Busquei minhas malas chorando desesperadamente. Aposto que qualquer um que passasse pelo corredor ouviria minha sinfonia de lágrimas. Mal acreditei que consegui sair do apartamento sem que ninguém me visse. Ainda chorava, mas agora silenciosamente. Tudo isso doía em mim. Tudo isso doía fisicamente.

- Fugindo?

Deixei a mala cair em busca de quem tinha falado comigo. A mãe de Leonard caminhou até mim com seus saltos fazendo eco na garagem ampla.

- Ele te fez chorar?

- Não. Eu fiz isso comigo. – Sequei os olhos – Eu sei. Todo mundo me disse que ia acontecer.

- Sim, ele não é para você.

- A culpa é sua que me deu aquelas pílulas!

- Não mandei você usá-las. E botar a culpa em mim vai te dar apenas uma sensação momentânea de alívio. A culpa é totalmente sua.

- Preciso ir para Passadena. Pegar minhas coisas e vim para cá, para longe dele. Só assim que ninguém vai se machucar.

- Eu posso te convencer do contrário. Mas não vou.

Eu queria saber realmente o motivo de tudo isso. Mas meu corpo e mente não sustentavam mais nenhum drama. Só precisava da minha casa.

Minha casa? Não. Minha casa era Washington agora.

Desde que cheguei à Passadena não parei de empacotar as coisas. Dia e noite. Olheiras enormes, corpo dolorido e muito, muito, muito café até terminar tudo. Quando vi todas minhas roupas, calçados e algumas poucas tralhas nas caixas, desmoronei no sofá. Meus móveis e a maioria dos objetos ficariam, eu não precisaria deles. Seria meu último dia em Passadena.

Acordei com o celular tocando. Ops, esqueci de pedir demissão. Tudo bem, eu tinha sido demitida. Me admirei de ter consegui por tudo no carro, que ficou totalmente lotado. Fiquei por um tempo encostada no capô pensando em alguns momentos singulares que eu vivi naquele prédio.

Subi as escadas tão vagarosamente que parecia que eu tinha subido o dobro de degraus. Peguei as chaves nas mãos com tanta melancolia que eu nunca tinha vivido antes.

- Penny!

Levantei a cabeça. Sheldon estava sentado na escada perto da minha porta. Ele se levantou tão abruptamente que quase caiu. Eu também tinha quase caído, mas me segurei na maçaneta da porta.

- Penny! – Ele repetiu e me abraçou com seus braços longos que eu não pude me mexer – Por que você veio? Me deixou sozinho em Washington!

Sheldon me soltou e noite que ele chorava, mas de felicidade. Isso me partiu o coração, comecei a chorar também. O abracei novamente ficamos por um minuto chorando abraçados no momento mais emotivo que teríamos na vida.

- Eu não vou ficar, Sheldon. – Eu disse, o abraçando ainda mais forte. – Parte de mim vai ficar, mas eu preciso ir.

- Isso não é justo. – Ele sussurrou.

Separamos do abraço e ele estava muito sério.

- Você tem noção do que fez? Você me convenceu que eu não preciso largar meu modo de ver a vida para ter um relacionamento com alguém.

- E você realmente acha que isso funcionou? Sheldon, isso não funcionou!

- Só precisamos achar a pessoa certa.

- Eu não sou a pessoa certa.

- Relacionamentos não são fáceis. Por tudo que li e pouco que vivi, temos que fazer escolhas. E elas valem a pena quando você quer estar com essa pessoa vale a pena. Toda a mudança, todo o sofrimento.

- Eu vou para Washington. Essa minha decisão e vai doer em mim, de verdade.

- Eu fiz minha decisão também. Eu vou para Washington com você, porque você vale a pena o sofrimento.

Fiquei olhando para ele. Eu tinha mudado ele, mas ao mesmo tempo o Sheldon continuava o mesmo. Ele mudou e gostou da mudança. Mas o que seria agora, moraríamos juntos como um casal normal? Ele aguardava uma resposta calmamente, apesar de que seus olhos tão claros denunciarem impaciência.

Assenti sorrindo, com as lágrimas voltando aos meus olhos. Segurei a mão dele e entrelaçamos os dedos. Seríamos tudo, mas nunca um casal normal.

Porém seríamos um casal.