Redenção escrita por Cara de Pinheiro


Capítulo 4
Traição nas masmorras




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Ana Luisa caminhava apressadamente pelo corredor das masmorras em direção a aula de poções. Ao virar a esquerda vê o que menos esperava: Victor e Lavínia se beijando.

Era como se o mundo tivesse parado de girar, o tempo congelasse, seu coração parasse de bater já que seu combustível acabava de mostrar que pretendia fazer outro coração funcionar.

Ana Luisa não teve outra reação a não ser voltar andando em marcha ré pelo caminho que havia vindo. Após voltar ao corredor principal, começou a correr em direção à escada. Ouvia ao longe alguém chamar pelo seu nome, mas naquele momento nada fazia muito sentido para ela. O choque era tão grande que ela nem conseguia chorar.

Começou a subir a escada de três em três degraus antes de esbarrar em Hector.

Hector Lemos era amigo de Victor e conhecera Ana Luisa naquele ano. Também era da Sonserina e, como Victor, estava repetindo o quinto ano pela terceira vez. Hector era o tipo esportivo: alto, forte e moreno. Era simpatizante de uma luta trouxa e costumava exibir-se para as garotas com isso.

– Ei! Ei! Ei! Aonde você vai com tanta pressa? – perguntou Hector fazendo Ana Luisa parar de correr segurando-a pelos ombros.

– Depois nós conversamos Hector. – respondeu Ana Luisa tentando livrar-se de Hector.

– Não, fala agora. O que aconteceu? - insistiu Hector.

Ana Luisa contrariada, irritada e confusa, começou a puxar Hector pela mão para longe dali. Temia a chegada de Victor.

Caminharam por um longo tempo em silencio até Ana Luisa encontrar um lugar onde Victor não a visse. O lugar escolhido foi o corredor no ultimo andar da torre principal, no pedestal de uma armadura, Hector e Ana Luisa sentaram para conversar. Ana Luisa acalmou-se e contou o que havia acabado de ver a caminho da aula de poções.

– Você tem certeza que era Victor. Eu o conheço há bastante tempo e tenho certeza que ele não faria isso. – afirmou Hector.

Para Ana Luisa não importava muito o que Hector dizia. O que ela havia visto era suficiente. Não conseguia acretidar, apesar da solides da cena. A raiva era maior do que a tristeza. Lágrimas de ódio começaram a rolar por sua face.

Hector não sabia mais o que disser. Fez a única coisa que achava conveniente naquele momento: abraçou-a.

Ana Luisa não tinha muita noção do que estava sentindo, mas o abraço de Hector foi extremamente reconfortante. Talvez fosse o que ela estava precisando naquele momento.

Depois de algum tempo, Ana Luisa foi retomando a calma.

– Acho melhor irmos embora. Já está ficando tarde – disse Ana Luisa afastando-se de Hector e levantando.

Hector permaneceu em silêncio e acompanhou Ana Luisa até próximo da torre da Corvinal. O rosto da garota permanecia lavado de lágrimas. Em silencio, Hector segurou a mão direita de Ana Luisa com sua mão esquerda. Aproximou-se de Ana Luisa e beijou-a. O beijo, em sua opinião, foi o mais estranho de sua vida.

Hector sentia atração por Ana Luisa, e ela, por mais que não quisesse admitir, sentia o mesmo, mas havia acabado de descobrir que estava sendo traída e isso lhe doía muito.

O gosto das lágrimas nos lábios de Ana Luisa fez Hector lembrar o que as levaram até ali.

– Não posso. – disse Ana Luisa descolando seus lábios dos de Hector, mas mantendo-os ainda próximos. Os olhos fechados e as mãos ainda dadas.

Hector acariciou levemente os lábios de Ana Luisa com os seus. A dor sempre era grátis. Ana Luisa pôs o lábio inferior de Hector em sua boca e sugou, enquanto ele fazia o mesmo com seu lábio superior.

Ana Luisa abriu lentamente os olhos. A luz do sol que entrava pela fresta aberta da cortina a incomodava.

Com o braço esquerdo, empurrou a coberta para longe e sentou. Respirou fundo e abriu a cortina; ao lado de sua cama estava repousado o violão favorito de Victor. Um pensamento de vingança lhe percorreu a mente. Ana Luisa sacudiu a cabeça para afastar a maldosa idéia, como quem tenta afastar algum inseto impertinente. Calçou os pufes e foi vestir-se.

Já pronta, dirigiu-se a sala comunal. Chegando lá, manteve-se observando as montanhas pela janela. Ana Luisa sempre amara aquela vista. Era o tipo de coisa que, dela, arrancavam lágrimas. Mas naquele momento a interessava mais o café da manhã.

Ana Luisa andou vagarosamente até o salão principal. Sentou-se próxima a mesa dos professores, ao lado de Lysander, que ainda estava no começo.

– Bom dia Lys! – disse Ana Luisa.

– Dia – respondeu Lysander sonolenta. – Você fez o texto de Trato das Criaturas Mágicas? – perguntou terminando com um grande bocejo.

– Ainda não terminei, mas como não temos aula nos dois próximos horários, vou continuar depois – respondeu Ana Luisa servindo-se de pão de batata e queijo.

– Nos não temos aula agora? – perguntou Lysander deitando a cabeça na mesa.

– Não, nos não temos. – disse Ana Luisa. Tomou um gole de suco e, sacudindo a amiga, disse: - Lys, ou você acorda, ou aproveita e vai dormir logo!

– Tem razão... Vou dormir, já que terminei o texto hoje de madrugada. Encontro-te na próxima aula. Trato das criaturas mágicas... Que tédio! Thau Ana Lu! - despediu-se Lysander, levantando-se e caminhando lentamente em direção a saída.

Ana Luisa terminou seu café sem pressa e em silencio. Ao sair do salão principal observou o quadro de pontos (Corvinal estava na frente) e saiu sorridente. Pelo menos por alguns instantes esquecera-se do ocorrido do dia anterior.

Ao observar o relógio, tornou seus passos mais rápidos, a fim de ter todo o tempo possível para concluir sua tarefa. Ao chegar à torre da Corvinal, encontrou Lysander deitada em um dos sofás da sala comunal. Subiu a escada até o dormitório, escovou os dentes, arrumou a mochila rapidamente com tudo que usaria e dirigiu-se para a biblioteca.

Após um bom tempo analisando livros e formulando o fim de seu trabalho, Ana Luisa foi interrompida por uma chegada infeliz.

– Estava com saudades... - disse Victor ao pé da orelha de Ana Luisa enquanto sentia o perfume dos cabelos da garota.

– Mas é muita cara-de-pau mesmo! – exclamou Ana Luisa afastando-se de Victor. Levantou, recolheu seu material e disse: - Nunca mais me dirija à palavra! – e olhando-o com desprezo, partiu.

Victor tinha no rosto uma expressão que confirmava que ele sabia muito bem que Ana Luisa estava certa, mas tinha a intenção de fingir que nada acontecera. Como não dera certo, teria que tentar conversar e contar a verdade.

Ana Luisa caminhou para a torre da Corvinal quando se lembrou de que não avisara nada a Selene. Rapidamente pegou um pergaminho enfeitiçado e uma pena de repetição rápida, e fez um rápido relato do dia anterior enquanto dirigia-se ao corujal.

Enviou o recado pela coruja de Selene. Quando a amiga saísse da aula, ela que teria que ir.

Na hora marcada para a aula, Ana Luisa caminhou sozinha pelos jardins até o grupo de alunos que aguardavam o professor. Em determinado ponto, ouviu ao longe alguém chamar por seu nome. Reconhecendo imediatamente aquela voz que outrora fora música para ela, apressou o passo e escondeu-se na multidão de alunos.

O resto da semana se arrastou assim: Victor tentando conversar com Ana Luisa, e ela fugindo dele.

No fim de semana, todos os alunos que tinham autorização de visitar o vilarejo de Hogsmeade o fizeram. Com a aproximação das provas finais, toda distração era bem-vinda.

Victor, que passou toda a semana seguindo Ana Luisa, não fez diferente na ida a Hogsmeade. Seguiu-a por todo a vilarejo.

Após a saída de Ana Luisa e Selene da loja de penas Escriba, Victor as seguiu até a Zonko’s.

Ana Luisa se divertia com os produtos da Zonko’s, mas não costumava gastar dinheiro com os produtos daquela loja. Não conhecia ninguém que ela odiasse a ponto de fazer alguma daquelas brincadeiras.

Enquanto Selene escolhia algumas coisas, Ana Luisa olhava tudo sem interesse.

– Não acretido que ele te traiu! – disse Selene pela milésima vez.

Selene, que a essa altura já sabia de tudo, não conseguia se conformar. Ana Luisa também não.

– Nem eu. – comentou Ana Luisa sem expressão. Sua resposta fora automática.

Ao fim da tarde, as garotas foram surpreendidas na volta ao castelo por Victor, que fazia de tudo para que Ana Luisa o ouvisse. Ela simplesmente o petrificou, resolvendo o problema.

Ao termino do jantar, Ana Luisa acompanhou Selene até a escada que levava as masmorras. Logo após despedir-se da amiga e começar a dirigir-se a torre da Corvinal, Ana Luisa encontrou-se com Hector. O garoto abriu instantaneamente o seu melhor sorriso para Ana Luisa. Para facilitar tudo, a garota manteve no rosto à expressão de preocupação. Explicou a Hector que ainda amava muito Victor, e queria continuar sozinha, da forma que julgou menos dolorosa para os dois. Hector concordou, mas pediu um ultimo beijo. Ana Luisa não respondeu, simplesmente continuou caminhando como se não houvesse ouvido o pedido de Hector.

Logo que chegou ao dormitório e começou a preparar-se para dormir, analisou os acontecimentos daquela semana. Nas raras ocasiões em que vira Lavínia, ela estava sorridente e exibia uma larga aliança, que segundo descobertas de Selene, foi Victor que a dera. Entretanto, ele continuava a segui-la, pedindo perdão dizendo que havia uma justificativa, mas Ana Luisa nunca se interessara por ouvir.

Observando o violão, decidiu que já estava na hora de devolvê-lo.

Na manhã seguinte, pediu que Selene o devolve-se. Selene concordou, mas seu desejo era quebrar o violão na cabeça de Victor.

– Ana Luisa pediu-me para devolver isso – disse Selene a Victor empurrando o violão contra seu peito logo que ele saíra do dormitório.

– Você acretida que eu a traí? – perguntou Victor com voz incrédula segurando o violão na posição que Selene o havia entregado.

– Eu acretido no que a minha amiga diz, e se ela diz que viu é por que é verdade. – tentou encerrar Selene, dando meia volta e caminhando em direção a porta.

– Não disse que o que Ana Luisa viu foi uma ilusão de óptica, ou algo do tipo. Disse que não a traí. Lavínia me beijou. Ela está correndo atrás de mim a um bom tempo, acha que por ter me separado da Ana Lu vai conseguir alguma coisa comigo – continuou Victor correndo em direção a porta e fechando a passagem a Selene.

– Você não deveria sair por ai contando lorota, se não a fada da lorota vem e te pega – disse Selene com arrogância enquanto empurrava Victor para passar, mas o garoto manteve-se firme bloqueando a passagem.

– Não é lorota! Eu não dei a Lavínia nenhuma aliança! Eu nunca quis nada com ela! Eu não trocaria Ana Luisa por uma mentirosa e invejosa como a Lavínia! Analise os fatos Selene! Se eu realmente a traí, o que fez Lavínia? Ela dizia-se amiga de Lu, mas se fosse realmente amiga dela não aceitaria que eu a beijasse, e depois não sairia pela escola exibindo uma aliança e dizendo que eu que a presenteei! – continuou Victor.

– Prove. – ordenou Selene cruzando os braços e encarando Victor.

Victor caminhou em direção ao dormitório, seguido de perto por Selene. Ao entrarem, Victor repousou o violão sobre a cama, pegou a varinha, e usou a pia como Penseira. Ao retirar a lembrança, voltou rapidamente a ela, agora acompanhado de Selene. A prova era incontestável. Não havia como forja a lembrança. Selene observava atentamente as palavras de Victor tornarem-se imagens. Lavínia seguindo Victor por toda a Hogwarts, e, enfim, beijando Victor e sendo vistos por Ana Luisa.

– Eu não vou contar nada a Ana Luisa, se é isso que você pretende que eu faça – disse Selene encarando Victor ao voltarem da lembrança.

– Não, eu pretendo conversar com ela. Quero eu mesmo contar. Mas ela não me dá uma chance! – disse Victor com um tom de pedido de ajuda na voz, que foi notado por Selene.

– Problema seu! – respondeu Selene saindo e batendo a porta.

Victor continuou parado no mesmo lugar observando a passagem por onde a garota acabara de sumir.

Ao chegar ao corredor, Selene seguiu direto para a torre de adivinhação: sabia que a aula de Ana Luisa ainda não havia começado. Ao chegar, encontrou a amiga encostada na parede esperando a aula começar.

– Preciso conversar com você... – disse Selene puxando Ana Luisa para longe dos ouvidos curiosos e contando tudo o que havia acabado de descobrir.

– Eu acretido em você. Sei que você não mentiria pra mim, principal sobre um assunto desses... – disse Ana Luisa ao saber de toda a história.

– Até por que, eu não tenho por que fazer isso – completou Selene.

– Bem, agora é só esperar Victor vir falar comigo, fazer de conta que não sei de nada, e deixá-lo um pouco mais desesperado. Não vou voltar tão rápido! – concluiu Ana Luisa distanciando-se a caminho da aula, enquanto olhava para a amiga com um ar de travessura.

– Menina má. – disse Selene baixinho enquanto observava à amiga partir.


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Notas finais do capítulo

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