Desculpas Atrasadas escrita por Yue Chan, MichelleCChan


Capítulo 16
16-Hora da desforra!


Notas iniciais do capítulo

Olá!!
Vamos a mais um capítulo...



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Loki riu ao vê-lo cuspir sangue e dois dos dentes. Era um fracote mesmo.

-Olha, bailarina. – disse rindo. – Agora você vai ganhar duas moedas de ouro. Basta pôr esses dois dentes embaixo do seu travesseiro que a fada dos dentes lhe dará esse presente, só não se esqueça de lavar o sangue deles antes.

Os dois brutamontes começaram a rir junto. A multidão murmurava em alvoroço. Alguns diziam que era errado o que Loki fazia, outros afirmavam que a culpa era de Hayato por ser um estúpido. Todos tinham uma opinião, mas ninguém intervinha. Existia no ar um misto de curiosidade, pena e uma certa animação. De mãos em mãos passavam algumas apostas, todas sobre o número de tapas que o menino aguentaria antes de sair chorando para a enfermaria ou um professor chegar para apartar. Nenhum dos apostadores levava fé no garotinho de cabelos prateados e as meninas se roíam ao ver um rostinho tão lindo ser maltratado daquela forma.

-Levanta, florzinha. – Loki chamou chutando o garoto que continuava na mesma posição em que cuspira os dentes. – Não vai querer apanhar sentado, vai?!Não tem graça. – foi então que ele viu o corpo dele sacudir de leve. – Que foi?Tá chorando?- ao ouvir a pergunta alguns garotos que tinham apostado na possibilidade sorriram pensando no prêmio.

Hayato permaneceu no chão com a boca aberta pingando algumas gotas de sangue. Se Loki pudesse ver o rosto dele nesse momento trataria de correr para bem longe. As sacudidelas que faziam seu corpo balançar não vinham de choro, e sim de uma risada ensandecida e baixa. Hayato ria da inutilidade do momento, perguntava-se porque tinha deixado que moleques estúpidos como esse gordo maltratarem seu corpo. “Humanos” viu-se repetindo mentalmente a palavra preferida de Sesshoumaru, usando a mesma acidez. Agora conseguia entender o desapego do Yokai com a raça humana. Eles eram estúpidos e fracos. O som do riso aumentou gradativamente até se transformar em gargalhadas alucinadas. Fracos. Estúpidos. Droga!Sabia que estava ficando louco, mas que se danasse o bom senso, estava adorando aquilo!Nunca tinha se sentido tão vivo!

-Do que está rindo, borboleta?- Loki sentiu-se afrontado com a chacota dele. – Por acaso é louco?

-Louco?- Hayato levantou o rosto para o rival pela primeira vez desde que caiu no chão. Os brutamontes deram um passo para trás ao ver o sorriso insano e o olhar assassino do moleque. Pegos de surpresa, alguns expectadores também recuaram. Havia uma trilha de sangue que atravessava o seu queixo fazendo pingar algumas gotas em seu uniforme de ginástica escolar. Lá estavam os buracos feitos pela falta dos dentes e... Deus!As presas dele pareciam ter dobrado de tamanho!Ele gargalhou novamente. – Louco?!Sim, idiota, talvez eu seja um louco. Todos esses anos, pulando de escola em escola, apanhando de filhinhos de papai como você sem levantar um único dedo, sem oferecer resistência com medo de machucá-los. Sim, acho que sou louco, meu caro gordo estúpido. Sempre tive medo de lutar contra vocês e fazia isso pela minha mãe. Eu queria ser diferente de outros garotos como eu, não queria apelar para esse lado animal, desejava, do fundo do coração, resistir aos apelos primitivos que me chamam para o combate. Queria que ela se orgulhasse de mim, queria ser diferente do meu pai, mas sabe?!- ele passou a mão pela boca limpando o sangue com as costas das mãos. – Eu não me importo mais, estou cansado de ser um saco de pancadas. Cansado de ser um idiota. Quer lutar, barril de banha?!Cai dentro!- terminou a frase se escorando na parede e se levantando com certa dificuldade. A perna engessada era um obstáculo que Hayato parecia ignorar.

Loki ficou parado por alguns segundos sem responder. Estava paralisado. Não tinha entendido patavina do que aquele moleque mirrado estava falando, mas não conseguia reunir a mesma coragem de antes. Nunca tinha o visto revidar, na verdade, ninguém revidava as suas investidas, conheciam a influência que seu pai tinha, mas agora era diferente, ele parecia um louco, sorria como um. Pela primeira vez na vida, o grandalhão sentiu temor. Terminaria a pequena discussão e sairia sem confrontar se ele não tivesse sido tão idiota a ponto de xingá-lo tantas vezes. Apertou os punhos com força. Ia esmagar aquele rostinho bonitinho.

-Quando eu acabar com você, bailarina, nem a sua mãe vai te reconhecer.

Hayato sorriu ao ver Loki se aproximar. Ainda se apoiava na parede quando o rosto foi atingido novamente por outro soco. Riu.

-Isso é um soco?- perguntou em tom zombeteiro. - Vem cá gordinho que eu vou te ensinar o que é um soco de verdade.

Loki mal pode perceber quando Hayato contra-atacou. A única coisa que viu foi o braço dele se transformar em um borrão. Em seguida algo estourou no próprio rosto. A sensação era de ter levado uma bigorna na cara. Caiu tonto. A visão estava turva. O que diabos tinha acontecido?Ouvia os gritos dos garotos ao redor e olhares assustados, mas não conseguia entender o porquê. Tinha sido atropelado? Essa era a sensação?Não. Lembrava-se de estar lutando há pouco. Ainda estava se recompondo quando viu alguém montar em cima do seu corpo caído. Aos poucos reconheceu o garoto. Ele, a borboletinha. O que ele tinha feito?Jogado-lhe uma pedra?Também não. Um soco. Isso!Tinha recebido um soco dele. Um soco? Mas... Estava desnorteado por causa de um único soco no rosto?Quanta força aquele moleque tinha?

Os guarda-costas de Loki se afastaram ao ver o chefe cair. Nunca tinham visto nada igual, nem em filmes. A cabeça virou com força e a parte atingida já começava a mostrar a marca arroxeada. Loki caiu desnorteado e Hayato subiu em cima dele. Não queriam se meter com ele, era perigoso. Parecia rosnar como um animal enfurecido.

A multidão estava atônita e boquiaberta. O menino franzino, o tal bailarina, colocou o cara mais forte da escola no chão com um soco, apenas um! Mizo não tinha palavras para descrever o amigo. Não parecia o mesmo, estava ensandecido, ria como um louco. Assim como os outros sentiu medo.

Hayato riu. Gordo inútil, se ele tivesse usado força máxima tinha matado-o. Subiu em cima dele pronto para dar mais um golpe. Ele tinha arrancado-lhe dois dentes, o certo era arrancar dele no mínimo cinco como compensação. Sentia-se satisfeito. Aquela sensação de lutar e subjulgar o oponente era maravilhosamente revigorante. Preparou o próximo golpe. Lançou a mão para trás. Loki levou as próprias ao rosto, chorava pedindo clemência. Prometia jogar a toalha branca, dizia com a voz embolada que não queria levar outro soco, estava desacostumado com a dor. Hayato não se importava com o que ele pedia ou sentia, queria era desforra, vingança por ter sido feito de idiota por tanto tempo. Deixou o braço correr livre no ar quando ouviu uma voz familiar chamando seu nome.

-Hayato, não!

Foi como levar um soco no estômago, como acordar de um pesadelo. Aquele chamado arrancou-o do transe alucinado. Olhou para o lado e viu Harumi correr em sua direção. Era irmão de Mizo e também sua amiga. Hayato tinha por ela uma admiração além da amizade. Amava sua gentileza e bondade. Amava-a de todas as maneiras possíveis. Harumi sempre cuidadosa, com a sua fala mansa e doce, com seus sorrisos meigos. A primeira garota a se aproximar sem segundas intenções ou palavras vazias. Seu primeiro amor.

Hayato tornou a levantar a mão. Graças ao chamado dela conseguira desviar o soco no último instante acertando o chão. Loki tinha se mijado nas calças de terror e ganiu ao vê-lo levantar o punho ensanguentado. Hayato saiu de cima dele e Loki aproveitou a oportunidade para se afastar o mais depressa possível. Havia uma rachadura no chão onde Hayato socara!Se aquilo tivesse pegado em seu rosto, talvez nem estivesse mais vivo uma hora dessas. Saiu correndo enquanto podia. A multidão estava atônita com o desfecho impressionante da luta e mostravam medo.

Foi com tristeza que Hayato recebeu a garota. Com a mente mais calma começava a pesar as consequências dos seus atos. Tinha perdido a paciência por duas vezes em menos de uma semana, deixando-se guiar por pensamentos loucos e assassinos. Calando, à força, a voz do seu coração. Não sabia o que dizer. Não sabia se sentia vergonha, tristeza, raiva ou tudo junto, nem se falava com ela ou permanecia quieto. Levantou a mão que por pouco não levou embora metade do rosto de Loki, e, Deus o perdoe, talvez a vida. O punho estava à pura imagem do desespero, tinha socado o chão e esmigalhado os ossos dos dedos. O sangue minava abundante. Perguntou-se como deveria estar parecendo aos olhos da plateia que não conseguia desviar a atenção dele. Viu Harumi se ajoelhar ao seu lado. Seus cabelos castanhos presos em um longo rabo de cavalo balançavam suavemente, e seus sempre bondosos olhos negros fitavam preocupadamente a mão dele.

-Como fez isso?Por Kami, Hayato, não fazia ideia de que era tão forte. –desviou o olhar para o buraco no concreto. – Olha o tamanho desse buraco, pior, olha o estado da sua mão!Precisamos ir para a enfermaria logo.

-Não preciso, estou bem. - tentava disfarçar.

-Como esta bem?!Olha quanto sangue tem a sua mão, e... E esses dentes faltando!Não me diga que foi o Loki quem fez isso.

Ele simplesmente aquiesceu.

-Eu estava conversando com uma garota do sétimo ano quando vi você em cima daquele gordo idiota. Fiquei arrepiada quando o vi, não parecia você.

-Me desculpe, eu não queria machucá-lo, perdi o controle.

-Esqueça isso, vamos cuidar dessa mão primeiro.

-Eu não quero ir para a enfermaria, Harumi.

-Porque não, Hayato?Olhe para você todo esculhambado. Tem tanto sangue nessa camisa que virou outro uniforme.

-Eu sei o que vai acontecer. Se eu for para a enfermaria a enfermeira vai me dedar para o diretor puxa-saco que, por sua vez, vai me dar uma suspensão, isso se não me expulsar de vez por causa daquele gordo. Eu não posso, Harumi, não quero trocar de escola de novo. Gosto de ficar aqui com você e Mizo.

-Isso não é justo, Hayato, foi aquele gordo quem começou a briga, com certeza. Você é um garoto bom, vai sair dessa.

-Tenho certeza que não, Harumi. Você sabe como funciona o mundo. Melhor não arriscar.

-Mas e se o Loki contar, vai dar pau do mesmo jeito, não?!

-Duvido que ele vá dar com a língua nos dentes. É muito orgulhoso para dizer isso, ainda mais confessar que quase desmaiou com um soco da “bailarina”. No mais, se ele inventar de realmente me dedar nós vamos ter outra conversinha.

Ela se calou enquanto fitava o buraco mais uma vez. Olhou a mão machucada de Hayato. O machucado era feio, mas o sangue parecia estar minando aos poucos. Arrancou a fita azul que prendia o cabelo e analisou-a por alguns segundos. Era comprida o bastante para o que precisava. Arrancou o squeeze da mão de um dos garotos e lavou o machucado dele. Hayato não fez careta de dor ao sentir a água queimar os cortes abertos, estava muito ocupado admirando a amiga que tinha um semblante preocupado em enfaixar-lhe a mão. Os olhos dourados estavam mais uma vez enfeitiçados pelos movimentos graciosos dela. A cada dia se descobria ainda mais apaixonado pela amiga sem ter coragem de revelar.

Há muito a multidão tinha dispersado em blocos comentando sobre o acontecimento.

Mizo se aproximou com passos curtos. O olhar ameaçador de Hayato e sua risada lunática não lhe saíam à cabeça. Olhou para o buraco no chão e sentiu mais arrepios.

-O que foi, Mizo?- Harumi perguntou dando a volta final. - Está branco feito vela.

-Não é nada não. – tentou disfarçar.

-Como nada?Tá parecendo até fantasma. Conta logo o que aconteceu.

Os olhos negros dele balançavam nas orbitas como se buscassem uma resposta, algo satisfatório para falar. Duas ou três vezes abriu a boca para logo em seguida fechar sem ter dito nada. Hayato olhou-o sério o que tirou o pouco de coragem que ainda tinha.

-Está com medo de mim.- Hayato respondeu por ele.

-N-não e is-so.

-Não precisa disfarçar Mizo, eu sei que é. Acabei mostrando para você um lado que não queria que conhecesse. Me entreguei a raiva, isso não devia ter acontecido!NÃO DEVIA!- disse nervoso socando o gesso da perna. – Eu não queria que visse isso, não queria que tivesse medo de mim, Mizo, eu juro!Você é meu amigo, poxa. Um dos únicos que me apoiou tanto tempo.

Hayato parecia à beira de um colapso nervoso. Segurava como podia as lágrimas que queriam fugir teimosas. Há tanto tempo sonhava com amigos tão bons e agora que tinha encontrado, depois de passar por trocentas escolas diferentes, tinha posto tudo a perder por causa de uma raiva estúpida que ele podia ter controlado.

Mizo perdeu o medo com aquele desabafo. O amigo voltara a ser o mesmo de antes, não podia negar.

-Eu não quero perder a amizade de vocês, não quero. – disse inconformado.

-Calma, cara!- Mizo ajoelhou-se ao lado da irmã que ouvia penalizada. –Você não vai perder a nossa amizade, relaxa!

-Vou sim, sempre acontece. As pessoas não gostam de mim porque sou estranho.

-Você não é estranho, Hayato. - Harumi ralhou. – É apenas um pouco diferente. Todo mundo é diferente um do outro, isso não é doença. É normal ser diferente.

-Você diz isso porque não faz ideia de quão diferente eu sou. Quando descobrir vai me tratar como uma aberração.

-Vixe, Hayato. Isso tá virando dramalhão mexicano. Não vou negar que me assustei um pouco com o que vi hoje, mas não é motivo de tanta comoção!Vê se eu vou deixar de ser seu amigo só porque você consegue abrir um buraco no chão de concreto com apenas um soco. – disse brincalhão. – No mínimo vou me gabar, afinal, não é todo mundo que tem o Hulk como amigo.

Os três riram dessa vez.

-Não se preocupe conosco, Hayato. Seremos seus amigos mesmo que você nos revele ser um E.T.

-Mesmo?Não se importariam se eu dissesse que vim de marte?

-Nem um pouco.

-E se eu dissesse que sou um Hanyou?

-Um o que?

-Um Hanyou. Metade humano, metade Yokai.

-Sério, Hayato, agora tá levando a brincadeira a sério demais. Hanyou... Vê se pode?!

O rosto dele voltou à seriedade.

-O que foi Hayato?!

-Tem algo que eu quero contar para vocês, mas não tenho certeza se vai ser a melhor decisão. É um segredo.

-Oba!Adoro segredos!- animou-se Mizo.

-Mizo!- a irmão repreendeu. – Coisa mais feia ser mexeriqueiro.

-Corta essa de conselho de mãe, mana. Conta, Hayato, que eu já tô interessado.

-Certo. Sabe o lance de eu vir de marte?

-Hã?Vai dizer que é verdade?!

-Não, é mentira.

-Então?

-Verdade é eu ser Hanyou.

-Para de sacanagem, Hayato. Yokais nem existem.

-É, e garotos de dez anos não abrem buracos no concreto com um soco.

-Verdade isso aí. –concordou o menino alisando o queijo como se já tivesse barba.

-Eu não queria contar antes porque tinha medo de me acharem um esquisito.

-Mas a escola toda já te acha esquisito e... Ai!Harumi porque me bateu?

-Para deixar de ser ogro. –desviou o olhar para Hayato. - Olha Hayato, eu não sei como fez aquilo, mas é impossível você ser essa coisa que está falando.

-Quer uma prova?- começou a desenfaixar a mão. Harumi protestou mais ele conseguiu aplacar seus protestos. - Sabe por que disse que não precisava ir à enfermaria?Por isso.

Acabou de desenfaixar a mão e mostrou-a aos dois.

-Nossa!Isso...isso é impossível, e maravilhoso!- surpreendeu-se a menina. – Como?

-O sangue Yokai que herdei cura o meu corpo de maneira rápida. Chega a fisgar de vez em quando. Isso não é tudo, olha- abriu a boca mostrando o espaço faltoso nos dentes onde era possível ver outros dentes novos nascendo no lugar.

-Kami!

-Viram?!

-Isso explica muita coisa. Você é descendente de qual clã?

-Dos cachorros.

Mizo caiu na risada.

-Isso explica porque tem esse faro desgraçado. Acho melhor te dar um nome novo, quem sabe Spike?

-Acho melhor te dar uma chance para reencarnar matando você de uma vez.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!O que acharam?Comentem e digam o que pensam!
Esse capítulo foi escrito pela Yue,direitos autorais totalmente dela (:
Beijos,e até a próxima!