Minha Viagem Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 7
Truques na manga


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um. Rápido, não?



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Acho que você nunca vai ter idéia do quanto é irritante ter duas pessoas falando sem parar sobre o lugar do mundo que você mais odeia e sobre como vai ser divertido ir para lá. Ares e Apolo simplesmente não calavam a boca!

Ares fazia questão de falar alto o suficiente para que eu ouvisse a conversa inteira do meu quarto. Eu trincava os dentes tentava me concentrar em qualquer outra coisa, mas era impossível.

- Não... Eu vou dar um jeito de ficar aqui. – Murmurei para mim mesma depois de um tempo.

- Ah, é mesmo? – Perguntou Ares. Virei-me e olhei para a porta do quarto. Ele estava encostado na soleira da porta e sorria torto para mim. Seu sorriso mostrava toda a sua maldade e diversão – Acha mesmo que eu vou deixar você fugir, benzinho?

Levantei da cadeira que ficava logo na frente da escrivaninha e cruzei os braços.

- Não vou desistir assim. Você não vai me arrastar tão facilmente. – Afirmei determinada, mas Ares só riu.

- Nossa! Me sinto tão indefeso agora! O que eu posso fazer contra você? – Perguntou ele dramaticamente – Eu sou só o humilde e todo poderoso Deus da guerra. E você é a grandiosa musa sem talento do Apolo.

- Vai zombando. – Falei indo para a porta – Eu não ligo para os seus sarcasmos.

Tentei sair do quarto, mas Ares não se moveu. Ele bloqueava o meu caminho, de modo que tive que tentar empurrá-lo. Porém nem mesmo isso adiantou. Estava prestes a reclamar com ele, quando ele segurou o meu queixo e forçou-me a olhar para ele.

- Estava só brincando. Não tem motivo para ficar tão irritada. – Disse ele com um sorriso torto – É claro que eu levei a sua ameaça a sério. Por que não levaria? Você é a garota da guerra. Tem lá os seus truques na manga. É por isso que eu vou ficar de olho em você, Filhinha de Hermes.

Olhei rapidamente para o bolso dele. Ficava logo na lateral do seu corpo. Lá estavam as passagens de avião. Se eu conseguisse alcançá-los...!

- Eu não sou “a garota da guerra”. – Fingi estar irritada para que Ares continuasse falando. Pelo menos assim eu teria uma chance.

Ares deu um risinho malicioso, e revirou os olhos.

- Você adora reclamar, não é? É claro que é a garota da guerra. Você me escolheu também, lembra? – Perguntou ele – Você pode até protestar, mas eu aposto que no fundo você gosta de ser a garota da guerra.

Tanto quanto gosto de ir ao Alabama, idiota. Foi aí que surgiu uma idéia.

- Ares... – Falei olhando por cima de seu ombro – Onde está o Apolo?

- Ele já foi. Por quê? Queria choramingar para o seu namoradinho sobre como é injusto você ter que viajar? – Perguntou Ares arqueando uma sobrancelha para mim. Ele ainda tinha um sorriso torto no rosto, mas ele desapareceu assim que eu coloquei minhas duas mãos sobre a cintura dele (bem encima do bolso da jaqueta).

- Não. Não foi por isso que eu perguntei. – Respondi tentando ser convincente. Ares, primeiro sorriu mais uma vez para mim, e depois começou a rir maldosamente. Nojento, mas para não ir ao Alabama... Tudo servia – Eu só... Queria saber mesmo.

- Não precisa se explicar. Eu entendo você. – Disse ele para mim. Ares levou uma de suas mãos até o meu queixo, exatamente a mão direita, tornando o trabalho de pegar as passagens mais fácil ainda – O que vai fazer agora?

Peguei! Olhei por cima do ombro dele com os olhos arregalados, o que fez Ares virar-se curioso. Tempo o suficiente para por as passagens no bolso de trás da minha calça jeans. Yeah! Engole essa!

- Pensei que fosse o Apolo. Desculpe. – Disse eu dando um passo para trás – Pois é... Acho que eu vou ver um pouco de TV lá embaixo. Com licença.

Passei por ele, e dessa vez Ares abriu caminho. Mas não me deixou ir muito longe. Com um movimento rápido, Ares segurou a minha mão e me puxou para ele novamente. Ares me pôs contra a parede, e sorriu para mim.

- Você realmente achou que eu ia te deixar ir embora assim? – Perguntou ele rindo para mim – Sabe? Você acabou de se aproveitar de mim.

Ergui uma sobrancelha imaginando o que ele queria dizer com aquilo. Seu sorriso maldoso continuava no seu rosto, e estava mais do que na cara que ele estava se divertindo com alguma piada em sua mente.

- Agora é a minha vez. – Disse ele. Arregalei os olhos ao sentir suas mãos descendo até chegar a minha bunda. Arregalei os olhos surpresa, e tentei empurrá-lo para trás.

- Ei! Tire as suas mãos daí! – Exigi com o rosto vermelho, e por incrível que pareça, Ares obedeceu. Ele sorriu para mim novamente.

- Já consegui o que eu queria. – Disse ele levantando as passagens no ar, bem na frente do meu rosto.

Por um minuto eu não fiz nada, até que tentei pegá-las novamente.

- Me dá! – Exclamei tentando agarrá-las, mas Ares as levantou no ar no último segundo, fazendo com que eu esbarrasse contra o peito dele – Ares!

- Achou mesmo que ia me enganar com aquela atuação? – Riu ele da minha tentativa – Se você se parecesse com Afrodite, eu até poderia cair no truque. Mas sendo uma pirralha sem graça como você é... Esquece.

- Guarda isso muito bem, porque quando eu pegar...! – Exclamei tentando pegá-las novamente, mas Ares as levantou alto demais para mim.

- Aaawn, que peninha. Você ainda tem que crescer mais para alcançá-las. – Disse Ares rindo malicioso – Pobre Filhinha de Hermes.

Dei um soco em Ares, mas ele desviou antes que eu o acertasse. Sem ligar para minha raiva, ele colocou as passagens no bolso da jaqueta novamente, e foi direto para o seu quarto.

- Vou tirar um cochilo. Tente não me agarrar para pegar as passagens, ok? – Riu ele zombando de mim.

Se eu tivesse alguma coisa atirava na cabeça dele, mas não tinha. Ele bateu a porta ainda rindo, e eu continuei em pé no corredor. Droga...

Minha mãe tinha dito que o avião saía no dia 6. Ou seja... Eu tinha cinco dias para arrancar aquelas passagens de Ares. Desci as escadas e fui direto para a TV. Tinha que distrair a minha mente com alguma coisa.

Porém assim que me sentei, Hermes entrou pela porta. Olhei para o meu pai sem muita animação, e ele sorriu para mim um pouco sem graça.

- Alice... Pela sua cara, a sua mãe já... – Ele não precisou terminar a frase.

- Já. Você chegou tarde, pai. Poderia ter visto toda a cena há umas horas atrás. – Contei de mal humor – Ela convenceu o Ares e o Apolo á me arrastarem para o inferno.

Aí eu tive uma surpresa. Pensei que meu pai fosse apoiar a minha mãe, dizendo para mim que eu estava exagerando e que lá não era tão ruim, mas ele fez diferente. Ele sentou-se do meu lado no sofá, e sorriu triste.

- Lá é uma droga, né? – Concordou ele. Arregalei meus olhos.

- Você também não gosta de lá? Pensei que fosse apoiar ela. – Disse surpresa.

- Eu? Eu nunca gostei de te ver indo para lá. Aqueles mortais irritantes... Parentes exibidos daquele miserável do Will. Nunca gostei do jeito que eles te tratavam. – Disse ele com o mesmo incomodo que eu sentia quando mencionava-os em uma conversa.

Fazia um pouco de sentido. Meu pai devia odiar o Will por ter ficado com a minha mãe. Ele provavelmente sentia ciúmes do mesmo jeito que o Apolo.

- É. Mas agora não tem mais jeito. Ela já colocou a idéia na cabeça dura do Ares. Ele vai arranjar uma maneira de me arrastar para lá para poder se divertir com o meu sofrimento. – Falei.

Hermes sorriu para mim de um jeito malandro. Como aqueles adolescentes que pulam as janelas de noite para fugirem de casa e irem á uma festa fazem.

- Vai se dar por vencida, Alice? Então acho que não vai querer isso. – Hermes mostrou em sua mão as passagens de avião que antes estavam no bolso de Ares. Arregalei os olhos e abri um largo sorriso.

- Sim! – Exclamei dando um pulo do sofá – Pai...! Eu não tenho como dizer para você o quanto estou feliz por você ser o Deus dos ladrões.

Ele riu para mim e me entregou as passagens.

- Não se preocupe se o Ares pegá-las de volta. Elas agora são um pouco mágicas. Vão sempre voltar para o seu bolso. – Disse ele colocando-as em minha mão – Pode usar isso para infernizar ele um pouco.

- Ótimo. – Sorri novamente. Eu era a pessoa mais feliz do mundo – Mas... Por que você me ajudou?

- Acho que você não merece ir á uma viagem maligna dessas. Muito menos em novembro. – Disse ele piscando para mim – Vou embora antes que Ares note que eu estive aqui. Boa sorte, Alice. Eu volto aqui depois.

Com isso, meu desapareceu. Eu estava com um enorme sorriso no rosto. Como poderia escondê-lo? Não teria que viajar para o Alabama, e essa era de longe a melhor coisa que acontecera comigo em muito tempo.

Subi as escadas e fui até o meu quarto. Peguei o meu notebook e fui para o sofá novamente. Liguei-o e fui, sem muita esperança, checar o meu email.

Lá estava! A minha chefe tinha mandado mesmo o livro para que eu traduzisse! Fiquei surpresa, pois esperava que ela não me mandasse mais trabalho nenhum depois de Ares ter pego o meu celular e mandado ela entregar comida chinesa.

Aproveitando os poucos momentos de paz que eu teria, já que Ares estava dormindo, eu comecei a traduzir. O livro tinha cerca de 200 páginas. Não era muita coisa, mas quando se trata de traduções... Posso afirmar que é bastante cansativo.

Com o passar das horas, terminei 150 páginas quando o relógio marcou 9 da noite. Tinha começado ás 15? Era isso? Não lembrava. De qualquer forma, Paris estava a meio caminho.

Conseguiria, provavelmente, mil dólares pela tradução daquele livro. Não era muito, mas era um bom começo. Estava procurando um pouco na internet, vendo se tinha mais alguma vaga de emprego que eu pudesse ocupar, quando achei algo que para mim seria extremamente fácil.

- Venha trabalhar nos correios. – Li a mensagem na tela. Perfeito! As coisas estavam começando a dar certa, pelo menos uma vez na minha vida.

Eu liguei para lá, mandei alguns emails, e por fim me responderam. Disseram que precisavam de uma pessoa par substituir um dos funcionários que estava de folga. Ele só entregava cartas na região perto da minha casa. Ótimo.

O salário era de mais ou menos 3 mil. Três mil! Era só um emprego temporário, é claro, pois o carteiro de verdade iria voltar para lá, mas para mim servia. Se eu conseguisse ficar uns dois meses, a minha missão estava parcialmente concluída. Mil mais seis mil, dava sete mil. Era mais da metade do que eu precisava.

Passaram-se uns três dias, e lá estava eu. Alice Kelly, vestindo um colete azul com o desenho de uma carta, entregando as correspondências das pessoas. Era engraçado, pois aquilo me lembrava o meu pai.

Provavelmente ele estava vendo isso, por isso eu de vez em quando parava para sorrir para o céu. “Viu, papai? Estou trabalhando no seu ramo!”, pensava de modo um pouco infantil.

Confesso que era um pouco chato, pois tinha que parar para verificar os endereços e tal, mas fora isso era bem fácil.

- Aqui está. – Disse entregando uma encomenda para uma senhora.

- Ei, você... Você é a garota que estava com o Elvis. – Disse ela franzindo o cenho para mim, como se quisesse lembrar do meu rosto.

- Elvis? – Repeti sem entender, mas então a reconheci. Era a velhinha que tinha beijado a bochecha do Apolo no Halloween! Há Há! – Aaah, sim. Sou eu sim.

- Seu amigo é muito bonito. Se é que vocês são só amigos mesmo. – Disse ela.

Ela tinha aparência de ter mais ou menos 50 anos. Seu cabelo era loiro, mas dava para notar alguns fios brancos por entre os amarelos. Seu rosto era levemente marcado por algumas rugas de expressão. Quando ela sorriu para mim, eu senti algo muito ruim. Um pensamento perturbador passou por minha mente, e eu me desliguei por um segundo.

- É... Eu tenho sorte de ter ele. – Disse com um sorriso um pouco forçado. A senhora se despediu e fechou a porta, mas eu continuei parada lá.

Ao olhar para ela, eu me toquei de algo muito estranho. Nunca seria como ela. Ela tinha uma coisa que eu não tinha e nem nunca teria. Ela mostrava a sua experiência só pelo seu rosto. Sua leves marcas de expressão. Eu? Eu nunca ficaria daquele jeito.

Na verdade, não que eu quisesse parecer com 50 anos. Mas... A idéia de ter um rosto de 19 pelo resto da vida mexeu comigo.

Eu era imortal agora. Poderia viver por milênios e continuar do mesmo jeito.

Aquele pensamento desencadeou um momento flashback. Eu me lembrei de um de meus aniversários. Minha mãe e eu estávamos de frente para um espelho. Lembro ainda que ela me disse em um tom sussurrante: “Guarde essa imagem na sua mente. Quando você tiver 40, vai notar o quanto você mudou.”. Eu nunca notaria, essa era a verdade.

Quando tivesse 40, ainda pareceria com 19. Olhei-me pelo reflexo do vidro da porta, e sem querer passei a mão por minha bochecha. Ok... Pensar naquilo era estranho, por isso resolvi ignorar e voltar ao trabalho.

Assim que me virei, fui em direção á calçada. Continuei andando ciente de que estava perto de casa aquele ponto.

Eu iria parar na porta e tirar o colete, ficando só com a minha blusa normal. Para que Ares não notasse que eu arrumei um trabalho no correio, e resolvesse me incomodar quanto a isso.

Foi o que eu fiz, mas... Fui surpreendida quando Afrodite parou atrás de mim.

- Alice? – Perguntou ela. Eu me virei assustada, e tentei esconder o colete.

- Oi! – Sorri. Afrodite estava indo entrar em casa, mas ao me ver na sua frente, resolveu me chamar. Ela olhou com curiosidade para o colete na minha mãe, e franziu o cenho – Ahm... Estava dando uma volta. Veio ver o Ares?

- Sim. Mas... O que é isso? – Quis saber ela.

- Nada. Só uma roupa. – Respondi dando de ombros.

- Deixa eu ver. – Pediu ela tentando pegar de mim. Eu desviei a tempo.

- Não. É sério, não é nada! – Insisti.

Eu abri a porta e corri para dentro, mas Afrodite me acompanhou. Eu e ela ficamos nessa de gato e rato por alguns minutos, até que ela finalmente conseguiu pegar o colete. Ela o analisou por um minuto em suas mãos.

- Isso é do correio? – Perguntou franzindo o cenho – Está trabalhando entregando cartas?

Fiquei sem graça. Ela disse aquilo como se fosse algo muito estranho, uma idéia quase que absurda.

- Sim. – Respondi – Eu estava trabalhando para juntar dinheiro, mas não conte para o Ares, certo? Ele vai me infernizar mais ainda.

- Ele não está em casa, para a sua sorte. – Disse Afrodite, embora ela parecesse um pouco desapontada por não ter seu Deus preferido por perto. Ela sentou-se no sofá e ajeitou sua saia preta – Mas então... Para que está juntando dinheiro, querida?

- Para uma viagem. – Disse eu, achando que ela não ia ligar.

- Ares disse que você vai para o Alabama. – Disse ela como se isso também fosse muito estranho, o que na verdade era.

- É, mas não é para essa que eu estou juntando dinheiro. – Disse revirando os olhos – É que eu quero ir para Paris...

- Paris?! – Levantou ela em um pulo. Não entendi muito bem, e achei que levaria um tempo para entender, porque Afrodite correu até mim me dando um abraço forte – Aaaaaawn, Alice querida! Paris! Eu simplesmente tenho que te ajudar.

Uhm... Não tinha certeza se aquilo era bom ou ruim. Mas... O que eu podia fazer?

- Tem, é? Ahm... Como? – Perguntei, e pude ver o brilho nos olhos de Afrodite quando ela me largou.

- Vamos conversar, amor. – Disse ela piscando para mim.  


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Notas finais do capítulo

He he... Será que isso vai dar certo?

Vamos ver o que Afrodite vai fazer agora...

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