Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 24
Jason - Parte I




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Eleazar andava ao meu redor, me testando pelo que parecia ser, finalmente, a última vez.

-Eu não posso dizer que não estou orgulhoso. Ninguém nunca evoluiu tanto em tão pouco tempo.

Sério que ele julgava dois anos pouco tempo? Tudo bem que ele tinha seis mil, mas eu já estava desesperada para sair de lá.

Foram dois anos difíceis, onde ele me fez passar por todo tipo de provação, tanto física quanto mental. Eu não tive qualquer contato com o mundo exterior, exceto por Kratos que apareceu algumas vezes porque Hecate havia pedido para conferir se eu estava viva. Ele visitava Forks regularmente também, a pedido de Eleazar. Nada parecia acontecer do lado de fora do lugar, mas dentro o trabalho era árduo.

Eleazar era dotado de um interessante poder. Ele causava ilusões, nos víamos em outro lugar, com outras pessoas, com outras sensações. Ele reproduzia até os sons menos significantes e os odores mais fracos. Era assustador conviver com isso, mas ele usou efetivamente no meu “treinamento”. Segundo ele, eu tinha que ser capaz de enfrentar qualquer situação calmamente.

Ele me colocava dentro dessas situações. No início eram coisas fáceis como agir sob pressão, tomar decisões rápidas, coisas que eu já estava acostumava a fazer. Porém, começou a ficar difícil. As decisões que eu tomava começavam a falhar, a causar problemas, a ter reações inesperadas. Mas, no final, eu sempre conseguia contornar as situações. Então ele começou a pegar realmente pesado.

Havia duas visões que eu demorei meses para conseguir passar por elas. Uma era durante uma batalha em que, aos poucos, pessoa por pessoa do meu clã era eliminada na minha frente, sem dó nem piedade, tudo causado por falhas no meu julgamento. Tudo que eu decidia dava errado. Eu não conseguia fazer nada para reverter, e minhas reações ou terminavam em fúria incontrolável ou eu desespero paralisante. Ele repetiu essas cenas na minha cabeça até que eu as encarasse com frieza. Demorou muito tempo, até que, na última vez, eu olhei todos morrerem sem esboçar um sentimento. Para que eu não me acostumasse com a cena, cada vez mudava a forma como as coisas aconteciam, e cada vez os detalhes eram mais requintados.

E tinha a outra visão. Eu não sei dizer como consegui passar por essa, não mesmo. Ela começava em uma praia deserta e ensolarada, em uma ilha no meio de um oceano qualquer. Mas eu não estava sozinha na ilha, estavam comigo Beta, mais ou menos na idade em que a encontrei, e Andreas. A sensação da parte boa da ilusão já era meio perturbadora, eu havia visto Beta morrer dezenas de vezes uns dias antes, e o outro nem é preciso explicar. A cena era muito agradável, nós três caminhávamos na beira da praia, Beta rindo e se divertindo, nós três nos divertindo. Então, a imagem mudava. A mata da ilha começava a pegar fogo, o céu escurecia e eu não estava mais parada. Sem que eu controlasse, meu corpo se movia sozinho, aniquilando os dois sadicamente, lentamente. Era tudo muito vivo, as vozes gritando, o cheiro e o som do fogo ao nosso redor, minhas roupas empapadas do sangue de beta, suja com as cinzas de Andreas. Igualmente como acontecia com a outra, as cenas tinham algumas variações, mas não iam muito longe disso. Em todas às vezes, quando Eleazar permitia a minha volta para a realidade, eu estava no chão do galpão, tomada pela necessidade de controlar o meu próprio corpo. Eu cheguei a implorar para que ele nunca mais me mandasse para lá, mas isso só o incentivava.

Até que, um dia, por alguma razão que ia além do meu entendimento, eu assisti tudo sem gritar, sem lutar, sem fazer o menor esforço. Talvez por cansaço, talvez por saber que eu não poderia fazer nada. Quando voltei a realidade, estava parada, de pé, no mesmo lugar de antes. Foi quando ele decidiu que eu não precisava mais daquilo.

Entre uma visão e outra havia um intensivo treinamento de combate. Em dois anos eu aprendi a lutar mais do que em quinhentos, e os treinamentos não paravam na parte física. Eu aprendi alguns truques interessantes quanto ao meu poder, agora ele até era divertido.

-Você chegou aqui um fio desencapado, e vai sair daqui quase como a rocha que deve ser. Agora você está pronta para o que está por vir.

-Será que agora, depois de tanto tempo, você poderia me contar o que seria isso.

-Não Giuliet, eu não posso mudar o curso do tempo, e você sabe disso.

Suspirei, deixando para lá como havia feito dezenas de vezes antes. Ele, definitivamente, não ia me contar. 

-A hora que você aguardava chegou. Você está livre para ir para casa.

Sorri para ele, meio que agradecendo. Havia sido bom, mas eu mal podia esperar para voltar para o meu clã. Ele pegou de um canto a minha mala, já arrumada.

-Arrumei enquanto você fazia seus últimos estudos. – Eu li boa parte dos livros que estavam de frente para as estátuas. – Cortesia da casa.

Peguei minhas coisas e ele me levou até a porta. Lá fora estava gelado como sempre, botei um casaco para disfarçar quando chegasse na área habitada.

-Obrigada, senhor. Temo que nunca poderei agradecer devidamente. – Disse, me despedindo.

-Não perca as próximas batalhas e já estará fazendo o suficiente. – Ele disse, sorrindo. – E, antes que eu me esqueça, nunca me procure. Se você precisar realmente, eu irei até você.

-Eu não pretendia voltar aqui mesmo, se me permite a sinceridade. – Eu quase ri. Foi muito instrutivo, mas eu não pretendia voltar lá pelos próximos cinco mil anos.

Voltei-me para a direção por onde havia vindo e parti, correndo o mais rápido que a neve me deixava. Por curiosidade, tive a impressão de que estava correndo mais rápido do que eu estava acostumada, e com naturalidade. Seria possível que ele tivesse conseguido melhorar minhas habilidades físicas naturais? Isso seria incrível, Kronus que tentasse me vencer em qualquer coisa de novo.

Finalmente cheguei no estacionamento do McDonald’s. Dois anos não haviam feito nada pelo lugar, talvez houvessem piorado ele um pouco. Fui diretamente para o meu carro, que era o único do estacionamento. Ele estaria intacto, se não fosse um arranhão no lado feito com alguma outra chave.

-Ah não... – Resmunguei enquanto chegava perto dele. Aparentemente aquele era o único defeito nele, o resto da pintura preta estava ótima. Exceto pela falta de lavagem.

Entrei, liguei e saí o mais rápido o possível. Era bom ouvir música de novo, Eleazar era totalmente desprovido desse costume.

A viagem seguiu tranqüila, no caminho passei no mecânico para acertar a pintura e já deixei o carro com ele de uma vez. Já estava perto de casa, podia ir andando.

Já estava amanhecendo o terceiro dia quando cheguei em casa, de carro eu só chegaria cinco horas mais tarde. Quando entrei na área da casa, caminhei normalmente. Não pude deixar de reparar que minha passada estava diferente também. Eu quase não movia meu tronco para andar, era praticamente como estar flutuando. Como eu só reparei isso quando saí?

Eu cheguei até as escadas e ninguém havia me notado, mas eu sentia uma presença qualquer na sala. Abri a porta e botei a cabeça para dentro, vasculhando o local. Beta estava sentada no canto do sofá, concentrada em um livro de capa velha que não reconheci em um primeiro momento. Estava mais preocupada com sua aparência física.

Ela parecia ter dezesseis anos. Sim, dezesseis. Quando eu parti, ela tinha dez, e agora tinha seis a mais. Os cabelos loiros estavam um pouco abaixo dos ombros muito bem penteados, mas o corte era meio repicado, dando um ar desinteressado. Ela estava sentada, mas eu podia apostar que, se ainda não estivesse na minha altura, estaria quase lá. Seu corpo havia tomado forma, e ela quase parecia uma mulher agora.

 Entrei e, tentando ser mais silenciosa o possível, me aproximei. Seja lá o fosse, estava deixando ela tão vidrada que não me percebeu. Esse lado humano era quase cômico.

-Boa leitura? – Perguntei, de supetão.

Ela gritou e, involuntariamente, jogou o livro para o alto, que girou no ar. Peguei antes que caísse e comecei a rir, enquanto ela se recuperava e me olhava, como se eu fosse um fantasma.

-Mãe! – Ela gritou, meio com raiva, meio rindo, e levantou, vindo me abraçar. – Isso não é jeito de dizer oi, droga.

Eu estava rindo quando a abracei. Ela me chamar de mãe agora era quase que bizarro, quando minha aparência estava congelada três anos à frente da dela. Mas, no fundo, ela não havia mudado muita coisa. Só o jeito e o olhar que eram meio adolescentes demais para o meu gosto.

-Senti sua falta, criança. – Falei, quando nos separamos.

-Pensei que havia desistido de voltar para casa. Demorou.

-Nas minhas contas eram dois anos, mas... – Afastei um pouco para poder vê-la melhor. – Nossa, quanto tempo eu fiquei fora? Dez anos?

-O crescimento acelerou depois de um tempo. Foi uma doideira gigantesca, um mês eu tinha uma idade, no outro eu tinha outra. Mas agora está parando, finalmente.

-Quer dizer então que você agora vai tentar me convencer de que é adulta? – Brinquei, imaginando a cena.

-Bem, eu tenho dezesseis anos.

-De acordo com os meus cálculos, você tem sete.

Ela fechou a cara, mas eu comecei a rir e ela acabou cedendo novamente. Lembrei do livro na minha mão e olhei. A encadernação era de couro, muito antigo, e as folhas praticamente não existiam mais, mas ainda dava para ler, eu conservava aqueles livros melhor do que eu conservava os meus carros. Era um dos meus diários, e na frente, bordada, estava gravada a 1567. O ano que eu havia chegado a Capital.

-Nada como um pouco de leitura tediosa para passar o tempo. – Falei, devolvendo o livro. – Sério que você quer ler isso?

-Eu queria saber um pouco sobre o passado na nossa espécie. Perguntei à Tia Hecate e ela disse que não havia modo melhor de saber do que lendo isso. Ela deixou.

-Tudo bem, pode ler. Começou por qual?

-Esse é o primeiro, ela disse que o interessante começava aqui. – Ela deu de ombros.

-Hecate quer é que você me veja escrevendo que nem uma adolescente, isso sim.

-Por que você escreveria que nem uma adolescente?

-Não posso dar spoiler. Vai perder a graça. – Olhei ao redor. – Cadê aqueles seres que se dizem meu clã?

-Foram todos caçar, menos Matt. Ele estava com a...

-Karine. Mudou alguma coisa entre eles?

-Sim, ela quer ser transformada e ele quer deixar passar mais um tempo. Os dois, entre um amasso e outro, entram em pé de guerra. – Ela disse, sentando, e eu me sentei no outro canto do sofá. – E você, fez o que nesses dois anos.

-Aprendi umas coisinhas. Você se impressiona com essa leitura de outro dia, e eu aprendi sobre coisas mais velhas. Um dia eu conto, é muita coisa.

-E como você conseguiu entrar sem aquela porta sem que eu percebesse?

-Ah, isso foi tudo planejado. Quatrocentos anos atrás eu escrevi de uma forma muito intensa, para que no futuro minha filha meio vampira ficasse tão entretida lendo que, quando eu voltasse de um curso de férias com um vampiro milenar, eu pudesse assustá-la. Tudo friamente calculado.

Ela riu e revirou os olhos, voltando a atenção para o livro. Leu um tempo, sem que eu atrapalhasse, até que ela resolveu citar um trecho.

-“O dia que hoje passou foi significativo em várias formas. Primeiro, cheguei na bendita Capital, uma metrópole de vampiros, e vim parar na casa de um senhor muito arrogante. Mas o mais intrigante não foi isso, mas sim como eu acabei entrando aqui...”

-Beta, leia isso só para... – Ela ignorou minha interrupção.

-“Do lado de fora fui abordada por um vampiro, um italiano de sotaque forte. Foi assustador, claro, era um vampiro por perto, mas parece que essas defesas instintivas de nada servem nesse lugar. Mas o maior problema foi como eu reagi a abordagem. Foi como se meu corpo, ao contrário da minha mente, me dissesse que eu podia confiar nele.” – Ela parou a citação, e olhou para mim, fingindo seriedade. – Uau, quando o corpo fala, a gente tem que obedecer, né mãe? – Ela começou a rir, e eu revirei os olhos.

-Engraçadinha, te ensinaram a ser palhaça direitinho. – Brinquei, não conseguindo ficar séria. Aquelas memórias, na verdade, não haviam me atingido como fariam antes. Santo Eleazar.

-Sério, quem é esse?

-Lê o resto do dia. – Falei, e ela obedeceu.

Eu escrevia bastante, então ainda demorou um pouco, mas eu esperei pacientemente.

-Volturi? – Ela perguntou, uma sobrancelha levantada. Não pude deixar de reparar que quem tinha a mania de fazer esse gesto era eu.

-O que? Achou que eu tinha nascido na Inglaterra com o nome de Volturi?

-Não sei, migração?

-Em 1497? Não, não foi. Meu nome original é Collins. Eu não tinha o costume de escrever meu próprio nome nos diários, desculpe.

-Então você e esse cara, bem...

-Lê o resto da história, e depois a gente debate essa obra grandiosa. – Debochei, tentando cortar o assunto.

-O que aconteceu com ele? – Ela me ignorou, de novo. A mania de perguntar mais do que devia havia crescido bastante também.

-Morreu. – Falei sucintamente e ela arregalou os olhos. – Mas ainda vai demorar uns cem anos para chegar nisso, fica tranqüila. Ou melhor, não vai chegar nisso, eu não escrevi nada em 1668 nada. Bem, eu não.

-Alguém escreveu?

-Ele. Agora, chega de falar do meu passado. – Eu queria saber como estavam as coisas aqui, não como eram. – E as Lassies?

-Nossa relação com eles é ótima, quase amizade.

-Quase amizade? E como que isso aconteceu?

-Eles são legais, mãe. – Ela apoiou o livro na mesinha de centro, desistindo da leitura. – Pra ser sincera, acho desnecessário o tratado agora.

-Vamos deixar isso de tratado para outro momento. Não posso largar um tratado de mão tão facilmente.

-Na verdade, pode, mas tudo bem.

Ouvi passos do lado de fora, era o clã chegando, falando como matracas. As vozes pararam quando eles chegaram onde começava o meu rastro. É, a folga deles tinha acabado. Eles rapidamente chegaram na sala, falando todos de uma vez, sem que eu entendesse ninguém.

-Espera, um de cada vez! – Berrei, e eles pararam imediatamente. Apontei para Hecate. – Vai, Hecate, fala.

-Achamos que você tinha sofrido alguma coisa! Não dava notícias, só sabíamos das coisas por Kratos, e eu não confio muito naquele cara. Custava ter ligado para dar notícias?

-Eleazar não deixou que eu tivesse qualquer contato com o mundo exterior. Eu estou sem celular, inclusive, me desculpem. Mas Kratos deve ter dado as informações corretamente, aposto. Agora, próximo.

-Você está legal? – Anne foi a próxima, era a menos excitada para falar.

-Eu pareço não estar? – Devolvi a pergunta e ela deu de ombros.

-O que ele te ensinou? – Perguntou Kronus.

-A te vencer tão facilmente que eu nem perceberia o combate. – Brinquei, e ele revirou os olhos, mas sorriu também. – É meio complicado explicar o que eu aprendi, deixem isso de lado.  Alguma informação nova?

-Na verdade, só uma. – Hecate começou a passar o relatório. – Desde as últimas semanas temos rastreado um vampiro que entrou em nossas áreas, mas não conseguimos achá-lo. Os lobos estão nos ajudando a rastrear, mas eles também não conseguiram nada. – Os lobos de novo.

-Certo. Fora isso, nada fora do comum?

-Não, nada. – Ela terminou.

Olhei ao redor da sala, distraidamente. A falta de movimento era quase desanimadora. Eu esperava que quando eu chegasse estivesse, no mínimo, um caos instalado. Mas ao invés disso encontrei uma grande paz e um grande nada. Isso me preocupava mais do que o pior caos que eu pudesse encontrar. Quando ficava muito tempo sem acontecer nada de significativo, ainda mais quando se recebe um aviso de que há coisas para acontecer, é porque algo não vai dar certo.

-Continuem procurando esse vampiro, é importante sabermos quem ele é o quanto antes. Eu não sei o que vai acontecer, pessoal, mas acho que, infelizmente, nós vamos passar por umas tempestades. – Levantei, indo pegar minha mala no canto. – Agora eu vou tomar um banho e trocar de roupa. Como eu senti falta de casa, era quase torturante.

-Você ainda vai nos contar em detalhes o que aconteceu, não pense que vai se livrar facilmente. – Hecate disse, rindo. Droga.

-Tudo bem, mas depois. Bem depois. – Estava na metade do caminho quando lembrei de outra coisa. – E cadê o Matt? Ele não estava aqui quando eu saí, e não está aqui agora.

-Você sabe onde ele está. – Gabi falou. Claro que eu sabia.

-Ele já foi conversar com o pai da menina?

-Já.

-Droga, perdi essa... – Disse, antes de começar a subir novamente.

Larguei as minhas coisas em cima da cama e fui direto ao banheiro tomar banho. Deixei que a água quente lavasse de mim os últimos dois anos, que não foram os mais fáceis. Eu esperava que agora, em casa, as coisas fossem mais fáceis e que nada de novo aparecesse na minha frente. Sem amigos do passado, sem vampiros milenares com conhecimento infinito, sem problemas. Mas eu sabia que isso não seria nada além de um desejo. As coisas nunca são fáceis.

Depois de me vestir, disse ao pessoal que ia até a boate. É, eu tinha aprendido que aquele era o nome atual. As coisas mudam de nome e eu me confundo por anos, até eu me acostumar e elas mudarem de nome novamente.

Era quase horário de almoço quando cheguei na cidade. Estava mais movimentada do que eu me lembrava, sinal de que havia mais gente morando lá. Ótimo, mas movimento para a boate.

Quando já chegava, dei uma olhada no ambiente do lado contrário, a lanchonete. Não havia ninguém, acabei me perguntando se eles estariam nessas ditas rondas. O que eles fariam se encontrassem o vampiro? Trariam para nós, para que julgássemos, ou eliminariam eles mesmos? Dei de ombros, não me importando. Se eles se livrassem do problema, melhor para mim.

Olhei mais em frente e vi, de relance, Liah e Luke olhando umas vitrines de umas lojas mais à frente. Eu tinha me esquecido deles. Bem, não estavam incomodando, por mim tudo bem.

Entrei e cumprimentei alguns funcionários, contando a magnífica história de como fiquei dois anos fazendo um curso relâmpago de administração em uma faculdade do norte. Bem, eles acreditaram e logo fui para a minha sala.

Não havia mudado muita coisa. Na verdade nada, fora o movimento que tinha praticamente triplicado. A sorte era que o espaço era grande e Hecate conseguiu administrar a coisa com facilidade. Agora era só voltar aos afazeres básicos do dia, enquanto não dava a hora de abrir.

No meio da tarde o telefone da minha sala tocou. Quando atendi era Jimmy, o assistente que trabalhava junto com os seguranças. Ele disse que havia um homem que não queria se identificar e que queria conversar comigo. Mandei que deixasse entrar, ninguém ia conseguir me matar com facilidade mesmo. Bem, pelo menos não um mortal.

Minha confiança ficou abalada quando eu mal o ouvi chegar até a porta. Um humano eu teria identificado no início do corredor. Eu já tinha posto os óculos escuros para receber quem quer que fosse, mas não cheguei a tirar quando vi que era muito mais do que uma pessoa normal. Ele bateu na porta e eu mandei que entrasse.

Nada poderia me preparar para quem entraria pela porta, como um fantasma distante que volta em um pesadelo. Ele fechou a porta delicadamente atrás dele e se sentou na cadeira em frente à minha mesa, enquanto eu o olhava sem conseguir esboçar a menor reação.

Estava perfeito, como os restos das minhas memórias humanas me diziam que ele era. Alto, de corpo forte e torneado, cabelos castanhos claros, da mesma cor dos meus, penteados alinhadamente, e os olhos sérios e duros, mas com um ar de ironia, que um dia foram azuis, assim como os meus foram um dia. Agora eram castanhos pela lente de contato, mas eu podia ver de leve o vermelho que estava por trás.

-Olá, Giuliet.

Jason Collins, meu pai, disse como se comentasse o tempo.


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