A Maldição da Caça escrita por reallystrange


Capítulo 1
Singer




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Desci as escadas daquela igreja abandonada lentamente. Minha roupa banhada por sangue; meu e dos demônios que matei.

Ajoelhei-me frente à imagem quase destruída de nosso Senhor e comecei a fazer um agradecimento pela boa noite de caça que tive, agradeci por sair da minha rotina monótona.

Não baixo minha guarda nem por um segundo mesmo depois de caçar, isso já é algo automático em mim. Ouvi a porta ser forçada e ir se abrindo lentamente. Preparei a espingarda enquanto me escondia atrás do pesado altar de mármore quase destruído, o cheiro de morte era quase insuportável, o demônio que eu tinha pregado na parede com um disparo de minha bereta parecia me encarar de cima.

Rodas, um barulho e rodas junto com passos diferentes estavam entrando ali. Três pessoas então, três demônios que não tinham morrido no meu ataque silencioso. Merda!

-Uau, parece que alguém já esteve por aqui fazendo um belo estrago não é?-Uma voz masculina ecoou pelo silêncio.

-E quem faria um estrago desses?Bem, pelo menos foi bem feito, que pena... Estragou minha diversão- outra voz masculina murmurou.

-Que destruição, e que lugar irônico pra um demônio se esconder.

Congelei ali, eu conhecia perfeitamente aquela voz, aquele tom rouco e de análise. Sem querer eu levantei esquecendo-me do altar em cima de mim, um baque surdo ecoou pela igreja e o som de três armas distintas sendo engatilhadas era presente.

-Saia e eu te mato rápido, não saia e brincaremos de gato e rato até eu te fazer parecer um queijo suíço!- um homem gritou.

As rodas se aproximaram do altar “perto demais!”- eu pensei comigo.

-Acho que o caçador esqueceu um demônio vivo, cuidado rapazes.

Aquela voz seria possível?

Ao meu lado jazia uma âmbula eucarística. Peguei-a silenciosamente tirando somente o braço de meu esconderijo e arremessei o objeto num dos bancos do fundo. Tiros e barulhos de correria e rodas distanciaram-se de mim.

Levantei-me a apontei a espingarda encarando dois homens altos de costas e um senhor numa cadeira de rodas.

-Larguem as armas e virem-se lentamente- eu disse firme apontando a arma pra eles.

-É?E o que te leva a pensar que eu faria uma coisa dessas?-o homem perguntou levantando uma pistola.

-O que leva a mandar e você obedecer é que você tem uma arma menor do que a minha e que com certeza vou atirar sem nem pensar-eu rebati.

A cadeira de rodas fez a volta me levando a encarar aquele homem. Aquele boné, aquela barba...

-Annice?Annice é você?- o homem perguntou abaixando sua espingarda enquanto os outros dois se viravam pra nos encarar.

Não respondi por mim, quando me dei conta eu estava a ponto de correr dali o mais rápido possível.

-Conhece aquele demônio Bob?- um dos homens perguntou.

-Não é um demônio Dean, ela é minha filha!-ele esbravejou aproximando-se.

Olhei por lado e uma antiga vidraça estilhaçada pelo tempo estava ali. Olhei naqueles olhos curiosos e senti raiva, mas não era hora e nem lugar. Corri a atirei-me contra os cacos remanescentes quebrando um dedo ou dois durante a queda.

Levantei e comecei a correr em direção ao meu carro. Um impala king estava pardo ao lado.

-Annice Marie Elizabeth Singer, pare agora mesmo!- a voz ordenou autoritária.

Parei e girei em meus calcanhares, papai estava ali.

Bem, antes de continuar acho que devo me apresentar resumidamente não é?

Sou Annice, tenho vinte e dois anos. Sou de estatura mediana, tenho olhos verdes, cabelo branco até as costas; liso e com cachos nas pontas e com uma única mecha preta como a noite na franja (meu cabelo é assim, e nem com tinta deu pra disfarçar, sempre tive o cabelo dessa cor.)

Sou caçadora faz 10 anos, exatamente como meu pai. Falando nele, eu não o via desde que comecei a caçar, ou seja, dez anos atrás quando fugi do internato e descobri que os personagens das histórias de terror são reais até demais.

Sou formada em direito por Harvard faz dois anos, caçando e julgando nesse mesmo espaço de tempo. Faz dez anos que descobri a maldição hereditária da caça, a razão de minha solidão e adrenalina maiores.

Bem, é isso. Voltando ao acontecido...

-Bob?- eu murmurei desconcertada.

-É papai pra você- ele disse serrando os olhos- o que você estava fazendo naquela igreja?

Voltei a mim, a raiva tinha feito com que eu despertasse. Encarei os dois homens que ladeavam meu pai e lembrei-me de cada um deles. Sam e Dean.

-Winchesters?- eu sibilei.

Virei de novo olhando pro meu carro. Queria sair dali, a dor que há tantos anos eu tinha controlado queria voltar. Rodinhas amassaram o cascalho enquanto aproximavam-se de mim. Uma mão quente segurou a minha.

Olhei pra trás e Bob segurava minha mão me encarando de baixo.

-Filha, não vá- ele murmurou.

-Há muito tempo você perdeu o direito de me chamar assim- eu murmurei puxando minha mão.

Corri os poucos passos necessários até meu carro, entrei a dei a partida, a dor queimando e me jogando em uma espiral de lembranças que praticamente me faziam rosnar.

Depois de um tempo rodando estrada adentro, eu voltei ao hotel onde estava hospedada e entrei no chuveiro de roupa e tudo.

Enquanto isso num Impala King...

-Bob, você nunca tinha dito que era pai!-Dean esbravejou encarando-o pelo espelho.

Bob não falava, somente encarava o vazio com os olhos imersos na lembrança de sua filha, e, principalmente do ódio que ela sentia por ele. Mais ele só conseguia pensar em uma coisa: Ela estava viva!

-Bob, ela é mesmo sua filha?- Sam perguntou.

-Meu bebê está vivo- ele sussurrou sorrindo em meio a lágrimas.

-Bob papai, que... Bizarro!- Dean exclamou.

Eu ainda estava no banheiro, a dor torpe e avassaladora voltando pro meu peito. Dez anos, em todo esse tempo eu consegui me controlar, olhar de longe e mesmo assim não sentir essa dor, esse ciúme. Depois da morte da esposa de John Winchester meu pai me esqueceu, não era mais meu pai. Ele era pai de Sam e Dean, os garotos problema, e, nesse momento, os causadores do apocalipse.

Fui pra cama e rolei por toda ela sem sucesso nas poucas horas antes do sol aparecer. Coloquei uma saia e um corpete, por cima um casaco longo e nos pés uma bota.

O corpete branco contrastava com a jaqueta preta, a saia vinda até o começo das coxas e a bota era muito sexies, o casaco eu tinha que por pra que os policiais me levassem a sério como advogada.

Prendi os cabelos num coque desgrenhado e saí do hotel antes das sete. Cheguei à delegacia de Memphis depois de ter comido uma bela pilha de panquecas com calda de morango.

Eu estava no caso que me levou a caçar aqueles demônios. Muita gente morrendo, mortas por amigos ou parentes próximos das mais variadas formas.

Ironicamente eles reuniam-se na igreja pra receber comandos de um demônio maior, mais forte do que eles. O motivo?Não faço idéia.

Meu trabalho ali era praticamente nulo já que testemunhas e assassinos estavam mortos, só assinaria e sairia dali em busca de uma nova caça.

-Oh, senhorita Singer, que prazer em vê-la- o delegado disse enquanto apertava minha mão.

-Prazer maior o meu, acredite- eu respondi- então eu preciso assinar o litígio.

-Entendo, a corregedoria me enviou três homens pra formalização e investigação, agora penso eu que eles não serão mais necessários aqui, visto que todos os investigados estão desaparecidos ou foram encontrados mortos na igreja, visão horrível aquela- ele disse controlando um leve tremor.

-Compreendo; esse povo da corregedoria sempre chega depois da ação e leva o crédito, mais que bom que acabou mesmo com todas as perdas ao menos acabou- eu disse- agora onde estão os papéis?

-Ah, estão nas mãos deles, venha comigo, por favor.

A porta foi aberta pelo delegado que entrou comigo. Olhei pra cima e quase tive um ataque.

-Doutora Singer, esses são Scooter, James e Royce, eles são da corregedoria- o delegado disse apontando enquanto apontava pra Dean, Sam e meu pai.

-Oh!Boa tarde senhores, delegado, onde eu assino?- eu perguntei tentando não encará-los.

-A pasta está na mão dos cavalheiros da corregedoria, eu tenho algumas explicações a dar, então se não se importam eu estarei em minha sala- ele disse se retirando.

Comecei a sentir o ar faltar enquanto o salto da bota batia contra o chão.

-Annice não é?Oi, sou Sam- o mais alto disse estendendo-me a mão.

-O que fazem aqui?Se não perceberam, vocês chegaram atrasados, eu já resolvi o caso- eu rebati puxando a pasta das mãos de Sam.

-Filha, nós temos tanto pra conversar... – Bob começou.

-Acho que já disse e escutei o suficiente, se não se importam, eu já terminei meu trabalho por aqui- eu disse olhando pra porta.

-Como você pode ser tão fria?Não tá vendo que isso é importante, que você não pode dizer não?- Dean perguntou indo pra porta.

-Uau, vindo do cara que começou o apocalipse e tá dizendo não até agora pro maior arcanjo de todos por pura teimosia isso vale muito, agora sai da minha frente- eu sibilei.

Dean saiu da minha frente buscando por palavras, eu já sabia as minhas.

-Pode ficar com seus filhos agora.


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