Diário ... escrita por ARurouni


Capítulo 1
Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Melissa estava em seu quarto, após a meia noite, enquanto observava, de forma totalmente fora da realidade, o monitor de seu computador.



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12:29h.

O modesto, porém bonito quarto de uma casa de uma pequena cidade, localizada no interior de Tariksson, encontrava-se apenas iluminado pela luz de um abajur e a tela de um computador.  A frente do mesmo estava uma jovem de cabelos ondulados e castanhos escuros, quase negros.  Sua pele, clara e seus olhos, cobertos com o seu óculos, também castanhos, fixavam-se na tela.  Sua expressão exibia um misto de desânimo e tristeza.  Porém, também exibia certa ansiedade: na verdade, ela demonstrava um turbilhão de emoções e até ela não o conseguiria explicar.

Observava e observava aquela tela, enquanto tentava arranjar algo para fazer.  Algo que a distraísse dos inúmeros pensamentos que passavam em sua mente.  Pensamentos esses que variavam de certa revolta, até tristeza e desespero.  Olhou para o lado e observou um livro pequeno, de capa de couro, que ostentava um adesivo com um nome: Melissa.  Ela o pegou, com suas mãos que tremiam, porém ela mal percebia tal estado: seu corpo por inteiro tremia, e não apenas pelo frio daquelas horas da noite.

Ela tremia também por seu estado de espírito.

Em questão de instantes, ela moveu o abajur para cima do diário e o abriu, vendo as páginas repletas de desenhos em suas bordas, coisas que ela adorava fazer.  Coisas que ela amava.  Tratava-se de seu melhor companheiro, o seu diário.  Na primeira página havia alguns nomes, cada um deles escrito com uma cor diferente, nos quais vinham logo abaixo de um texto:  “Melhores amigos!”

“Marcy, Tetsukki, Carol, Silvia e Odette”  Eram os nomes que estavam escritos.

Passava as páginas, no entanto e parava em algumas, lendo e relendo algumas passagens e suspirou, enquanto apertava os seus olhos.  Podia sentir aquela sensação úmida e morna de gotas que nasciam dos mesmos.  Lágrimas que começavam a verter-se.

Melissa colocou o seu dedo polegar e indicador de sua mão esquerda por detrás das lentes dos óculos e as secou, porém inutilmente: logo ela podia sentir outras a escorrerem dos mesmos.  Inspirou fundo e voltou a observar o diário.

“... Hoje o dia foi uma droga... sinceramente, eu não queria ter saído da cama...”

Estava escrito no primeiro parágrafo daquela página e ela suspirou, entristecida, ao observar a data.  Data esta de mais de um mês atrás.  Em poucos instantes, ela voltava a ler.

“... Marquei com minhas duas amigas um encontro... primeiramente, estávamos combinadas de que sairíamos todas para passear e contar muitas bobeiras.  Porém, ao chegar na casa da Marcy... ela falou como se tivesse esquecido quase que por completo...”

“Céus... como ela pode esquecer?!  Penso eu...  Mas, meio que já era esperado... Marcy já não é mais... a mesma pessoa que eu conheci...

Me pergunto, caro diário... se foi algo que eu disse, ou que eu fiz... mas ela é a minha melhor amiga!

Perdoei... mesmo a contra gosto... afinal, somos amigas há tanto tempo, desde que éramos crianças.  Ela conversou comigo e falamos por algum tempo sobre algumas coisas.

Porém, o telefone tocou.  Era o namorado dela e ela teve que sair.  Sorri e saí da casa dela.  Afinal, não ia e nem quero perturbá-la... voltei para casa e tentei ligar para os meus outros amigos...

Ah, na verdade, só poderia falar com a Odette... as outras perdi contato... Mas ao ligar para ela, a mãe dela avisou que ela havia saído... agradeci e deixei o celular ao meu lado.  Não sei, talvez a Marcy ligue para mim... ou a Odette, quando elas retornarem...”

Melissa suspirou.  Sentia-se triste.  Sentia-se mal.  Em seguida, passou mais algumas páginas, até chegar no dia anterior.

“Conversei com a Marcy!  Falamos mil e uma coisas!  Planos e tals... foi bem legal e divertido... mesmo que eu a note... estranha e não mais como antes... foi muito bom!  Acho que ela deve estar cansada...

Fiquei de mostrar para ela, amanhã, alguns trabalhos que estou fazendo.  Ela sempre dá uma boa sugestão nos mesmos, diferente das demais pessoas que apresento...  Meus pais eu já nem perco meu tempo, já que eles ou preferem brigarem entre si, ou então estão cansados demais para verem... mas bem, eu não posso reclamar, né?  Eles estão cansados realmente...

Só penso que eles vão me ‘matar’ depois!  Já que o que eu gastei de telefone falando com a Marcy hoje! Hahaha...

Bom diário!... vou ir dormir e amanhã eu conto como foi o meu dia!”

Melissa suspirou fundo.  Suas lágrimas voltavam a verter de seus olhos, enquanto folheava a página para o dia atual.  Tal página estava em branco.  Ela voltou o olhar para a lata com várias canetas, que se encontrava ao lado do monitor e pegou uma caneta preta.  Em questão de minutos, ela começava a escrever.

Tentava, com muito custo, fixar sua mão, porém esta tremia.  Sentia o seu corpo continuar a tremer e podia sentir as batidas de seu coração, de formas descompassadas em seu peito.  As escritas naquela folha saíam tortas e tremidas

“Diário...

Meu dia... não foi ruim... foi... horrível!

Como eu disse... hoje eu ia na casa da Marcy... mas ela tinha saído... bem, ao menos foi o que... a mãe dela disse... mas eu juro, diário... eu juro que eu ouvi a voz dela, na casa, quando me afastava... Senti vontade de bater de novo e saber o porquê... porquê ela tá mentindo para mim... o que foi que eu fiz a ela?  Eu nunca a ofendi, nunca a xinguei, nunca critiquei... na verdade, até a apoiei em vários momentos... mas agora, ela se esconde e se afasta de mim?

Será que... ela pensa que eu tô gostando dela?  Se for isso, eu ia dizer na cara dela que não!  Isso nunca, nunca me passou na minha mente... só que ela sempre me entendeu e sempre me ouviu...

Diário... eu quero que você me entenda, já que ninguém mais me compreende... eu tenho 20 anos e vivo com meus pais... tentei me apaixonar algumas vezes, porém não tive muita... sorte... e me arrependi diversas vezes.  Marcy sabe dos momentos que eu cheguei em caquinhos para desabafar e ela até soube me amparar nesses momentos.

Não consigo ter uma vida social também... até saio para passear com alguns conhecidos da facul, aprontamos algumas e tals, mas não me vejo em um ambiente com muita gente... Gosto de estar mais em casa... não sei dizer, no entanto... se isso é devido aos meus últimos relacionamentos, mas enfim...

Meus pais são meus melhores amigos também... porém tem coisas que eu prefiro não falar com eles... afinal, eles nem sempre se interessam...

Mas o que me dói, diário... é essa sensação de vazio que sinto... que me consome diariamente.  Me falaram que eu preciso sair mais, mudar de vida... mas não sinto ânimo algum... meus amigos praticamente se tornaram o meu mundo.

Mas agora... que até as pessoas que eu mais confiava... se escondem ou fogem de mim... Diário... isso me dói... me dói muito.

Sinto vontade de desaparecer... de sair desse mundo... sinto que ninguém se importaria, nem mesmo os meus pais se amanhã, eu não estivesse mais aqui.

O que faço, diário?  Eu não... sei mais o que fazer...”

Melissa parou, deixando cair a caneta ao chão, enquanto que as lágrimas brotavam, copiosamente, de seus olhos e ela fechou o diário, colocando-o sobre a mesa e retirou os óculos.  Soluçava e chorava como se tentasse por todo aquele desespero e pânico em si, para fora.

Porém ela parou e, forçando-se ao máximo, tentava conter as lágrimas.  Havia escutado passos e duas batidas em sua porta.

“Melissa...?  Está tudo bem?”  Disse uma voz feminina do lado de fora.  Desesperada, olhou para todos os lados e pegou os óculos.  Forçava, de uma forma desesperada, um sorriso e uma aparência que estava tudo bem e aproximou-se da porta, abrindo-a.

“Meliss-- ... oh, minha filha... você... está chorando?  O que houve?”  Perguntou uma mulher, com certa idade e Melissa inspirou fundo, forçando ainda aquele sorriso no rosto.

“A-ah.... n-nada, mãe...”  Disse Melissa, com uma forçada voz, enquanto mantinha aquela expressão em seu rosto.

“Mas seu rosto... está inchado... o que aconteceu?”  Perguntou sua mãe, mas Melissa negou com a cabeça e virou-se para o quarto.

“Ah... eu... eu... eu estava lendo um conto... que me fez chorar, mãe... mas não se preocupa... tá tudo bem!”  Disse Melissa.  Sua mãe a observou, como se a estudasse, enquanto que Melissa forçava e torcia para que ela não perguntasse mais nada.  Não queria ouvir as mesmas coisas que ela sempre lhe disse, no passado, quando a procurava para desabafar.

Sua mãe certamente a aconselharia, porém não era de conselhos que ela precisava naquele momento.  Queria apenas... ficar sozinha e pensar.  Pensar e chorar até dormir, como ela sempre estava fazendo, nesses dias.

“Hm... ok... mas qualquer coisa, é só falar comigo, tá bom?”  Disse sua mãe e Melissa concordou com a cabeça e, tão logo sua mãe se afastou, ela fechou a porta, voltando a observar o seu computador.

Percebia que seria inútil, aguardar algum e-mail ou até sequer conferir o celular.  Sentiu as lágrimas voltarem a escorrer pelos seus olhos, enquanto desligava o computador e pegou a caneta no chão, depositando-a na lata, junto das demais.  Em seguida, desligou o abajur, entregando o quarto em uma completa escuridão, apenas vagamente iluminado pelo rádio-relógio, que se localizava ao lado de sua cama.  O mesmo indicava as horas atuais.

1:29h

Já era bem tarde e iria tentar dormir.  Sua cabeça estava cheia e suas lágrimas permaneciam a teimar em cair.  Segurando o diário em sua mão, rumava em direção de sua cama, guiando-se de forma instintiva e, em seguida, deitou-se na mesma, guardando o diário e seus óculos no criado-mudo ao lado da cama.  Pousou as costas de sua mão esquerda sobre sua testa e tentava dormir.

Porém era difícil.  Sentia soluçar novamente e a chorar.

O sono, no entanto, veio após uma hora e ela literalmente desmaiou.  Porém, seu último pensamento voltava-se a frase que havia escrito no diário.


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Notas finais do capítulo

Tive várias idéias para o encerramento deste capítulo, incluindo até o desfecho da história, com ela pondo fim em sua própria vida, porém não achei que seria um bom desfecho. Então tive a idéia de que ela se deitaria na cama e colocaria o diário ao seu lado, como seu único e melhor companheiro.

Apesar de não ser uma história que meio que "fuja" do que costumo escrever, sempre senti a necessidade de escrevê-la algum dia... Porém, apenas hoje, totalmente ao acaso, consegui colocá-la em prática.

Melissa não se baseia em ninguém, na realidade. É apenas uma personagem que eu sempre tive vontade de criar e trabalhar nela.

Espero que curtam e, quando der, postarei outros capítulos da história.



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