Acordei mais cedo que o normal, me sentei na cama e tentei lembrar se o que tinha acontecido na noite anterior foi real, até que um bilhete passou por baixo da porta, peguei e me sentei novamente na cama, abri devagar, e li atenta e silenciosamente o bilhete que dizia:   

 ”Nat me desculpa por ontem, se me precipitei, é que quando estou do seu lado não consigo pensar direito, mas tudo que te falei é verdade, por favor, acredite em mim. Eu te amo.                    Vinícius."

Li e reli várias vezes, acreditar ou não? Confiar nele mesmo depois de tudo o que me fez passar? Soltei um suspiro longo e pesado, guardei o bilhete na minha cômoda e fui tomar banho, um turbilhão de pensamentos invadiu a minha mente, não podia me arriscar mais uma vez, sofri tanto e mesmo assim ele ainda me faz sentir algo. Arg, queria poder tirar os meus sentimentos e substituir por outros, seria ótimo.

Saí do banho e me vesti para ir à escola, desci e quando passei pela sala vi o Vinícius dormindo no sofá. Passei a mais rápida e silenciosa que pude indo direto para a cozinha. Procurei algo na geladeira para comer e resolvi fazer um sanduíche, tentando não fazer muito barulho quando sinto um sopro no meu ouvido que me fez arrepiar.

– Pelo visto ainda consigo fazer você se arrepiar! – Me virei mesmo sabendo quem era, ele sorriu, como se tivesse acabado de ganhar uma corrida.

– E pelo visto você continua sendo o mesmo idiota não é mesmo?! – ele me encarou como se surpreso com a minha resposta e então revidou.

– Haha, nem parece a garota que aceitou meu beijo ontem a noite, e que só não pediu mais por vergonha. – eu já devia saber que ele não tinha mudado muito, só queria brincar comigo mesmo, como sou idiota!

– Babaca, você continua o mesmo garoto irritante que se acha e vai contar pros amigos!

Virei-me deixando o sanduíche quase pronto largado em cima do balcão da cozinha, peguei a minha bolsa e tentei ser rápida o bastante para minhas lágrimas não escorrerem pelo rosto. Fui em direção à porta, porém ele foi mais rápido mais uma vez e segurou meu pulso.

– Me solta! – Falei entre dentes.

– Hey, você não acha que eu estou falando sério mesmo acha? – eu apenas o encarei. – Tá, desculpa, mas eu só tava tirando onda, foi uma brincadeira. Eu só tava... Desculpa.

– Ótima brincadeira Vinícius. – Me soltei dele e sai de casa, notei que ele me seguiu.

– Desculpa Nat, achei que ia ser legal, e...

– Não fala mais nada tá bom? Só vou ficar mais confusa. Não sei mais se você é ou não o mesmo idiota, preciso pensar então, por favor, não venha atrás de mim!

Saí andando em direção à escola sem deixá-lo falar alguma coisa. Decidi ir caminhando devagar em direção à escola, ainda tinha muito tempo, coloquei os fones de ouvido, não estava a fim de pensar em nada, fui todo o caminho escutando o álbum novo de Nxzero. Estava na metade da música “Espero a Minha Vez” quando sem perceber esbarrei em alguém.

– Me desculpa! – Falei assustada e me abaixando para apanhar uns livros.

– Tudo bem, acontece não é? – Ela falou e me levantei, entreguei os livros ao seu dono, ou melhor, dona. Era uma garota mais ou menos da minha idade, cabelos castanhos e ondulados, seus olhos eram de um mel esverdeado e me pareciam familiares. Sorri ainda encarando-a.

– Bom, é melhor eu ir, quero chegar cedo na escola hoje.

– Ah, tudo bem, agente se vê daqui a pouco então. – Ela olhou para a minha mochila e para o livro de Biologia que eu carregava, então eu percebi que os livros dela eram os mesmos que os meus, agente estuda na mesma escola.

– Você estuda na mesma escola que eu? – Continuei encarando-a,mas de uma maneira amigável.

– Pelo jeito acho que sim, seus livros são iguais aos meus, e daqui a pouco vou para a escola.

– Hum, então, nunca te vi lá.

– É que hoje é meu primeiro dia de aula, me mudei ontem, estou morando com meus primos.

– Ah tá, entendi, bom então, até mais tarde mesmo.

– Até.

Ela sorriu e retribui o sorriso, ela seguiu e eu fui andando para a escola.

– Uma hora dessa e a senhorita aqui? – O porteiro me perguntou meio assustado. Eu apenas sorri. Segui pelas escadas até o segundo andar, entrei na sala 137, a que eu estudo e me sentei na última cadeira da fila encostada à parede.

Estava sem saco pra nada hoje. Muita coisa pra um dia só. Fiquei ouvindo música e pensando mais uma vez em tudo, tudo mesmo, até na menina que esbarrei, ela parecia legal, mas de um jeito conhecido, muito estranho. Só falta essa menina ser prima do palestrante. Ri com a minha ironia.

– O que você tá fazendo aqui a essa hora Booza? – Olhei mesmo reconhecendo a voz da Lika.

– Acordei mais cedo que o normal amiga, sabe, depois de tudo o que aconteceu. – Dei um sorriso de lado e ela puxou uma cadeira, sentou virada de frente pra mim.

– Own nêga, quero que me conte os detalhes agora. Mas só uma perguntinha antes. Ele continua gato?

– Gobiraa! – Dei um peteleco na testa dela e nós rimos. – Não, ele tá muito mais gato.

– Ohh pecado!

Contei tudo à ela, outra vez, nos mínimos detalhes, a Lika era meio doidinha, igual a mim, mas dá uns conselhos bem legais. Nós conversamos muito, mas continuei confusa. Quando olhei o professor já estava na sala, olhei ao redor e a garota tava lá, ela sorriu pra mim e eu acenei.

– De onde a conhece? – Aline perguntou enciumada.

– Agente se esbarrou quando eu tava vindo pra escola. – Falei rindo, ela fez um bico e se virou pra prestar atenção no que o professor falava. Decidi prestar atenção também e tentar esquecer tudo.