Descobrindo Londres escrita por lillylowre


Capítulo 2
Capítulo 2 - Melanie




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Sair de casa apressada e perdida em pensamentos foi uma péssima idéia. A primeira coisa que ela fez foi escorregar e depois gritar enquanto caía no chão duro. Sentiu seu cotovelo fica molhado e arder como se estivesse em chamas.

         - Ande menina, eu não tenho o dia todo!! – Gritou o motorista do ônibus, extremamente aborrecido. Ele tinha cara de louco.

         Lilly entrou com um olhar feroz e jogou sua mochila no banco da primeira fila; o ônibus estava completamente vazio até então. Ele começou a se mover aos solavancos e Lilly procurou por algum lenço na mochila que pudesse limpar seu cotovelo ralado que sangrava mais do que poderia. Ela reparou que o motorista resmungava o tempo todo, sozinho ou para o trânsito. Não se importou; já havia superado o fato de que iria ser levada até a escola por um louco todas as manhãs.

         O ônibus estava a uma velocidade consideravelmente rápida quando deu uma freada, arrancando Lilly de seus costumeiros devaneios com imagens do que seriam os próximos dias. Um garoto entrou e cumprimentou o motorista insano.

         - Bom dia, Steiner.

         Aquilo pareceu ter explodido uma bomba na cabeça do maluco.

         - Garoto petulante!! Quantas vezes vou ter que falar que meu nome é Sticker Man?! STICKER MAN!!! Suma da minha vista, rapaz, ora essa, uma criança achando... – e então ele começou a xingar o garoto de um forma incompreensível, mais para o volante do que para alguém.

         O garoto deixou uma sorriso grande, porém sarcástico, tomar conta de seu rosto. Ia jogar sua mochila em cima de Lilly quando olhou pra frente e viu que ela estava ali. Pareceu desarmado por um momento, até que Lilly deu um pequeno sorriso e ele fechou a cara, chamando algumas pessoas atrás dele para a segunda fileira do ônibus. Lilly imediatamente ficou furiosa e triste; será que ela era tão amaldiçoada assim pra antipatizarem com ela até por um sorriso?! Isso sequer fazia sentido!

         Logo atrás do garoto entraram uma garota de cabelos muito vermelhos com um piercing no nariz, um garoto que parecia ser meio desengonçado, uma garota loura alta vestida de rosa dos pés à cabeça e finalmente um garoto com cara de intelectual que cumprimentou o motorista como se deve.

         Lilly observou o grupo ocupar os quatro lugares da fileira atrás da sua, porém a loura ficou sem assento. Chegou ao lado de Lilly – que percebeu que a garota tinha olhos roxos – e perguntou, docemente:

         - Se importa se eu sentar aqui?! Podemos aproveitar e conversar, você deve ser a garota nova, não é?!

         - Er... sim, sou. Pode sentar. – Lilly não conseguia acreditar que havia sido tão fácil.

         - Meu nome é Stephanie, estes são Diego, Zick, Lauren e... Chad. – ela disse ao se sentar, apontando o gêniozinho, o estabanado, a ruiva e o sarcástico, que olhava pela janela, absorto no que quer que estivesse ouvindo em seus fones e na paisagem, coberto pelo capuz. Fazendo qualquer coisa menos cumprimentar Lilly, coisa que todos os outros fizeram.

         - Meu nome é Lilly, me mudei pra cá esse ano e estou apavorada.

         - Você gosta de rock?! – A garota ruiva, Lauren, perguntou.

         - Gosta de ler?! – esse fora Diego, em tom de suplício.

         - Anda de skate?! – quis saber Zick, animado.

         - Ninguém aí tá afim de deixar ela respirar, não?! – disse Stephanie, brincalhona. – Deixa que ela mesma fala, gente.

         Aquilo deixou Lilly extremamente aliviada. Gostara de Stephanie.

         - Bem, por ordem... sim, eu gosto de rock e pop, adoro ler, mas não estudar – gosto de ler histórias que me levem pra outro mundo. Não ando de skate, mas gosto de andar de patins pela cidade. E o que eu mais gosto de fazer é pintar, sem dúvida. Pinto cenas, criaturas e lugares de um país das maravilhas só meu.

         - Woooow, isso sim é legal. – Disse Diego, admirado.

         Zick abriu a boca,prestes a falar algo quando avistou algo atrás de Lilly e Stephanie que o fez calar-se e olhar para baixo.

         - Melanie – sussurrou Stephanie, fitando a alta loura com cara de falsa doçura que entrava, passando o mais longe possível do condutor.

         Ela tinha a maior cara de inocente, olhou para Lilly e seu sorriso vacilou, mas antes que a máscara caísse seu olhar deixou bem claro: era ela que mandava aqui.

Lilly teve certeza de que aquela deveria ser o tipinho rainha do colégio dos filmes americanos. Era a maior patricinha, estava toda maquiada mas ao invés de usar rosa – como nos filmes tipo Mean Girls – ela usava roupas lindas que deixavam bem claro que deviam ser caras. Felizmente, Lilly nunca etiquetou pessoas pelo modo de vestir e nem pela expressão facial, pois sabia que os falsos também sabiam dizer “te amo”.

Mas pela quietude instantânea de Stephanie, Diego, Lauren e Zick (Chad ainda não falara com ela) ela percebeu que Melanie não deveria ser boa pessoa, flor que se cheire. Isso sem citar o olhar gélido que a loura lhe lançara, que não só confirmou sua suposição como também a paralisou, como se tivessem lhe jogado um balde de água fria. Até esqueceu da dor no cotovelo, que parara finalmente de sangrar.

Atrás de Melanie vinham duas garotas que pareciam ter tanto veneno quanto ela, mas preocupavam-se mais em rebolar e garantir que Melanie andasse à sua frente do que causar impressão. Lilly quase teve pena delas – pareciam dois escravos, mas faziam aquilo de boa vontade, numa lavagem cerebral daquelas.

Lilly começou a achar o trio tão ridículo (depois que seu lado racional a tirou do transe do olhar gélido) que largou uma risadinha abafada, olhando para as próprias mãos.

Stephanie parecia ter levado um tapa na cara, de tão arregalados que seus olhos estavam quando ela se virou de súbito para Lilly. Seus olhos diziam claramente: TÁ LOUCA?! Ao que Lilly respondeu arqueando as sobrancelhas e dizendo, em voz alta:

- Que foi?! Eu deveria ter medo dos manequins aí!? – e então começou a dar risada. Zick olhava para ela como se tivessem descoberto que ela tem uma doença incurável e fosse morrer. Lauren sorria e olhava de Melanie para Lilly, parecia estar gostando da situação.

Melanie, por sua vez, começou a apertar as mãos com tanta força que uma unha sua (postiça, veja que surpresa!) descolou e fez um pequeno “plec” que atraiu todos os olhares para lá. O ônibus já havia se enchido mais antes que ela entrasse, e assim que as pessoas viram que suas unhas perfeitas eram uma farsa, começou o burburinho. Agora era Lauren quem escondia o riso, e até Zick começava a achar graça. Stephanie estava boquiaberta, Diego ainda parecia preocupado com a sanidade mental de Lilly.

Melanie escondeu as mãos e olhou para Lilly, como quem poderia matá-la:

- Você deve ser a nova garota, bem que me disseram que era uma caipirona sem estilo algum.

- Oh, falaram tanto assim de mim até chegar aos seus ouvidos?! Wohoo, fiquei famosa sem fazer nada! – Lilly respondeu, sorrindo, irônica.

Aquilo pareceu amolecer Melanie, mas na verdade só fez com que ela se disfarçasse de fofura novamente. Se abaixou até ficar na altura de Lilly e disse, com voz de veludo:

- É melhor tomar cuidado com o que fala, engraçadinha. Eu posso fazer de sua vida um inferno.

A garota cheirava a perfume francês e aquilo a fez lembrar de sua mãe, torceu o nariz por causa do cheiro. Lembrar de sua mãe a recordou de seu pai e ela não se deu ao trabalho de responder Melanie, preocupada com o que teria acontecido à Tom para que ficasse de cama.

Melanie bufou na sua cara e se dirigiu ao fundo do ônibus, donde algumas crianças assustadas saíram correndo para que ela e suas capangas sentassem. Assim que o barulho de conversas se restaurou no ônibus que prendera a respiração por um momento, Lauren segurou uma Lilly bem aérea pelos ombros e gritou, sacudindo-a

- ISSO - FOI – DEMAIS!!! Caramba, eu nunca enfrentei a Melanie desse jeito!! Eu nem sei porquê...

- Você enfrentou sim, Laur. E ela deu o troco, se bem me lembro. – Disse Diego, com o cenho franzido.

Aquilo pareceu sugar a vida de Lauren. Ela apenas olhou para baixo, cruzou os braços e se encostou no banco, afundado mais que Chad.

- Desculpa, Laur... – Diego sussurrou – Mas o ponto é que Lilly não sabe do que aquele monstrinho é capaz. Acho que você acabou de se ferrar.

Lilly agora estava com medo. Sempre era sarcástica e forte por fora, mas era também um coelhinho assustado. Ela não entendia como aquilo funcionava, mas ela dizia as respostas na cara das pessoas como se não estivesse apavorada. Era coragem de fazer alguma coisa que ela nem queria fazer. Olhou para Diego, Zick e Lauren e disse baixinho uma frase que deveria mostrar uma fortaleza:

- Eu não tenho que ter medo de um manequim ambulante.

Era a primeira vez que seu lado frágil saía expresso no seu lado agressivo, e isso a deixou bem confusa. Sempre tivera a imagem de forte e segura, e havia se acostumado com essa máscara involuntária. Contudo, sentiu que já confiava bastante nos seus novos – amigos?! – para que não tentasse refrasear.

Quando olhou pela janela, percebeu que já chegara ao seu destino: um prédio grande e azul que fez Lilly sorrir: não lembrava nada sua antiga escola, que parecia um hospício por ser completamente branco.


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