Acordei sem nem ter percebido que tinha dormido. Abri os olhos e percebi que Freddie não tava do meu lado. Olhei ao redor do quarto e não o encontrei também. Entendi porque ele não estava lá quando ouvi gritos vindos da sala.

- Não acredito que você está com aquela macaquinha desajeitada, Freddie!

- Macaquinha desajeitada?

Eu perguntei pra mim mesma, é claro que ela e Freddie estavam brigando na sala. Eu não estava realmente surpresa, vinda da mãe dele eu podia sempre o pior. Me xingando e gritando assim, parecia até a minha mãe.

- Eu estou com a Sam sim, e não vou parar só porque você não gosta dela!

- Ah! Freddie! Viu o que ela fez?! Se não fosse por ela você nunca estaria gritando comigo assim!

- Não coloca a culpa na Sam, ela não é a culpada por você pirar toda vez que me vê feliz! Primeiro foi quando eu namorei a Carly e agora ela também?

- Eu só não quero ver você machucado, Freddinho...

- Eu não sou mais criança!

Eu não precisava fazer nenhum esforço pra ouvir os dois de tão alto que eles gritavam. Como os vizinhos ainda não reclamaram? Ah claro, os vizinhos são Spencer e Carly...Carly! Meu Deus! Eu precisava falar com ela! Se o Will ligasse perguntando sobre mim eu tinha que confirmar com ela a história de que eu passei a tarde na casa dela. Ouvi mais alguns gritos até que uma porta bateu. Deduzi que era a mãe do Freddie entrando no quarto dela. Me levantei da cama e abri a porta do quarto esperando ter feito silêncio. Coloquei a cabeça fora da porta ainda com o corpo dentro do quarto.

- Ela já foi?

- Já... – ele olhou triste pra mim – Nós acordamos você, né?

- Tudo bem, eu não podia dormir pra sempre mesmo.

Fechei a porta atrás de mim e entrei totalmente na sala, ele ainda me olhava triste. Não sei por que, afinal se fosse na minha casa seria a mesma coisa. Ou até pior, já que eu e minha mãe temos a mania de tornar as brigas um pouco...físicas.

- Eu acho que já vou indo, disse pro Will que ia ficar na casa da Carly essa tarde e preciso passar a história pra ela.

Freddie curvou as sobrancelhas sem entender.

- Porque mentiu pra ele?

Dei de ombros.

- Sei lá, ele ficou todo nervoso quando eu falei que a gente ta... – parei antes de falar “que a gente ta namorando” porque na verdade nós não estávamos, Freddie nunca tinha me pedido em namoro – ...que a gente se beijou. Sei lá porque.

Ele balançou a cabeça negativamente e cruzou os braços.

- Sam, você é muito ingênua às vezes.

- Porque?

Ele só riu e nem me disse a resposta, eu teria ficado com raiva dele ter me chamado de ingênua, mas o riso dele sempre dissipa toda a minha raiva.

- Tchau, nerd.

Falei isso e fui indo pra porta, mas quando coloquei minha mão na maçaneta senti dois braços atrás de mim. Uma respiração no meu pescoço e um sussurro veio em seguida me fazendo arrepiar. Droga Samantha, se controle!

- Eu não ganho meu beijo de despedida?

- Sua mãe pode vim aqui.

Ele riu. Ele riu contra meu pescoço me fazendo arrepiar ainda mais. Soltei um gemido quase mudo pensando que isso não ia acabar bem se eu conseguisse ser controlada tão fácil.

- Ela já sabe que você ta aqui em casa, não vai sair do quarto até saber que você saiu.

- Mesmo assim, não é bom arriscar.

Ele colocou a mão dele em cima da minha, me impedindo de girar a maçaneta e sair.

- To esperando.

Me dei por vencida e virei meu corpo, coloquei meus braços ao redor do pescoço dele o abraçando e trazendo ele pra baixo. É uma droga que ele tenha ficado mais alto que eu, é sim. Ele sorri e eu fecho meus olhos envergonhados. Dou um beijo devagar mas sem dá tempo pra ele usar a língua, ou eu ficaria ali por muito tempo ainda. Quando terminamos o beijo ele disse tchau e eu sai indo direto pra casa da Shay. Um fato pouco conhecido: os nerds são os melhores beijadores que tem por ai (não que eu tenha muita comparação pra fazer, já que o Freddie foi o único cara que eu beijei na minha vida).

Depois que eu falei com a Carly e ela conseguiu arrancar todos os detalhes da minha tarde, fui pra casa do Will, e minha casa agora. Sentei no sofá pra ver se tinha alguma coisa boa na TV, mesmo sendo umas dez horas estava sem sono nenhum, afinal dormi a tarde toda. Will perguntou como foi na casa da Carly e eu só respondi com um “bom”. Ele sentou do meu lado e nós vimos A Mentira, não que eu realmente estivesse prestando atenção no filme. Não conseguia parar de pensar na tarde, no Freddie e nos nossos beijos. Sempre nessa ordem, umas mil vezes consecutivas.

- Não ta com sono? São tipo, umas dez horas agora.

- Não, dormi de tarde.

Engoli em seco, deveria ter pensado melhor antes de ter dito aquilo.

- Dormiu? Sério? Quer dizer, você tava na casa da Carly, né?

- É, pra onde mais eu iria? – dei um riso nervoso em quanto tentava inventar alguma história, o que não seria difícil com a prática em mentir que eu tenho – é que ela e o Spencer saíram rpa fazer compras e eu dormi no sofá vendo televisão.

Ele deu de ombros e eu vibrei por dentro. Sam Puckett, mas que ótima mentirosa você é! Tive que me controlar pra não sorrir. Mas minha felicidade durou pouco, na verdade acabou logo em seguida quando ouvimos umas batidas na porta e uma voz muito conhecida minha:

- SAMANTHA PUCKETT! É BOM VOCÊ ESTAR AI!

- Meu Deus. É a minha mãe.

Will se levantou pra abrir a porta.

- Espera! – sussurrei completamente desesperada – Deixa ela se acalmar um pouco!

- E quando é que sua mãe se acalma, Sam?

- Sei lá...pede pro seu pai paquerar ela!

Ele ignorou meu comentário e foi atender a porta, me encolhi no sofá.

- Oi Pam, sua filha...

- CADÊ A SAM?

Minha mãe gritou empurrando Will e entrando na casa. Me levantei do sofá e olhei pra ela.

- Oi mãe.

- QUEM TE DEU PERMISSÃO PRA SAIR DE CASA?

- Mãe, o pai do Will ta dormindo, você vai acabar acordando ele e os vizi...

- EU NÃO LIGO PRA ELES! PORQUE VOCÊ NÃO ME AVISOU QUE ESTAVA SE MUDANDO? PODERIA TER LIGADO OU DEIXADO UM BILHETE! SAIBA QUE EU NUNCA TERIA DEIXADO VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ ME DEIXOU! MEU DEUS, QUEM É QUE VAI CUIDAR DA CASA AGORA?

Explodi. Sinceramente eu não queria ter nenhuma ceninha ali, mas ela não estava nem preocupada comigo quando eu estava fora. Ela estava preocupada por causa da casa. E que história é essa de nunca teria me deixado? Ela me deixou incontáveis vezes e não se preocupou em voltar pra casa nem depois de alguns meses deixando as contas acumularem, só quando o novo namorado dela dava o pé na bunda dela e ela resolvia que era hora de voltar pra casa.

- Meu Deus, isso é uma mentira e você sabe disso! Quantas vezes você já sumiu no mundo e nem se preocupou em avisar onde tava indo? Quantas vezes VOCÊ agiu como a criança e EU tive que fugir pra casa de algum amigo que se importasse mais comigo MAIS DO QUE A MINHA PRÓPRIA MÃE?

- OLHE O JEITO QUE FALA COMIGO MOCINHA!

- COMO SE VOCÊ JÁ NÃO TIVESSE ME ENSINADO MIL JEITOS PIORES DE SE FALAR, NÃO É?

Sem aguentar mais as provocações sem sentido da minha mãe, estava quase pulando em cima dela quando o pai do Will chegou, ainda usando um roupão e gritou comigo e com a minha mãe:

- O QUE TA ACONTECENDO AQUI?

Minha mãe olhou pra ele e soltou um “ora, ora” em uma tentativa de te. Admito, tenho nojo de fazer parte da mesma família que ela.

- Ah, oi Pam.

Ele falou mal humorado, mas é claro que ele tava mal humorado! Ele tinha acabado de ser acordado por duas loucas gritando. Bom, uma louca, eu não sou louca. Não sou, ok?

- Olá. Então é com vocês que minha filha tem passado os dias, é?

O pai do Will olhou pra minha mãe meio irritado.

- Claro. Porque você não passa aqui amanhã pra falar sobre isso? Pensei que a Samantha tinha te contado que ia se mudar pra cá.

- Eu tenho muito tempo livre pra falar agora, e não, ela não contou.

Os dois olharam pra mim com raiva. Tentei me defender.

- Como eu ia avisar? Eu nem sabia onde você tava!

Depois que falei isso os dois resolveram conversar, eu e o Will ficamos no meu quarto tentando escutar a conversa, mas quando percebemos que nenhum dos dois ia começar a gritar, desistimos. A gente ficou conversando até o pai do Will chegar e dizer que minha mãe tinha saído, Will disse boa noite e eu fui dormir pensando que agora faltavam só mais uns 6 dias pro final das férias. Suspirei mas então pensei que o começo das aulas não poderiam ser tão ruins, afinal agora tinha um motivo pra me deixar acordada na aula – mesmo que eu nunca fosse admitir em voz alta.