Only You escrita por Lúcia Hill


Capítulo 3
Capitulo - Decisões


Notas iniciais do capítulo

A unica coisa que Luiza tem em mente é a venda da Fazenda *Fronteiras*, e retornar para New York, mal sabe ela que o destino não esta muito a seu favor.



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Luiza ficou intrigada com as últimas palavras que seu pai tinha contado para Javier, precisava saber mais, sabia muito bem que o tal peão não contaria. A fazenda ficou cheia de gente que vinha de todo canto para o velório do Coronel Ernesto Cortez.

“Pelo jeito ele foi muito bom para esse povo.” pensou ainda encostada no pilar da varanda, com os olhos fixos no horizonte. Desde pequena tinha mágoa de seu pai por causa do divórcio que a fez um mal imenso, sua mãe, por outro lado, nunca contou o motivo e todo verão que ia passar na fazenda, sempre tentava perguntar o tal motivo, mas sempre em vão.

Luiza notou um homem alto e loiro se aproximar, não devia ser daquele local, pois era bem sofisticado para os padrões daquele ambiente.

— Bom dia, senhorita Cortez. — sua voz não possuía sotaque, e tinha um belo e sedutor sorriso.

Luiza sorriu e respondeu:

— Bom dia... — parou, pois não sabia o nome do sujeito.

— Sou Steven Mark, advogado de seu pai. — estendeu a mão para saudá-la. — E, aliás, meus pêsames pela perda do mesmo.

Luiza segurou na mão dele, sem desviar seus olhos do tal Steven, que aparentava ser uma boa pessoa, mas não houve uma resposta, ela apenas assentiu com a cabeça. Sua feição não se modificara em nada, continuava seria e pensativa. Carlos se aproximou dela com o chapéu em mãos em forma de respeito ao falecido.

— A senhora precisa de alguma coisa? — sua voz tinha um som engraçado e carregado.

Luiza se virou para encará-lo por alguns instantes, desviou seus olhos azuis para o chão por um breve momento e antes de responder soltou um longo suspiro.

— Não, muito obrigada Carlos, só quero ficar sozinha. — mostrou um sorriso fraco.

O peão apenas balançou a cabeça e se retirou, deixando-a sozinha, como queria, a tarde já estava sedando e os últimos raios solares riscavam o céu de uma forma artística. Luiza nem se mexeu, continuou na mesma posição, com braços cruzados sobre o peito, fitando o céu com a cor meio alaranjada, com riscos de várias cores, mal notou que Javier a encarava ao longe.

“Não quero ficar aqui, amanhã mesmo venderei a fazenda e retornarei para a cidade.” pensou Luíza. Só que mal sabia o que o seu pai tinha deixado no testamento.

Por fim, decidiu entrar, pois estava cansada e precisava conversar com o tal advogado para ver o testamento. O velório já havia acontecido, mas a sala ainda estava com algumas pessoas influentes do local, mas Luiza localizou o advogado rapidamente e se encaminhou na direção dele.

— Licença.

Todos pararam de conversar e se viraram para ela com olhares atentos, apenas o advogado sorriu, porém os demais continuaram sérios e calados, mas Luiza não se intimidou e concluiu.

— Preciso falar com o senhor um pouco. — encarou o advogado.

— Claro, dêem-me licença. — virou-se para os demais, deixou o copo sobre a pequena mesinha e saiu.

Os três homens ficaram encarando ambos até sumirem de vista. Luiza não gostava daqueles sujeitos, sabia muito bem que o Coronel Theodore, juntamente com o Presidente dos fazendeiros da região Tomas Braxden e Aston Bernabe eram nomeados como o trio perigo, entre os demais moradores, juntamente com seus capangas. Luiza e Steven entraram no pequeno escritório.

— Bom, o que tenho que te falar é que... — ela pausou bruscamente, não o encarava, por fim, tomou fôlego e concluiu. —, quero vender essa fazenda amanhã.

Steven a encarou surpreso com a forma que ela tinha dito, ele demonstrou um sorriso torto e se ajeitou na cadeira.

— Não é bem dessa forma que você se livrará da fazenda, senhorita Luiza. — ele coçou a cabeça e concluiu. — Seu pai deixou um pequeno contrato para que antes de vender a fazenda você cumpra.

Ela arregalou os olhos, confusa.

— Contrato, mas que contrato é esse? — grunhiu.

— Bom, para a senhorita vender a propriedade terá que no mínimo, viver aqui por três anos. Somente após este tempo, poderá vender.

Luiza riu alto.

— Não tem como burlar essa cláusula? — arqueou a sobrancelha.

Steven se ajeitou novamente na cadeira e soltou um longo suspiro.

— Não.

Luiza se levantou e caminhou até a imensa janela, toda trabalhada em madeira artesanal, pousou uma mão sobre um desenho e perguntou sem encará-lo.

— Depois poderei vender? — sua voz estava um pouco menos alterada.

— Sim, e, aliás, comprador não faltará, senhorita. — concluiu com um sorriso tímido no rosto.

Luiza se virou para ele e balançou a cabeça.

— É, reparei que os urubus já estão sobre a carniça. — soou sarcástica.

Steven sabia muito bem a quem ela se referia, a conversa não demorou muito para se concluir, já eram quase dez e meia. Ela continuava sentada na velha cadeira de seu pai na varanda, quando a velha criada Cole se aproximou sem que Luiza pudesse notar sua presença.

— Deve estar cansada. — soou suave sua voz.

Luiza meneou a cabeça para trás, avistando Cole, apenas sorriu, estava na verdade exausta, sua mente estava girando e girando por causa da tal cláusula do testamento.

— Um pouco. — sorriu. — E a senhora, não está?

Cole sorriu meigamente.

— Não me canso menina. Apesar de que hoje foi um dia muito triste. — falou cabisbaixa. — Mas se precisar de alguma coisa é só pedir.

Luiza agradeceu com um pequeno balançar de cabeça e um sorriso tímido.

— Seu pai era muito querido por essas bandas.

— É, eu sei. — grunhiu.

Não queria ter que ficar ouvindo o quanto seu pai era bondoso e generoso com os pobres, pois para ela, ele nunca tinha sido um pai amoroso, sempre áspero e rude. Algumas lágrimas ameaçaram cair de seus olhos ao relembrar as cenas que tinha em sua mente, o quanto a fez sofrer, a mágoa ainda existia dentro dela.

— Bom, vou me deitar, mas se precisar é só me chamar.

Essas foram às últimas palavras de Cole antes de se retirar, e novamente estava envolta pela escuridão e o silêncio esmagador da noite.

— “Seu pai era muito querido por essas bandas.” — remedou a velha criada com uma forma sarcástica, pausou bruscamente quando sentiu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto pálido.— Mas pra mim, sempre foi um cavalo, nunca me ligou para saber se eu estava bem! Droga! Nunca me dizia o que sentia, sempre me afastava de sua vidinha. — murmurou, mas acabou sendo tomada pelos soluços do choro.

Javier estava ouvindo tudo da porta, queria dizer o que ele havia dito para ele em seu leito de morte e por mais que não gostasse muito dela, acabou se comovendo pela dor que ela sentia, agora sim ele sabia qual fora o motivo dela não ter derramado nem uma lágrima no velório.

Segurou forte o chapéu contra o peito e voltou para dentro.

— Só o que quero é vender esse pedaço de terra, ir embora de uma vez por todas e nunca mais retornar aqui... — disse a si mesma, limpando as lágrimas.

Estava decidida a cumprir a tal cláusula e por fim, desfazer-se da fazenda e retornar para Nova York.


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Notas finais do capítulo

Boa Leitura!