POV Clarisse La Rue

                Já havia uma hora que nós andávamos pelo labirinto, eu na frente e ele me seguindo. Eu sentia seu olhar sobre mim, e isso me incomodava. Mas eu não tinha tempo pra pensar nisso, eu estava muito ocupada pensando no que eu iria fazer, eu tinha que terminar a minha missão, mas eu não podia adiar a saída de Chris dali. E algo me dizia que ficar ali muito tempo era perigoso, até pra mim, que nunca tinha medo de nada. Eu estava realmente muito confusa e pelo visto, Chris também, porque ele logo me chamou:

-Clarisse?

-Sim?- eu respondi, sem olhar pra ele.

-Pra onde estamos indo?

Eu parei de andar e o encarei.

-Eu não sei, Chris, eu realmente não sei.

Ele olhou pra mim e em seus olhos azuis, eu vi somente medo e uma pontada de desespero. Isso fez com que eu me sentisse um tanto culpada, dava pra ver que a perspectiva de ficar no labirinto era aterrorizante pra ele.

-Eu acho que o melhor agora é tentar achar uma saída. –eu disse, fazendo-o abrir um lindo sorriso. –Mas não ver ser fácil, Chris. Achar uma abertura pra fora por aqui, é muito difícil.

-Eu sei, eu tentei durante um tempo. Mas ainda assim, obrigado por tentar. E por me ajudar. Bom, obrigado por tudo.

Eu senti minhas bochechas queimarem e me virei pra frente o mais rápido possível, eu odiava ficar corada! Eu pensei ter escutado uma risadinha vinda dele, mas resolvi que era melhor ignorar. Nós continuamos andando por um longo tempo, sem nos falarmos, mas eu resolvi começar um assunto, afinal eu ainda precisava saber algumas coisas.

-Então, o que você estava fazendo aqui no labirinto?

-Eu estava com um batalhão das tropas de Cronos.

-E quando você decidiu abandonar as tropas de Cronos?

-Eu concordei em entrar nas tropas de Cronos porque estava com raiva dos deuses, com raiva de nunca ter sido reclamado, com raiva de ter sido abandonado por meu pai, seja ele quem for. Você é a filha preferida de Ares, Clarisse, então nunca vai entender. A sensação de ser abandonado, jogado do chalé de Hermes, é horrível. Eu já havia a agüentado tempo demais, o filhos de Hermes são muito legais, eles fazem o possível pra todos se sentirem bem, mas é meio impossível se sentir bem quando se sabe que o seu pai não da à mínima pra você. - tudo isso foi dito por ele muito rápido, em uma corrente de palavras, como se ele estivesse precisando soltar aquilo há muito tempo.

-Chris, os deuses são atarefados, talvez o seu pai seja muito ocupado... -eu estava tentando, de alguma forma, amenizar a sua raiva.

-Eles não são atarefados pra fazer os filhos, né? Só pra cuidar deles. Não tem desculpa, o fato é que eles se esquecem de nós, como se fossemos um passatempo que perdeu a graça.

Eu não conseguia achar palavras para ajudá-lo, então, achei melhor seguir em frente:

-Se é assim, porque desistiu de ficar do lado dos titãs?

-Porque, apesar de ter raiva dos deuses e até, eu admito, querer o mal deles, eu não era capaz de fazer o que os titãs fazem para conseguir isso. As coisas que eles fazem e as coisas que eles nos mandam fazer são abomináveis. Eles não ligam pra ninguém, só pra eles próprios. Demorou, mas eu finalmente percebi que os titãs são tão ruins quanto os deuses. - eu estava chocada com a intensidade de suas palavras, mas começava a o entender, só não entendia uma coisa.

-E quem é Mary?

Sua expressão se fechou ainda mais ao ouvir esse nome e ele falou:

-Não importa, não é ninguém importante. –ok, era claro que o assunto o perturbava então eu não insisti.

Continuamos andando em silêncio, eu completamente imersa em pensamentos. Suas palavras ainda ecoavam em meus ouvidos, eu sempre havia pensado que os semideuses que se juntavam a Cronos, eram loucos, irresponsáveis e pessoas que não mereciam respeito, pessoas que deveriam ser realmente horríveis para se juntar a uma causa tão horrível. Mas eu nunca havia pensado nos motivos que os levavam a essa ação. Eu sabia que os semideuses que não eram reclamados ficavam no chalé de Hermes e tal, mas eu nunca pensei no que deveria ser a vida de um semideus não reclamado e agora que pensava isso, não devia ser nada fácil, viver entre um monte de crianças, sabendo que algumas ali são seus irmãos, mas sem saber qual delas, sem poder treinar seus poderes, pois não sabe qual é, e principalmente, saber que seu pai é um deus, que ele pode te ver, mas que te abandonou, talvez até esqueceu-se de você. Deve ser muito, muito difícil.

Eu estava tão imersa em meus pensamentos, que não percebi a aproximação de algo. Só notei quando ouvi Chris berrar meu nome, desesperado:

-Clarisse!