Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 25
Jason - Parte II




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Ele me olhava como se tivesse me visto pela manhã. Eu estava parada, nem respirava, tão chocada que nenhuma reação era possível naquele momento. Ele me olhava intrigado, como se não entendesse o porquê da minha reação. Eu só pensava que tinha enlouquecido de vez e estava vendo coisas.


-Nossa, Giuliet, eu esperava no mínimo um abraço e um nossa, papai, como você está?. Decepcionante isso. Se eu quisesse ver estátuas, tinha ido para Roma, e não vindo aqui na América. Seu tom de voz, uma mistura de arrogância e sarcasmo, continuava o mesmo que eu me lembrava, apesar da voz estar mais forte e mais clara. Esse som me causava calafrios.


Tirei os óculos e apoiei-os sobre a mesa, voltando a olhá-lo com a expressão perplexa.


-Como? Foi tudo que eu pude falar.

-Isso é uma longa história, minha filha. Ou, devo dizer, senhora. Ele debochou.

-Mas... quinhentos anos...

-Ora, eu tive que resolver minha vida antes de aparecer. Além do mais, figurinha difícil você. Difícil de encontrar, tive que botar alguns bons amigos para te rastrear. Mas me diga, como vai a vida?


Eu não respondi, só o encarei, a perplexidade agora sendo substituída por uma desconfiança do tamanho do universo.


-O que você quer? Perguntei, séria. Ele levantou as sobrancelhas, uma expressão muito minha. Eu odiava me lembrar de que era parecida com ele, mesmo depois de tantos anos.

-Me toma por um mercenário? Eu quis de ver. Ou melhor, te conhecer de novo, porque aquela garota que foi raptada de casa definitivamente não é você.

-Eu não fui raptada, eu fugi. E eu duvido muito que seja só por isso. Eu não te vejo faz séculos, mas duvido que tenha mudado muito.

-Giuliet, Giuliet... Guardando rancores da adolescência?

-Como se eu tivesse tido uma. E não é guardar rancor, é saber que tudo que você faz tem um motivo. Você não ia aparecer na minha porta da maneira mais surreal o possível, no tempo mais surreal, se não tivesse certeza do que está falando. Eu não sabia bem o porquê, mas uma raiva havia me invadido, incontrolável Vamos, desembucha.

-Você está pegando os costumes destes bárbaros americanos, querida. Tem que aprender a ter mais calma, as coisas acontecem com tempos certos.

-Fala logo e pare de me enrolar. Pressionei, irritada. Eu não sabia o que sentir com aquilo. O meu passado voltou à tona com toda a força, e isso me fazia querer arrancar a cabeça de alguém. Pelo menos naquele momento.

-Tudo bem então, você que manda. Ele disse, debochando novamente. Bem, eu tenho uma proposta irrecusável para te fazer.

-Claro que tem. Respondi, agora ficando fria. Era sempre a melhor saída.


Ele se ajeitou na cadeira, ficando mais confortável. Não usava a face autoritária que eu conhecia também, na verdade ele usava uma face descontraída e confiante que eu não conseguia me lembrar. Talvez tivesse visto algo semelhante antes de Lizzie nascer, quando ele ainda tinha esperança de ter um filho homem e até parecia um pai.


-Você tem bastante poder nas mãos. Se quiser, você pode mudar o curso da história de duas espécies.

-Eu sei o que eu posso e o que eu não posso fazer. Vá direto ao ponto.

-Continua sendo direta. Eu pensei que você houvesse mudado um pouco mais. Bem, continuando, nossa espécie pode ser poderosa como nunca antes foi. Poderíamos andar por esse mundo livre, sem nos escondermos. Poderíamos ter uma liberdade que nunca tivemos.

-Claro que poderíamos, se não houvesse pessoas lá fora. Humanos, não podemos nos esquecer deles.

-Mas não me esqueci. Eles estariam lá fora, como sempre estiveram. Ele disse como se explicasse porque o céu é azul para uma criança. Isso me deixou mais um pouco irritada.

-Aonde você quer chegar?


Ele sorriu estranhamente, e eu não consegui achar o motivo.


-Os humanos já são nossos, eles só não sabem disso. A vida deles não vai mudar em muitos aspectos.

-O que você quer dizer com isso?

-Droga Giuliet, fale para eles! Mostre-os quem os governa realmente! Imponha nossa vontade sobre a vontade deles!

-Você está querendo dizer escravidão? Perguntei, a voz mais calma do que eu esperaria.

-Se você prefere ver a coisa por esse lado, por mim tudo bem, desde que você entenda.

-Ah, eu entendo. Você me aparece depois de quinhentos anos e me faz uma proposta dessas, claro que eu entendo. Séculos te levaram a loucura, eu prefiro você no status de morto. Um pouco de raiva marcou a minha voz. Olha aqui, eu vou te fazer o favor de te deixar sair daqui bem e ainda pensar em você em algum momento, mas se for para continuar com essas idéias, eu nunca mais quero te ver na minha vida.


Ele não se abalou. Apenas começou a rir como se eu tivesse contado a piada mais engraçada do universo. Eu estava estourando de raiva agora, não sabia até onde meu autocontrole iria.


-Você não mudou em nada! Ele disse, ainda rindo.

-Ficaria surpreso. Resmunguei, não sabia se ele havia ouvindo, ele parava de rir aos poucos.

-Uma coisa que eu tentei te ensinar por várias vezes e nunca consegui, e vou tentar mais uma vez. Ele se inclinou para frente, como se fosse confidenciar um segredo. No mundo só existem dois tipos de pessoa. As bondosas, que se preocupam mais com os outros e morrem no final, e as realistas, que pensam no que fazem e se dão bem. Pare de ficar no primeiro grupo, você não pode abraçar o mundo.

-Eu não quero ouvir nem mais uma palavra sobre isso. Usei minha voz de comando e ele sentiu, recostando-se na cadeira. Ter recebido uma ordem fez uma faísca de raiva se acender nos seus olhos. Agora sim era o meu pai. Uma coisa me veio a cabeça. Além de você, alguém mais foi transformado?

-Não, senão eu provavelmente não teria vindo sozinho. Nós dois somos os últimos Collins do planeta, olha que responsabilidade! Apesar do olhar não tão animado, ele manteve bem a fachada.

-Guarde o título para si, eu não sou uma Collins já faz muitos anos. Respondi, seca.

-Ah... me esqueci que você agora tem outro sobrenome. Sabe, como líder do clã você poderia ter adotado o nosso nome para o grupo. Ao invés do poderoso Clã Volturi, poderia virar o poderoso Clã Collins.

-Preferi adotar um nome que me desse mais orgulho.


Aquilo havia sido a gota dágua para ele. Havíamos nascido em uma época orgulhosa, em que nome era algo importante. Ele devia ter carregado isso com o passar dos tempos.

Mas ele tinha um objetivo o cumprir, e engoliu a revolta.


-Pense no que eu te disse. Imagine nós, os vampiros, comandando para os humanos, de graça. Eles não teriam mais que se preocupar com nada. Sua voz, apesar do olhar, era calma.

-Nada, exceto se virariam a janta na próxima esquina e saberiam disso. Então surgiriam as revoltas, as tentativas de nos matar, e no final isso seria uma guerra tão sangrenta que não sobrariam muitos para contar a história. Enquanto isso, nós ficaríamos com sede e começaríamos a nos matar. Se quer um apocalipse, teve a idéia perfeita.

-Eles são difíceis de morrer, olha quantas catástrofes já passaram e estão aí fora, aos bilhões.

-A não ser que resolvam se matar, sete bilhões cometendo suicido. Iríamos passar um bom tempo lambendo o chão. Nunca ouviu a história de Massada?

-Eram algumas centenas de judeus só, e não uma espécie inteira.


Suspirei, tentando manter a calma.


-Jason... Falei, pausadamente. Não senti nenhum ímpeto ou desejo de chamá-lo de pai. Eu não vou mudar a política com os humanos. Eles não sabem e nunca saberão. Não me importa a sua opinião sobre isso, você estava morto até meia hora atrás. Então você pode me deixar em paz para meu cérebro poder assimilar isso ou eu vou ter que te obrigar a sair?


Ele deu de ombros e se levantou, buscando qualquer coisa no bolso da jaqueta.


-Tudo bem, não quer conversar sobre isso agora, não tem importância. Jogou um papel na minha frente, colocando as mãos nos bolsos em seguida. O dia que quiser conversar, relembrar suas épocas de humana, venha me procurar.


Olhei o endereço e revirei os olhos ao reconhecê-lo.


-Londres? Sério?

-Enquanto você rodava o mundo todo, eu me estabelecia, montava uma base. Você não vai lá há quinhentos anos, não sabe como está.


Ele se virou para ir embora, mas parou na porta, teatralmente.


-Antes que eu me esqueça. Eu não estou te sugerindo, exatamente. É mais um comunicado.


E saiu. Eu demorei até entender a mensagem e, quando fui atrás dele, já havia desaparecido pelo corredor. Quase soquei a parede de raiva, mas só iria chamar a atenção. As últimas palavras dele ficaram ressoando na minha cabeça por muito tempo, enquanto eu tentava entender.

Era um comunicado. Minha cabeça batia enquanto eu trancava a porta e descia para ir embora. Um comunicado, ele não precisava da minha aprovação. Então ele tinha poder para fazer isso sozinho. Poder para tomar o controle.

E então tudo se juntou e fez todo o sentido.

Primeiro, séculos atrás, na noite em que Andreas morrera, quando um dos gêmeos que me incapacitaram me olhou pela primeira vez.


Irmão, ela me lembra alguém.

Depois, alguns anos antes, quando eu estava no Rio de Janeiro e eles me descreviam Michael Carter.


Você não ouviu ele falando. Ele se parece muito com você falando quando quer levar um grupo para uma batalha, sério. Se bem que, olhando bem...

É que por um momento... não, nada

Quando armamos o bote para prende-lo, não conseguimos mover nem mais um passo. Ficou tudo escuro, não conseguíamos enxergar, e ele era muito bom para se perseguir sem a visão.

Por fim, Liah ao dizer como era o vampiro que havia contado a ela histórias absurdas sobre mim.


Não sei, quem nos explicou isso foi um cara estranho com um sotaque inglês antigo, parecido com o seu. Na verdade, quase igual ao seu, o seu é mais misturado, mas tanto faz, é bem parecido o jeito de falar.

Era óbvio que lembrava o meu jeito de falar, o meu jeito de levar um exército para uma batalha, a minha aparência. Claro que ele conseguia apagar um sentido. Michael Carter era o meu pai, o tempo todo. E pelo visto poder era genético.

Mal falei qualquer coisa com os funcionários antes de sair desesperada na rua. Olhei ao redor e não vi nenhum sinal dele, procurei o cheiro no ar e nada. Era um horário movimentado nas ruas e o cheiro humano estava em todo lugar, deixando rastreadores incapazes como eu tendo que procurar uma agulha em um palheiro. As opções para onde ele poderia ir eram infinitas, eu nunca o alcançaria. Corri para áreas menos movimentadas, circulando o local, mas não achei um perfume sequer de nada. Era como se, tal qual um fantasma, ele tivesse voltado para assombrar meus piores pesadelos e, logo depois, desaparecido para um universo paralelo.

Enquanto isso, a voz de Eleazar preencheu minha mente, juntando mais coisas.


Giuliet, eu não vou mentir, você vai ser testada.


Lembrei do papel que ele havia me entregado e busquei no meu bolso. O endereço de Londres não me dizia nada, claro, as ruas e avenidas da atualidade não eram nem sequer um sonho distante da última vez que estive lá.

Havia agora uma grande dúvida. Eu não podia ir naquele lugar, era obviamente uma emboscada. Mas eu não podia deixar de ir. O número de coisas que eu poderia descobrir indo lá eram inumeráveis. Ir lá significava descobrir todos os segredos sujos do meu querido pai.

Mas antes eu precisava de uma localização exata, eu não sabia onde aquele endereço ficava. A idéia veio quando olhei de relance para a lanchonete e vi a placa escrito Wi-Fi Grátis. Claro, a internet, que eu mal sabia usar. Antes que eu pudesse pensar duas vezes, entrei no estabelecimento.

Não estavam todos lá, só Camily, Rafael e Bruna. Tinham espanto nos olhos quando me viram, mas não tinham o antigo olhar de receio. Não tive tempo para pensar nisso.


-Voltou do retiro de férias? Bruna perguntou, sorrindo simpaticamente.

-Infelizmente sim. Eu preciso da ajuda de vocês para uma coisa.


Eles me olharam com uma ironia desagradável e eu revirei os olhos, suspirando.


-Não tornem isso mais difícil do que já é, tudo bem? Reclamei, e Camily deu de ombros.

-Tranquilo então. Ela disse, saindo de trás do balcão. Qual é a boa?

-Eu preciso que vocês vejam esse endereço para mim. Disse, balançando o papel.

-Por que não olha você mesma? Rafael perguntou. Droga, eles não poderiam simplesmente fazer a busca?

-Porque eu estou com uma certa pressa e aqui fica o computador mais perto, dá pra ser ou vocês vão preferir esperar uma guerra começar? Falei irritada, deixando totalmente minha paciência de lado.

-Tudo bem, tudo bem. Dá aqui.


Estendi o papel para ela e ela leu, enquanto ia para o computador do caixa. Apoiei no balcão, do outro lado do computador, enquanto ela digitava qualquer coisa lá.


-Pronto. Ela disse um pouco depois.


Inclinei sobre o balcão para ver melhor. Era um mapa simples, com fundo amarelo, que mostrava várias ruas e avenidas. Havia uma seta cinza em cima do endereço, indicando onde era. Um mapa assim não me dizia muita coisa.


-Tem como botar em 3D? Pelo menos isso eu sabia que existia.

-Aham. Ela respondeu, clicando em mais alguns lugares.


A imagem foi substituída por uma imagem de satélite, que mostrava em detalhes o lugar.


-Afasta a imagem um pouco, pra eu ter uma visão geral da cidade.


Ela fez e, quando a imagem carregou completamente, eu congelei. Se eu pudesse ficar mais pálida, eu teria ficado.

O endereço dava em uma espécie de prédio residencial. Quinhentos anos antes, aquilo era a minha casa.


-Maldito... Resmunguei antes de ir em direção a porta.

-Ei, ei, ei! Algum dos três gritou lá de trás. Dá pra dar uma explicação?


Virei-me para eles, encostando ao batente da porta.


-Tem um vampiro que é... um velho conhecido. Ele está querendo, muito provavelmente, me matar, e preciso ir para Londres resolver isso. Ponto.

-Londres? Camily perguntou, curiosa. Eu sempre quis ir na Europa, de qualquer forma.

-Ãhn? Fiquei confusa.

-Ué, nós vamos também, obviamente.


Eu comecei a rir. Estava no desespero, toda a tensão em cima de mim, mas eu não consegui não rir.


-O que diabos vocês pensam que vão fazer em Londres? Eu disse, ainda rindo. Ajudar a nos matar?


Eles haviam ficado emburrados. Deus, eles estavam falando sério.


-Desde que você foi para o seu... retiro espiritual... as coisas mudaram bastante aqui. Bruna falou, parecendo mais adulta do que sua eterna aparência de quinze anos deveria permitir. Aquilo me assustou, eu me lembrava dela como a mais quieta e devagar de todo mundo. Então, se vocês estão indo para uma guerra, queremos dar apoio.

-É, tipo isso. Complementou Camily.

-Vocês nunca estiveram em uma guerra nossa, não sabem o que estão falando. Eu sabia que estava perdendo um tempo que eu não tinha, mas aquilo estava interessante. Agradeço a presteza de vocês, mas não durariam duas horas.

-É um desafio. Camily falava em tom de quem já havia aceitado, caso fosse.

-Não, é a constatação da verdade. Não é como uma invasão de território. É algo que envolve estratégia, conhecimento, experiência e sorte. É algo que meche com o emocional, e as chances de qualquer um sair vivo não são lá muito grandes. Vocês não estão indo.

-Você não pode nos impedir de ir. Rafael resmungou, sério.

-Será que não? Além do mais, de onde vocês vão tirar dinheiro para a passagem de todos vocês?

-Ficaria surpresa. Ele respondeu novamente, mesma seriedade.

-Independente disso, vocês não vão, isso é absurdo. E eu não vou ficar perdendo tempo aqui discutindo isso, tenho que botar a cabeça no lugar. Fiquei mais calma, me controlando. Obrigada pela ajuda, é o máximo que vocês vão fazer.


Não esperei resposta e saí, me dirigindo para casa. Mas que idéia mais absurda! E o que diabos tinha acontecido na minha ausência para que eles ficassem tão dispostos a se matarem. Estranho.

Mas minha cabeça estava girando e logo esqueci os lobos. Enquanto corria o mais rápido que podia para casa, tentava pensar no que fazer. Não fazia a menor idéia, claro.

Cheguei mais rápido do que esperava e entrei sala adentro que nem um furacão. Matt e Beta estavam na sala, assistindo tv. Os dois me olharam assustados. Eu não via Matt fazia tempo, mas um oi ia ter que esperar.


-Mãe? Tá tudo bem? Ela perguntou, insegura ao ver minha expressão.

-Não Beta, não está. Cheguei perto da escada, falando para o segundo andar. Todo mundo aqui em baixo, agora!

-O que aconteceu, Giuliet? Matt estava assustado, mas só sinalizei para que ele esperasse.


Os outros desceram transtornados e com semblantes preocupados. Hecate já estava falando no meio da escada.


-Onde é o incêndio?

-Eu bem que queria que fosse um incêndio. Estamos com um problema sério. Esperei até que todos estivessem mais ou menos posicionados na sala para continuar. Eu sei quem é Michael Carter. Ele arregalaram os olhos, provavelmente achavam que esse assunto estava morto.

-Esse não é aquele cara que ficou inventando umas coisas um tempo atrás? Beta perguntou.

-Esse mesmo. Respondi.

-Ele não tinha sumido do mapa?

-Tinha, mas hoje ele foi até a minha sala na boate.

-Ele te atacou? Kronus perguntou, sério. Seu rosto era o único que não demonstrava nenhuma emoção, como ele sempre fazia em momentos tensos.

-Não, ele se sentou e conversou comigo, fez algumas propostas.

-E você não o atacou por que? Matt, sempre o violento, perguntou.

-Primeiro porque eu sou civilizada, segundo... Olhei para um ponto distante na minha direita. Bem, Michael Carter é, na verdade, meu pai.


Um coro de O que? preencheu a sala e eu dei de ombros.


-Você não disse que tinha um vampiro que considerava como pai. Kronus comentou, ainda nada afetado.

-Eu não tenho. É meu pai mesmo. Jason Collins. Isso parecia tão irreal que saía estranho da boca.


Eles ficaram em silêncio, sem saber o que fazer ou falar. Era uma situação complicada, realmente, e eles provavelmente estavam achando que eu estava fazendo algum tipo de brincadeira. Quando não falei nada, eles chegaram à conclusão de que não era.


-O que ele queria? Hecate perguntou, se sentando no sofá, ao lado de Beta.

-Uma coisa absurda, eu nem sei se consigo repetir. Eu disse, estremecendo, antes de continuar. Ele veio sugerir que nós usássemos nosso poder para escravizar os humanos. Não foi com essas palavras que ele usou, mas em resumo foi isso que ele quis. Eles estavam em silêncio, chocados, e eu continuei. Ele me deu um endereço de Londres que, já conferi, fica no exato lugar onde era minha casa. Pelo visto agora é um pequeno prédio residencial, meio afastado do centro da cidade. E é por isso que estamos indo lá o mais rápido o possível.

-Não podemos, isso deve ser algum tipo de armadilha! Hecate afirmou o óbvio.

-Claro que é algum tipo de armadilha, mas não temos opção. Antes de sair ele disse que não estava pedindo permissão para fazer isso, estava apenas comunicando. Droga, ele tem quinhentos anos e só apareceu agora, sabe-se lá o que ele andou fazendo esse tempo todo!


Ela ainda tentou discutir, mas viu que não adiantava.


-Você se parece com ele. Gabi comentou, depois de ver as imagens na minha mente.


Ignorei, era o tipo do comentário desnecessário. Ela também visualizou isso e ficou calada o resto do tempo.


-Precisamos de um plano. Eu não quero simplesmente ir lá. Precisamos de algo seguro e que nos dê uma visualização da situação. Não vou ser tão imprudente assim.


Eles ficaram pensando, mas Anne rapidamente teve uma resposta.


-Nós podemos analisar a situação antes de agir. Ficamos a certa distância do local vendo o movimento, e lá decidimos o que fazer. Tudo bem, não é o melhor plano do universo, mas pelo menos é alguma coisa.

-É um excelente idéia, na verdade. Respondi. Não precisaríamos entrar em contato direto, só daríamos uma olhada. Podemos tomar turnos perto de lá, vai ser bem mais prático. Por mim, faremos isso também.


Eles concordaram em silêncio.


-Mas se eles nos descobrirem, estaremos em desvantagem numérica. Talvez se pedíssemos reforço aos... Ela não terminou de falar, parando quando a olhei com um olhar de morte.

-Se está pensando em dizer lobos, nem sonha com isso. Eles vieram oferecer ajuda, acabaram sabendo, e isso não está aberto à discussão, é absurdo.


Ela se recostou, suspirando impacientemente.


-É absurdo por que, Giuliet?

-Porque... ora, porque sim! Não vamos levá-los a uma guerra que nem deles é.

-Eles são nossos aliados, mais alguns conosco não fariam nenhum mal.

-Como sabe que são nossos aliados mesmo?

-Bem, eu fiquei aqui dois anos enquanto você sumia. Acho que eu sei bem se são nossos aliados ou não. Ela respondeu, irritada. O clima pesou e os outros não ousaram falar nada.

-Mãe... Beta disse enquanto se aproximava de mim, calmamente. Ela tá certa. Quanto mais apoio vocês tiverem, melhor. Por favor, só dessa vez. Eles são legais, não vão trair a gente. Seu tom era calmo e controlado. Ela parecia tão adulta e madura. Droga.


Suspirei e percebi o quão tensa eu estava.


-Tudo bem, façam como quiser. Se quiserem falar com eles, falem, tanto faz. Vou ligar para um contato e arrumar um avião para só nós, vai ser mais rápido. Olhei para Beta, tão crescida. Talvez fosse hora de cumprir a última parte da promessa que eu havia feito a seu pai. Beta, pode vir aqui comigo?

-Claro. Ela respondeu, me seguindo pelas escadas.


Fui até meu quarto e comecei a procurar no armário, ela se sentou na cama pacientemente. Fui até uma caixa no canto e procurei a mochila das Poderosas que ela tinha quando a encontrei. Lá dentro encontrei a outra carta, meio amarelada, mas intacta.

Fui até a cama e me sentei ao seu lado, olhando para a carta.


-Isso estava na sua bolsa na noite em que eu te achei. Havia outra dessa, para quem te encontrasse. Na outra pedia que te entregasse isso quando estivesse pronta. Estendi para ela, que olhou desconfiada. Eu nunca abri, o que quer que esteja aí dentro é entre você e o seu pai.


Ela pegou e começou a abrir. Levantei e lhe dei um beijo no alto da cabeça, me afastando.


-Vou estar lá fora se precisar de mim. Fechei a porta atrás de mim.


Consegui entrar em contado com um vampiro que conhecia há alguns tempos e me devia alguns favores. Ele conseguiu o avião para o dia seguinte, então avisei aos outros. Eles decidiram ir avisar os lobos, todos. Só Matt ficou, ele parecia ser o único que não estava tão amiguinho assim deles. Talvez porque gastasse metade do tempo com Karine.


-Matt, talvez você queira ficar com a Karine. Sugeri, sabendo que demoraríamos para voltar para casa.


Ele concordou, meio atordoado.


-Ela ontem veio me pedir para ser transformada. Falou que queria ser como eu e que não queria ficar velha demais para isso. Quando ele me encarou, vi uma preocupação tão forte nos seus olhos que talvez vencesse a minha. O que eu faço?


Sentei no último degrau da escada e o encarei.


-Você sabia que isso ia acontecer. Você teme que ela sofra com a transformação, mas ela teme com a idéia de não poder ficar com você, não poder estar ao seu lado nos momentos mais difíceis.

-Então eu simplesmente a transformo, faço ela viver como eu vivo?

-Talvez. Se ela te ama como eu acho que ama, ela não liga para a própria vida. Ela quer ficar ao seu lado, não importa o custo. O que você prefere, uma vampira ao seu lado por tanto tempo quanto o destino permitir, feliz e satisfeita apesar dos pesares, ou uma humana que vai sofrer com o próprio envelhecimento?


Ele não respondeu, só bufou impaciente. Mas eu vi a decisão nos olhos dele quando eu dei as duas opções. Quando ouvi Beta se levantar da cama, me levantei também.


-Você vai ter tempo para pensar, Matt. Agora vá se despedir dela, ela não ia gostar de saber que você viajou sem falar com ela.


Ele foi e eu subi as escadas, encontrando Beta no corredor. Seu rosto estava inchado e molhado, os olhos vermelhos. A abracei, sabendo que o conteúdo daquela carta deveria ter sido pesado. Ela voltou a chorar, desabafando, e eu não falei nada, só deixei que ela chorasse.

Aos poucos ela se acalmou e se controlou, ficando bem melhor.


-Eu vou viajar com vocês amanhã. Ela não sugeriu, mas anunciou.

-Eu não posso deixar você ir, estará mais segura aqui. Falei, calmamente. Ela se afastou para me olhar nos olhos.

-Não! Eu não quero ficar segura! Uma guerra de família me fez perder meu pai, ele morreu porque eu deveria ficar segura também! Eu não sou mais uma criança, mãe, eu posso fazer alguma coisa, nem que seja defender o lugar que a gente for ficar.

-Você não precisa provar nada para mim, eu sei do que você é capaz.

-Eu não estou tentando provar nada, eu... Ela voltou a chorar, me deixando preocupada. eu já perdi meu pai, não quero perder você também, ou qualquer um da nossa família.


A abracei de novo, novamente tentando acalmá-la.


-Você não vai perder mais ninguém. Eu prometo.

-Não pode prometer nada que esteja além do seu alcance, mãe...


Não respondi mais nada, ela estava certa de novo. Eu só esperava que aquela viagem não fizesse a segurança de ninguém ficar além do meu alcance, realmente.


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