Magia Elemental escrita por Meg_Muller


Capítulo 1
O Primeiro Selo




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 O vento soprava calmo naquela manhã de outono, em que ela finalmente entendera o que deveria fazer pra cumprir seu propósito vital. Tinha escolhido um vestido branco, ia ser pura. Não se considerava uma. Mas seria ao cumprir o que precisava.

Ela estava sozinha naquele térreo do prédio que trabalhara por tantos anos, trouxera o que ia vestir pro ritual em sua bolsa. Ninguém reparou quando saiu do banheiro, vestida daquela maneira e fora até o térreo. Estava sozinha. Estava em silêncio. Estava calma e certa do que fazer como nunca estivera antes.

O pedaço de caderno em suas mãos balançava acompanhando a brisa, assim como suas longas madeixas loiras que ela quase nunca soltava pra mostrar a ninguém. Ela sorriu aproximando o papel e começando a citar as palavras escritas com a maior convicção que já tivera na vida.  

O Fogo é quente e seco

A Água fria e úmida

O Ar é quente e úmido

A Terra fria e seca

 Parou na metade respirando fundo por ouvir um som estrondoso soar em um rompante. Precisava estar mais concentrada que aquilo. Uma coisa banal como o som de diversas buzinas soando simultaneamente haviam causado aquilo.

 O edifício em que estava tinha 35 andares e ao lembrar-se disso olhou novamente o que a esperava 200 metros abaixo, a cidade estava com seu rotineiro tráfego de carros e pessoas, que provavelmente não se incomodariam com o corpo de uma estranha jogado em uma calçada logo pela manhã.

 Olhou novamente o pequeno papel rabiscado engolindo seco tentando ignorar o receio. Aquelas seriam as últimas palavras. Ela sabia o que tinha que fazer e nada poderia impedi-la ou mudar aquilo, era simplesmente o seu destino.

Para o ar eu me entrego

Pelo destino que carrego

Com a alma que agora levo

O primeiro selo liberto

 A mulher deu um passo e não sentiu mais o chão, seu corpo em queda livre foi acompanhado pelo grito estridente de um pequeno garoto logo após o corpo alcançar o chão, segundos depois o menino não era o único na Rua 45 a expressar histeria.

Ӝ

Os gritos infantis soaram por toda a casa, fazendo o casal que dormia tranquilamente acordar em um rompante. Levantaram-se antes de pensar duas vezes e correram até o quarto ao lado fitando a figura aflita do filho sentado na cama.

O menino arfava entre soluços quando a mãe passou pela porta, sem nem se preocupar em ascender á luz. Agarrou o corpo minúsculo e pode perceber a quantidade de suor que se misturava ás lágrimas, ele chorava inconsolável.

O pai esfregou os olhos incomodado por ter que acordar aquele horário da noite, mas ainda assim preocupado com o que estava acontecendo. O filho já tivera pesadelos, porém nunca o ouvira gritar em tal desespero.

-Está tudo bem, amor... – Helena murmurava aninhando o menino em seus braços tentando acalmá-lo. – Já passou, está comigo agora.

Antes de caminhar até a cama pra ajudar o filho, Otávio passou a mão pelo o interruptor tirando o quarto da penumbra em que se encontrava. Ambos fitaram o rosto de Liam e encontraram as lágrimas que rolavam descontroladamente pelo seu rosto. Seus olhos azuis brilhavam em um desespero desolador.

-Ela se jogou mama... – Ele murmurou fitando a mãe com a voz fraca.

-Ela quem, meu bem? – Ela perguntou limpando as lágrimas dele inutilmente.

 -Pulou e morreu... mas ela sabia que ia morrer porque era muito alto... – Liam explicava entre soluços como se buscasse um sentido em tudo.

-Ela pode não ter morrido, amor. Ela pode ter pulado pra outro...

-Caiu do meu lado, com o vestido branco com muito sangue e... – Elisa sentiu um desconforto com a revelação, aquilo era algo muito pesado pra uma criança como ele estar sonhando. Ela e o marido eram tão cuidadosos com as informações que ele recebia – Porque ela sabia que era alto... e pulou mesmo assim?

A criança afogou o rosto nos braços da mãe, enquanto esta olhava desolada ao marido sem saber o que responder. O viu dar os ombros dizendo que também não tinha idéia de onde o menino tinha tirado algo como aquilo.

-Foi só um pesadelo amor, nenhuma mulher morreu pulando de lugar nenhum, ta bom? Foi só um pesadelo muito, muito ruim. – Ela disse por fim esperando que aquilo o fizesse esquecer tudo. – Papai vai pegar um leite pra você tomar e esquecer essas coisas horríveis, ta bom?

Otávio nem precisou receber o olhar da mulher pra sair do quarto em direção a cozinha. Não sabia nem o que dizer a uma criança que sonhava com suicídios e conseguia narrar até o sangue. Isso era absurdo. E se não eram eles os responsáveis ele teria uma conversa com a professora escolar pra saber que tipo de material informativo era fornecido aos alunos.

Ӝ

Anita praguejou algo enquanto o engarrafamento em que se encontrava presa, não parecia disposto a deixá-la avançar nenhum metro. Aquilo estava insuportável, um acidente em uma avenida como aquela e ninguém mais conseguia se mover com um veículo de quatro rodas.

Não demorou muito pra ouvir o telefone celular fazer alarde de dentro da bolsa. Provavelmente seria o chefe gritando por não vê-la na mesa em que devia estar escrevendo a coluna culinária pro próximo dia ou editando os resumos patéticos de programas populistas da televisão aberta.

-Pronto. – Ela falou atendendo o aparelho.

-Onde você está?

-Em um engarrafamento na Avenida Mendel. – Ela explicou vendo que quem ligara era seu amigo de pauta e não o editor-chefe.

-Consegue visualizar algo na Rua 45?

-Estou em um engarrafamento absurdo. Nada é possível de se visualizar – Anita respondeu ouvindo murmúrios impacientes do outro lado.

-A presidenta da empresa Franchini se jogou do prédio na esquina da Avenida Mendel com a Rua 45, o chefe tentou enviar os irmãos Lutti, talvez se conseguir chegar lá antes pode ser seu furo de reportagem.

A voz na outra linha praticamente sussurrava e Anita sentiu seu coração ir à loucura. Um furo de reportagem! Era tudo que tinha pedido de presente de Ano Novo! E ali estava!

-Nem sei como agradecer Yuri – Ela murmurou antes de desligar o telefone, fazendo o mesmo com o carro e apenas puxando a bolsa do banco de passageiro antes de sair do veículo em direção a Rua 45.

Olhou a placa ao lado percebendo-se na Rua 44, só precisava atravessar a entre quadra. Hoje era o seu dia de sorte. Tudo se encaixando tão bem pra que finalmente abandonasse a coluna de donas de casa e pudesse escrever algo que mostrasse seu potencial de jornalista.

Percebeu que tinha chegado à cena do crime pela quantidade de curiosos e pela equipe que planejava tirar o corpo. Apressou o passo torcendo pra que tudo ainda estivesse lá quando chegasse, tirando a câmera do bolso preparada pra fazer a matéria que redefiniria sua carreira.

Quando chegou ao corpo ainda estava lá, mas não conseguiu sentir uma sensação agradável com isso. A mulher estava completamente deformada e Anita se esforçava pra não pisar no sangue que corria metros depois de onde o corpo estava.

A cena era chocante e seu estômago embrulhava querendo devolver o que recebera pra café da manhã, mas ela segurou a câmera com as mãos trêmulas e começou a fotografar tentando manter-se o mais discreta possível contra os olhares dos oficiais de polícia ao redor.

Estava quase terminando e pensando em como ia perguntar as coisas aos oficiais pra sua matéria quando um detalhe chamou sua atenção. A mão esquerda da suicida tinha nas costas das mãos um símbolo que lembrava muito uma estrela, ou melhor, um pentagrama se não estivesse equivocada, e, além disso, uma lua no meio.

Nesse século de tatuagens extravagantes aquilo não seria nada, se não fosse pelo símbolo ressaltar na pele como se tivesse sido queimado, como se o contorno do pentagrama fosse marcas de queimaduras de no mínimo segundo grau. Que diabos de pessoa faria aquilo com a própria pele e depois se jogaria de um prédio em uma manhã como aquela? Uma... Seita talvez?

Com auxílio do zoom tirou uma foto que mostrava apenas a mão da mulher detalhadamente. Não pensou duas vezes antes de enviar a foto pra Yuri que com o auxílio da internet e conhecimentos exotéricos maiores que os dela, iria ter alguma explicação para o que aquilo significava.

Tentou achar a outra mão e foi inútil, o corpo tinha caído sobre o braço direito e ela não teria permissão pra uma olhada. Precisava esperar o resultado da autópsia. E então tentar qualquer informação. É isso. Precisava tentar qualquer tipo de informação, e ao menos alguma ela conseguiria do policial a poucos metros de si.

Ӝ

O fliperama estava movimentado como sempre, com diversas crianças e adolescentes correndo descontroladamente de um lado pro outro entre as diversas máquinas de jogos eletrônicos.

Os três adolescentes enfiavam as mãos nos próprios bolsos percebendo a falta de fichas. Agora teriam que comprar mais pra tentar novamente o mesmo jogo de sempre naquele salão de jogos. Depois de um tempo colocariam o nome do trio na máquina.

-Tenho até vergonha de jogar Resident Evil com vocês... – Um moreno murmurou debochado. – Acho que é porque eu sou muito escroto pra jogar em dupla, se eu pegasse as duas armas aí...

-Cala a boca, Leo! – O ruivo murmurou dando um murro no braço do amigo. – Até parece que você teria saído daquela fase sozinho!

-Mas é claro que sim. Vocês que são um peso morto jogando. – Leonardo comentou rindo fazendo com que os outros dois avançassem nele com socos divertidos.

Os três estavam rindo até que com um grito Leo chamou a atenção não só dos amigos como de todos ao redor. Ele caiu no chão com ambas as mãos sobre a cabeça como se algum som ensurdecedor o incomodasse.

-Leo! Leo, que foi? – Yago perguntou junto com o ruivinho, ambos com visível preocupação enquanto o amigo ainda gritava.

-O que está acontecendo? – Um dos operadores das máquinas perguntou se aproximando fitando o menino encolhido gritando no chão.

-Não sei! Ele caiu de repente e... e começou a gritar! – O ruivo respondeu olhando pro mais velho que ia até o chão tentar entender melhor o que estava se passando com o jovem.

Os gritos cessaram de repente e Léo levantou a cabeça, mas seus olhos não estavam na sua coloração normal, era algo que lembrava o vermelho. Um vermelho cheio de vida.

-Está tudo bem, garoto? – O homem perguntou tentando ajudá-lo a se levantar.

-O primeiro selo. – Ele falou com uma voz gutural que mesmo quem não o conhecia podia dizer que não era dele.

-O que é o primeiro selo? – Yago perguntou tentando entender o que estava acontecendo.

-Fogo. – Léo murmurou fechando os olhos e depois ninguém viu mais nada com a explosão quente que sucedeu os gritos do moreno. O lugar estava em chamas e Léo pode ver os amigos serem atirados com o impacto da temperatura e podia sentir o próprio corpo em chamas.

Tudo estava quente. Tudo estava confuso. Ele não sentia dor com sua roupa se desintegrando com o fogo. Agora os gritos não eram dele e sim de todos ao redor. Percebeu que eles sofriam com o calor, com o elemento do primeiro selo corroendo suas vestes e queimando suas epidermes.

Fechou os olhos e desejou que tudo aquilo parasse. Que o fogo cessasse. Que ninguém mais gritasse. E como em um passe de mágica, ou magia. Tudo parou. E seu corpo desfaleceu no chão como o de todos os outros.


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Notas finais do capítulo

Eu aqui de novo =)

Bom, eu vou entender se não tiver feito um sentindo completo.

É o primeiro capítulo e eu tentei deixar tudo o mais simples possível, só mostrando que era essencial para as cenas, nem mesmo os dois da sinopse apareceram ainda D:

Mas bem, pelo q entederam o que acharam? Se leram até aqui não se acanhe de descer mais um pouco e dizer o que achou do capítulo e o que deu pra entender.

Erros é só me avisar q eu volto e arrumo sem problema, eu sei que deve ter alguns ou talvez mais q alguns =)Bjooo e se vcs acompanham alguma outra história minha, não se preocupe pq eu não abandonarei nenhuma. Acho q é só e então, reviews? :D