Desculpas Atrasadas escrita por Yue Chan, MichelleCChan


Capítulo 2
02-Verdades amargas.


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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_Tadaima!- disse com o cansaço aparente na voz, enquanto carregava o filho mais novo no colo, sendo seguida pelo mais velho que entrou com a mochila nos ombros e a do irmão na mão.

_ Okaeri!- sua mãe apareceu com o mesmo sorriso cativante que mantinha desde que Kagome se entendia por gente, enxugando as mãos no avental enquanto caminhava de encontro aos netos. - Como estão os meus amores?!- perguntou doce.

Assim que viu a avó, Yusuke se pôs a balançar euforicamente no colo da mãe que entendendo o recado o colocou no chão para que pudesse ir ao encontro dela. Ele caminhava vacilante, mas com um lindo sorriso aberto no rosto e mantinha os braços abertos esperando pelo contato. A senhora Higurashi não deixou por menos e o enlaçou em um abraço apertado cheio de saudades que foram preenchidas com beijos e mimos.

Hayato adorava a avó tanto quanto o irmão. Era uma das poucas pessoas que o faziam se sentir melhor e esquecer os problemas que enfrentava por se sentir órfão de pai, mas sempre deixava o irmão mais novo abraçá-la para depois fazê-lo. Sentia orgulho de agir como irmão mais velho e protetor de Yusuke, apesar de por vezes se estressar com algumas atitudes dele, como espalhar seus brinquedos ou bater seus videogames no chão enquanto sorri.

_ Vocês chegaram mais tarde hoje, já estava ficando preocupada. - Azumi disse ao ver a filha retirar o blazer e pendurar no cabideiro. – O que houve?

_Nada de mais. –retirou os sapatos sem muito cuidado alisando as partes machucadas pelo salto. – Hoje era dia de preencher papelada e acabei perdendo a noção do tempo.

_ Tsk- Hayato resmungou baixo para a mãe não perceber.

_ Oba-chan dedeira!- o pequeno reclamou com as mãos em seu rosto.

_Tudo bem!Acho melhor dar comida para esses dois antes que eles comecem a rosnar pela casa.

Kagome não pode evitar a risada que deu com a piada, era muita coincidência ter dois filhos com sangue Yokai de raças tão próximas como o lobo e o cachorro, e mais estranho ainda se darem tão bem apesar da rivalidade genética.

_ Nada disso rapaz, primeiro banheiro!- apontou para o filho que já se punha em frente ao videogame com um biscoito de chocolate preso na boca e olhava surpreso por ter sido desmascarado tão rapidamente.

_ Mas mãe! Eu to quase zerando esse jogo!- pedia com as mãos juntas. – Deixa eu jogar primeiro só dessa vez.

Kagome olhava para o filho pedindo com a voz manhosa e lutou com todas as forças para resistir ao seu instinto maternal protetor que suplicava para que deixasse aquele anjinho se divertir primeiro, mas não podia ceder facilmente; conhecia muito bem aquela personalidade explosiva para se manter firme e negar. Ele tinha que aprender a lidar com as frustrações das suas negativas desde cedo, caso contrário poderia dar muita dor de cabeça no futuro.

_ Não!Você está todo sujo de poeira de tanto jogar futebol, precisa de um banho urgente. - falou séria com a mão na cintura.

_ Mas mãe eu nem estou tão sujo assim. –mostrou a blusa da frente que continuava branca. – Viu?!

_ Se olhar no espelho vai descobrir que nem tudo é o que parece. Agora já para o banheiro, antes que eu resolva dar banho em você!

_ Kagome, deixe o garoto se divertir um pouco, não vai fazer mal. – Azumi disse, e recebeu um olhar agradecido do neto que sorria feliz para ela.

Kagome olhou para ela.

_O que é isso mãe? Até a senhora está se unindo a eles para fazer um complô contra mim?Sabe como o seu neto é, se ele ficar mal acostumado vamos ter sérios problemas.

_ Mas é só uma vez filha.

_ Mãe, por favor, não interceda por essa criança fissurada em jogos, ele precisa de um banho e ponto final.

Hayato percebeu que a batalha estava perdida ao ver o olhar que sua avó lhe enviou e sem muita opção desligou a televisão e caminhou para o banheiro desarmado. Talvez nunca fosse ganhar da mãe em matéria de discussões, ela era dura na queda, então o melhor a fazer era obedecer antes que ela ficasse mais nervosa.

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A pessoa continuou a observar o hanyou que recostado na borda do poço continuava a fitar as estrelas. Não havia mais lágrimas em seu rosto, mas as trilhas que elas percorreram continuavam no mesmo lugar, marcando um caminho pesaroso e cheio de saudades que brilhavam de encontro a luz da lua.

A mão latejava violentamente devido a ferida que ele mesmo havia proporcionado e sem pensar duas vezes, tomado pelo ódio que a cena estava proporcionando a seu coração, ele correu em disparada em direção á InuYasha que só percebeu a aproximação segundos antes da colisão, se pondo de pé de maneira rápida o suficiente para escapar das garras que cortaram o ar a centímetros do seu rosto. A muito tempo não se viam, mas mesmo depois de tantos anos ele pode reconhecer o antigo membro da sua equipe, o mesmo que vivia atrás de Kagome pulando em seu colo e fazendo carícias em seus cabelos.

O mesmo que havia plantado todas aquelas rosas em sua homenagem.

Shippou.

O tempo transformou seu corpo infantil em um adulto mais encorpado. Nem de longe parecia o mesmo filhote de Yokai que fazia estripulias e vivia a sorrir e brincar, estava mais maduro, possuía uma postura adequada e o olhar demonstrava não somente determinação como também o mais puro ódio.

_ O que faz aqui seu cretino. – sua voz estava mais grave, e ele assumia uma postura de luta animalesca que transparecia a vontade que tinha de rasgar o hanyou a meio. - Não tem vergonha de tornar a vir aqui depois de tudo o que fez?

InuYasha não pode esconder a surpresa ao ouvir o tom de voz áspero, mas não iria demonstrar fraqueza diante dele, assim como nunca o fez diante de nenhum inimigo.

_Eu não te devo satisfações do que faço. – assumiu também a postura de luta convencional mostrando as garras e curvando o corpo. – Desde quando se tornou tão corajoso a ponto de me enfrentar Shippou?
_ Desde o momento em que você provou ser um covarde, agora saia daqui antes que eu seja obrigado a manchar essas rosas tão puras com o seu sangue sujo. – terminou a frase com um rosnado.

_ Acredita mesmo que pode e ferir...

Antes que concluísse a frase, o yokai raposa pulou em sua direção em uma velocidade assustadora, rasgando-lhe parte da pele do braço em um ataque que pegou de raspão devido a esquiva do hanyou.

Era inacreditável que havia sido ferido, ele olhou assombrado para o rosto, outrora tão sorridente, agora transformado em algo bizarro. Estava mais do que óbvio de que ele havia sido consumido pela raiva que sentia e agia de acordo com a sua natureza selvagem, mas o seu adversário não era qualquer um, e herdeiro de um orgulho praticamente indestrutível não iria deixar barato.

Mais um ataque e dessa vez as garras se cruzaram perigosamente, caso houvessem acertado o alvo iria causar muito derramamento de sangue.

A luta que seguiu foi selvagem beirando a barbaridade. Ambos deixavam apenas o corpo e o sangue furioso falar mais alto e cada vez que se encontravam, em meio ao ar ou terra, trocavam ataques violentos que abriam caminho na carne adversária deixando o sangue minar. Pareciam mais dois animais selvagens lutando por território e era mais ou menos isso que estava acontecendo.

Eles se separaram para recuperar o fôlego e partiram mais uma vez para o ataque. Iam se chocar quando ouviram um zumbido forte em sua direção dando a eles apenas o tempo suficiente para desviarem do osso gigante que caiu cravado na terra a sua frente.

Em meio a escuridão, Sango surgiu trajando sua roupa de exterminadora e olhava repreensiva para os dois, sendo seguida por Rin e Miroku que andava sonolento.

_ Francamente!- disse se aproximando. – Eu sou acordada no meio da noite por um aldeão que disse ter presenciado dois Yokais lutando próximos ao vilarejo, deixo meus filhos com Kaede e venho correndo para cá para encontrar vocês dois brigando. Isso é muito frustrante!

Ela se aproximou de Shippou que parecia ter se controlado em sua presença e retirando o osso que estava cravado no chão com extrema habilidade.

_ Porque está lutando Shippou?- olhava profundamente em seus olhos.

_ Eu perdi a paciência quando o vi próximo ao poço e...

_Resolveu arranjar confusão a toa. –ela completou.

_ O que queria que eu fizesse? Que risse para esse desgraçado? Que o deixasse fazer o que bem entende?

Ela prendeu o osso na fivela que estava em suas costas.

_ Que o ignorasse. Eu estou decepcionada com a sua atitude Shippou, e aposto que Kagome também ficaria. -ele baixou a cabeça, visivelmente envergonhado. -Agora vamos embora.

Ela deu as costas e caminhou de volta a aldeia sendo seguida pelo Yokai raposa que agora mantinha o semblante triste, sem nem ao menos olhar para o hanyou que observava atônito demais para dizer qualquer coisa. Estava agindo como se ele nem ao menos existisse.

Esperou que eles desaparecessem da sua vista para se deixar sentar no chão perdido em tristes pensamentos. Havia perdido tudo, sua esposa, seu filho, o respeito e carinho dos amigos e agora se via sozinho e abandonado. Nenhuma palavra foi trocada, nenhum olhar, nem mesmo de decepção ou raiva.

Ele chorou novamente. A alguns anos atrás ele consideraria esse ato algo vergonhoso que demonstrava o quão fraco e estúpido era, mas agora era a única coisa que fazia seu coração pesado de tristeza se recuperar.

Olhou para o poço novamente.

Se pudesse vê-la mais uma vez, iria poder se desculpar por todas as dores que a fez passar e talvez reconquistasse um pouco da felicidade que havia perdido.

Caminhou, e tocando a sua borda pulou.

Mesmo que ainda estivesse lacrado, ele iria tentar novamente.

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Bagunçou os cabelos antes de entrar no box do banheiro sem saber o porque de gostar tanto de fazer isso, mesmo não funcionando pois os cabelos lisos em poucos segundos voltavam a forma original, era como se lhe desse um ar mais selvagem e sentia que parte dele se agradava desse pensamento.

Retirou a camisa e ao olhar a parte de trás percebeu o porquê da mãe ter dito que “nem tudo é o que parece”, a parte da frente estava limpa, mas a de trás tinha várias marcas de bola, resultado de um treinamento cansativo e com falta de supervisão técnica.

Abriu o chuveiro e deixou a água escorrer pelo corpo dolorido tomando o cuidado de não machucá-lo mais do que já estava machucado, passando a bucha com cuidado pelos hematomas. O rosto se contraiu de dor e raiva ao lembrar o motivo que levava a tanta violência contra ele, sempre o fazendo voltar com marcas e roxos espalhados pelo corpo principalmente pelas costas e barriga, e sem perceber acabou agradecendo por serem em partes que poderiam ser facilmente escondidas, não queria que a mãe se preocupasse com essas coisas, afinal ela não tinha culpa do que acontecia com ele e fazê-la passar por isso só a faria chorar e se desgastar e ele sinceramente não gostava de vê-la triste.

A culpa era “dele”.

Cerrou os pulsos com ódio batendo contra a parede do banheiro que acabou ficando com rachaduras pela violência do impacto, mas não se importou com isso poderia inventar uma desculpa qualquer como das outras vezes e estaria resolvido, não tinha culpa de ser mais forte que as crianças da sua idade, por carregar, mesmo a contragosto, o maldito sangue Yokai que tanto lhe trazia problemas.

Apesar da sua aparência não denunciar a sua hereditariedade, outros fatores faziam esse trabalho, como a velocidade que possuía, os sentidos aguçados , a boa audição e faro, os caninos salientes que sempre voltavam a crescer no dia seguinte independente de quanto fossem serrados pelo dentista, a força acima da média que precisava ser controlada ao máximo toda a vez que pegava algo delicado para não acabar quebrando o objeto e principalmente a cor dos olhos e cabelos, que apesar de serem muito bonitos eram alvo de piadas e maldades por parte dos garotos que invejavam o número de meninas a sua disposição por achá-lo muito atraente.

Sim. Hayato sofria de bulling, e não importava o quanto mudasse de escola, visto que ele já passou por várias, as mesmas coisas sempre aconteciam, e dessa vez ele havia prometido a si mesmo e a sua mãe que não se deixaria intimidar pelas violências gratuitas. Iria se esforçar ao máximo para não preocupá-la, mesmo que sofresse as mais absurdas violações.

Quantas vezes havia desmaiado na sala de aula por causa de um barulho muito alto ou cheiro muito forte que os colegas implicantes faziam o favor de executar ao seu lado para seu desespero, e não adiantava acionar o professor, ou eles iriam começar a fazer escondido e isso só iria irritá-lo ainda mais.

Não podia se irritar; tinha que lutar com todas as forças contra a sua natureza selvagem para não perder o controle e rasgar aqueles cretinos com as suas garras ou esmurrá-los até perder a consciência. Sabia que se o fizesse teria sérios problemas porque não iria se dar por satisfeito até estraçalhar a cara porca deles deixando-os inconscientes ou a chorar pedindo o colo das mães. Tinha que se controlar, mesmo que isso significasse ser taxado de fraco e idiota, mesmo que continuasse a sofrer nas mãos deles, mesmo que isso o estivesse destruindo sua auto-estima e alma aos poucos, havia feito uma promessa a mãe e por ela seria capaz de ir até as últimas conseqüências.

Não seria como seu pai que não foi capaz de manter a dele.

Terminou o banho e trocou de roupa tomando o cuidado de escolher uma blusa que tampasse as marcas da agressão. Do quarto podia ouvir o que se passava no andar de baixo devido a sua audição aguçada, e pelo cheiro pode perceber que toda a família estava reunida esperando por ele.

Desceu as escadas pulando os últimos dez degraus para poder chegar mais rápido. Até que ser um hanyou tinha suas vantagens. Podia fazer coisas que as outras crianças adorariam fazer e morriam de inveja quando o viam fazendo como pular do chão ao topo de uma árvore em segundos; isso o havia salvado de surras várias vezes.

Mal entrou no recinto e foi surpreendido por um abraço do bisavó que quase sufocou com o aperto; na verdade já estava começando a ver estrelinhas piscando a sua frente por causa do forte cheiro de incenso que emanava das suas roupas. Não era precisa ser um gênio para saber que ele havia acabado de voltar de um exorcismo demorado.

Tentou falar sem sucesso e já estava a ponto de perder a consciência quando Kagome percebeu seu desespero e veio acolher o filho.

_ Ji-san larga ele, mai matar o menino desse jeito!

_ Um velho homem não pode mais abraçar o bisneto quando ele chega?!- resmungou.

_ Não quando esse neto tem faro aguçado e está sufocando com o cheiro forte de incenso da sua roupa.

O velho senhor largou o menino, rindo sem jeito por ter esquecido desse detalhe tão importante. Ele cambaleou um pouco com os olhos revirando pela sensação de sufocamento e Kagome o amparou em seu colo para que ele não caísse, mas o estado de perda parcial da consciência o fez esquecer de algo muito importante e desnorteado pela sensação ele acabou gritando de dor no momento em que a mãe apertou sem querer um dos seus hematomas.

No segundo seguinte recobrou a consciência assustado pelo que acabara de fazer. Havia acabado de entregar a mãe a prova necessária para descobrir que algo não estava bem com ele e presenciou, para o seu pavor, o momento em que ela arqueou levemente uma das sobrancelhas em sinal de dúvida.

Com certeza aquela noite seria muito longa.


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Notas finais do capítulo

Como gostariam que fosse o reencontro?Abraços!!!YueChan.