Amber acordou. Desceu para a sala ainda de pijamas, estava sentindo algo estranho no ar da casa. Chamou por três nomes, nenhum respondeu, olhou nos quartos, todos vazios, ficou aflita por alguns instantes, mas logo abriu um sorriso. Sabia exatamente onde as garotas estavam. Olhou no relógio, já eram 8h. Lembrou então que precisava falar com alguém e a ausência das garotas fazia daquele momento uma ótima oportunidade. Pegou o telefone, discou um numero já conhecido, e esperou que atendessem, falou rápido e o convidado falou que estaria lá para tomar café com ela dentro de alguns minutos

Apesar da aparecia jovem, sentia o peso da idade no funcionamento lento do seu organismo, nas dores nas articulações e principalmente na dificuldade para subir e descer as escadas, malditas escadas. Subiu até o quarto e trocou de roupa, colocou uma faixa no cabelo crespo, um vestido comprido até as canelas e desceu a maratona das escadas novamente para ir preparar o chá. Mais do que em qualquer outro dia ela estava se sentindo velha. Cantarolava algo do Cranberries enquanto colocava os Waffles e as xícaras na mesa quando a campainha tocou, era ele.

Caminhou calmamente até a porta e a abriu

- Bom dia Vengeance!

Ela o cumprimentou sorridente, enquanto o rapaz, ainda com os olhos sonolentos, bocejava e coçava a cabeça.

- Bom dia Amber, mas porra tinha que ligar tão cedo?

- É claro! Caso contrário não seria um café da manhã

Zacky entrou e foi logo em direção a mesa da cozinha, na opinião dele, os Waffles da Amber eram os melhores. Ela logo serviu o chá de Alecrim e sentou-se a mesa de frente para ele, que já jogava a calda caramelizada sobre os Waffles com água na boca. O rapaz tinha um ótimo apetite, isso ninguém podia negar, não era a toa que já começava a ganhar peso.

- Onde estão as meninas? – Ele perguntou entre mastigadas

- Ahm... Foram ao shopping

- Nossa, mas tão cedo?

- É, acho que a GAP ta em liquidação, e você sabe como são as mulheres né?

- Hum, é mesmo, essas mulheres não podem ver uma promoção

Ela odiava ter que mentir, mas se ele descobrisse que Jessica tinha ido ao Rock Am Ring, a coisa podia ficar feia. Ele tomou mais um gole do chá e tirou mais uma garfada dos Waffles, para então perguntar:

- Então Amber, por que você me chamou aqui?

Ela assoprou a xícara de chá fumegante e tomou um gole antes de respondê-lo

- Nós temos um assunto muito sério pra conversar

- Que assunto?

- Jessica

- Aconteceu alguma coisa com ela? Andou aprontando?

- Não Zacky, a Jess é um amor, na verdade eu te chamei aqui porque o espectro dela me deixou um pouco curiosa

Ele ficou um pouco nervoso, tentou não dar muita importância

- O espectro? Não tem nada demais no espectro, por que a curiosidade?

Ela esboçou um sorriso sarcástico, ele realmente não sabia mentir

- Zacky, eu li o espectro da Jess outro dia, e ele se desprendeu do corpo dela, e quando eu perguntei pra ela, ela me disse que o espectro não morava dentro dela

Ele desviou o olhar, mas Amber continuou

- E sabe o que me deixou ainda mais intrigada?

Ele fez que não com a cabeça evitando olhá-la nos olhos

- Como exatamente ela resistiu ao ataque do Oliver? Afinal, se ele suga espectros, tecnicamente era pra ela estar MORTA agora.

- E-eu não sei

- Não minta pra mim Zacky

Ele jogou os talheres emburrado sobre o prato

- Okay, eu fiz uma coisa com o espectro dela no dia da transformação sim

Amber cruzou os braços e o encarou curiosa

- Então, sou toda ouvidos

- Tudo bem, eu vou contar

*****

A Multidão gritava enlouquecida, ele viu um alvoroço maior do que o normal no meio de uma das rodas punks, olhou para Jay, ele também notou, então perceberam que tinha uma garota sendo empurrada violentamente no meio da roda, achou melhor parar o show e intervir, afinal, o lugar de mulheres com certeza não era dentro de uma roda punk, tinha muita violência e gente insana lá no meio, mas normalmente notam quando mulheres entram e as tiram dali, por que não tiraram aquela? De qualquer jeito os seguranças já estavam chegando com ela no palco, pelo menos assim aliviaria um pouco do sufoco que ela passou lá no meio.

Os grossos cachos negros já despencavam pelas costas, depois da confusão, tinha perdido o boné e os cabelos ficaram soltos, a jaqueta nem se fala, nunca mais ia ver aquela lá. Sentia as pernas tremerem, já estava sobre o palco quando a multidão começou a gritar ainda mais, o vocalista estava vindo sorridente na direção dela, sentia seu coração querendo saltar pela garganta a cada passo que ele dava.

“E não é que no fim das contas a garota parece ser bonita? Como os caras puderam tentar machucá-la? É tão bonita, parece até a.. Não pode ser”

Uma expressão de surpresa foi surgindo no rosto dele a medida que ele se aproximava. Ela então foi tirando os óculos escuros do rosto, revelando para ele os doces olhos verdes, que há muito ele não via.

Ele empacou, ficou estático observando-a caminhar meio arrastada pelo segurança até ele.

Ele pronunciou o nome dela em um tom baixo, sem tirar os olhos dos dela

- Jessica

Ela sorriu timidamente

Ele então se deu conta que estava diante de uma multidão de pessoas, e teve que tentar agir naturalmente

- E então garota, qual o seu nome?

- Ah... ahm, Jessica

- Que sufoco você passou ali hein garota?

Ele não estava acreditando que ela estava ali diante dele. Jay e Padge se entreolharam sorridentes e cumprimentaram com um aceno de cabeça, Moose estava incrédulo, parecia quase tão surpreso quanto Matt

- É, foi bem tenso mesmo

- Então, vamos de Tears don’t fall? Conhece essa musica Jessica?

“É claro que ela conhece”

- Acho que conheço alguma coisa sim

Ela riu mostrando cumplicidade e entrando no jogo de ‘Nunca te vi na minha vida’ que ele estava fazendo.

Começaram a cantar, deixando pra ela e pra platéia cantarem o refrão. Era a última música do show.

- YOUR TEARS...

Ele começava e entregava o microfone pra ela, que gritava nele junto com toda aquela multidão

- …DON’T FALL, THEY CRASH AROUND MEEEEEE

Ela era muito desafinada, e isso fazia com que os rapazes da banda dessem risinhos e ela mesma corasse envergonhada, mas todos estavam achando tudo muito divertido. Era bom estar com eles outra vez, nem que fosse só por um pequeno instante.

Lá da platéia Hanna e Annie riam compulsivamente, não só da situação, mas do fato do destino ter pregado uma peça tão grande na amiga delas, tanto fugiu daquilo, mas acabou indo direto ao encontro deles.

Acabou o show e o baterista levantou indo cumprimentar Jess, lá de baixo, Annie sentiu suas pernas tremerem.

- HANNA!

Ela gritou aflita enquanto sacudia Hanna pelos ombros

- O que foi Annie?

- Aquele cara – Ela apontava pra Moose – É ele! O cara que foi na lanchonete ontem!

- Tem certeza? Ele é o Moose, Annie

- Ele disse que se chamava Michael Thomas, mas sabia que ele me era familiar! Era ele sim! Eu o reconheceria em qualquer lugar. A Jess conhece ele!

- Porra Annie, ele era o cara que ela disse que o Oliver quebrou a costela

Annie gelou ao ouvir o nome de Oliver, mas não deixou que Hanna notasse

- É, era ele sim

- Meu deus que mundo pequeno!

Hanna sorria

- É, acho que sim

Annie agora estava pensativa enquanto olhava toda a banda sair de cima do palco e a multidão começar a se dissipar

*****

Ele acabou de engolir o resto do último Waffle enquanto Amber ainda o observava, esperando que ele começasse a contar o que ela queria saber.

- Para de ficar olhando pra mim assim desse jeito, ta me deixando nervoso

Amber sorriu, ás vezes ela e Zacky pareciam ter uma relação de mãe e filho, começando pelo fato de que ele adorava agir como criança em certas ocasiões.

- Quem está ficando nervosa sou eu, fala logo garoto

Ele respirou fundo

- O que exatamente você quer que eu diga?

- Zacky você é retardado? Meu deus! Eu quero que você me diga o que você fez com o espectro da Jessica

- Eu coloquei só metade

- O QUE?

- Eu não fiz a transformação completa nela

- Como assim?

- Eu deixei uma parte do corpo dela livre da possessão do espectro

- Que parte?

- A parte que eu não devia deixar de possuir com o espectro

- Não me diga que...

- Sim, eu poupei o coração dela

Amber o encarava atônita, enquanto ele olhava pra a palmas das mãos, evitando encará-la nos olhos, ela refletiu um pouco e então perguntou:

- Por que?

Ele ficou calado

- Me responde Zacky, por que você não quis que o espectro se apossasse do coração dela?

- Porque eu não queria que ela virasse mais uma harlot sanguinária, que mataria o próprio guardião se isso fosse lucrativo. E não me olhe assim, eu não fui o primeiro a fazer isso, nem vou ser o último

- Então você fez isso com medo de que ela se voltasse contra você?

- Claro que não, a Jess nunca faria isso

- Então a justificativa que você acabou de dar não fez sentido algum Zacky.

Ele deu um tapa na própria testa “Zacky seu burro!”. Amber riu mais uma vez

- Você é péssimo mentiroso Vengeance

- É, acho que sou

Ele riu sem graça.

- Não minta pra mim Zacky, você sabe que não dá certo. Mas eu acho que posso imaginar o porquê de você ter poupado o coração dela

- Pode?

- Vamos raciocinar, você passou quanto tempo do treinamento com ela? Duas semanas?

- Um mês

- E depois de um mês inteiro andando com aquela doce criatura chegou o dia que você tinha que transformar ela em uma besta vingativa e cruel, que nem olharia mais na sua cara, certo?

Ele desviou o olhar

- É, acho que foi isso sim

- E na hora de transformar ela, você sentiu pena, remorso, medo ou... AMOR?

Ele desviou os olhos verdes dos dela

- Zacky?

Ele soltou o ar se dando por vencido e falou em um tom mais baixo

- Eu não queria perdê-la

-BINGO!

Amber deu um soco na mesa vitoriosa

- Agora abre o jogo garotão, que a titia ta louca pra saber como tudo aconteceu

Flashback on

- Acho que você já está pronta

O rapaz falava enquanto entregava a garota um copo de Jack Daniels.

- O que exatamente vai acontecer?

A garota olhava pela janela do quarto do hotel onde ele estava hospedado

- Na hora você vai saber

- Eu não vou morrer, vou?

- Uma parte de você sim, outra parte de você não

Ela virou-se para ele com uma expressão curiosa

- Eu vou virar zumbi?

Ele gargalhou e caminhou para perto dela, colocando um cacho teimoso do cabelo dela atrás de sua orelha

- Calma honey, não vai acontecer nada de ruim com você, eu prometo

Ela sorriu carinhosamente e deu um soco leve no braço dele

- Se acontecer alguma coisa ruim comigo eu volto como assombração pra te atormentar

Ela então puxou ele para um abraço e ele retribuiu lhe dando um beijo na testa. Ela era uma garota tão doce, apesar de que ele tinha notado que durante o treinamento ela tinha muito potencial para a coisa, era ágil, esperta, muito esperta, mas ele tinha medo de que com a transformação ela perdesse sua identidade. Não era a primeira vez que ele tinha que transformar uma garota em Harlot, mas aquela ali era a mais difícil. Ele tinha se apegado a ela, ia fazê-la perfeita, mas quanto mais tempo ele passava perto dela, mais ele tinha certeza de que havia uma pequena área do corpo dela que ele tinha que poupar. 

Flashback off

 Zacky terminou de comer e ia se levantar

- Hey espera, ainda tem mais uma coisa

- O que?

- Por que o espectro dela se desprendeu?

- Isso eu não sei, acho que foi algo que o Oliver fez, e como o espectro não possuia o coração dela, quando ele o roubou não destruiu as funções vitais, deve ter sido isso

- É, esse Oliver é um cara que me deixa muito curiosa

- Não fique, ele é um babaca e é muito perigoso

O celular dele tocou, enquanto ele atendia Amber foi em direção a sala e ligou a TV

- Fala Jimmy

- Zacky, aconteceu uma coisa muito séria, vem pra cá, agora!

- Calma cara, o que foi

- A Candace cara, ela foi encontrada morta hoje cedo

- O QUE?

- Foi ele. O Oliver matou ela, e eu acho que ele vem atrás da Jessica

- MAS QUE FILHO DA PUTA! Já vou correndo até aí

Desligou o telefone e caminhou nervoso até a sala

- Amber em que shopping a Jess está? Ela tem que vir pra casa AGORA

Amber olhava tensa pra TV, ele então virou na direção da tela e a viu na TV em cima do palco gritando ao lado do Bullet for My Valentine

- Isso só pode ser brincadeira!

*****

- Ah garota, que saudade que eu estava de apertar você!

Jay a abraçava com força, quase sem deixá-la respirar

- Haha, eu também estava morrendo de saudade Jay, principalmente dessa sua safadeza aí.

- E eu não ganho abraço não?

Padge estava ali do lado com cara de cachorro abandonado, e logo Jess pulou nos braços dele também

- Ai seu lindo! É claro que você ganha abraço. Vem cá

De longe Matt os observava, meio de relance enquanto tomava um gole da cerveja, Moose se aproximou e foi falar com ele

- O que você acha que ela veio fazer aqui?

- Eu não sei

- Confiável?

- Também não sei, mas ahm... vai falar com ela?

- Já falei, me pareceu um pouco desconfortável com a situação, mas sei lá, você sabe, ela tem aquela coisa que faz com que seja impossível odiar ela por muito tempo

Moose abriu um sorriso

- É

- Mas não vai falar com ela Matt?

Ele olhou para ela mais uma vez, só que dessa vez ela olhou de volta. Ele tinha medo de se aproximar, lembrou do que fez ele se afastar dela, mas lembrou de quando ela disse que o amava. Pegou uma outra cerveja, ainda fechada e caminhou até ela

- Hey

Ele falou meio sem graça, os olhos azuis dele faziam um contraste maior com os cabelos que agora estavam pretos, a pele clara tinha algumas pequenas gotas de suor e ele sorria docemente, ela sentia cada músculo do seu corpo se contraindo de nervosismo, enquanto ele sorria docemente pra ela. Ele estendeu a cerveja pra ela

- Obrigada

Jay fez sinal com a cabeça pra Padge, que entendeu e foi saindo dali daquela parte do backstage. Moose continuou imóvel

- Hey Thomas, vai ficar parado aí?

- Eu quero ver

- Que ver o que cara, anda vem pra cá

Moose revirou os olhos e saiu junto com os outros dois

Matt e Jess precisavam colocar algumas coisas em pratos limpos

*****

Um automóvel preto estacionado na esquina, próximo à casa estava na espreita, o homem loiro dentro dele saboreava um pacote de doritos com a boa e velha coca-cola com os pés esticados sobre o volante enquanto observava a tal casa, tinha que se preparar para o grande dia, ele não podia deixar pontas soltas. Um pequeno carro azul estacionou em frente a casa, uma garota loira, com leves traços asiáticos desceu se despedindo do motorista, logo em seguida uma moça de cabelos escuros, fazendo suaves ondas na altura dos ombros saiu e ele engasgou, sentou-se corretamente e inclinou-se para frente para ver melhor

- Não pode ser. Annie?