Lorena havia voltado da feira de adoção e encontrou um bilhete de Patrick sobre a mesa da cozinha.

“Loren, minha avó passou muito mau noite passada, por isso hoje vou ficar com a velhinha. Cuidado pra não perder ou esquecer sua chave caso saia, se não você vai ter que ficar ao relento. Kisses Patrick.”

Ela então vai para seu quarto e fica um pouco na internet. Sente fome e lembra que devia ter alguma barrinha de cereal na sua bolsa. Ao procurar encontra o bombom que Tales havia lhe dado alguns dias atrás. Olha para o bombom e sorri, se repreendendo em seguida.

– Não Lorena não! Já não basta tudo o que você passou com o Fernando?

Ela se levanta e vai até o espelho. Levanta sua blusa e olha uma cicatriz que tem próxima a sua cintura. Não é tão grande e nem tão pequena, mas é bem perceptível.

Seus olhos se enchem d’água. A cada vez que vê aquela cicatriz é como se visse o mesmo filme triste diante de seus olhos novamente.

Assim que chegou à cidade conheceu Fernando. Ele era lindo, como Patrick diria, o sonho de consumo de qualquer garota. Era alto, moreno, os olhos em um castanho bem escuro, quase preto e um tribal tatuado no braço forte.

Na época Lorena trabalhava como vendedora em uma loja de roupas. Fernando ia praticamente todos os dias lá só para vê-la. Depois de muito insistir conseguiu convencer a garota a sair com ele. Logo de cara ele tentou beija - lá, mas ela recusou. Ele gostou do primeiro desafio que teria, já que nenhuma mulher o esnobava. Tratava Lorena como uma verdadeira princesa. Abria a porta do carro, nunca deixava ela dividir a conta, muito menos pagar sozinha. Em certa noite, percebendo que Lorena realmente não era fácil como as mulheres que ele estava acostumado, decidiu pedi - lá em namoro.

A garota que já estava encantada por ele não recusou e então finalmente ele conseguiu beija - lá. Teve certeza absoluta de que foi o primeiro cara que ela havia beijado, mas preferiu não falar nada, afinal seria o mesmo que jogar fora todo o esforço que teve para ficar com ela.

Lorena estava realizada. Nem ela acreditava que estava namorando um cara tão perfeito. Os meses vão passando e Fernando tentar finalmente convencer Lorena a transar com ele. Ele tem certeza de que ela é virgem, por isso mesmo não quer perder esse troféu que o destino colocou em seu caminho. Ele insistiu, até que finalmente conseguiu. Lorena cedeu achando que Fernando era o homem da sua vida. Apesar da dor inicial, aquela foi uma noite perfeita para Lorena, afinal agora ela tinha mais certeza ainda de que Fernando a amava.

O tempo foi passando e aquele Fernando gentil e carinhoso foi ficando diferente. Seu beijo não era mais doce e na cama ele tratava Lorena como um objeto. Foi por esse comportamento que eles tiveram sua primeira briga e terminaram.

Lorena chorou por uma semana seguida, estava ferida, magoada. Fernando foi o primeiro homem em sua vida em todos os sentidos e agora por uma briguinha boba tudo acabou. Foi aí que tomou uma decisão. Ia pedir desculpas por tudo e ia pedir pra voltar com ele.

Colocou sua melhor roupa, se perfumou com um perfume que Fernando dizia adorar e foi até a casa dele. Fernando morava em uma avenida bem movimentada e o barulho era constante e diário.

Ela tocou a campainha por duas vezes, mas não foi atendida. A luz estava acesa, tinha alguém em casa. No impulso ela mexeu na maçaneta e a porta abriu.

A casa parecia vazia, mas ela podia ouvir que tinha alguém lá. Imaginou que Fernando estivesse em seu quarto e foi até lá. Encontrou a porta encostada e por um reflexo do espelho do guarda roupa pode ver que Fernando estava com outra garota na cama.

Na hora seus olhos ficaram marejados e ela tentou sair de lá sem ser vista, mas quando virou-se acabou derrubando um enfeite que estava na estante.

Ao ouvir o barulho Fernando se enrolou no lençol e foi atrás dela, chegou a segurar seu braço, mas Lorena se soltou e saiu correndo feito louca para a rua. Estava totalmente desorientada quando uma moto a atropelou e a jogou a metros de distancia.

Já no hospital não conseguia se lembrar de nada. Quando conseguiu abrir os olhos encontrou Patrick ao seu lado.

– Loren graças a Deus!

– Ah quanto tempo eu to aqui Patrick?

– Oh minha flor, você não se lembra de nada?

– Não sei, vejo uns flashs, mas tudo muito confuso.

– Você estava saindo da casa daquele filho de uma égua do Fernando quando uma moto atropelou você. Você ficou três dias em coma induzido. Os médicos disseram que do jeito que você chegou seria um milagre você sair sem nenhuma seqüela, mas graças a Deus você está bem.

Lorena poderia ter morrido aquele dia, morrido por alguém que não valia nada, por um sentimento que só então ela percebeu que não valia nada.

Ela não teve seqüelas, entretanto a batida da moto em seu corpo havia lhe deixado para sempre uma cicatriz e cada vez que olhasse para ela se lembraria de o quanto foi ingênua. Se deixou enganar pelo coração, por palavras bonitas e gestos falsos.

Aquela cicatriz não era nada comparada ao seu coração, que se despedaçou de tal forma que até hoje ela não conseguiu juntar os pedaços.

Não confiava em mais homem algum, com exceção de Patrick, se bem que para ela Patrick era um ser que havia nascido no corpo errado.

Desde o acidente ela nunca mais procurou por Fernando e esse muito menos por ela. O que ele queria já havia conseguido.

Nunca mais se envolveu com homem algum. Se dedicava unicamente ao trabalho, campanhas voluntárias e agora aos estudos. Não sentia necessidade de estar com alguém. Ela já sabia que sairia machucada e não desejava mais aquela dor, preferindo ficar sozinha. Ela sabia que tinha um coração, mas esse nunca mais seria dado a ninguém, nunca mais.