Only You escrita por Lúcia Hill


Capítulo 16
Capítulo - Casamento




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Era manhã de sábado, e tudo estava como de costume na fazenda. Luiza continuava parada próxima à porta de entrada, aguardando Javier, para que pudesse ir até o cartório registrar um casamento de fachada. Havia ligado para o advogado Steven, para que estivesse presente perante o juiz do cartório e solicitou que arrumasse duas testemunhas para essa loucura.

Devo estar maluca. — pensou cabisbaixa.

Em toda sua vida, sempre lutou para conseguir o afeto de seu pai e, agora, sabia que, mesmo sendo do sangue dos Cortez, Ernesto nunca a reconheceria como filha, apenas fez o papel de dar-lhe o sobrenome.

Toda essa luta foi em vão, ele nunca me amou como pensei. — pensou, com os olhos rasos de água.

Para se livrar de uma maldita herança, estava a minutos de se casar com um peão. Balançou a cabeça, pensativa; podia sentir seu coração apertar e caminhou à caminhonete, limpando os olhos. Não tinha o direito de magoar os outros por causa de uma vingança.

Javier caminhou ao enorme veículo e entrou sem dizer nenhuma palavra. O trajeto foi um dos piores de sua vida, nunca ninguém havia forçado ele a nada, mas havia dado sua palavra que aceitaria se casar com ela para se livrar das terras.

Para sorte de Luiza, o vilarejo estava vazio. Ela não queria que ninguém soubesse dessa besteira que, talvez um dia, fosse se arrepender amargamente. O peão foi o primeiro a descer do veículo e caminhou em silêncio.

— Senhorita Luiza. — saudou o advogado.

Sem encará-lo, Luiza apertou a mão dele.

— Arrumou as testemunhas? — questionou-o friamente.

Steven mostrou um sorriso sem graça.

— S-Sim.

Por fim, ela o encarou.

— São de confiança? Não quero que ninguém dessa maldita cidade fique sabendo de nada, entendeu? — vociferou.

— Claro, são sim, fique descansada. — disse.

Ela caminhou sem dizer mais nada. Estava disposta a cometer essa burrice para amenizar sua dor e, quando entrou na sala, pôde notar um senhor com cabelos grisalhos e olhos claros atrás de uma mesa. Ao se virar, avistou duas testemunhas — pessoas simples — e Javier próximo a mesa, segurando um papel entre as mãos.

— Acho que podemos começar a cerimônia, não é? — disse à jovem, que apenas balançou a cabeça, positiva. — Meus queridos, sabem que o casamento é algo precioso e eterno quando duas pessoas se unem por vontade própria.

— Por favor, pule para as assinaturas. — pediu Luiza.

O juiz a encarou, confuso com o pedido. Sempre aplicava seu sermão aos novos casais, porém, ele balançou a cabeça, aceitando a sugestão. Ela desviou seus olhos para um canto da sala e algo dentro dela tentava impedi-la de cometer uma besteira como essa.

— Cada um assine onde está o ‘xis’. — disse.

Javier foi o primeiro a assinar, seguido pelas testemunhas. Luiza pegou a caneta, respirou fundo e assinou — sua mão tremia.

— Espero que tenha sido algo verdadeiro, minha jovem. — disse, encarando-a.

Luiza mostrou um sorriso irônico e andou a saída. Seu estômago se retorcia e sentia-se a pessoa mais imbecil da face da Terra. Amava Javier, mas seu orgulho besta negava.

— Feito sua vontade, espero não ter que suportá-la. — vociferou Javier, feito um animal ferido.

Luiza o encarou.

— Não terá, daqui a um mês irei embora, pedirei o divórcio em Nova York mesmo, só para não ter o gostinho de ver sua cara, seu bicho do mato. — rebateu furiosa.

O advogado Steven segurou de leve no braço da jovem, afastando-a de perto de Javier, que caminhou em direção oposta.

Tenha calma, senhorita, lembre-se que o casamento, para ser válido, terá que ter pelo menos seis meses. — disse.

Luiza se desprendeu da mão do advogado e caminhou à caminhonete, relutante contra as lágrimas, que tentavam dominá-la. Nunca, em toda sua vida, tinha tomado decisões tão rápidas, sem ao menos pensar nas consequências.

Acabou de se casar com um estranho ainda que tivessem convivido por poucos meses, além do mais, era jovem e imatura, feito os garrotes novos que davam com a cabeça contra a cerca.

Deus, que loucura fiz? — pensou dominada pelas lágrimas.

De certa forma, amava-o.

 Ao chegar à fazenda, encostou sua cabeça contra o volante e fixou seus olhos contra o chão do veículo. Agora estava presa a Javier durante seis meses.

— Não se pode mandar no amor, minha querida, seu pai nunca entendeu isso. Eu o amava, mas ele me sufocava com suas ideias machistas. Dizem que o amor não acaba, mas aprendi que é mentira. — disse, sentada na cadeira de balançou, com os olhos fixos na rua molhada, enquanto fumava seu cigarro. — Ele matou meu amor, por isso que não pode amá-la, querida Luiza.

Luiza retorcia sua boneca de pano, com o rosto encharcado pelas lágrimas.

— Não tenha raiva de seu papai, ele apenas não sabe amá-la. Algum dia, você terá sua recompensa. — disse, forçando um sorriso.

Aquela maldita cena sempre lhe vinha em momentos errados; sua mãe era uma alcoólatra e seu pai a rejeitava. Nunca aprendeu qual era o verdadeiro significado da palavra “amor”.

— Eu amava-o, mas ele era seco por dentro. Maldito dia que o conheci. — murmurou.

 Temia acabarem seus dias como os de sua mãe; solitária, apenas com a companhia de uma enorme garrafa de uísque e um maço de cigarros, em um apartamento de frente para uma avenida vazia.

Desceu do veículo e caminhou ao casarão. Algumas recordações de sua infância lhe vinham à mente; havia aprendido o que era ser solitária, de onde sempre acha as forças para lutar e seguir em frente.

— Não seja uma menina mal educada. — vociferou Ernesto, sentado na cadeira da sala.

As duras palavras de seu pai sempre a faziam recordar que aquele local nunca fora sua casa. Era como se fosse uma completa estranha naquele casarão, mesmo tentando cativar à atenção do velho Cortez.

— Irei mostrar que não me faz falta. — disse, encarando a fachada do casarão.

Suas atitudes se mostravam precipitadas e complemente malucas.


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Notas finais do capítulo

Boa Leitura!