Chuva. Medo. Choque. escrita por Guardian


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Mais uma fic nessa semana xD Eu juro que vou tentar atualizar as minhas fics, mas é que me deu um surto de inspiração pra escrever essa enquanto eu estava estudando biologia então eu resolvi postar logo ( sim, BIOLOGIA!! Nem eu sei como ¬¬ )



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 Corria desesperado pelas ruas. Chovia forte, e os relâmpagos era a única fonte de iluminação que ele tinha naquela noite escura.

 Mas afinal, onde estava?

 E por que estava correndo?

 Por quê?

 Não sabia, mas uma sensação sufocante de urgência preenchia e dominava seu peito, que arranhava e ardia com o esforço de correr sem parar. 

 Não aguentava mais.

 Parou e se apoiou em um muro para tentar se recuperar. Tentou respirar fundo várias vezes, mas seu peito doía com o esforço; sentia uma pontada do lado esquerdo de seu corpo, que o forçava a se dobrar para frente e além de tudo, tremia de frio, os cabelos ruivos grudando teimosamente em seu rosto.

 Ainda não sabia o motivo, mas a urgência aumentava: precisava continuar correndo!

 Olhou ao redor, forçando a vista em meio a escuridão, procurando qualquer pista que dissesse a ele onde estava.

 Um relâmpago.

 A luz momentânea permitiu à ele visualizar uma grande loja do outro lado da rua. Era a loja de jogos à qual ele sempre ia e onde ele sempre ganhava descontos especiais por ser um cliente rotineiro.

 Isso queria dizer que...

 Estava perto do orfanato!

 Afastou-se do muro e, com um grande esforço, retomou o ritmo.

 Nunca antes sentiu tanta vontade assim de voltar.

 A chuva pareceu dobrar de intensidade assim que ele se afastou do muro, e apouca visibilidade que ele tinha, diminuiu ainda mais.

 Sua respiração condensava à sua frente, o vento frio parecia formar farpas e cortar sua pele, a dor lateral aumentava a cada instante.

 Doía.

 Mas precisava continuar correndo.

 Não sabia dizer quanto tempo havia se passado, poderiam ter sido segundos, minutos, ou até mesmo horas, mas finalmente havia chegado ao seu destino.

 Pulou o portão de ferro, tirando forças não fazia idéia da onde, e adentrou no local.

 Sem conseguir mais sustentar seu peso, suas pernas cederam e ele ficou caído, tremendo e ofegante, no hall de entrada. Ali dentro também estava escuro, sombrio, mas não tanto quanto do lado de fora; a fraca iluminação que as lâmpadas proporcionavam bruxuleavam e criavam sombras disformes nas paredes.

 Estava seguro agora.

 ...

 Seguro?

 Seguro da chuva? Sim, estava. Mas então por que a sensação de urgência não havia sumido?

 Quando finalmente conseguiu normalizar sua respiração e se manter em pé de novo, começou a andar, não aguentando mais ficar parado, apesar do cansaço.

 Não precisou dar mais do que alguns passos para se dar conta de que tinha algo errado ali.

 O lugar parecia deserto.

 Mas como? Os monitores sempre patrulhavam os corredores durante a noite, mas agora não tinha absolutamente ninguém.

 Um cheiro forte de ferrugem invadiu suas narinas, fazendo-o estacar.

 De onde vinha aquele cheiro?

 O que era aquele cheiro?

 Começou a procurar a origem daquele odor, mas agora que prestava atenção, ele parecia estar impregnado por todo o lugar.

 Experimentou abrir uma porta, e sufocou um grito ao fazê-lo.

 Era a sala de brinquedos do primeiro andar.

 Um enorme quebra-cabeças branco estava parcialmente montado bem no centro da sala, e as peças que faltavam estavam espalhadas por todos os cantos.

 A questão era que o quebra-cabeça não era mais totalmente branco.

 Vermelho.

 Era dali que vinha o cheiro.

 Cheiro de sangue.

 Sangue que manchava o quebra-cabeça, sangue que escorria do pequeno corpo jazendo um pouco mais ao fundo.

 - Ne... ar - o choque era tamanho, que ele nem conseguia falar direito.

 Correu até lá.

 Suas roupas também ficaram manchadas de vermelho quando ajoelhou e pegou Near em seus braços.

 Estava pálido. Frio. Morto.

 O... O que tinha acontecido?

 Por que Near...

 Então um pensamento surgiu em sua mente, ao mesmo tempo que a luz de um relâmpago incidia pela janela.

 Mello. Onde estava Mello?

 Com um medo enorme tomando conta de seu corpo, depositou o frágil corpo gentilmente no chão e saiu daquele sala.

 Voltou a correr.

 Suas roupas encharcadas, de água e sangue, dificultavam o movimento, mas pelo menos agora ele sabia o por quê de estar correndo.

 Correu por todo o orfanato, tentou todas as portas, todos os quartos e salas; encontrou muitos outros corpos, corpos das pessoas que ele conhecia, corpos das pessoas com quem ele convivia.

 Mas não Mello.

 Não o encontrou em lugar nenhum, e o medo ficava cada vez mais forte. O pânico e o desespero ameaçavam tomar o controle; eram fortes demais, bem mais do que a pouca calma e lucidez que ele tentava, em vão, manter.

 Percorreu os corredores mais uma vez, não sabendo o que mais poderia fazer, quando olhou através de uma das janelas e avistou alguém do lado de fora.

 Aquele era...

 Desceu as escadas o mais rápido que pôde. Escorregou. Caiu. Mas não deu a mínima.

 Saiu pelas portas do fundo, para o campo onde as crianças costumavam jogar bola, e encostado em uma árvore, sentado no chão, estava Mello.

 Sua cabeça estava abaixada e seu cabelo loiro pingava. Quase não conseguia vê-lo, mas ele estava lá!

 Foi até ele.

 Outro relâmpago.

 Mais vermelho.

 - N-Não... NÃO!! - gritou, sem conseguir refrear a imensa dor e desespero que o invadiram como lâminas ao se aproximar do corpo pálido, manchado, cortado, sem vida. De Mello.

 Caiu de joelhos.

 Não... Não aguentava mais aquilo...

 Por que Mello, por que todos eles... Quem poderia... E o que ele estava fazendo nas ruas enquanto todos eram mortos?!

 Mortos...

 Agarrava forte o corpo inerte de Mello, as lágrimas escorrendo sem parar, misturando-se com as frias gotas de chuva. 

 Frias como o corpo do outro.

 Tremia violentamente, seus soluços mal se faziam ouvir em meio ao zumbido que enchia seus ouvidos.

 Todos estavam mortos.

 Near estava morto.

 Mello estava morto.

 Estava sozinho.

 Sozinho...

 - AAHHHHHHH!!! - Matt gritou, sentando-se assustado na cama.

 Olhou ao redor. Estava... Estava em seu quarto?

 ...

 Um sonho.

 Um sonho extremamente realista, mas foi realmente um sonho.

 Matt arfava. Colocou a mão por sobre o peito, sobre o coração que batia acelerado, como se ele realmente tivesse passado a noite correndo. E mesmo depois de acordar, suas roupas continuavam coladas ao corpo. Mas de suor.

 Afastou os cabelos úmidos da testa e respirou fundo algumas vezes.

 Estava escuro. Olhou para o relógio: ainda eram 5h da manhã.

 Há quanto tempo que não tinha um pesadelo? Fazia um bom tempo já. Mas não era mais criança, não deveria mais ficar assim tão perturbado.

 Mas...

 - Que besteira! - sussurrou com ele mesmo - Mello está bem ao meu lado e...

 A cama ao lado estava vazia.

 - Mello?! - chamou alto. Mas não obteve resposta.

 Era inevitável que o medo voltasse a atingí-lo.

 Saltou da cama e saiu do quarto com o coração novamente acelerado.

 "Foi um sonho, foi um sonho. Foi apenas um sonho idiota!" repetia a si mesmo sem parar, mas isso nem de longe o convencia de que estava tudo bem.

 Correu primeiro até a janela por onde avistou Mello no sonho. Nada lá. Depois começou a vasculhar todos os ocrredores, como se fosse a terceira vez.

 As imagens ainda estavam muito nítidas em sua mente para que ele conseguisse sucesso em convencer a si próprio de que nada daquilo era real. Ainda podia ver as fracas luzes brincando nas paredes, ainda podia ouvir os trovões, ainda podia sentir o cheiro de sangue.

 Nada daquilo aconteceu de verdade, sabia disso. Mas não conseguia controlar.

 Um barulho o fez parar.

 - P*** QUE P****!! - aquele xingamento vindo da cozinha o fez paralisar de surpresa e alívio por um momento.

 Mas só por um momento.

 Empurrou a porta e se deparou com Mello, agachado no chão, rodeado de caixas de doces que ele muito provavelmente tinha acabado de derrubar.

 - Matt? - Mello falou surpreso ao vê-lo ali - O que faz acordado?

 O ruivo nada respondeu, apenas saiu correndo até ele e o abraçou forte, derrubando-o de vez no chão.

 - M-Matt? - Mello chamou surpreso.

 - Você não estava no quarto - Matt falou com a voz abafada pelos cabelos loiros.

 - Ahn... Não. Eu vim buscar alguns chocolates - falou confuso. Confuso e preocupado. Matt estava úmido de suor e tremia - O que aconteceu?

 Matt não respondeu.

 Mello suspirou, retribuindo o abraço e acariciando gentilmente os cabelos ruivos - Está bem. Se não quiser falar, não precisa.

 Matt pressionou mais o rosto em Mello, e estava quase conseguindo se acalmar quando um barulho muito alto irrompeu pelo lugar, fazendo-o se sobessaltar.

 - O que foi? Desde quando você tem medo de trovões? - Mello perguntou tentando fazer o outro rir, mas não obteve nenhum som em resposta.

 Então não falou mais nada. Ficou abraçado ao ruivo, apenas esperando que ele resolvesse falar alguma coisa. Nunca teve muito tato para essas coisas, mas sentia que deveria ficar quieto esperando. E foi isso que fez.

 Um relâmpago invadiu o recinto.

 Outro trovão.

 Começou a chover.


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Notas finais do capítulo

Eu fiz você acreditarem que eles tinha morrido mesmo? ;D Duas amigas minhas ficaram super bravas comigo quando eu comentei sobre isso e quase que elas não me ouvem completar que o Matt estava só sonhando xD

Ahn... Mereço reviews?