"Sobre os amantes e os soldados, sobre os homens condenados à morte, sobre todos aqueles que o poder cósmico da vida preenche, o poder do destino desce por vezes imprevisto numa súbita iluminação que será a sua graça e o seu fardo."

Boll , Heinrich

***

A lua iluminava o céu sem nuvens enquanto as estrelas refletiam na colina. Era um lugar muito afastado e habitado apenas por animais mas não deixava de ter sua beleza. Uma colina cheia de flores e pequenos arbustos dava uma visão perfeita do vale, atrás dela a floresta de árvores seculares balançava com a brisa tornando a atmosfera misteriosa e cheia de segredos. Um ruído afetou a calmaria do lugar.

Clack

Onde antes só existia grama e flores agora estava parada uma mulher. Ela olhou em volta rapidamente, então decidindo onde ir, se encaminhou para a entrada da floresta.

Ela vestia uma capa que cobria parte do rosto, mas era perceptível que ela era belíssima. As faces pálidas e os cabelos compridos e loiros. Ela trajava um vestido negro de veludo, com as mangas justas conforme a moda da época. Ela caminhava rapidamente e olhava para trás a todo instante, como se temesse estar sendo seguida. Ela caminhou até uma clareira, iluminada apenas pela luz da lua. Havia um homem parado no centro dela. Ela o olhou apreensiva por um instante mas não havia como não reconhecê-lo, com o coração aos pulos ela o chamou.

- Godric?

Godric Gryffindor levantou a cabeça e a olhou. Sorrindo ele se aproximou, tomou a mão dela entre as suas e tirou o capuz que cobria seu rosto.

- Minha bela Valentine, posso saber o que aconteceu para marcar um encontro a essa hora correndo o risco de seu pai perceber que você não está na cama?

- Uma tragédia Godric!

Ele a abraçou e esperou pacientemente enquanto ela chorava no seu peito. Valentine não se atrevia a levantar o rosto, para ela parecia que encontrá-lo ali naquela hora era a confirmação da tragédia que estava acontecendo. Preferia se lembrar de coisas boas.

Lembrou-se do primeiro dia em que se viram, quando seu pai ainda estava em Hogwarts. Ele havia dado um baile em homenagem ao aniversário de dezoito anos de Valentine. A festa era mais para os convidados é claro, Valentine odiava aquelas festas tolas. Se sentia solitária e deslocada, se debruçou sobre a sacada da varanda e fechou os olhos, imaginando estar em qualquer lugar menos aquele. Ela não o viu se aproximar.

- Se divertindo senhorita Slytherin?

Ela sobressaltou-se e deu de cara com o homem mais lindo que ela já tinha visto. Godric Gryffindor era alto e corpulento. Tinha cabelos ruivos curtos e embaraçados. A barba era curta e os olhos eram castanho vivo.

- Não muito.

Ela se surpreendeu ao falar a verdade, geralmente evitava qualquer pessoa que tentasse se aproximar, em grande parte devido a agressividade do pai.

- Por que não dança um pouco?

- Eu não sei dançar muito bem.

- Ah, depende sempre de quem conduz. – estendeu a mão para ela – Posso tirar a bela aniversariante para dançar?

Antes que se desse conta ela já estava no meio do salão. Todos se surpreenderam com a estranha combinação do galante e corajoso Godric Gryffindor e a tímida e reprimida Valentine Slytherin.

- Posso perguntar qual idade está completando senhorita?

- Dezoito primaveras senhor.

- Não fale comigo assim, como se eu fosse seu pai. Pode me chamar de Godric.

- Creio que não ficaria bem senhor.

- Tem medo do seu pai? Pois eu lhe digo que não deve temer. Salazar fala demais, homens que muito falam não costumar fazer muita coisa.

- Temo que o senhor não vive no mesmo teto que ele. E creio que mesmo que vivesse não temeria, dizem que o senhor é o homem mais corajoso do mundo.

Ele apenas sorriu.

- Tem razão não há nada que tema. Nunca me curvei diante de ninguém na minha vida, mas temo que isso vá mudar em breve.

- Por que motivo senhor?

- É impossível não curvar-se diante de um anjo como o que está na minha frente agora.

Desde aquele baile as visitas de Gryffindor tornaram-se mais freqüentes, quando se declarou pra ela, Valentine já estava envolvida o bastante para esquecer quem era e estar disposta a qualquer coisa por ele. Gryffindor pediu a autorização de Slytherin para cortejá-la mas Slytherin ficou furioso. Já não bastava os sangue-ruins que ele queria colocar em Hogwarts ainda queria molestar sua filha. O fato de Slytherin abandonar Hogwarts não facilitou as coisas.

Valentine não se importava mais se o pai não permitia, se Godric tinha fama de ter várias mulheres ou se era mais velho que ela, só não podia ficar longe dele. Logo passaram a se encontrar escondidos, não demorou até que se tornassem amantes. E agora aquilo.

- Me conte o que está acontecendo querida.

- Godric eu... eu não queria... é uma tragédia...

- Fale o que houve.

- Eu estou esperando uma criança.

A floresta pareceu silenciar com aquela notícia. Gryffindor hesitou por um momento e então sorriu.

- Bem, não é a situação que nós esperávamos mas é realmente uma boa notícia.

- Boa notícia? Tem idéia do que ele vai fazer comigo se descobrir?

- Não conte pra ele ainda, ele é capaz de fazer algo contra você e contra a criança. Não pense que eu só me diverti com você Valentine, eu a amo, e vou fazer de tudo para termos essa criança em paz.

- Mas como? – ela suplicava.

- Vamos fugir. Vamos para outro país e nos casamos. Seu pai não poderá fazer nada contra isso, e  - seu rosto assumiu uma expressão fria – eu sou capaz de qualquer coisa se ele tentar tirá-la de mim.

- Você promete Godric? Promete que vai largar tudo por mim, pelo nosso bebê? Promete que ficaremos seguros?

- Eu juro.

Eles se abraçaram por um longo momento.

- Esqueci de lhe dar uma coisa.

Ele tirou do bolso um lindo colar com um pingente em forma de fênix feito de ouro branco com diamantes.

- Oh Godric é lindo.

Ele colocou o colar no pescoço dela com cuidado.

- Esse colar é a minha garantia pra você. – ele se ajoelhou no chão aos pés dela – Eu juro Valentine Slytherin, sob este signo, o signo da fênix que vou amá-la até o dia em que queimarem o meu corpo e protegê-la até o dia em que minhas mão puderem segurar minha espada.

A fênix brilhou com força diante dessas palavras, e Valentine entendeu naquele momento que aquele era mais do que um colar. O silêncio entre os apaixonados só foi interrompido por um som musical que cortava o ar a quilômetros de distância. O pio de uma fênix cortava a noite, selando o juramento.