu a porta devagar, desceu e pegou o seu pote d’água e de ração. E por fim, seu osso de brinquedo.

Saiu de casa e foi na cabaninha pegar uma pá. Olhou ao redor, não poderia enterrar essas coisas ali, Jack descobriria e destruiria. Então teve uma ideia. Entrou na floresta, iria enterrar as lembranças de seu cachorro o mais longe possível. Caminhou mato adentro, usando como guia a luz lunar.

Foi aí que achou o lugar perfeito. Uma pequena clareira no meio da floresta. Repousou no chão os pertences de seu cachorro e começou a trabalhar. Deve ter cavado uns dois metros, muito mais do que o necessário – tinha que garantir a segurança destes objetos que lhe eram tão especiais.

Repousou as lembranças de Thor no solo com carinho e começou a repor a terra no buraco. Quando acabou, pegou dois galhos e esculpiu o nome “THOR” bem grande num deles; no fim, juntou-os em forma de cruz. O túmulo já estava marcado.

Um cansaço enorme envolveu Kyle, que sentou em uma pedra para descansar. Lembranças de seu falecido cachorro lhe enchiam a mente. As noites frias, em que dormiam praticamente abraçados. Os dias ruins, em que o apoio moral de Thor era enorme. E nos dias felizes, em que passavam horas correndo pela floresta.

A tristeza começou a sumir, e em seu lugar, o ódio nasceu. Não, dizendo melhor, se libertou. Porque Jack tinha feito aquilo? Por quê? Por diversão? Por mais carne para o churrasco? Ou só para sacanear com ele? E sua mãe que nada fez.

“Uma puta!”, pensou Kyle enfurecido.

Algo estranho começou a acontecer. O clima ficou tenso e a luz da Lua sumiu. A escuridão durou apenas alguns segundos e uma estranha claridade inundou a área. Por trás de algumas árvores jazia uma sombra, que olhava fixamente para Kyle, que por sua vez não sentia medo.

— Que pessoas ingratas – disse a sombra.

— Sim – concordou.

— Você trabalhando para o homem, querendo a aprovação dele, e ele matando seu melhor amigo.

— Sim... – disse Kyle cerrando os pulsos.

— Você tem que se opor – falou com uma voz que ecoava pela floresta. – Mas não com violência física, mas sim com a mental. Os torture.

— Como? – perguntou Kyle se levantando.

— Agora não é a hora, nem amanhã. Viva sua vida e quando a hora chegar você saberá.

— Como saberei? – disse Kyle em tom interrogativo.

— Irei aparecer para você na hora certa. Você saberá o que fazer quando isto acontecer.

E num piscar de olhos, sumiu. Kyle ficou ali parado, na clareira, enquanto a luz da Lua voltava a inundar o ar. Porque não tinha ficado com medo daquela sombra? Ele se sentira o contrário, o vulto lhe deu uma sensação de paz e tranquilidade.

Parou e pensou. Tinha que se vingar de sua mãe e do Jack, mas usando a fúria de nada adiantaria. Iria esperar a sombra aparecer novamente. Olhou para o pequeno túmulo e disse:

— Você não merecia isso. Desculpe-me por não te proteger. Mas possa ter certeza, sempre te visitarei e te vingarei no tempo devido.

Virou-se e foi embora. Estava quase saindo de vista da clareira quando ouviu vários latidos. Era iguais o de Thor, aquele que ele dava quando seu dono tinha que sair. Não olhou para trás, senão ficaria por lá mesmo. Apenas gritou:

— CALMA, GAROTO! AMANHÃ EU VOLTO! – e os latidos pararam.


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