1763

  Uma data que ele não esqueceria tão cedo.

Era uma linda tarde de inverno em território canadense. O pequeno Mathiew brincava com seu novo bichinho de estimação, o pequeno ursinho polar, Kumajirou. Estava muito contente por finalmente ter encontrado uma companhia para brincar com ele enquanto seu papa estava na Europa, cuidando de seus assuntos importantes. Por falar nele, Canadá estava ansioso para vê-lo novamente e apresentá-lo ao urso, além de poder brincar com a nação mais velha.

Então, foi com grande animação que avistou um navio se aproximando da costa. O pequeno correu em direção à aldeia que havia perto dali, mais especificamente ao seu porto, de onde tentou enchergar a figura loira de Francis.

Mas percebeu que alguma coisa não estava certa. Aquele não era o navio que França normalmente usava. E que bandeira era aquela que estava no mastro? Tinha certeza de que já a vira em algum lugar, mas sua memória infantil não conseguia recodar-se de onde...

Logo o navio ancorara e uma prancha foi posta para que os tripulantes pudessem desembarcar. Francis foi o primeiro a descer e tão logo pisou no local, Matthew foi até ele.

- Papa!- A voz normalmente baixa do canadense soou mais alta, chamando a atenção do francês.

- Bonjour, Mathieu.- O mais velho cumprimetou, sorrindo meio desanimado.

- Veja, papa, eu consegui um bichinho!- O pequeno disse animado, apontando para o urso polar em seus braços.- O nome dele é Kumajirou!

- Arg! E-ele não é feroz?- França perguntou, um pouco intimidado com o olhar que Kumajirou lhe lançava.

- Não, é mansinho. Por quê? Não posso ficar com ele?- Canadá fez uma carinha triste com a ideia.

- Claro que pode, mon petit, não precisa fazer essa carinha.

Canadá abriu um enorme sorriso com essas palavras e acabou contagiando Francis que também sorriu, dessa vez mais genuinamente.

No entanto, esse momento acabou sendo interropido por uma voz.

- Então foi aí que você se meteu, seu francês bastardo!- A voz pertencia à um homem de olhos verdes e grossas sobrancelhas. Mathiew olhou para ele surpreso.- E que ideia foi essa de sair correndo quando o navio atracou? Pensou que poderia fugir de mim assim? Ah, hello, paqueno Canadá. Não o tinha visto aí.

Ele acrescentou a última parte reparando pela primeira vez no pequeno. Matthew ainda continuava a mirá-lo confuso. Francis, percebendo isso, falou.

- Mathieu, esse é L'Angleterre. Ele já esteve aqui algumas vezes, lembra?

- Ah, oui! Bonjour, Monsieur L'Angleterre!- Matthew cumprimentou o inglês, lembrando-se de onde o conhecia. O europeu já o visitara várias vezes no passado e até o apresentara ao seu irmão do sul.- E como vai L'Amérique?

- Bem, bem. Ele está ótimo.- Arthur ficou obviamente incomodado com o fato de Canadá falar tanto em francês.- Aliás, logo você vai vê-lo. Não devemos nos demorar aqui.

Matthew olhou novamente confuso para o mais velho. Eles iriam sair? Mas tinham acabado de chegar! O canadense olhou para as duas nações à sua frente.

- Ah, sim, Mathieu... eu... Eu tenho que te contar uma coisa...- Francis começou meio sem jeito. 

- Hum?

Canadá percebeu rapidamente que algo deinitivamente não estava bem. O francês nunca ficara sem fala antes. E quando o loiro finalmente deu a notícia, ele não olhava para Matthew, mas para algum ponto acima dele.

- O Canadá agora é uma colônia do Inglaterra.

O pequeno canadense congelou, arregalando os olhos. Não podia acreditar no que ouvira. Seu papa o havia dado para Inglaterra? Não, não podia ser verdade. França gostava dele. Ele não iria abandoná-lo assim. Não é? Um intenso conflito interno acontecia dentro da mente do paqueno Canadá, mas tudo o que ele disse foi.

- Mas... Por quê?

Pequenas lágrimas apareceram em seus olhos ao não obter resposta de França. O canadense estava começando a chorar alto, quando Arthur achou que seria uma boa hora para interromper.

- Vamos, garanto que não é tão ruim quanto imagina. Você vai se mudar para casa onde América mora e nunca mais ficará sozinho como o França te deixava... 

O inglês sorriu para ele, se aproximando. Matthew, no entanto, correu para perto de Francis e se escondeu atrás do maior.

- Non! Je veux rester ici!¹- Canadá olhou para o francês, pedindo.- S'il vous plaît, papa, ne me laisse pas aller!²

Era visível a tristeza e o nervosismo na face infantil, isso chegava ao ponto dele só conseguir falar em francês, o que desagradava visivelmente o inglês. O francês por outro lado, ficou mais sensivel com essa demonstração de sentimentos. Então, abaixando-se para ficar da altura de Matthew, murmurou com um pequeno sorriso.

- Pardon, mon petit Mathieu. Mas eu não posso fazer nada. Você precisa ir com L'Angleterre.

- Mas... mas...

- Comporte-se garoto. Pare de fazer escândalo.- Arthur deu um sermão no canadense.- Isso não é o fim do mundo. Agora vamos! Ainda temos que passar na casa de Alfred e tenho muitas coisas para fazer hoje. Eu tenho de...

Inglaterra contiuava a falar enquanto ia na direção do navio, arrastando Canadá pela mão. O pequeno país olhava para trás, na direção em que Francis ainda estava parado. Enquanto olhava, viu o francês desviar a cara e adentrar as ruazinhas da aldeia canadense. 

O pequeno não sabia, mas o mais velho não aguentara mais aquela cena e fora embora antes que começasse a chorar e gritar para que Inglaterra devolvesse seu pequeno Mathieu. Não, ele não podia deixar que Arthur ou Matthew o vissem naquele estado, afinal, ainda tinha seu orgulho de nação para proteger.

E também não poderia fazer nada para ter Canadá de volta. Então ele simplesmente foi embora, indo pegar suas coisas e depois partiria de volta para a Europa. Mesmo que estivesse partindo seu coração ao fazê-lo.

Mas Matthew não tinha ideia do que se passava dentro da cabeça do francês, de modo que tudo o que conseguia imaginar era que ele o estava abandonando. Todas aquelas palavras e gestos não deveriam ter passado de uma brincadeira para ele.

Afinal, Canadá sempre desconfiou que não era bom para receber tanta atenção de França. Alguém tão voluvel que cada dia estava junto de uma nação diferente, mas que rapidamente se cansava de sua companhia. Era isso então. Francis havia se cansado dele e então simplesmente o dera à Inglaterra.

O canadense sentiu mais lágrimas chegarem-lhe aos olhos ao constatar essa verdade. Ele estava só novamente. E saber disso nunca doera tanto.

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Canadá acordou assustado. Nem percebera que havia dormindo.  Olhou em volta, ainda sentindo o torpor do sono. Estava ainda no bar onde fora com América, França e Inglaterra.

Matthew sorriu ao ver que Arthur, já bêbado, gritava algo para Alfred sobre como a naçao tinha que ter mais respeito por aquele que o criara desde criancinha e outras coisas do tipo, enquanto o norte americano somente ria do estado alterado do ingles e Francis falava como eles não tinham postura ou classe nenhuma e que o estavam envergonhando.

Essa cena o fez sorrir. Muitas coisas haviam acontecido desde que era criança, mas agora estava tudo bem. Mesmo que as cicatrizes do acontecido não tivessem se curado por completo. Ele estava cercado de pessoas queridas. Não se sentia mais sozinho.