22h. Saindo do trabalho, indo pegar o metrô. Estava lotado, definitivamente eu tinha que comprar um carro. Foi então que eu o encontrei. Eu quase tive um treco. Encontrar o Brian caído atrás de um bar manchado de sangue não era algo muito legal. A situação que ele estava fez parecer a surra que a Leana me deu brincadeira de criança. Ele não estava desmaiado, vez ou outra soltava uns grunhidos.

- Brian? Brian o que aconteceu?

O olho estava inchado, a boca sangrava muito.

- Sarah?

Tentei levantar ele. Gritei por ajuda, mas não tinha sinal de nenhuma alma viva.

- Brian quem fez isso com você?

- Liga pro Jimmy.

Tentei o celular dele. Chamou até cair, será que ele não queria falar comigo? Liguei pro Matt então, dos caras da banda era um dos que ainda tinha um pouco de intimidade, por mais que eu gostasse do Zacky, ele não era muito amigo meu e o Johnny eu acabara de conhecer.

- Matt?

- Sarah?

- É

Consegui ouvir ao longe o som da bateria, tava explicado o motivo de ele não atender o telefone.  Mas eu estava nervosa, Brian ali do meu lado naquela situação. Mas eu acho que ele não queria que eu falasse isso para o Matt, tinha que ser o Jimmy.

- Matt, será que eu posso falar com o babaca do James?

- Haha, ele ta meio ocupado, pode ligar mais tarde?

- Desculpa interromper o ensaio Matt, mas é que é importante

- Espera um pouco então.

Ouvi ele gritando no pé do telefone: “- Rev! Vem aqui, telefone pra você. – Quem? – Thompson”

- Sarah?

- Oi Jimmy, er..

Era super constrangedor falar com ele depois do que tinha acontecido. Senti um nó na garganta.

- Olha eu acabei de dar de cara com o Haner todo estrepado aqui na rua. Ele está muito machucado, pediu pra que eu ligasse pra você, mas os outros caras não podem saber, pelo menos não ainda. Ele precisa da sua ajuda

- Onde vocês estão?

Dei mais ou menos a nossa localização. Agora era só esperar. Tentei limpar um pouco os ferimentos do Brian. Quem será que tinha feito aquilo com ele?

- Valeu Sarah, dá pra entender porque o Jimmy gosta tanto de você.

- Haha que isso Brian, você acha que eu ia dar de cara com você ensangüentado no chão e ia simplesmente passar direto?

Ele encostou a cabeça num poste e olhou pro céu escuro. Estava exausto, dava pra ver. Foi então que um carro preto encostou. Era ele. Os cabelos escuros meio molhados de suor grudavam na sua testa. Engraçado ele estar suado, era uma noite fria. Devia ter saído do ensaio do jeito que estava. Ele veio correndo, desviei o olhar, não queria fitá-lo nos olhos, pelo menos não agora.

- Que porra é essa, Brian? Será que dá pra você me explicar?

- Ai vai se fuder Jimmy

- Vai se fuder o caralho, você vai ter que me explicar que merda é essa que ta acontecendo na sua vida, agora!

Brian Grunhiu. Olhou pra mim com cara de ‘Me ajuda’, mas no fundo ele sabia que nos devia explicações.

- Ok, eu vou contar. Foi a Michelle.

- Quê? Conta outra Gates, o que a Michelle tem a ver com isso? Ela não conseguiria bater em você desse jeito.

- Não foi ela que me bateu.

- O que foi, conta então!

- Ok, mas será que dá pra pelo menos a gente sair daqui?

- Tá pode ser.

Jimmy virou pra mim:

- A gente pode ir pra sua casa?

- Claro.

- Vamos então Gates.

Eu e Jimmy então carregamos Brian até o carro, o deitamos no banco de trás e eu sentei na frente com Jimmy. Pude notar ele olhando meio que de relance pra mim, mas ele desviou o olhar. Parecia envergonhado. O que eu estou dizendo? Eu mesma estava envergonhada.

O porteiro do prédio tipo, achou super estranho eu chegar com aqueles dois tatuados, e ainda mais sendo que um deles estava se esvaindo em sangue. Normalmente o único cara que entrava comigo ali era o Greg. Então eu pensei nele. Depois daquela tarde ele não tinha me ligado mais. Logo ele, que era sempre tão prestativo, amanhã eu ligaria pra ele, agora não dava, era muito tarde. Jimmy jogou Brian no sofá e sentou- se em uma das poltronas.

- Bom, Gates, sou todo ouvidos

- Ok

- O que a Michelle tem a ver com essa bagaça toda?

- Foi ela que mandou os caras atrás de mim.

- Por quê?

Ele abaixou os olhos.

- Jimmy, você é o meu melhor amigo, desde que eu me entendo por gente. E você me conhece pra caralho, acontece que a Mih não me conhecia do jeito que ela pensava que conhecia.

- Sei

- Ela está grávida Jimmy.

- O QUÊ???

Puta que pariu, até eu estava assustada.

- É, mas eu acho que o filho não é meu. Você sabe. A gente vive perambulando por aí com a banda, não dá pra ter 100% de certeza. E eu disse isso pra ela. E foi aí que meu inferno começou.

Jimmy e eu estávamos em choque, porra a Michelle, GRÁVIDA!

- Primeiro foram os irmãos dela, a Val veio me chingar, dizendo que eu era um Filho da Puta que tinha desgraçado a vida da irmã dela. Depois foram os tais caras lá do Warped Tour, não era bêbados, eram o Chris, irmão dela, e o pai dela. Semana passada eu até fui preso por culpa dela. Eu tava bêbado, e os caras vieram falar merda pra mim. Acabei perdendo a cabeça. Depois a policia apareceu e ferrou com tudo.

 - Mas você tem certeza que esse filho não é seu?

Enfim eu abri a minha boca. Pelo jeito que ele me olhou, comecei a pensar que devia ter ficado calada.

- Eu não sei Sarah, mas por causa disso, ela quer se casar.

Não dava pra ficar calada.

- Que porra Gates, esse escândalo todo porque a Michelle te ama e quer casar com você? Pelo amor de Deus.

- Vocês mulheres sempre se defendendo não é?

- Não tem nada ver com isso Gates. Você tem que parar de agir feito um idiota. Achei foi pouco você ter apanhado

- Sarah, você não entende. Fica quietinha aí, por favor.

Quis socar a cara dele. Imbecil. Jimmy resolveu se manifestar:

- Calma Sarah, e Brian, você não tem certeza se o filho é mesmo seu. O jeito é esperar e fazer um DNA.

- Você não entende Jimmy. Esse filho não pode ser meu. Você acha que eu não me lembro das vezes que eu fodi a minha mulher? Eu lembro. E se a gente for calcular, não tem como ser meu. A gente tava em turnê. Esse filho não é meu.

Dizendo isso se levantou e foi até a varanda. Jimmy e eu nos entreolhamos. A Michelle realmente teria traído ele.

- Sarah, você se incomoda se eu dormir aqui hoje? Não to muito afim de ouvir sermão do Zacky de novo.

 Jimmy fechou a cara.

- Gates ela é uma moça solteira, não pega bem um cara em crise com a namorada passar a noite aqui.

Eu olhei pra ele.

- Ah é? E quem foi que passou a noite bêbado desmaiado ali no meu sofá?

Gates riu.

- Se tiver problema eu vou embora Sarah, não quero acabar com a sua reputação.

- Não precisa se preocupar Haner. Pode dormir aqui sim.

Ele saiu da sala. Jimmy e eu estávamos sozinhos.

- Jimmy eu tenho que te entregar algo.

Levantei e fui até o meu quarto. Voltei com a camiseta branca em mãos.

- Toma isso é seu.

Ele olhou pra camiseta e abaixou os olhos.

- Ah, obrigada.

Pegou a camisa da minha mão e olhou pra mim.

- A Leana veio aqui não foi?

- É, veio sim. E me deu uma baita de uma surra por sinal.

- Ela bateu em você?

- Eu não quero falar disso.

- Mas eu quero. Sarah, eu e ela terminamos.

Não era possível. Eles não estavam mais juntos. Meu coração disparou, pra variar. Isso sempre acontecia quando eu estava com ele.

- Eu espero não ter culpa nisso.

- Tá zoando né? A culpa é TOTALMENTE sua.

Eu me senti péssima. Leana parecia estava triste no dia que veio aqui. Apesar da fúria e do escândalo que ela fez, eu acho q ela gostava dele.

- Eu... Eu não queria ter atrapalhado a sua vida

- Você atrapalhou a minha vida só quando me mandou parar de fazer barulho com a minha bateria. Depois você deixou de atrapalhar e passou a fazer parte da minha vida. Foi difícil pra Leana entender isso. Além do mais..

Ele fez uma pausa. Olhou em volta pra ver se o Brian não estava por perto, se aproximou de mim e me puxou para perto dele. E falou bem perto do meu rosto:

- Além do mais, eu não podia deixar o meu primeiro beijo longe de mim outra vez.

Eu quis voar no pescoço dele. Ele era meu, pra sempre meu e ninguém podia tirar ele de mim, e o próprio Jimmy sabia disso.

- O quê? Aquele beijo foi o seu primeiro?

- Ah, eu não era um poço de sedução. Não era todo mundo que gostava do meu cabelo estiloso e eu era focado demais nessas coisas de banda. Nem notei que você estava ali do meu lado.

Nós sorrimos.

- Seu cabelo era estranho pra caralho mesmo. Mas não foi o cabelo que me seduziu, foi você. O que tinha por fora pouco me importava e..

Ele veio rápido, os lábios dele tocaram novamente os meus. Dessa vez não tinha álcool. Era realmente ele ali, sóbrio, sem nada pra forçá-lo. Todo meu. Cravei as minhas unhas nas costas dele e agora ele me abraçava mais forte. Nem podia acreditar que eu estava nos braços dele. Ele mordeu de leve meu lábio inferior. Aquele nariz perfeito roçou de leve na maçã do meu rosto. Eu estava em êxtase.

- Jimmy, eu tenho medo.

- Medo? Eu não sou o bicho papão, só tenho a testa grande.

Eu ri de leve.

- Não é de você, é da Leana

- Da Lea? Por quê?

- Porque eu sei que ela não vai descansar até ter você de volta. Eu sei do que mulheres magoadas são capazes Jimmy, ainda mais ela. Ela me ameaçou, e ás vezes eu penso que não foi da boca pra fora.

- Nada a ver Sarah, a Lea não seria capaz de matar uma mosca.

Apontei para as marcas de unha no meu rosto:

- Não acho que isso aqui é coisa de mulher dócil, Jimmy.

- Ela estava com raiva

- Quem me garante que ela ainda não está?

Ele me abraçou. Como ele podia ter tanta certeza assim? É claro que na frente dele ela era um doce, nosso primeiro contato mostrou isso. Eu estava apreensiva. Talvez devesse pedir ajuda ao Greg, mas será que ele ainda queria me ver? Ele parecia meio distante de mim da última vez. Às vezes ter amigas mulheres faz falta, sempre é bom ter alguém que não vai achar que seus problemas são paranóia feminina. Mas desde criança sempre fui mais amiga dos meninos, e as garotas da Califórnia eram quase sempre fúteis, viviam na praia com biquínis justos, exibindo seus corpos perfeitos e se insinuando para os garotos. Eu sempre sobrei ali, e na faculdade fiquei logo amiga do Greg, elas nunca tinham me feito falta antes, nunca até agora.

- Tá pensando no quê?

- Em como seria bom ter amigas fêmeas de vez em quando.

- Que isso! Você tem o Brian.

Brian ia entrando.

- O que tem eu aí?

- A Sarah ta sentindo falta de amigas fêmeas.

- E o que eu tenho com isso?

- Tem que você já é amigo dela.

- Muito engraçado cabeção de rato.

Começamos a rir. Jimmy dormiu lá em casa também. Foi uma noite ótima. Uma pena que o dia seguinte não ia ser assim.