Nina - EDITADA escrita por A L C Alves, Mara S


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Não sei bem o que eu fiz, estava inspirado mas tinha uma idéia em mente. Aconteceu que, eu quis misturar tudo um pouco, e deu esse resultado.

Enjoy ;)



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Nina ficou sentada num canto da casa, observando as horas passarem. Estava enrolada numa manta xadrez de cor azul, ao seu lado a pequena lareira estalava de vez em quando aquecendo o ambiente de com assoalho de madeira escura e batida como pisa. Fitava o céu nublado pela janela de vidros envelhecidos. A fria e calma madrugada foi se indo aos poucos, dando espaço para os ventos gélidos e a luz pálida do amanhecer. Seus cabelos estavam ajeitados atrás das orelhas e sua maquiagem estava serena, destacando apenas seus olhos bem torneados e vazios exatamente como sentia-se naquele momento. Acendia um cigarro no momento em que o outro terminava de ser tragado.

Ela estava angustiada com tanta pressão e repensava na hipótese de seguir um outro rumo. Obviamente que era só o começo para ela, pois não imaginava o que viria depois. Tinha uma garrafa de cerveja em mãos, que ia de encontro sua boca em tempos. A bebida já estava rançosa e sem graça. Apenas bebia para observar o dia passar, como agora, do sol a pino ao entardecer dourado e vazio.

"O que?" Ela se perguntava, ou "Até quando?" Ela não era um animal para se domesticar, ou se manter num cativeiro.

O cheiro de garota doce e nova não exalava mais de seu corpo. Então era hora de seguir. Novamente. Ou talvez ficar ali e decidir depois.

Doce? Ela fora doce algum dia em sua vida? Egoísta. Talvez essa era sua característica principal. Ela vestia um escudo para poder mostrar a todos que era fodona. Mas não passava de uma medrosa.

Um fiorde de cada lado das bochechas, escorria em preto conforme lágrimas saíam involuntárias de seus olhos. Todos eram superficiais e mecânicos demais para o dia-a-dia, e como teatro em sua opinião era apenas para profissionais, ela decidiu se levantar e seguir a diante com a chegada de outra noite fria, pois ficar bancando a vítima não a iria levar em nenhum lugar.

Ela estava desconectada de tudo e todos e só queria reorganizar suas ideias. Fazia inúmeros projetos, mas não conseguia levar nenhum adiante. Estava frustrada, com raiva. Sentia-se rebelde. Mas precisava de um banho de água fria. Mais um. Mais dois. Era impulsiva, sempre, rebelde. Mas isso estava começando a pesar agora.

 

As gotículas do ar turvavam-se em orvalho naquele início de noite.


Era demais para uma reflexão, porém, o espelho de corpo inteiro encontrado na porta, ajudou-a a olhar com ainda mais frieza para a situação. Desejou ser tão pura como as gotículas do lado de fora.
Seu rosto estava pálido e triste.
Jeans apertados e rasgados, sujos de sangue talvez fossem seu único legado daquele ponto em diante. As cicatrizes do braço estavam com ataduras limpas, mas sua blusa fedia a bebida alcóolica.

Ela se viu olhando para o vazio, no mesmo lugar que sempre estivera. Passou a viajar o mundo sem ao menos sair de seu lugar, intensa e aventureira. Não lhe serviria em nada ficar parada observando o teto criar mofo e as paredes desbotarem, ou correr atrás de uma vida em que realmente pudesse viver.

E realmente de nada adiantou, Nina estava sentada num canto qualquer de um cômodo, novamente, com o passar de todos aqueles anos. Lembrou-se do tempo em que chorava sentada num lugar como aquele, fumava e bebia em quanto tentava conter as lágrimas que caíam sem avisar.

Havia passado muito tempo, ela mudou entre atos, mas a vida continuava a mesma. Não importando o que faria, que decisão tomaria, mas Nina, seria sempre a Nina. Muitas estações.
Ela encontrou-se num canto, como se não tivesse feito suas escolhas, mas soube que se fizesse outras, estaria alí novamente.

Levantou-se ajeitando o jeans claro e rasgado, a regata branca com as machas de sangue que vertiam de suas cicatrizes. Olhou pela janela e pensou em estar tendo a última oportunidade para ver as coisas mudarem, o tempo regredir ou progredir, o calor alimentar a vida, o frio lhe tirar esta. As folhas forrarem o jardim. 
Colocou a faca ensanguentada em cima da mesa, rumou para a porta aberta logo ao lado, alí na cozinha.

O céu estava vazio num fim de tarde, o azul estava morto e era ornamentado por uma camada dourada de nuvens.

O coturno pesado que estava por fora da calça, dava ainda mais dificuldade de locomoção, fazendo-a mancar mais notoriamente. Parou para respirar, apoiando-se na porta aberta com uma cortina xadrez azul a enfeitando. Passou por ela e seguiu para o jardim. Desceu levemente as escadas. A parte de trás do jardim era enorme, no meio seguia um caminho com uma grama bem verde e aos lados haviam pequenas pedras secas e opacas, como se estivesse num monte, e as laterais fossem o anoitecer de um ambiente árido, como um deserto americano.

 

O vento soprava quente nos cabelos bagunçados.

 

Caminhou até a beirada da piscina iluminada e num gesto se largou para dentro desta. 
Mal sabia que lugar era aquele, ou se era real, assim como aquela piscina. Água morna.
Ela emergiu dá água com um suspiro de vida e contemplou a passagem do tempo que ia do dourado fim de tarde, ao frio do anoitecer.

Todo aquele submundo, todos aqueles estranhos, aqueles nomes mentidos e ditos aos montes por aí... todos falsos. Aquela liberdade.

Ela havia se decidido. Só queria a liberdade. Só queria ser ela mesma. Só queria mentir, só queria fumar, só queria transar, só queria se cortar, sentir dor. Apanhar. Ela via beleza naquilo. Era o que ela era, era o que ela fazia de melhor. Não precisava atuar pois ela era a estrela principal e sabia como queria terminar o show.

Todos olharam e aplaudiram. A garota, com corpo sensual, belos seios, toda molhada, não viam a hora de colocarem as mãos nela.


         Afinal, a Nina era a mesma Nina.

 

FIM

Madrugada de 15/06/2011, 02:52hs - De André Luiz de Castro Alves, Para Mara Lucia R. de Sousa.

 

Última Edição: 11/05/2017 – A L C Alves


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Notas finais do capítulo

Tentei deixar bem claro as duas Ninas na história, a do passado e a mais velha, mesmo no final sendo a mesma Nina.



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