Anjo Caido escrita por Nathy_Migliori


Capítulo 6
Capítulo 6




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~ 6 ~


Nathan segurou meu braço para me ajudar a levantar, enquanto eu tentava me recuperar do repentino enjoo. As luzes da casa de Gael estavam todas apagadas, mais algo me dizia que ele estava lá, me esperando.



– Fique aqui. Se eu não voltar em 15 minutos. Entre.


Nathan concordou e eu entrei. A casa tinha uma decoração simples e rústica. Móveis antigos e encantadores cobriam o espaço pequeno da sala.


– Gael? Sou eu, Mel. Você tá ai?


Nada. Só silêncio. Mas ele estava ali, eu sabia. Eu sentia.


– Gael? Eu não gosto de esconde-esconde. Apareça!


Mais silêncio. Aquilo já estava me irritando. Irritando profundamente. Ouvi um barulho baixo na escada e fui checar. Não parecia haver ninguém.


Outro rangido no andar de cima, desta vez, um pouco mais alto. Subi as escadas tomando cuidado para não fazer barulho.


Cheguei ao segundo andar que continuava silencioso. Mandei minha corrente elétrica procurar por Gael e o encontrei no último quarto.

Fiquei ainda mais cautelosa enquanto me dirigia até o cômodo. Encostei meus dedos na porta e ela se abriu. Gael estava de joelhos, de frente para á porta, amordaçado.


Não sei o que me chocou mais: vê – lo amordaçado só com a luz da janela como claridade ou ver como ele estava machucado.


Lágrimas invadiram meus olhos e sem parar para pensar, me joguei na frente dele. Passei minha mão por seu rosto, por cima de seus machucados.


– O que fizeram com você, Gael?

– Ah minha querida, pior foi o que ele fez com você! Foi um insulto!


Levantei e dei as costas para Gael. A porta voltou para seu lugar no batente e Matheus saiu das sombras.


– Eu disse a você que ela viria. Eu disse que ela descobriria humano.

– Matheus, o que você fez com ele?

– O que essa escoria merecia. Ele tirou você de nós à força, Mel! Não poderíamos deixar isso passar.


O tom de Matheus me assustava. Ele era sempre tão carinhoso e tranquilo – pelo menos comigo – e agora parecia um vingador.


– Isso mesmo minha querida. Um vingador. Muita coisa mudou desde o dia que você sumiu. Ficamos todos deprimidos e preocupados te procurando. Ezequiel foi o que mais se esforçou.



A história parecia verídica, mas o timbre de Matheus tornava tudo mais difícil de acreditar. Ele sorriu friamente e continuou:



– Ele quase deixou o cargo de anjo-da- guarda por um de buscador por sua causa, Melanie. Ele deu o sangue por você minha cara. Como ele sofreu!


Matheus parou de novo. Nada parecia fazer sentido. Ezequiel sempre pareceu tão tranquilo em relação a minha situação, não fazia o menor sentido.


Matheus suspirou e completou:


– Não me olhe com essa cara minha querida. Isso foi apenas uma previa.


Matheus andou em nossa direção. Agachei-me ao lado de Gael e me pus entre ele e Matheus novamente. Os olhos de meu irmão faiscavam. Ele era mesmo um vingador agora.


Gael tentava se controlar, porém, eu sentia sua tremedeira mesmo não estando colada a ele. Matheus continuava vindo até nós.


Ele abriu suas enormes asas pratas para nós, e a pouca luz iluminou seus olhos negros. Negros e perversos. Sabia que aquele poderia ser o ultimo instante que eu passaria junto com Gael. Mas eu poderia me enganar.


– Mel?


Ouvimos Nathan chamar do andar de baixo. Matheus olhou para á porta e depois para mim novamente.


– Mel? Cadê você?


E voz de Nathan estava cada vez mais próxima. A escada começou a ranger e nós dois sabíamos que seria ruim para ele se mais alguém o visse. Matheus olhou de novo para porta e para mim.

– Isso ainda não acabou! Você que me aguarde escória! Eu voltarei e não virei sozinho! – ameaçou Matheus.


Ele sumiu e uns minutos depois, Nathan apareceu. Eu estava de costas para ele, desamarrando Gael quando ele entrou. O rosto de Gael estava todo machucado. Havia um corte em sua sobrancelha, seu nariz sangrava e sua boca estava inchada.


Tentei segurar a vontade de dar um tapa na cara dele, mas falhei. Puxei minha mão bem detrás e deixei cair na bochecha de Gael. Um filete de sangue escorreu do canto de sua boca já inchada.


Nathan me puxou pelo braço para me tirar de cima de Gael.


– Qual o seu problema? – perguntou ele limpando o sangue que escorria.

– Eu é que pergunto. Qual e o seu problema? Por que me trouxe para esse inferno? O que eu te fiz?


Minhas últimas perguntas saíram embargadas. Minhas lágrimas não demoraram a cair. Escorreguei para o chão e fiquei apoiada em cima dos meus joelhos, na altura dos olhos de Gael.


Os olhos dele também estavam marejados. Seus machucados não ajudavam muito nesse momento. Gael limpou a garganta e tentou se explicar:


– Eu não tinha certeza se daria certo. Eu juro. Eu tenho um livro de feitiços, com vários encantamentos, entre eles, um de invocação e o outro de ocultação.


Eu o olhava um pouco incrédula. Aquilo parecia conto de pescador. Gael prosseguiu:


– Eu vejo imagens suas à séculos Melanie. Vejo você à muito tempo em meus sonhos.

Agora aquela declaração havia realmente me surpreendido. Como assim sonhava comigo? Comecei a balançar a cabeça negativamente enquanto minhas lágrimas caiam para o queixo.


– Não, não pode ser! Não faz sentido algum! Nada faz!- falei com ar débil

– Eu sei! Eu sei! Isso tudo parece muita loucura! Mas e a verdade!


Gael se levantou com dificuldade e começou a andar de um lado para o outro bagunçando seus cabelos.


– Não pode ser verdade! Não pode!- continuei repetindo debilmente.


Gael continuou andando enquanto eu segurava minha cabeça e continuava a repetir as mesmas palavras sem parar.


Ele parou na minha frente, se ajoelhou e agarrou meus ombros. Ele falava e me balançava junto:


– Pare com isso! Você atormentou minha vida é meus sonhos à séculos, droga! E tinha o direito de saber se você realmente existia! Eu merecia!


Não resisti e de i outro tapa na cara dele – era legal, confesso. Ele caiu sentado a minha frente. Subi em seu peito e soquei –o.


Nathan tentou me tirar de cima dele, mas Gael me segurava com firmeza pelos braços. Meus braços fraquejaram. Deixei-me cair sobre ele. Em poucos minutos, sua blusa já estava toda encharcada. Ficamos assim por algum tempo. Eu não tinha forças para levantar e também não queria levantar.


Pareceu-me que ficar deitada ali me trazia calma, tranquilidade, segurança.


– Eu tinha o direito de ter você assim comigo, Mel!

Continuei quieta. Ainda me parecia loucura toda aquela história. Um humano não sonhava com anjos, principalmente há séculos. Tive um estalo e o encarei. Procurava minha voz.


– Você... você e um Nefilin?


Me tom denunciava minha surpresa. Pronto, agora era tudo realmente inacreditável.


– Sim. Na minha família, as lembranças e aprendizados são passados de pai para filho. Todos os homens da minha família vêm sonhando com você, mas nenhum teve coragem de pegar o livro e saber se era verdadeiro. Eu tive. E agora você esta aqui. O sonho de vários homens, eu estou realizando.


Os olhos passavam e completavam a emoção de suas palavras. Eu queria estar com muita raiva de Gael, mais não conseguia. Ele mexia com alguma coisa dentro de mim. Quero dizer, com muita coisa dentro de mim.


Não. Aquilo não podia continuar. Eu não tinha raiva ou ressentimento, mas ele não precisava saber disso. Sentei ao lado dele e pus minhas mãos sobre seu rosto. Concentrei uma pequena dose de energia na palma da mão e nos dedos. Fui passando meus dedos por cima dos machucados dele. Na medida em que a energia estrava em contato com a pele de Gael, os machucados se fechavam.


Dei um beijo na testa dele e me levantei. Abracei Nathan e saímos do quarto. Quando estávamos perto da saída, senti a mão de Gael segurar meu braço.


– Não vá embora assim, por favor!

Suspirei e me virei para responder:


– Eu tenho que ir. O que você me fez foi demais para mim Gael.

– Mas, e se eles voltarem?

– Eles vão voltar de qualquer maneira. Não me procure mais ou fale comigo. E para o seu próprio bem.

Nathan e eu saímos da casa de Gael. Contive-me para não olhar para trás, pois sabia que ele estaria ali olhando para mim.


Nathan afagou meus ombros e passou seu braço em minha cintura. Era obvio para qualquer um que olhasse para mim, que não estava nada bem.


– Quer companhia?- Nathan perguntou

– Se não for incomodar!

– Nunca!


Nathan nós fez aparecer em meu quarto. Sentei em minha cama e abracei meu travesseiro. Comecei a chorar novamente. Eu não queria me afastar de Gael. Ele já era importante para mim. Nathan sentou em minha frente e ficou me encarando. Ele não parecia com o anjo protetor que era.


– Mel... não, não fique assim. Vai ficar tudo bem.

– Eu não queria que nada disso acontecesse.

– Eu sei! Eu sei!


Nathan me fez deitar em seu colo e chorar o que eu tinha que chorar. Acabei dormindo deitada no colo dele.


Acordei com a luz do sol batendo em meu rosto. Minha cabeça estava apoiada no travesseiro e não em Nathan.


Bateram de leve em minha porta.


– Entra! – falei meio sonolenta.


Nathan entrou com uma bandeja de café-da-manhã para mim. Ele havia colocado uma rosa em um vasinho e depositou em cima da minha mesinha de cabeceira. Fiquei emocionada com tanto carinho.

– A Maria é brava! Agora se entende o porquê do seu comportamento!

– O que ela fez?


Não consegui esconder o tom de curiosidade.


– Gritou muito quando me viu saindo do seu quarto. Disse que mataria você quando te encontrasse.


Nathan falava escondendo um sorriso sem muito sucesso.


– E ai?

– Daí, eu tive que mostrar minhas asas para ela. Depois foi sossegado.


Balancei a cabeça rindo de Nathan. Ele era um bom amigo. Um amigo que eu nuca pensei que teria.



Tomamos café juntos e calados. Eu ainda estava me sentindo mal por deixar Gael sozinho e machucado. Nathan olhou para mim sentido e comentou:


– Por que fazer isso, se esta lhe fazendo mal?

– Quero apenas que ele me esqueça. Se eu vou ficar mal ou não, será apenas consequência.

– Pra que isso querida? Não vai adiantar nada. Você agora e anjo-da-guarda dele. Vai ter que ficar perto dele, você querendo ou não.

– Não vou. Ele sabe se cuidar sozinho, todos os Nefilin sabem. E agora cale-a-boca e termine de comer, senão chegaremos atrasados na escola.


Nathan só balançou a cabeça e terminou de tomar seu café em silêncio. Eu não queria conversar com ninguém é se pudesse, não sairia da minha cama. Pensei “ você é um anjo adolescente, não o contrário”.


Nathan e eu fomos para o colégio ainda calados. Ele estava sendo muito solidário comigo. Agora eu agradecia por ter um protetor.



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