4th July escrita por Nebbia


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Voces nao sabem o quanto demorou pra eu fazer isso... Digo, nao demorou, mas eu fiz ha uns dois meses atras durante as aulas da escola planejando para postar hoje, e enquanto isso fui fazendo mudancas. Li isso tantas vezes que na hora de passar por PC ja sabia o texto praticamente de cor q Tenho muito orgulho dela.



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 O quão bonito estava o pôr-do-sol aquele dia eu não conseguia descrever. Era algo mesclado de laranja e amarelo, quase aquelas cores marca-textos, como se diz, mas que atraía o olhar. Não machucava… Encantava. Jogava aquela luz alaranjada por tudo o que alcançava, como se fizesse questão de marcar sua presença e de que todos a vissem.

 Aparentemente, porém, apenas eu lhe dava a sua tão desejada atenção, mesmo havendo várias pessoas lá. Várias. Conversando, festejando, algumas bebendo e outras beijando. Perdi a conta das vezes em que, sem querer, me chutaram as costas, sendo eu ali o único sentado. Eu reagia apenas segundos depois. Minha mente vagava longe...

 Bom... E onde é ”ali”?

 Boston. Perto do porto, aquele que dá para o oceano. Aquele em que os cargueiros atracavam. Aquele onde tudo começou.

 Eu ainda conseguia ver tudo perfeitamente, como um filme. Como se estivesse acontecendo, ainda.

 Mas não, não havia nada lá. Nenhhum barco. Nenhum protestante. No lugar da confusão que tinha a revolta como combustível reinavam as águas alaranjadas pelo pôr-do-sol. Tão alaranjadas que parecia ser sua cor natural.

 Me chutaram pela vigésima vez. Grunhi, mas não fiz nada. Deixei que festejassem. Isso porque eu estava na ponta de um cais... Em terra firme, provavelmente não só me chutariam como me empurrariam para o mar em tempo recorde.

 Suspirei e inclinei-me até que meus dedos tocassem a água. Fiz uma concha com as mãos e trouxe um pouco do oceano até perto de mim. Cristalina. A cor recusou-se a acompanhar o que eu havia capturado.

 Joguei o líquido de volta ao seu lugar e voltei a observar o céu. Ele aos poucos escurecia e dispensava as cores luminosas de antes. As estrelas, acanhadas, apareciam uma a uma, lentamente, com a presença da Gata Branca.

 As pessoas se acalmavam aos poucos e eu pude perceber isso conforme paravam de me chutar. E também porque olhei o relógio. Eram quase sete horas e o céu tinha toda a atenção que desejava quando ainda era uma aquarela de amarelo e laranja.

 Um clarão repetinamente rasgou o céu. E outro. E outro. Fui obrigado a fechar os olhos com o barulho. Nunca gostei e tampouco acostumei-me com aquilo, mas o resto de meu povo vidrava os olhos nos fogos de artifício como se estivessem a presenciar um Eclipse.

 Desviei o olhar do céu para a multidão em terra firme. Havia um grupo de três pessoas segurando uma grande bandeira de sua nacionalidade, pulando sem cessar para fazê-la tremular. Era a coisa mais interessante dali e graças a Deus a única, já que ano passado alguns patriotas resolveram tacar fogo na bandeira inglesa...

 Sorri, ainda observando o grupo, mas meus olhos não acompanharam a ação. Era um sorriso triste que eu não tinha vergonha de demonstrar.

 Olhei novamente para a água. Maré calma, quase imóvel pela falta de vento, totalmente alheia ao que se passava no local. Estava quase voltando a entrar em meu labirinto de pensamentos...

 Me chutaram.

 ” Screw you, dude! ”

 Ele nem me escutou. Ainda bem.

 Voltei a olhar para o céu apenas quando os barulhos cessaram totalmente, quando a apresentação de fogos acabou. Um último fio de luz vermelha ainda caía, leve como uma pena, e logo sumiu diante de nossos olhos.

 Uma cortina de chuva – Sim, literalmente uma cortina – caiu assim que o céu voltou ao normal, como se fizesse parte do show.

 Foi tão repetino que encharcou a todos imediatamente. Todos. E todos sumiram com a mesma velocidade com que a chuva apareceu, uns se abrigando em lojas e debaixo de lonas e outros indo festejar o resto do feriado na própria casa.

 Todos, menos eu.

 Assim como eu só reagia aos chutes um tempo depois, só percebi a torrente de água quando era o único restante lá. Mesmo assim, não saí.

 Aquele jeito com que a chuva me tocava... As gotas atingindo minha pele de modo vagamente incômodo, deixando minhas roupas mais pesadas a cada segundo... Vagas lembranças do dia que originou este feriado.

 Acho que comecei a chorar. Chovia tão forte que os líquidos se confundiam, mas, sim, eu chorava. Me doía por dentro e, mesmo com o barulho dos pingos bombardeando terra e mar, podia ouvir a mim mesmo soluçar.

 Sendo possível ou não, um tempo depois a chuva deu um jeito de aumentar mais ainda. Ficou tão forte que doía ao tocar-me, como se quisesse me castigar por ficar lá com ela. Como se quisesse me expulsar para ficar sozinha.

 Levantei-me, respeitando a sua vontade. Também corria o risco de pegar um resfriado...

 Nunca soube o que era isso, mas Inglaterra sempre me bronqueava assim quando fazia frio e eu estava mal agasalhado. Sempre, até agora.

 Precisava chegar em casa para me secar, trocar de roupa e pegar um guarda-chuva. Enquanto andava, fui passando por várias casas de luzes acesas e cujos barulhos interiores conseguiam superar o da chuva e constatei que a minha era a única de luzes apagadas, imersa na escuridão.

 Para completar, tive que me secar, trocar e encontrar o guarda-chuva desse mesmo jeito. As luzes haviam queimado e eu não iria, de jeito algum, consertá-las àquela hora. Não gostava de dormir no escuro, mas aquilo não iria ser problema essa noite.

 Voltei a caminhar pelas ruas desertas segurando o guarda-chuva negro sobre mim. Sentia-me leve, talvez pelo fato de estar seco, ou também pelo meu destino, que aliás eu já via ao longe. Outra casa que se destacava dentre as outras pela escuridão em que se encontrava seu interior.

 Ajoelhei-me diante da entrada e peguei a chave reserva que estava debaixo do carpete. Velho truque que, de tão óbvio, tornou-se eficiente. Abri a porta com ela, lentamente, e guardei a chave no bolso. Devolvê-la-ia ao sair. Fechei o guarda-chuva e deixei-o ao lado da porta, que foi fechada logo depois.

 O interior da casa não estava só escuro como também quieto, o que era de se esperar. Subi as escadas até o primeiro andar e abri uma das portas que se destacavam nas sombras.

 Eram 8:17 da noite e eu sabia que ele já dormia. Sabia que sempre se deitava cedo nesse dia.

 Adentrei o quarto e, aproximando-me da cama, o que não era surpresa, pude notar que seu rosto tinha um aspecto horrível, digno de um doente. Uma péssima sensação de mal estar invadiu-me o corpo inteiro, mas abandonei-a rapidamente.

 Peguei o cobertor e levantei para que pudesse me deitar na cama também.

 ” ... América... ? ”, senti-o tocar em meu ahoge para obter a confirmação. Por fim, puxou-me mais para perto de seu corpo e acariciou-me os cabelos.

 Encolhi-me e encostei a cabeça em seu peito.

 ” Iggy... ”

 Do lado de fora, a chuva bombardeava a casa com grandes gotas de água. Tentava alcançar-nos e não conseguia, deixando apenas seu barulho para avisar-nos de que ainda estava lá. Barulho esse que soava como uma canção de ninar em meus ouvidos.

 ” Boa noite, garoto...”

 Sorri. Um sorriso feliz.


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Notas finais do capítulo

Por favor, eu realmente quero reviews nessa fic. Me orgulho muito dela...