Anjo Caido escrita por Nathy_Migliori


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/145895/chapter/7

~ 7 ~


A aula de biologia foi à primeira aula e para mm já parecia ser a pior. Nathan era meu parceiro de laboratório, então não me senti tão sozinha. Katherine olhava para nós a cada dez minutos.





Aquilo já estava me irritando profundamente. Decidi fingir que não estava vendo que ela fazia e percebi outros olhos me encarando.








Gael.









Ele sentava duas carteiras atrás da minha, tendo como visão única e exclusiva, a minha nuca. Quando tocou o sinal, meu pescoço ardia com a intensidade que ele á havia encarado.









A próxima aula era de Filosofia. Minha primeira aula de Filosofia. Entrei na sala com Katherine em meu encalço. Ela falava muito e muita coisa não me fazia sentido.









Joguei-me na cadeira no fundo da sala, querendo me isolar um pouco. Porém, Nathan e Katherine não me deixaram sozinha um só minuto. “Saco!” pensei.









Passei a aula toda rabiscando o caderno sem prestar muita atenção em nada. Não queria nem estar ali. Deixei minha mente e minha atenção viajar para longe dali. Queria me deixar sozinha, senão físico, mentalmente.









Senti um cutucão no fundo da cabeça. No começo não passava de um incomodo, mas foi ganhando intensidade. Em poucos segundos, a dorzinha chata se transformou em estática, alta e insistente.









Apoiei a cabeça sobre a mesa para não chamar a atenção. Meus olhos começaram a arder e o barulho fazia peso em meus ouvidos. De repente, tudo passou. Não tinha mais barulho, mas também não havia apenas eu.









“- Mel?”








Não. Balancei a cabeça querendo tirar aquela voz dali.






“– Mel, por favor!”






Fingi que não estava acontecendo nada. Assim ele logo pararia.







“- Olhe para mim, teimosa!”






Levantei a cabeça, não porque ele pediu, mas por causa do insulto. Estreitei os olhos para ele e respondi:





“- O que você quer em minha cabeça?”




“- Saber de você!”


“- Estou muito bem, obrigado. Agora saia!”

“- Mel, não faz assim. Está me machucando e se machucando!”

“- E o que te faz pensar assim?”

“- Seus olhos!”

“- Rá! Idiota prepotente! Você quase morreu e me levou junto!”

“- Eu nunca faria mal a você. Você é a minha única razão de viver agora!”

“- Pare com isso. Para com pieguices. E sai da minha cabeça imediatamente, Nefilin!”


Minhas últimas palavras saíram como eu desejava: agressivas. Eu ainda o encarava, é em seus olhos, a desolação quase acabou comigo. Desviei meus olhos – e pensamentos- dele e voltei para a aula.




Eu teria que aguentar mais uma aula antes de poder me isolar no banheiro feminino. Não ouvia nem compreendia nada que os professores diziam.





Eu não estava ali. Não queria estar ali.





E finalmente o sinal tocou. Arrumei meu material o mais rápido possível, e me encaminhei para o banheiro feminino.





Entrei no primeiro boxe e tranquei a porta. Eu só queria ficar sozinha. Eu só queria chorar. Chorar pondo tudo o que eu tinha dentro de mim, me torturando, para fora. Eu era tão feliz antes, por que tive de vir para esse inferno?







– Por que era para ser assim!











Dei um gritinho e coloquei a mão no peito. Soltei um sorrisinho histérico e falei:












– Louco! Quer me matar do coração?









– Você tem sorte, desse mal não morremos.





–Oh Zec! Precisei tanto de você ontem. Onde você estava?


– Cuidando de outra pessoa que também só sabia chorar, igualzinho á você!

– Kathe?

– Sim.

– Por quê?

– Ela viu você e Nathan juntos ontem. Ela ainda gosta dele, e se sentiu traída. Tive muito trabalho para mudar as ideias que ela matinha fixas na cabeça.


Ezequiel me fez companhia até o final do intervalo. Foi um grande alivio tê-lo por perto. Principalmente naquele momento chato.





Sai do banheiro um pouco mais leve e fui para a aula de cálculo. A pior – realmente- até agora. Na verdade todas as aulas haviam sido ruins, mais essa conseguiu superar as outras.








Fui à última aluna a entrar na sala. A professora me olhou torto, mas não disse nada. Encaminhei-me para meu lugar com o olhar de todos sobre mim. Eu já não estava bem e acabei soltando sem querer:









– Estão olhando o que? Algum problema?









Toda a sala abaixou a cabeça, menos ele. Gael gostava de me desafiar. Eu sentia isso. Ele se levantou também e cutucou:









– Com você? Tenho muitos. Vamos resolver como pessoas civilizadas ou como crianças?








– Uuh! – exclamou a sala em uníssono.






Cerrei os punhos até os nós dos meus dedos ficarem sem cor. Senti minhas unhas – um tanto grandes agora – afundaram na palma da minha mão.






– Não são problemas para serem resolvidos dentro da sala de aula, seu tolo.







– Você perguntou se alguém tinha problemas com a sua pessoa, eu tenho minha cara!






A sala estava em silêncio. Ninguém se atreveria a soltar uma única interjeição agora. Eles viram que a coisa ficaria feia.






– Bridge, Cortez. Sentados agora ou diretoria. Escolham!







– Sim, senhora- respondemos juntos.






Sentei-me e olhei para a professora. “Aquele ridículo! Só piora as coisas!”





“- Auto lá! Ridículo não!”





Levantei de novo do meu lugar, e gritei para Gael:






– Qual o seu problema comigo? Deixe-me em paz! Será possível ou é pedir muito?








Estavam todos espantados, inclusive ele. Não, ele não. Ele só fingia muito bem. Eu estava arfando de raiva agora. Ele havia conseguido me tirar do sério.









– Senhorita Bridge...








– Já sei... diretoria! – olhei para Gael com cara de poucos amigos e completei – com o maior prazer!






Sai da sala e puxei a porta atrás de mim. Eu nunca havia feito aquilo antes. Até eu estava surpresa com o repentino comportamento. Fui me arrastando até a diretoria. Sentei do lado de fora da sala da diretora, esperando.






Passaram-se dez, quinze minutos e nada da diretora chegar- não que eu quisesse que ela aparecesse. Ouvi passos fora do corredor da diretoria, mais fiquei quieta. Alguns segundos depois, a professora de cálculo apareceu caminhando a passos largos, com Gael em seu encalço.








Quando meus olhos encontraram com os dele, senti uma vontade imensa de voar no pescoço de Gael. Ele sentou-se ao meu lado e com a cara mais deslavada do mundo, sussurrou:








– Juntos de novo!





– Preferia a solidão. Era tão melhor! – rebati com amargura



Gael pegou minha mão e prendeu entre as suas. Tentei a todo custo tirar minha mão dali, mas não consegui. Ele olhou no fundo dos meus olhos, encarando minha alma - não foi bem assim, só disse para soar poético.






– Não faz assim, por favor! Toda vez que te vejo e não posso tocá-la, me mata!










– Então morra Nefilin!








– Você não quer que isso aconteça, fala da boca pra fora!



– Pretencioso você, não acha?

– Diz que não. Diz olhando em meus olhos, que você quer que eu suma, que não gosta de me ter por perto. Diga! Vamos!


Eu realmente queria dizer. Meu discurso já estava pronto, decorado e na ponta da língua. Mas eu não conseguia. Não podia falar aquilo. Não podia. Abaixei a cabeça e sussurrei:





– Não posso!







– Como?- perguntou ele exigindo que eu falasse mais alto.





– Não posso falar tudo aquilo, porque seria mentira!



Minha cabeça continuava abaixada. Ele colocou a mão em meu queixo me forçando a olhá-lo.





– Eu já sabia. Só queria que você se convencesse disso. Me permita tornar realidade, o que os meus não puderam.








Eu não queria mais resistir a ele. Tudo em Gael me chamava para perto. Tudo me chamava para ele. Eu não queria mais tapar meus ouvidos. Eu queria ouvir o chamado... e obedecer.









Inclinei meu corpo na direção dele. Eu queria – é dessa vez conscientemente – sentir o gosto que a boca dele tinha. Estávamos quase nos beijando quando a diretora apareceu:









– O que é isso? Festa? – ralhou a diretora curta e grossa.









A professora surgiu no corredor e olhou para a diretora desesperada.









– Tive que tirar os dois de dentro da sala. Estavam impossíveis.








– O que foi que as peçinhas aprontaram?





– Estavam brigando em alto e bom som, diretora. Não estavam nem ai para mim ou para seus colegas.



A diretora nos examinou de cima a baixo. O olhar dela não expirava nada de bom. Estremeci e torci para que ela não houvesse notado.





– Para dentro, agora! – o tom da megera, digo, diretora, colocaria medo até em Matheus em seus piores dias.








Gael e eu levantamos e fomos direto para a sala da diretora sem sequer olhar para trás. Gael estava em minha frente, é sem ninguém perceber, segurou meus dedos.









A diretora entrou logo atrás de nós e trancou a porta. Ela se sentou e indicou as duas cadeiras a sua frente. Sentei-me com o coração na boca. A diretora ainda estava com a cara amarrada quando nos encarou, mas quando falou sua voz era doce e suave:








– Até que enfim encontrei os dois juntos!





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anjo Caido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.