Viramo-nos para ver de onde vinha aquela voz. O sorriso de Anthony apenas aumentou ao ver que era sua amada Jannie que estava parada na entrada da clareira, próximo á uma parede de folhas. Anthony pôs-me de pé e correu em direção a Jannie. Ele rodopiou-a e  beijou-a, era uma das cenas mais românticas que eu já havia visto.

                Mesmo distante, eu pude ver pequenas lágrimas rolando dos olhos de Jannie, quando meu irmão parou de girá-la, ela pegou seu rosto entre suas delicadas mãos e depositou um singelo beijo em seus lábios.

-Ela conseguiu, cumpriu sua promessa.- murmurou. Anthony, que ainda sorria como um idiota - lembrem-me de rir dele mais tarde- afirmou com a cabeça.

                Pigarrei alto e vi seus rostos virando-se para me encarar. Jannie disse algo no ouvido de meu irmão e dois segundos depois eles já estavam ao meu lado, com os braços de Jannie envolvendo-me em um abraço. Eu gargalhei e devolvi o abraço.

-É bom te ver também, Jannie.- disse-lhe. Senti algo molhado pingar em meu ombro e constatei que era uma lágrima de Jannie.- Jannie, por favor, não chore.- pedi.

                Ela afastou-se de mim e limpou seus olhos, sorrindo.

-Como posso te agradecer?- perguntou, indo abraçar Anthony. Antes que eu pudesse responder algo, Anthony puxou-a para um beijo ardente.

                Vou te dizer uma coisa, e não vou repetir, foi- muito- nojento. Sério.

-Pode começar preservando minha inocência.- falei alto, com minha típica cara de nojo.- Anthony, vamos embora.- pedi quando vi que eles não se largariam tão cedo.

                Jannie afastou-se de meu irmão e deu três tapinhas em seu tórax. Ele revirou os olhos e depois me encarou, furioso. Dei de ombros.

-Você leva ela.- afirmei.- Já sou suficientemente lenta sozinha.- Sai rindo da cara de tacho de meu irmão. Ele transformou-se em seu típico lobo negro e saiu correndo com Jannie nas costas, sua velocidade era bem lenta, de modo que eu conseguia acompanhar sem ter de levantar um pouco a saia do vestido.

-Ouvi dizer que você se transforma em uma loba branca.- Jannie disse. Pude ver meu irmão revirando os olhos, o que era bem engraçado considerando que ele estava em sua forma lupina.

- Bem, geralmente sim.- respondi.- Mas não faço isso há um bom tempo.- Afirmei.

-Deve ser legal poder se transformar a hora que quiser, esse negócio de lua cheia é um tremendo saco.- Jannie admitiu, parecendo entediada.

-Deve ser, esse negócio de ter que beber sangue também é. O bom é que quando eu caço bastante, posso ficar dias acordada, tipo um vampiro. Só que eu não gosto muito, não se tem muito que fazer de madrugada.- Jannie riu.

                Avistamos a praia ao longe, ela surgiu pequena, mas foi crescendo conforme fomos correndo. Anthony escolher correr na beira da água, só para molhar Jannie. Já eu preferi ficar bem afastada dela, já que da última vez quase me afoguei.

                Nossa casa ficava logo após algumas rochas, um pouco longe da entrada para a floresta. Havia uma pequena trilha que levava até a praia, um pouco longe dali, encontramos os restos do que um dia fora uma fogueira. Algumas madeiras ainda tinham uma coloração avermelhada, provavelmente houve um luau recentemente.

                Corremos trilha acima e nos aproximamos de nossa casa, Jannie entregou as roupas e Anthony foi até a floresta para voltar à sua forma humana. Eu e Jannie nos aproximamos lentamente da varanda. Antes que pudéssemos dar mais um passo, meus irmãos surgiram pela porta e Ephraim atacou Jannie.

                Ephraim, apesar de não ser o maior lobo que temos em nossa alcateia, é um dos mais fortes. Coloquei-me em frente a Jannie e empurrei-a para longe, recebendo assim o ataque de Ephraim.

                Voei contra uma árvore enorme que ficava próxima a nossa casa, meu pai geralmente sentava a sua sombra para olhar o mar. Não bati tão forte contra a árvore, só o suficiente para deslocar o ombro. Nada demais. Só que doeu, doeu muito.

-Sarah!- Ephraim berrou já de volta á sua forma humana, meu pai atirou-lhe uma bermuda, e Ephraim correu em minha direção.- Você está bem?- perguntou-me. Jannie correu para mim e sentou-se ao meu lado, fitando Ephraim com raiva.

                Não tardou para que minha mãe empurrasse todos para longe e se jogasse em cima de mim, confesso que isso não foi muito bom para meu ombro, só que era bom tê-la por perto novamente.

                Quando ela abriu a boca para falar algo, a voz de Anthony soou atrás de nós.

- O que foi que eu perdi?- ele perguntou. Mamãe fitou-me apavorada, seu olhar significava muito mais do que mil palavras, eles sussurravam uma pergunta silenciosa. Sorri e assenti. Ela virou-se encarou o rosto contente de meu irmão.

                Fitou-o por um segundo, para ter certeza de que era realmente ele que estava ali, depois atirou-se em cima dele como fez comigo. A diferença é que agora ela chorava.

-Você voltou!- exclamou contente. Segurando firmemente seu rosto.

-Sarah que me trouxe de volta, mãe.- ele afirmou. Levantei-me com um pouco de dificuldade e fitei-os, ela virou-se para me encarar com um agradecimento silencioso no olhar.

                Algo que eu gostava sobre minha mãe é que ela nem sempre precisa falar para que se entenda o que ela quer dizer, seus olhos fazem muito bem esse papel.

-Eu tive ajuda.- falei olhando de soslaio para Jannie, minha mãe pareceu entender o recado e antecipou-se para parar o ataque de Ephraim que acabara de lembrar da filha da lua. Anthony saiu de perto de nossa mãe e correu para o lado de Jannie, envolveu-a em um abraço lateral e começou a falar, completamente confiante.

-Essa é Jannie, ela é meu impriting.- disse aos nossos pais. Para meus irmãos disse:- sejam gentis.

                Não posso dizer que a ideia agradou a Sally, ela não era do tipo que aceitaria que o irmão se misturasse com a raça que havia tirado sua vida. Mas se ela estava querendo matar Jannie, não demonstrou. Sally parecia muito mais ocupada fitando algo em meu braço.

-Onde conseguiu isto?- perguntou aproximando-se de mim. Ela parou ao meu lado e esticou a mão para tocar na figura que eu nem lembrava que ainda se encontrava em meu pulso. Afastei meu braço depressa.

-Foi...foi quando eu salvei o Anthony.- disse. Não sabia o por quê de Sally estar tão amistosa comigo, mas preferi não arriscar. Não me leve a mal, eu adoro a Sally, mas sei que o sentimento não é reciproco. Ela pode ser minha irmã, mas depois de tudo o que ela fez, tenho diversos motivos para querer distância.- Não que isso importe à você, Sally.

-Sarah, escuta. Eu realmente...- Sally já começava seu discurso quando foi cortada por uma voz suave, porém imponente. Era uma voz masculina, uma voz que eu conhecia bem.

-Sarah!