Senhora Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 23
Dinnie Ray


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo e com bastantes descobertas. Se vocês o acharam um pouco chatos no meio, não liguem. Tem que ser assim para a história ter sentido no final. Ninguém tem um palpite para saver quem é o amigo de Luke. Talvez esse capítulo ajude. Se souberem me contem.



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Capítulo 23 – Dinnie Ray

Daniel mal conseguia se conter dentro do elevador. Tive que lembrá-lo inúmeras vezes que eu tinha vizinhos. Consegui apertar o botão do andar, com muita dificuldade. Assim que o elevador fechou as portas, ele me pressionou em uma das paredes de aço, frias e começou a beijar meu pescoço e passar a mão por minha perna.

Tentei me controlar no início, mas, quando dei por mim, minhas mãos estavam se afundando em seu cabelo e estava rezando para que ele não parasse. Suas presas roçaram levemente em minha carne. Um gemido involuntário saiu de meus lábios. Ele apertou seu corpo ainda mais contra o meu. Senti sua boca se abrindo lentamente e suas presas começaram a se afundar na minha pele, no mesmo segundo em que a porta do elevador se abriu.

Empurrei-o lentamente (o que não teve muito efeito, já que agora ele tinha quase a mesma força que eu). Daniel deu dois passos para trás e me olhou como um verdadeiro predador olha para a sua presa. Me assustei um pouco no início, mas depois, aceitando que somos da mesma natureza, achei sensual.

Saímos do elevador mal nos tocando. Daniel respirava com força, um pouco atrás de mim. Isso me lembrou do nosso primeiro beijo. Balancei a cabeça levemente e coloquei a chave na tranca. Escutei quando a tranca foi aberta e virei a maçaneta, entrando em casa. Daniel fechou a porta enquanto eu ia em direção ao quarto, tirar aquelas botas, que estavam me matando.

Destranquei meu quarto e sentei na ponta da cama. Me estiquei um pouco até achar o fecho da bota e tirei-as rapidamente. Escutei um arfar da porta e me peguei encarando um Daniel totalmente paralisado comigo.

“Isso é tão sexy”, ele sussurrou e começou a entrar no quarto.

Um sorriso travesso escapou dos meus lábios enquanto ele se aproximava. Daniel se sentou ao meu lado na cama e traçou meus rosto com a ponta dos dedos. Até agora eu não tinha entendido o porque dele tanto fazer isso, mas era tão bom. Fechei meus olhos, me deixando ser guiada pela suavidade de seus movimentos. O colchão tremeu levemente. Ele levantou um pouco o corpo e colocou seus lábios sobre os meus.

“Tão doce”, ele murmurou em meus lábios.

“É seu”, respondi e senti um sorriso crescendo nele.

“Eu sei.”, ele me jogou com força na cama e veio para cima de mim como um verdadeiro caçador. Geralmente eu odeio me sentir indefesa, mas com Daniel, poderia fazer diferente.

Ele voltou a me beijar, mas, dessa vez, com força e possessividade. Suas mãos passavam por meu corpo, parecendo querer sentir se tudo ainda estava lá. Enganchei minhas mãos em seus cabelos e puxei seu rosto mais contra o meu. Agora que não precisávamos mais respirar, conseguíamos nos beijar por horas.

Daniel alcançou a ponta da minha blusa e começou a puxá-la para cima. Me sentei na cama e tirei-a. Seus olhos traçaram meu corpo pálida e magro, como se fosse o corpo mais lindo e gostoso de todo o mundo. Quando o pálido cinza de seus olhar pousou em meu rosto, eu vi que a luz que existia em vida, não tinha se apagado. Estava ainda ali, quando me estudava.

Ele ainda me amava.

Literalmente me joguei em seus braços, que me receberam em um apertado e caloroso abraço. Beijei seu pescoço, vendo uma veia pulsante e convidativa. Passei a língua ali e o vi tremer e apertar seus mãos em minha cintura nua. Minhas mãos desceram por sua camisa e puxaram para cima. Me imitando, Daniel se afastou e terminou de tirá-la.

Me peguei encarando aquela perfeição terminada. Antes, quando ele era humano, eu amava sua pele bronzeada e pensava que iria sentir saudades. Naquele momento eu vi que estava enganada. Mesmo tendo o tom de pálido que os vampiros geralmente tinham, seu abdômen tinha uma sombra de um bronzeado em seus “gomos”.

Aproximei-me dele e estiquei meus dedos passando por sua barriga. Daniel fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. Estava sentindo prazer naquele pequeno toque. Era como se nos descobríssemos de novo. Ele tremeu e abriu seus olhos cinzas, com ansiedade. Sem mais nenhuma palavra, puxou-me contra o seu corpo e começou a me beijar novamente.

Uma por uma, as peças de roupas foram caindo no chão, nos deixando completamente expostos um ao outro. Uma diferença entre transar com o Daniel humano e o Daniel vampiro? Com ele humano, eu tinha que ter o máximo de cuidado para não me descontrolar completamente e o machucar. Já com o Daniel vampiro, pude dar o máximo de prazer a ele e a mim mesma.

Gritávamos, gemíamos, implorávamos por mais. Daniel entrava em mim com força, como se fosse a primeira ou a última vez que fazíamos amor. Minhas unhas se cravaram mais uma vez em suas costas, mesmo sabendo que, dessa vez, não deixaria as mesmas marcas de antes. Nossos olhos ficavam cravados um no outro, estudando cada reação. Vi que, desde que começamos, as presas de Daniel já tinha aparecido. Não poderia culpá-lo. As minhas também estavam roçando no meu lábio inferior. Uma ideia coçou no fundo do meu cérebro.

“Me morda, Daniel”, pedi em meio aos gritos.

Seus olhos cinzas se arregalaram um pouco, mas ele assentiu, se inclinando um pouco mais para frente. A sensação de suas presas entrando em minha pele, foi indescritível. Cravei minhas unhas ainda mais em sua pele quando o clímax chegou em mim primeiro. Daniel tirou suas presas de meu pescoço e começou a entrar forte em mim, também querendo o orgasmo. Me senti um pouco culpada por ter deixado ele para trás.

Com habilidade, virei nossos corpo, de forma que eu ficasse em cima. Daniel não entendeu no começo, até que coloquei meu rosto em seu pescoço e o mordi. Me movimentei só mais um pouco, quando o senti chegar ao ponto que queria. Sua mãos apertaram com força meu quadril e o soltou. Como se recebesse um tiro.

“Ah, Dinnie”, ele disse, respirando forte. Me joguei ao seu lado, meus pulmões queimavam pelo pouco uso. Daniel virou seu corpo e estreitou seus olhos cinzas para mim. “Você não me mostrou isso na primeira vez que fizemos amor.”

“Não queria te machucar.”, respondi e tirei uma mecha do seu cabelo escuro do rosto, que grudou no suor. “Agora você é menos frágil.”, sorriu.

“Na próxima vez que tiver medo de me machucar desse jeito, esqueça.”, ele deu um sorriso travesso e pousou sua mão em meu pescoço, onde ele tinha me mordido. “Isso daqui está horrível. Me desculpe.”

Olhei para a sua mordida, que, com certeza, estava idêntica a minha. Me inclinei na sua direção e lambi-a. O gosto de sangue vampírico fez minha língua pinicar. Em poucos segundos, a mordida estava cicatrizada. Daniel assentiu, entendendo o que tinha que fazer e lambeu meu pescoço. Tremi com o pequeno contato. Ele terminou me dando um pequeno beijo e me abraçou.

“Não vai me fazer esquecer de novo, não é?”, ele indagou enquanto eu colocava minha cabeça em seu peito, vendo-o subir e descer, respirando. Pena que o barulho de seu coração já era inexistente. Minha mão em seu peito, descia e subia, o acariciando.

“Não.”, beijei seu peito. “Seria como arrancar meu coração e tacá-lo no fogo.”

********

Acordar nos braços de quem se ama, é a melhor coisa que existe. Vi os lábios de Daniel entreabertos e seu cabelo negro escondendo um pouco de seus olhos. A fraca luz de fim de tarde que batia na janela, denunciava que estávamos um pouco atrasados. Meu celular começou a tocar, como uma confirmação.

“Alô”, sussurrei, vendo Daniel se remexer um pouco e abri os olhos. Me sentei na ponta da cama de costas para ele.

“Senhora, sei que devo estar atrapalhando algo, mas o julgamento será daqui a uma hora.”, era a voz graciosa de Luanne e ali tinha um sorriso. “Passaremos aí em 30 minutos. Estejam inteiros.”, ela tossiu uma risada. “Quero dizer, vestidos.”, ela estava pronta para desligar, quando a impedi.

“Luanne, espere.”, olhei por cima dos ombros para Daniel. Ele me olhava com um meio sorriso feliz. Com certeza tinha escutado tudo o que Luanne tinha dito, o que tornou mais difícil dizer as próximas palavras sem que ele desconfiasse. “A segunda guarda vai estar lá?”

Luanne demorou um pouco para entender minha mensagem até que... “Oh, sim”, ela murmurou. “Vão estar lá. Um pouco receosos, mas estarão.”

“Que bom!”, disse aliviada. “Vamos nos arrumar.”, desliguei.

Levantei, indo em direção ao armário e evitando o olhar confuso de Daniel. Comecei a procurar por alguma roupa que se encaixasse ao contexto do julgamento de hoje a noite. Escutei o arfar dos lenções enquanto Daniel se levantava e vinha na minha direção. Senti sua presença masculina aparada a poucos passos de mim.

“Dinnie, olhe para mim.”, ele pediu. Ignorei-o e continuei procurando por alguma roupa. “Você está me escondendo alguma coisa”, ele raciocinou. Fiquei tensa, mas não disse uma palavra se quer. “Dinnie Ray.”, ele me virou com a mão em meu ombro.

“Vamos nos atrasar.”, disse com a voz morta. Virei novamente para o armário e puxei uma calça jeans, um suéter azul escuro e um sapato social, pertencente a Daniel. Dei um sorriso sem graça, mesmo sabendo que ele não conseguia ver. “Me desculpe por ter roubados essas roupas de você. Eu não sabia quando você voltaria e quando batia a saudade, eu sentia seu cheiro aqui.”, peguei o suéter e aspirei o cheiro cítrico e humano do antigo Daniel. Me virei para ele, e coloquei as roupas em seus braços. “Se vista.”

“Isso não é muito informal para um julgamento?”, ele perguntou, mas foi se vestir. Me voltei para o armário e puxei um vestido azul escuro sem alças.

“Você não precisa estar muito formal.”, respondi e comecei a me vestir também. “Você é a vítima. Apenas isso.”

Ele levantou os olhos cinzas para mim com a sobrancelha levantada. Eu engoli a seco e desviei o olhar. Odiava esconder as coisas de Daniel. Ainda mais quando envolvia a sua vida. Ele continuou acompanhando cada movimento meu com os olhos, mas não disse mais nada.

Sempre pontuais , Luanne e Noah chegaram e tocaram a campainha. Noah em seu terno perfeitamente passado e Luanne com os cabelos loiros soltos (diferentes dos meus que estavam presos em um coque) e com um vestido rosa pálido. Eles sentiram o clima tenso entre mim e Daniel, então disseram uma palavra até o caminho ao Centro.

“O julgamento será onde os caçadores comandam?”, Daniel perguntou surpreso.

Luanne e eu trocamos um breve olhar enquanto Noah respondi, sem tirar os olhos da estrada. “Aqui é um lugar neutro. Muitos julgamentos são feitos aos olhares perspicazes dos caçadores, além de serem mais imparciais.”

“Isso quer dizer que...?”, Daniel deixou a pergunta em aberto, mas eu já sabia o que ele iria perguntar. Fechei meus olhos, me sentindo ainda mais culpadas. As palavras deslizaram da minha boca.

“Seu avô vai estar lá”

Ele se jogou no banco de trás ao lado de Luanne e não disse mais nada. Talvez ele se arrependesse de suas escolhas e resolvesse sair de vez do carro. Mas ele não o fez. Ás vezes eu achava que esperava apenas o pior de Daniel. Encostei meu rosto no vidro do carro e acompanhei com os olhos a paisagem do Centro. As grandes lojas, os grandes prédios. E, claro, o grande congresso.

O congresso era dos humanos, mas ás vezes os caçadores os disponibilizavam ele para os vampiros. E era aquilo que tinha acontecido. Noah parou com o carro na entrada e prontamente outro vampiro apareceu e pegou as chaves do carro, indo estacioná-lo. Saímos dos carro e olhamos para a parte bem movimentada da cidade. Outros vampiros também chegavam e subiam as escadas em direção a entrada.

As pesadas portas foram abertas e me peguei olhando para uma sala cheia de vampiros ansiosos. Ao longo das paredes, caçadores tensos acompanhavam cada movimento com os olhos atentos. Não foi difícil reconhecer Barão em meio aquela multidão. Ele estava na frente dos banco conversando com Dorian. Mesmo um pouco contrariado, mas estava. Escutando o barulho da porta se abrindo, ele olhou na nossa direção para ver quem havia chego.

Sua boca se abriu levemente quando ele viu seu neto. Seu rosto foi de surpresa para rude quando focou em mim. Estreitou os seus olhos cinzas e começou a andar na minha direção. Me preparei para a enchorrada de insultos, só que ele foi interrompido por algum caçador gritando seu nome. Olhei para Daniel que acompanhava seu avô com os olhos. Sem mais nenhuma interrupção, andei até a frente da sala de julgamento. Me sentei ao lado de Noah, assumindo meu lugar como acusação.

No lugar da defesa, estavam um vampiro que eu não conhecia, mas que tinha a tatuagem de uma cobra no pescoço. Ele estava conversando com os pais de Daiene. Eles pareciam ansiosos e temorosos. Por um momento esqueci que Daiene era uma vadia e me lembrei que era filha de alguém. Mas, essa pena durou até que eu olhasse para trás e visse Luanne sentada com Daniel. Isso me lembrou tudo o que aquela cobra tinha feito.

Onde ficavam os jurados estavam sentados Pietro (com seus olhos lilás e sua tatuagem de corvo), Dália ( com os olhos brancos e sua tatuagem de pombo.), Hector (Senhor do Leste de Alma, Nebraska, com os olhos laranjas e sua tatuagem de puma), Marie (Senhora do Oeste Buenos Aires, Argentina, com os olhos marrons e a tatuagem de um urso), Aurora (Senhora Sulista de Nova York, Estados Unidos, os olhos mel e a tatuagem de um camundongo), Gustavo (Senhor do Leste de Havana, Cuba, os olhos roxos e a tatuagem de uma tartaruga) e Nathan (Senhor do Norte de Paris, França, os olhos negros e uma tatuagem de leopardo).

Como juiz, não estava, nada mais, nada menos que o líder dos animais na floresta. O leão. Dorian. Mas, ele não tinha o sorriso habitual. Ele estava sério, como qualquer líder deveria estar naquele momento. Todos se levantaram enquanto ele tomava seu lugar, então voltamos a nos sentar. Os jurados estava anotando cada movimento nosso. Os caçadores tinham suas mãos dentro dos casacos, prontos para puxar qualquer tipo de arma que lhe fossem conveniente.

“Comecemos o julgamento”, Dorian disse alto o suficiente para que todos , vampiros ou humanos, escutassem. “Tragam a primeira acusada, Daiene Lawrence, Senhora do Norte de Seattle.”

Dois vampiros com a tatuagem de um leão (pertencentes a Dorian), puxavam Daiene pelo corredor. A vampira chorava e se contorcia no aperto dos vampiros. Ela olhou para os pais e chorou mais ainda. Deixei meu rosto tão em branco quanto o de Noah quando ela passou por mim e tentou avançar. Os guardas a conteiram e a arrastaram até ao lado de Dorian, o lugar do culpado, sendo que o banco era mais baixo. Os sussurros continuavam altos. Querendo ou não, Daiene era da realeza e fazer parte de uma rebelião sujava tanto seu nome quanto o do seus pais.

“Você jura dizer a verdade e somente a verdade?”, Dorian perguntou a Daiene, olhando sério para ela. Qualquer rastro de camaradagem que poderia existir nele (o que eu duvidava muito), sumiu. Daiene se contorceu na cadeira, incomodada com os olhares.

“Sim”, ela respondeu.

Até porque, se fosse ao contrário, usariam compulsão nela. Geralmente não funcionava com Senhores, mas já que ela estava sendo julgada, seu poder como Senhora não estava maximizado. Ao lado de seu banco estavam posicionados dois vampiros enormes e prontos para segurá-la e dois caçadores. Mesmo com as mãos deles dentro dos casacos, eu sabia que estavam segurando as estacas. Segurei a curiosidade de olhar em volta e procurar pelo avô de Daniel. Isso ainda iria dar um grande problema.

Noah se levantou, começando as perguntas. Do outro lado, o advogado de Daiene parecia um pouco nervoso. Não seria diferente. Noah era um grande advogado de Seattle e todos sabiam que ele conseguia colocar qualquer um que quisesse em julgamento de morte. Esse cara que colocaram para representar Daiene nem teria chance. E todos sabiam disso.

“Senhora Lawrence, você foi acusada de fazer parte da rebelião junto com o Senhor Dobrev,” demorei alguns segundos para descobrir que aquele era o sobrenome de Luke. “isso precedi?”, Daiene assentiu. A expressão de Noah ficou impaciente e ele franziu os lábios. “Nos responda com palavras, Senhora Lawrence.”

“Sim, isso precedi”

Sua voz parecia quase que temorosa, mas ela respondeu cada pergunta de cabeça em pé. Em nenhum momento seu advogado interrompeu o raciocínio de Noah. E, a cada revelação, os vampiros presentes ficavam mais surpresos. Eu estava tensa em testemunhar. Daniel também teria que fazê-lo e isso também era desagradável. O último a ir seria Luke , por ser o mais importante. Depois dariam o veredicto e a punição. Claro que, com a condenação de Daiene, o lado Norte de Seattle viraria uma bagunça. Teriam que nomear outro Senhor para a área o que traria algumas discórdias.

O julgamento de Daiene durou mais ou menos uma hora cheia de perguntas. Como ela tinha se juntado a Luke, o porque dela ter o feito, e quem era o mandante. Noah não acreditava que aquele loiro que desceu as escadas a frente do exército fosse o mandante. Na verdade, até mesmo eu estava começando a duvidar. Tinha sido tão fácil matá-lo. Em resposta as perguntas, Daiene foi curta e tentou parecer o mais inocente possível.

Alegou que Luke apareceu um dia na área dela e propôs parceria nesse plano maluco e que se não se juntasse, ele iria matar seus pais. Na minha cabeça, tinha uma explicação obvia do porque Luke ter escolhido Daiene. Ela era o elo fraco dos Senhores de Seattle. Ninguém, nem mesmo Doug, teria concordado com uma loucura dessas. Certamente teria expulsado-o, reportado tudo ao Senhor responsável (Eu) e ele seria julgado e morto por traição.

Quando perguntaram o motivo dela ter aceitado, seus olhos cor de jade pousaram nos meus e se estreitaram em raiva. Sua voz saiu com um rosnado quando contava que queria me destruir. Saber que ela me odiava era óbvio, mas seu motivo sempre foi um motivo para mim e escutá-lo meio que me surpreendeu.

“Desde que eu assumi o comando, meus pais cobravam de mim mais do que eu queria.”, ela começou sua história. Suas palavras pareciam vazias, mas, ao mesmo tempo tinha rancor em seus olhos. “Eu só tinha 20 anos, queria curtir a vida.”, ela lamentou. “Isso, essa cobrança, só se fez piorar quando Dinnie Ray assumiu o comando da área Sul de Seattle. Meus pais começaram a compará-la a mim.”, ela pausou e respirou fundo. “Durou por muito tempo. Eu ficava impressionada com o fato dos meus pais não a julgarem por seu envolvimento com um humano. Ninguém nunca o fez.”, ela acusou e sua voz ficou mais rude. “Então algo dentro de mim explodiu. Se meus pais queriam que eu fosse igual a querida Senhora Sulista, eu seria.”, um sorriso amargo brotou em seus lábios. “Me envolvi com um humano.”

Arfares e múrmuros encheram o tribunal. Tive que me segurar para que me minha boca não caísse aberta. Até os pais de Daiene pareciam surpresos. Quero dizer, seu pai, Victor Lawrence parecia surpreso. E mesmo sua mãe, Isabella, estando de boca aberta, tinha um brilho de conhecimento em seus olhos. Era como se ela tivesse surpresa por Daiene ter contado a verdade e não sobre a verdade em si. E não se acabaram as surpresas.

“Era um humano sulista.”, ela continuou e soltou um riso negro. Aquilo parecia entrar na pele e rastejar. Me fez tremer. “Tudo estava indo bem entre nós. Eu estava até começando a gostar dele. Queria transformá-lo. Mas, de algum jeito, Dinnie Ray e seus vampiros sempre se metiam em meus planos.”, fiquei confusa com sua acusação. Não me lembrava de nenhum dos meus vampiros se envolvendo com humanos, ainda mais depois das minhas novas regras. A não ser... “Ele terminou comigo para ficar com uma outra vampira mais nova. Abigail”, ela cuspiu o nome da pequena vampira de olhos azuis amáveis. “E o pior de tudo é que ela nem soube aproveitar direito e o matou. Senti uma raiva incomparável e quando Luke me ofereceu parceria, aceitei, mas com a condição de matar a pequena e doce Abigail.”

Raiva fazia meu sangue borbulhar naquele momento. Noah terminou de fazer as perguntas e veio se sentar ao meu lado. Mesmo com seus inúmeros pedidos para que eu me acalmasse, tive que me segurar um pouco para não matar Daiene ali mesmo, quando ela passou ao meu lado segurada por dois vampiros e com dois caçadores indo mais atrás.

Depois dela, foi a minha vez de ser julgada. Meus pés pareciam pesar toneladas enquanto eu andava até o lugar exato que Daiene estava antes. Encarar todos aqueles vampiros eram difícil, mas não impossível. Noah se levantou e começou a me fazer perguntas sem importância. A quanto tempo eu conhecia Luke e Daiene. Como me tornei Senhora Sulista. Como foi a minha participação na luta dos Rebeldes Tigres e os nossos vampiros. E como eu tinha descoberto que Daiene e Luke estavam juntos.

Nessa hora eu tive que me segurar um pouco para não rosnar. Contei que eles tentaram matar meu protegido (Daniel), mas que eu tinha chego na hora junto com Noah e Luanne. Contei que logo depois de ver seu estado, entrei em estado de torpor e tinha sido amparada por meus vampiros que me fizeram tomar as providências para que Daniel ficassem bem.

Não citei a parte em que o transformei, mas isso já estaria bem implícito para todos. Evitei o olhar de Barão, mesmo que pudesse sentí-lo me encarando e estudando cada duplo sentido de minhas palavras. Continuei minha história partindo da parte em que eu e Noah fomos atrás de Luke e Daiene, graças as informações de Daniel antes de cair na inconsciência. Dali em diante já era conhecido por todos. Lutamos, ganhamos e os trouxemos até o castelo de Dorian onde eles foram presos.

De fato, meu depoimento foi bem curto em relação ao de Daiene. Voltei a me sentar no meu lugar depois de umas perguntas sem nexo do advogado de Daiene. Respondi o mais tranquila possível, meu tom de voz nem mudou do indiferente. Depois de mim, Daniel se levantou e caminhou devagar até o lugar. Tive orgulho quando o vi de cabeça erguida. Em um breve momento, seus olhos pousaram em mim e eu vi o brilho de confiança ali. Um sorriso quase se arrastou por meu rosto, mas me contive.

Assim como aconteceu comigo, Noah e o outro advogado fizeram perguntas sobre o que tinha acontecido ontem. Daniel nem hesitou em responder que tinha ido ao baile me procurar e que, enquanto dançávamos, um exército entrou. Hora ou outra, ele pausava parecendo um pouco confuso. Eu entendia. Fazia parte da transformação que sua lembrança com a visão humana ficasse um pouco embaçada. Mas ele terminou rápido. Nem tanto quanto o meu, mas rápido.

Ele voltou ao seu lugar e eu tive que me segurar para não o abraçar e o confortar. Por último, e muito mais importante, entrou Luke. Ele não parecia tão desesperado quanto Daiene quanto passava pelo corredor cheio de vampiros. Muito pelo contrário. Tinha um ar superior nele, como se tudo aquilo fosse exatamente como ele planejou.

“Jura dizer a verdade e somente a verdade, Senhor Luke Dobrev?”, Dorian perguntou.

“Sim, claro”, Luke respondeu como se fosse a coisa mais banal do mundo e não a sua vida em jogo. Engoli a seco quando um estranho sentimento se formou dentro de mim de novo. Era o mesmo que eu tinha sentido no baile. Que alguma coisa que eu não gostava iria acontecer.

Noah se levantou e começou com as perguntas banais. No ar, eu conseguia sentir a tensão do lugar. Ninguém ligava para quanto tempo ele ficou planejando, nem a quanto tempo me conhecia. Eles só queriam saber o porque daquilo tudo. Eu, particularmente, queria saber quem era a pessoa por trás daquilo tudo. Luke poderia ter motivos, mas não tinha tempo, nem como formar um exército daquele tamanho sem que nenhum vampiro desconfiasse. Tinha que ser alguém de fora.

“Então, Senhor Dobrev, nos esclareça o porque da formação de um exército de vampiros Rebeldes.”, Noah pediu a ele. Pedir não seria a palavra certa. Ele meio que exigiu. “Foi o Senhor que formou o exército, certo?”

“Não, meu filho.”, Luke riu como se aquilo tivesse sido a coisa mais estúpida que alguém o tivesse acusado. “Não tenho poder, nem tempo para fazer um exército daquele tamanho. Pode parecer ou não, mas tenho 600 anos.”, seus olhos castanhos astutos brilhavam de forma lunática. “Apenas um vampiro novo poderia começar uma rebelião.”

“Quem?”, Noah perguntou esquecendo do PORQUE. “Algum outro filho seu?”

“Não, não”, Luke balançou suas mãos. “Só tinha um filho de sangue.”

“E criado?”

“Oh, criado”, Luke parecia divagar com suas próprias memórias. “Me lembro sim, de um filho meu, criado. Mas já se passaram muitos anos. Quero dizer, ainda o vejo, mesmo que ele não saiba quem eu sou. Essa crianças de hoje”, ele balançou a cabeça parecendo decepcionado. Comecei a pensar em alguns vampiros que foram criados e largados, como eu. Uma longa lista apareceu em minha mente. Ele tinha que ser mais específico.

“Foi ele que te ajudou?”, Noah insistiu parecendo bem perto de perder o controle.

“Não.”, a voz de Luke mudou para dura. “Ela nunca faria isso. Não com o cargo que ocupa.”, ele franziu os lábios, frustado.

“Nos esclareça quem é essa pessoa, Senhor Dobrev”, Noah pediu, sua voz fervendo. “Se você diz que ela não está envolvida, não precisa protegê-la”

“Tudo bem”, Luke deu de ombros. Seu dedo se levantou e apontou. Para mim. “Dinnie Ray Dallas é minha filha criada.”

Eu congelei.

Na minha mente, vinham flash daquela noite a 450 anos atrás em que fui transformada. Como fiquei confusa. Agora eu conseguia facilmente colocar o rosto de Luke naquele vampiro que me tirou a vida. Minha audição naquela época humana era tão ultrapassada que eu nem pude comparar a voz de Luke ao de meu assassino. Todos no tribunal ficaram chocados, mas não tanto quanto eu. Tinha aceitado a minha vida sem um criador aparente. Mas, saber que ele estava ao meu lado esse tempo todo e que ele tinha ajudado a fazer uma rebelião, me enojava.

Tive que me segurar para não matá-lo ali mesmo. Minhas mãos começaram a tremer enquanto mais e mais revelações vinham a minha mente. Se ele era “meu pai”, então o vampiro que matou Marco sabia do nosso envolvimento. Já que ele era filho de Luke e todos os vampiros Sulistas sabiam da minha “traição”. Dorian, com um pouco mais de esforço, conseguiu acalmar todos na sessão. Menos a mim, é claro.

“Encerre logo isso, Noah”, Dorian disse.

“Sim, Senhor Atriano.”, Noah fez um leve mesura e se virou novamente para Luke. Seus olhos estavam em chama , enquanto os de Luke estavam apenas divertidos com o caos no julgamento. “Responda a primeira pergunta, Senhor Dobrev. Por que iniciou uma rebelião de vampiros. Quero dizer, uma segunda, já que, seu filho Richard Dobrev iniciou a primeira.”

“Sim, meu filho iniciou a primeira rebelião. Ele era ambiciosos demais e achava que se tirasse Félix do comando, poderia assumir o posto. Pena que ele mexeu com o humano errado. Não é, Dinnie Ray?”, ele piscou para mim. Não conseguindo me controlar mais, rosnei. Ele riu em resposta.

“Está fugindo da pergunta, Dobrev”, Noah também rosnou.

“Desculpe, mal hábito.”, ele sorriu e continuou. “A segunda rebelião foi um favor a um velho amigo meu. Ele quer reencontrar uns velhos amigos que não ver a um bom tempo.”

“Que velho amigo?”, Noah parecia tão intrigado quanto o restante da sala.

“Me desculpe, não posso dizer.”, Luke sorriu. Então olhou para Dorian. “É o máximo que vou revelar. Na verdade, revelei até demais. Pode dar o veredicto, por favor.”, ele rolou os olhos em desinteresse e soltou o ar.

Os vampiros que o estavam escoltando tiraram-no do lugar e o deixaram em pé. Daiene foi trazida de volta e parecia bem mais nervosa que da última vez. Quando viu Luke começou a avançar na direção dele e foi um pouco mais difícil segurá-la. Não me surpreendi por Luke não ter revelado quem era o seu ajudante. Não tinha revelado nem a mim, que o tinha posto em tortura.

O juri foi para uma sala privada para poderem conversar. A possibilidade de que algum dos dois pudesse sair livre me deixou apreensiva. Ameacei levantar e Noah segurou em minhas mãos, me mantendo firme no lugar. Respirei fundo conseguindo meu auto controle de volta. Por mais que eu quisesse estar ao lado de Daniel naquela hora, eu ainda tinha que me mantar firme com a minha raça. Quase meia hora depois, Dorian e o juri voltaram ao seus lugares. Ele limpou a garganta e começou a ler o veredicto.

“Baseado nos fatos apresentados e nos depoimentos apresentados, o juri decidiu que a Senhora Daiene Lawrence e o Senhor Luke Dobrev são...”, ele pausou vendo a tensão de todos. Mesmo na sua postura séria, Dorian não poderia se negar a um suspense. “Culpados.”

Soltei o ar que eu nem sabia que prendia e abracei Noah. Escutei ao longe Daiene começar a gritar e chorar. Nenhum pio vindo de Luke. Ele realmente estava controlado. Os sussurros começaram a ficar alto e Dorian pediu silêncio mais uma vez.

“Eles serão mortos por acusação de tentativa de assassinatos múltiplos, conspiração e traição. Amanhã, ao meio dia, no Centro, eles serão queimados.”, Dorian informou e seus olhos dourados escureceram. Ele odiava julgar os da mesma raça. Ainda mais participar de sua morte. “O julgamento está encerrado.”

Assim que ele disse isso, tirei o braço de Noah do meu ombro e corri em direção a Daniel. Ele me esperava com os braços abertos e um grande sorriso nos lábios. Me joguei nele com força, mas pareceu que bati em uma parede de tijolos. Ele nem se moveu com a minha força. Se fosse na época humana, ele teria caído no chão e estaria machucado.

“Conseguimos.”, ele disse segurando meus rosto entre suas mãos.

“Sim”, um pequeno sorriso apareceu em meus lábios.

“Eu te amo”, ele sussurrou e pressionou seus lábios nos meus, com carinho. Aquele não era o melhor lugar para fazer aquilo, mas eu não liguei. Além disso, o julgamento já tinha acabado e eu estava um pouco cansada de ser sensata o tempo todo. Queria me jogar nisso, nesse amor, igual Daniel estava fazendo.

“Daniel”

Eu e ele nos afastamos rapidamente ao som da voz de Barão. Ele estava parado a poucos passos de nos e seus olhos cinzas estavam estreitou na nossa direção. Algo dentro de mim disse que eu não iria gostar nada do que ele falaria. Sem nenhuma palavra, ele se virou e caminhou junto com multidão de vampiros para a saída. Daniel deslizou sua mão e entrelaçou seus dedos nos meus. Eu apertei sua mão e ele apertou de volta, antes do soltar.

“Já volto”, ele disse e deu um beijo em minha testa. Assenti e o vi ir em direção ao avô.

Olhando para trás, peguei o olhar inteligente de Luke antes dos guardas o levarem para fora. Ele deu um pequeno sorriso e vi seus lábios se mexendo e formando as palavras TCHAU, FILHA. Me senti suja e enojada. E o pior era que, aquele sentimento ruim só tinha feito aumentar. Eu sabia, no fundo, que isso ainda não tinha acabado.


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Notas finais do capítulo

Oh, Deus. Luke é o criador de Dinnie Ray. E Daiene se envolvia com o humano que Abigail namorava.
Mereço Reviews? E talvez mais uma recomendação?
Quero agradecer a todos que estão lendo. Por vocês que eu posto. E por vocês que eu resolvi fazer uma continuação. Já tenho as ideias na minhas mente. Claro que ela vai vir depois da próxima história que eu vou postar. Mas, não se preocupem. Vai acabar rápido a outra.
Oh, quase que eu esqueço. Amanhã vai fazer um ano que eu comecei a escrever Senhora Sulista. E terminei o capítulo 25 hoje. Se tiver um bom número de Reviews, eu posso postar o capítulo 24 mais cedo. O final vai surpreender a todos. E, quero que me ajudem com o nome da continuação. Mandem sugestões junto com o Reviews.
E não esqueçam da recomendação.