POV Apolo

Enquanto Alice estava em algum lugar com o Ares (provavelmente), eu fui direto para o hotel. Afrodite encontrou Hefesto no quarto dela, e resolvi que era melhor eu me afastar antes que sobrasse alguma coisa para mim.

Resolvi entrar no quarto da Alice, mas assim que eu fui abrir a porta...

- Apolo? – Perguntou uma voz conhecida. Franzi o cenho e olhei para o lado pensando ser Afrodite.

- O que foi? Vai dizer que quer me morder agora? – Perguntei com um sorriso triunfante, mas ele sumiu ao ver que na verdade... Era a mãe da Alice. Ela parou com cara de “What the fuck?!” para mim, e eu senti o meu rosto ficar um pouco vermelho – Ah! Olá. Ahm... Não é a Afrodite. Legal... Esquece o que eu disse, certo?

- Tá bom... – Assentiu ela devagar ainda olhando para mim como se eu tivesse algum problema, mas logo sorriu normalmente – Veio para cá junto com a Alice?

- Vim. – Confirmei, mas então franzi o cenho – Espera... Não! Não vim não. Alice? Há Há! Alice está no Alabama. Bem longe daqui. Ela não fugiu nem nada.

- Apolo... – Ela sorriu para mim de novo – Eu vi a Alice aqui. Não precisa tentar salvar a pele dela agora.

- Ok. Ela está ferrada, não é? Só não acaba com ela, senão eu nunca vou conseguir... – Opa! Apolo, idiota, é a mãe dela! Cala essa boca grande! – Ahm... Andar por aí com ela.

- Eu vou fingir que era isso que você ia dizer. Vai entrar no quarto dela? – Perguntou ela andando até a porta. Assenti e abri a porta. Nós dois entramos e eu me joguei no sofá.

- Onde está o Hermes? – Perguntei.

- Ele está no quarto, arrumando as coisas. Mas logo vai ter que dar uma ida em algum lugar. Ele só volta de noite, por quê? – Falou ela. Eu ri.

- Queria mostrar para ele que estou bem longe da filha dele e que sou um cara muito inocente. – Respondi calmamente. Foi a vez dela rir.

- Ah, claro. Você é uma gracinha mesmo. – Disse ela. Eu dei um pulo no sofá, cheio de alegria ao ouvir aquilo.

- Obrigado! – Berrei estendendo os braços para o céu, e depois para ela. A mãe de Alice parou o que estava fazendo na cozinha e arqueou a sobrancelha para mim sem entender – Finalmente eu achei alguém que tem um pingo de noção! Eu sou uma gracinha, não sou?! Você mesma disse! Eu não dou vontade de morder?!

Pude ver que ela estava controlando o riso, mas que ainda me achava louco.

- Ahm... Claro! Você é uma gracinha e dá vontade de morder. Mas... Por que esse assunto assim do nada? – Perguntou sem entender.

- É tudo culpa daquele mortal irritante! Aquele moleque metido a besta que se acha melhor do que eu! – Exclamei com raiva, mas depois pensei melhor – Ah. Nada contra os mortais, não se ofenda. Só tenho contra ele!

- Ele quem? – Perguntou ela voltando a cozinhar alguma coisa.

- Scott Collins. – Disse o nome dele com nojo, mas a mãe de Alice soltou um suspiro.

- Oooown, Scott! Scott Collins está aqui?! Que fofo! – Disse ela sem notar. Eu me virei novamente no sofá e olhei para ela chocado.

- Mas...! Mas você não tinha dito que eu era uma gracinha?! – Perguntei ofendido. A mãe da Alice olhou para mim, tentou não rir e assentiu.

- Ah, desculpa Apolo. Tenho certeza que a Alice te acha uma gracinha. – Afirmou ela voltando a cozinhar. Fiz uma cara triste teatral e olhei para ela com cara de cão sem dono.

- Como pode ter tanta certeza? – Perguntei em um tom manhoso.

- Porque se ela não te achasse uma gracinha, não estaria com você. – Respondeu ela como se fosse óbvio demais. Fazia sentido.

- Mas... Espera! Você é a mãe dela! Você conheceu esse tal de Scott! Me conta. Por que a Alice gosta dele?! – Perguntei quase dando pulos no sofá de nervosismo. A mãe de Alice riu de mim um pouco, mas assentiu.

- Ela vai me matar se descobrir que eu contei isso, mas... Bem... Tá. Eu te conto. – Resolveu ela. A mãe da Alice colocou alguma coisa no forno, e veio até mim com uma colher de madeira e uma tigela – Antes de ouvir a história, quer lamber a colher?

- Ei, eu tenho 3 mil e tantos anos. Não sou uma criança para... Wow! É chocolate?! É de chocolate mesmo?! Eu quero! Eu quero! – Peguei da mão dela o mais rápido que pude, e ela riu de mim.

- Ok. A Alice conheceu ele quando morávamos na Califórnia. Por ser uma meio-sangue, ela nunca teve uma vida fácil na escola. E parece que o Scott também não. – Contou ela sentando-se em uma poltrona perto do sofá.

- Uhm... Interessante. – Disse fazendo cara de detetive, mas depois parei para dar outra lambida.

- É. – Riu ela – Eles se davam bem. Acho que ela gostava dele, porque o Scott vivia protegendo ela. E vice versa. A Alice todo dia ia se encontrar com ele, e os dois passavam horas conversando. Mas... Bem, ele era um pouco desligado. Vivia jogando vídeo game, por isso não notava que ela gostava dele. Era engraçado. Eles eram bonitinhos juntos.

Fiz uma careta para ela, mas logo depois notei que minha boca inteira estava suja de massa de bolo de chocolate. Ela riu, e encolheu os ombros.

- Foi isso. Nós tivemos que nos mudar por causa dos monstros de novo, e ele acabou ficando na Califórnia. A Alice ficou um pouco chateada, mas logo depois acabou esquecendo-se dele. – Terminou ela. Assenti lambendo mais um pouco de massa de bolo – Será que o Ares ia querer um pouco disso também?

Ela riu, mas eu levei a sério. Abracei a tigela protegendo-a.

- O que?! Não! É só meu! – Exclamei – Não quero dividir com ele!

- Eu estava só brincando, mas... Tudo bem. – Disse ela rindo. A mãe da Alice se levantou e foi de volta á cozinha, pegando um copo d’água – É engraçado... Aqui tem tudo quanto é comida. Nunca vi isso nos hotéis.

- Estranho. – Concordei lambendo mais um pouco de chocolate. De repente a porta se abriu. Olhei esperando que fosse Alice, mas...

- Jenny? – Perguntou Hermes entrando no quarto – Aqui é o quarto da...? Apolo!

Sorri para ele um pouco sem jeito, mas com a boca suja de chocolate não dava para parecer muito simpático e convincente.

- Hermes! Como vai você? Dormiu bem ontem? – Perguntei simpático.

- Eu dormi. E você? Dormiu bem? No seu quarto. Sozinho. Sem a minha filha? – Perguntou ele lançando indiretas. Eu sorri para ele, inocente.

- Ah, que isso, maninho! Você me conhece! – Exclamei para ele levar as coisas na brincadeira, mas isso não adiantou.

- Exatamente. – Sorriu ele ameaçador – Mas não se preocupe. Eu vou estar aqui no hotel de noite, por isso... Eu vou garantir que as suas noites sejam bem calmas.

Ótimo! Até porque, era isso mesmo que estava faltando. Mais uma pessoa para atrapalhar a minha diversão.

- Obrigado pela sua enorme preocupação. – Murmurei para ele, e Hermes sorriu. Mas logo que viu a tigela na minha mão, sua expressão se tornou decepcionada.

- Ah, você fez bolo e nem guardou a colher para eu lamber?! – Exclamou ele frustrado – Jenny! Eu queria!

- Sinto muito, Apolo pegou tudo. – Respondeu ela calmamente. Hermes olhou para mim, e eu abracei a tigela novamente. Estreitei os olhos para ele, ao mesmo tempo que ele estreitou para mim.

- Deixa de ser egoísta... Me dá um pouco. – Pediu Hermes chegando para perto de mim. Sorri torto para ele.

- Deixa eu ficar com a Alice, e eu te deixa lamber o resto. – Sugeri.

- Não mesmo, abusado. Passe logo para mim essa tigela! – Exclamou ele ficando com raiva. Eu estendi ela para cima, e afastei Hermes com o outros braço.

- Não! Socorro, mãe da Alice! Ele quer roubar de mim! Ladrão! – Exclamei tentando salvar a tigela com massa de bolo.

- Saí, Apolo! – Exclamou Hermes tentando pegar a tigela. Nós dois começamos a lutar pela massa de chocolate, e foi a mãe de Alice quem a pegou.

- Ah, chega disso. – Disse ela levando a tigela para a pia. Com um movimento simples ela abriu a torneira e começou a lavar a tigela!

- Não! – Berramos eu e Hermes ao mesmo tempo. Senti lágrimas chegando os meus olhos – Estava tão gostoso! Nããão!

Ela revirou os olhos sem ligar para a minha dor pessoal, e eu empurrei Hermes para longe com raiva dele. Ele disse que a culpa era minha por ser egoísta, mas eu disse que a culpa era dele por ser um ladrão. Nós nos sentamos cada um em um canto do sofá e fizemos silêncio, como costumávamos fazer quando éramos menores.

- Egoísta. – Disse ele.

- Ladrão. – Retribuí. Depois de uns minutos de silêncio – E eu vou ficar com a Alice.

- Vai nada.

- Vou sim.

- Vai e eu te chuto bem no meio das pernas. – Ameaçou ele. Me encolhi imaginando como aquilo doeria.

- Ahm... Eu quis dizer... “Um dia” eu fico com ela. – Sorri para ele.

- Sei. – Disse ele sem acreditar.

De repente, a porta se abriu novamente. Nós dois olhamos para lá e vimos Ares entrar reclamando com Alice. Isso já era a marcar registrada dos dois. Alice parou ao ver que todo mundo estava no quarto dela, novamente.

- Mãe, pai, e... Apolo? – Falou ela, mas então franziu o cenho para mim rindo – O que é isso na sua boca?

- Chocolate. – Sorri feliz ao lembrar o gosto bom daquela massa – Mas... Vocês voltaram já? Pensei que iam levar mais tempo infernizando um ao outro.

Alice riu um pouco e chegou para o lado, mantendo uma pequena distância de Ares. Eu não entendi porque ela fez aquilo, até que Alice disse...

- É que aconteceu um acidente. – Comentou ela de um jeito inocente. Eu, Hermes e Jenny franzimos o cenho sem entender, mas então... Olhamos para as calças de Ares. Estavam completamente molhadas bem no meio das pernas.

Nós três começamos a rir desesperadamente, e isso deixou ele com raiva.

- Eu te mato, Kelly! – Berrou ele tentando dar um soco na Alice, mas ela desviou com agilidade e saiu correndo para trás do sofá. Ares rosnou para ela, mas ela acabou rindo também.

- Ares... Você... Você fez mesmo...? – Eu não conseguia parar de rir para perguntar, mas ele entendeu onde eu queria chegar.

- Não! Essa lesada jogou vinho em mim! – Rugiu ele apontando com raiva para Alice, que se escondeu atrás do sofá.

- Essa é a minha filha. – Comentou Hermes – Estou tão orgulhoso...

- Cala essa boca! – Berrou Ares apontando para ele, mas Hermes acabou rindo ainda mais.

- Certo, Alice... Acho que é melhor você ficar por um bom tempo aí abaixada. – Comentei olhando para trás do sofá. Como todos estavam para frente do sofá (até a mãe dela), Alice me deu um beijo sem ninguém notar, e a sua boca ficou suja de chocolate também. Eu ri sem som, e limpei para ela.

- Obrigada. – Sussurrou para que ninguém ouvisse. Sorri para ela, e pisquei o olho direito. Voltei ao meu lugar no sofá e notei que Hermes e Jenny estavam rindo ainda. Ares rosnou para os dois, mas não adiantou.

- Vocês viram que os outros Deuses estão aqui também? – Perguntou Alice erguendo-se de trás do sofá. Olhamos para ela surpresos.

- Estão? – Perguntei sem entender – Mas... Ah. Claro. É por nossa causa, não é?

- É sim. Ou pelo menos foi o que Hades disse. – Comentou Alice.

Nós conversamos um pouco sobre isso, e assim que o bolo ficou pronto nós paramos um pouco para comer. Jenny e Hermes se levantaram e saíram do quarto, deixando eu, Ares e Alice ali.

- Ok. Acho que você não tem nenhuma idéia diabólica para o fim do dia, não é? Eu e Alice podemos... – Comecei a falar, mas Ares me cortou.

- Podem. No seu dia. – Interrompeu ele. Revirei os olhos.

- Fala sério! Você não vai precisar dela cada segundo do seu dia! Eu só quero uns vinte minutos! – Exclamei – Bem... Talvez uma hora, mas isso não é nada demais!

- Obedeça a lei, Apolo. No seu dia você faz o que quiser com ela. – Repetiu ele com raiva. Rangi os dentes.

- Isso é muito injusto! Você nem mesmo gosta dela e ainda fica com os dias em que ninguém te atrapalha! – Exclamei irritado.

- A culpa não é minha se você é um azarado! – Rebateu ele.

- Deixa de ser chato! São só alguns minutos! – Exclamei com raiva.

- Ah, vocês não estão realmente brigando por causa dessa besteira de dias, né?! – Exclamou Alice com raiva de nós dois, mas nós não ligamos.

- Não se mete! – Exclamou Ares sem nem mesmo olhar para ela. Ainda me encarando ele repetiu – Não vou ceder o meu tempo para a sua diversão.

- Você é um grande idiota! São só alguns minutos, Ares! – Exclamei de volta.

POV Alice

Lá estavam eles novamente, brigando como dois idiotas. Novamente, a minha opinião não contava. Eu odiava essa história ridícula de “Hoje é o meu dia de ficar com a Alice”. Eu era o que?! Um objeto para ser dividido entre eles?!

Resolvi que seria muita besteira tentar discutir com eles. Eu fui para o meu quarto, sem eles nem mesmo se importarem e troquei de roupa. Coloquei uma calça jeans clara e uma camisa branca de gola alta. Estava me sentindo um pouco mais quente com aquelas roupas. Logo depois, escolhi um par de botas sem salto e fui para a sala novamente.

Eles dois continuavam discutindo e estava parecendo que aquilo não ia acabar nunca. Fui até a janela da sala e olhei a vista, enquanto eles brigavam. De longe, eu conseguia ver a casa do Scott.

- Já falei que não! Meu tempo, minha Alice! – Exclamou Ares com raiva.

“Minha Alice”! Que raiva! Eu não sou de nenhum deles dois! Tá... Talvez pelas circunstâncias infernais, eu seja namorada dos dois, mas isso não quer dizer que eles podem ficar me repartindo e ignorando quando quiserem.

Tive um plano de repente que me caiu muito bem. Já que eles estavam tão preocupados de brigar por mim, eu deixaria eles desse jeito e iria sair de lá para aliviar a cabeça um pouco.

Sem que eles notassem, pulei a janela parando na escada de incêndio. Desci correndo os degraus (que eram muitos) até chegar ao último. Assim que consegui, pulei para o chão da rua e olhei para frente. Lá estava.

Atravessei a rua correndo, e bati na porta da casa marrom estreita. Scott abriu a porta, e sorriu para mim.

- Deixa eu adivinhar... Você fugiu? – Adivinhou ele. Eu ri e assenti. Ele abriu espaço para eu entrar, e fechou a porta dizendo – Velhos hábitos nunca mudam.

- Scott, eu não tenho muito tempo até eles notarem que eu fugi. – Disse olhando a sua casa, mas logo me virei para ele novamente – Você disse que tinha uma moto, não é?

Scott riu ao lembrar dos velhos tempos em que nos conhecemos na Califórnia e assentiu para mim.

- Eu vou pegar um casaco para você e preparar uma mochila. Toma as chaves. – Ele jogou para mim as chaves da moto e correu escada acima. Eu ri.

Ele não tinha mudado nada. Nada mesmo.