Acho que posso encher um livro/ Com coisas que não sei sobre você, baby

Lies, McFly

A aula demorou a passar, assim como todas as outras até a hora do almoço. Como Stacia me dava arrepios, e eu só conhecia Melanie além dela, acabei me sentando em sua mesa.

- E então? – ela me perguntou – Gostando da escola?

- É, acho que sim. É bem parecido com meu antigo colégio, tirando do fato de que não temos que usar um uniforme horrível.

- Qualquer coisa é melhor do que uma camiseta laranja. Cor de abóbora, quase – Melanie murmurou.

- Como?

- Não é nada. Estou apenas pensando alto – Melanie tentou disfarçar.

Depois desse momento, digamos um tanto incômodo, a conversa continuou normalmente por uns dez minutos.

- O que foi? – perguntei quando a vi seguir alguém com os olhos; o menino dos cabelos negros, que sentara na minha frente durante a aula de Álgebra. Depois de passar por nós, ele saiu do refeitório, parando na área ao ar livre. Poucos alunos se encontravam ali, pois nuvens cinzentas começaram a se acumular no céu durante o período de aulas.

- Com licença, Aimee. Eu já volto – Melanie se levantou e seguiu o garoto, me deixando sozinha.

O moreno sorriu para ela, mas Melanie não parecia contente de vê-lo ali. Ela cruzou os braços e ele apenas riu. Quase podia vê-la ficando vermelha de raiva enquanto apontava um dedo para o garoto. O que quer que estivessem discutindo, parecia ser sério e, de certa forma, repetitivo. Como se já tivessem tido essa conversa anteriormente.

O rapaz desviou seu olhar de Melanie e o fixou em mim, permitindo que eu visse seus incríveis olhos verdes. Pude sentir minhas bochechas ganhando um tom de vermelho vivo e o ar faltar aos meus pulmões.

Droga, droga, droga, pensei. Por que isso sempre acontece comigo? Não posso espiar alguém sem que me descubram?

O garoto voltou a encarar minha amiga e murmurou algo. Estão nos observando.

E ele tinha que apontar justamente para mim?

Melanie se virou rapidamente para confirmar o que ele dissera. Assim que o fez, começou a empurrá-lo para fora do meu campo de visão.  O moreno sorriu mais uma vez, o que a enfureceu ainda mais.

Assim que desapareceram, voltei a me concentrar na área interna do salão. O horário de almoço estava quase no fim, o que significava que grande maioria dos estudantes já deveria ter ido para os vestiários trocar-se para os treinos dos times esportivos. Ou no meu caso, a aula de Ed. Física.

Suspirei e me levantei, recolhendo minhas coisas. Era melhor acabar logo com a tortura que seria o próximo tempo de aula.

Quando estava prestes a sair, Melanie veio correndo em minha direção.

- Desculpe por ter demorado. Levou mais tempo do que pensei que iria – Disse um pouco ofegante. Ela fazia parecer que nada havia acontecido, e imaginei que fosse essa a sua intenção – Vamos, ou senão, chegaremos atrasadas. E o treinador odeia atrasos. É capaz de nos fazer correr algumas mil voltas em torno da pista de atletismo como castigo.

- E isso já aconteceu alguma vez? – questionei.

Ela assentiu.

- Cassie McClair. Ela se atrasou cinco minutos porque não conseguia encontrar a camiseta do uniforme. Bem, ela não correu mil voltas. Se não me engano, foram umas trinta e duas. É isso que dizem. Agora, ela faz parte da equipe de torcida, junto com Stacia Moon. Argh – Melanie franziu o rosto, em uma careta de nojo.

- Pelo visto, não sou só eu que não sou a maior fã da Moon.

Melanie parou em frente à porta do vestiário, a mão a um passo de abrir a porta.

- Olha, sei que te conheço há menos de 6 horas e nem eu mesma estou aqui há muito tempo. É só um conselho: Acho melhor ficar longe da Stacia. Há algo, sei lá, estranho nela. Assustador. Perigoso, talvez.

- Entendo – disse enquanto empurrava a porta – Também achei que tivesse algo estranho nela. Só não sei o quê.

- Acredite, espero que não seja o que estou pensando – Melanie disse baixinho, quase como se quisesse que eu não escutasse.

Decidi ignorar esse comentário, diferentemente do outro feito durante o almoço. Mas não era isso que incomodava.

O que me incomodava de fato era a quantidade de segredos e mistérios em que Melanie parecia estar envolvida.  Os pequenos comentários, o rapaz dos olhos verdes...

Mas o que era tudo aquilo?

- E então? – Julie me perguntou assim que me sentei à mesa – Como foi seu primeiro dia?

- Ah, normal. Primeiros dias são sempre iguais.

- Fez algum amigo?

- Sim. Melanie Hunter, uma garota que encontrei quando fui à secretaria. Ela é bem legal.

- Isso é já é um começo, querida – disse Finn – Significa que está se adaptando bem rápido, o que é um bom sinal.

- Pai, nós já moramos aqui antes, lembra-se? – comentou Georgie – Há uns seis anos, sabe?

- Sim, mas você era muito pequena para se lembrar disso.

- Eu tinha seis anos!

- Como seu pai disse, Georgie, uma criança pequena – Julie comentou, nos fazendo rir. Minha irmã apenas rolou os olhos – E quanto a você, Ben? Como foi o seu dia?

O caçula apenas assentiu com a cabeça, o que entendi como um “sim”.  Meu irmão nunca fora de falar muito, coisa que considero bem estranha para um garoto de oito anos.  Finn me disse que eu fazia pelo menos 24 perguntas todos os dias quando tinha essa idade. E por falar em idade...

- Já planejou algo para seu aniversário, Aimee? – Finn perguntou - Dezessete anos, nossa. Parece que ontem mesmo você tinha apenas quatro aninhos e estava vindo para casa conosco pela primeira vez...

- Meu aniversário é só daqui a três semanas, pai – respondi – E ainda não tive tempo de pensar em nada. Não que eu queira uma festa ou algo do tipo, porque realmente não preciso disso. Se pudesse, pediria que trouxessem meu piano para cá, mas como isso não é possível... Nunca gostei mesmo de comemorações e além do mais, tenho bastante tempo até lá.

- Três semanas passam bem rápido, Sun – Finn disse, um sorriso surgindo no canto de seus lábios. Julie correspondeu a seu sorriso, retribuindo-o.

Ok, parece que minha família guarda alguns segredos também. Será que alguém pode me dizer alguma coisa a respeito do que está acontecendo aqui?