Parece que é só ficção.

Parece que eu vou acordar daqui a pouco com minha mãe tentando fazer minha checagem de carrapatos.

Mas eu não vou, sei que não vou.

É verdade, a Sam me traiu. Faz uma hora desde que eu descobri, e também faz uma hora que eu to aqui, encarando o teto do meu quarto. Também, o que mais eu podia fazer? Não posso ir pra casa da Carly em uma hora dessas, obviamente. E eu descobri que pensar no que ela fez não ajuda também. Fato, tentei me distrair fazendo alguns gráficos pro próximo iCarly, mas não to com cabeça pra isso.

“Que merda, Freddie.”

Suspiro.

Eu nunca devia ter saído da cama hoje de manhã. Melhor ainda, eu nunca deveria ter saído da placenta.

- Freddie! Vem me ajudar com as compras!

Nunca, nunca deveria ter saído.

Aliás, é isso que eu vou fazer agora: não vou sair daqui. Vou continuar deitado na cama até ter um motivo pra gostar de viver de novo.

- Freddie!

Minha mãe entra no meu quarto, respeitando minha privacidade sempre.

- Não me ouviu falar? Eu preciso de ajuda com as compras, Freddie.

Nem me dou o trabalho de responder. Talvez se eu ficar quieto ela vai embora pensando que eu entrei em um estado catatônico.

- Freddie! O que aconteceu? Não ta me escutando? Eu disse pra você vim me ajudar! O que aconteceu? Olha, desde que você começou a namorar aquela menina só tem me desobedecido, eu realmente não acho que essa Saman...

- Acabou.

Quem eu estou tentando enganar? Ela nunca iria embora se soubesse que eu entrei em estado catatônico, depressivo ou suicida. Ela nunca iria embora em qualquer circunstância.

- O que? Olha, se você falasse mais alto...

- Acabou. Eu e a Sam não estamos mais namorando.

Eu nem precisava tirar meus olhos do teto pra ver que ela tinha um sorriso bobo de felicidade na cara. Se existir algum curso sobe como ser uma boa mãe, a minha deve ter tirado 0. E deve ter ficado contente com isso.

- Que ótimo, Freddie! Agora você vai poder conhecer umas meninas que eu estive querendo te apresentar, aah! Aquela Mildred é uma garota adorável, Freddie! Ela sabe bordar e...

- Você ouviu o que eu disse?

Me levantei da cama sem acreditar, Mildred? Quem diabos é Mildred?

- Eu e a Sam terminamos. Você ao menos liga, nem que seja um pouco, pra o que acontece comigo, mãe?

- Olha, Freddie, eu e você sabemos que ela não é o tipo de garota certa pra você.

- Tipo de garota certa? Ela era o tipo de garota que eu queria, e já que você perguntou, ela me traiu! Com o melhor amigo dela! Obrigado pela preocupação, mãe.

Me levantei da cama pronto pra sair do apartamento, mas é claro que ela não ia deixar por isso.

- Onde pensa que vai, mocinho?

- Não te interessa. E faça o favor de não me procurar, por favor.

Bati a porta com raiva. Ela nunca iria ligar pra o que acontecesse, obvio. Mas por enquanto, tudo que eu podia fazer era tentar sair pra pensar longe da minha mãe. Fiz aquele caminho que conhecia tão bem, apesar de odiar ir pra lá agora, era onde eu podia ficar sozinho. Subi as escadas e depois de um tempo, olhei através do vidro pra aquela vista que eu conhecia há tanto tempo.

Só consigo pensar em uma pessoa que iria me procurar ali, mas ela com certeza não vai querer vim me ver agora. Não aqui, onde as coisas terminaram.

Sam P.O.V

Parece que ta chovendo no meu rosto.

E acredite, não é um sentimento agradável.

E pior ainda quando seu melhor amigo, quem causou essa chuva em primeiro lugar, fica te encarando.

Ah, eu mencionei o detalhe que estamos sentados, um de frente para o outro, na cama do meu quarto?

Pois é, quando você pensa que as coisas não podem piorar, elas acabam piorando.

- Sam...

Enxugo meu rosto com a parte de dentro do meu braço:

- Que foi?

Pergunto pro Will. Ele enxuga mais uma lágrima que cai pela minha bochecha.

- Desculpa, mas...você ta péssima.

- Uau, Will! Onde você aprendeu a consolar mulheres tão bem?

Respondo em um tom de ironia. É nessas horas que eu queria ta com a Carly, pelo menos ela não me viria com um “você ta péssima”. Ele deu de ombros como se dissesse “sou inocente” e olhou nos meus olhos.

- Só pensei que fosse fazer você rir.

Eu suspiro.

- Sabe, você é péssimo. Eu to chorando por sua culpa, sabia?

Ele rola os olhos e passa uma mão no cabelo ruivo, só pra fazer ele cair nos olhos.

- Não vamos entrar nesse assunto de novo, por favor. E eu pensei que você tava chorando por causa de um idiota chamado Freddie Benson.

- Ele não é um idiota... – Me deito e viro pra encarar a parede, não quero ter que olhar mais pro Will –  ...Eu sou.

E começa a chorar na minha cara de novo. Que ótimo.

Aquela dor no meu peito volta também.

- Uma grande idiota. Devo ser a maior do mundo, sabia?

Ouço ele suspirar enquanto ele se deita na cama também. Sinto um braço dele passar pela minha cintura e uma mão alcança meu estômago, trazendo ele mais perto e me fazendo sentir a respiração dele no meu cabelo.

Ah, merda de arrepios. Você é mesmo uma vadia Sam, ele estava certo sobre você.

E lembrando disso, eu só consigo chorar mais.

Droga de Freddie. Droga de Will. Droga de vida!

- Ssssh. Sam, vai ficar tudo bem – Will fala no meu ouvido – Eu vou cuidar de você, Sam. Só...esquece isso, ta bom?

- Não...não dá – tento falar enquanto soluço – Eu estraguei tudo, Will.

Ele me abraça mais apertado, o que me faz chorar mais. Porque ele tem que fazer essas coisas em uma hora dessas?

- Eu prometo, Sam. Vai ficar tudo bem.

E eu continuo chorando, sem conseguir ter controle das minhas lágrimas.

Isso não é justo, não é! Pela primeira vez eu tinha o que eu realmente queria, exatamente quando queria. E eu deixei escapar pelos meus dedos, como se não fosse nada. É tudo culpa minha. E agora eu consigo ver claramente – e é a única coisa que consigo ver claramente, afinal ta tudo embaçado – que eu sou a única culpada. Eu não posso gritar com o Will, porque eu que quis ficar com ele. Se eu não tivesse ficado com ele, tudo teria sido explicado como um erro. As coisas estariam bem e eu não estaria chorando agora.

Mas as coisas nunca são simples, certo?

E isso dói. Saber que as coisas não são simples. Mas acho que no fundo eu sempre soube, só não queria perceber. Do mesmo jeito que eu não queria me apaixonar por ninguém, porque sabia que ia acabar magoada no final. Do mesmo jeito que ta acontecendo agora. Meu peito parece que vai explodir do jeito que meu coração bate. Mas eu não posso fazer nada, além de chorar. E sabendo disso, eu fico assim até as coisas perderem completamente a forma. O escuro parecendo confortável e a vontade de nunca mais acordar me tomam.

Se, ao menos, a vida fosse simples como essa escuridão.

Então eu nunca teria que me machucar tanto.