Tales se mostrou bem sangue frio nos dias que seguiam. Não queria mostrar para Júlia que ele estava em pedaços, não, ele não daria esse prazer para ela, que nem se deu ao trabalho de perceber que não existia mais foto alguma dos dois pelo apartamento. Mas ele já havia planejado tudo o que faria.

Faltando dois dias para o casamento Júlia resolveu perguntar sobre a viagem de lua de mel. Ela queria ir para a Argentina, tinha alguns parentes lá e gostaria de vê-los. Ela falava com as paredes, pois Tales não lhe dava a menor atenção.

– Tales, ta me ouvindo? Parece que ta na lua!

– Claro que estou ouvindo, não sou surdo. Ouço e “enxergo” muito bem.

– Então, vamos pra Argentina né?

– Você vai pra onde quiser Júlia.

– Como assim vou pra onde quiser? Não vou viajar sozinha né, preciso saber sua opinião.

– O que te faz pensar que minha opinião vale de alguma coisa?

– Você está estranho, o que aconteceu?

Tales ri irônico e levanta do sofá.

– Estranho eu? Tem certeza Júlia?

– Tenho você nunca me tratou assim com essa frieza toda.

– Nisso você tem razão, nunca te tratei assim, sempre te tratei muito bem, mas o que eu ganhei com isso? Nada! Ou melhor, ganhei sim. Um belo par de chifres!

– Não sei do que você está falando Tales. – diz Júlia nervosa.

– Tem certeza Júlia? Não precisa mais fingir eu sei de tudo.

– Tales, não sei o que te disseram, mas garanto que é mentira.

– Cala a boca Júlia, ninguém me disse nada, eu vi! – diz com seus olhos ardendo de ódio. – Vi você aos beijos com um cara em um restaurante, eu vi.

– Mas... Como? Você deve ter me confundido com outra pessoa.

– Acha mesmo que sou tão idiota a ponto de confundir a minha noiva há três anos com outra garota qualquer? Era você Júlia, não minta mais pelo amor de Deus! Eu só não entendo uma coisa. Se você não estava feliz comigo, porque deixou eu ir adiante com essa maldita história de casamento? Por quê?

– Eu não queria magoar você.

– Não queria me magoar? E como você acha que estou agora, feliz? Realizado?

Júlia senta no sofá e chora. Tales está com os punhos fechados, um na testa e outro na parede. Ele fica assim por algum tempo e volta a falar.

– Comprei móveis, corri atrás de um apartamento melhor, pra que? Agora eu entendo porque você me evitava, já estava saciada não é mesmo?

– Não é nada disso...

– Pára Júlia, pára. Ou você quer mesmo que eu acredite que você nunca foi pra cama com aquele cara? Que você estava naquele restaurante obrigada? Que você estava fingindo? Meu Deus, como fui tão idiota, como?

Júlia ainda chorando se levanta e vai até Tales, tentando abraça-lo.

– Sai, não encosta em mim. Não quero te ver nunca mais.

– Mas Tales, o casamento é daqui a dois dias.

– Dane – se.

– Você não pode fazer isso comigo Tales, o que minha família vai pensar o que todo mundo vai pensar?

– Pouco me importa. Fala a verdade! Fala que eu te peguei com outro e cansei de ser brinquedinho seu. Eu não vou aparecer naquele maldito cartório e muito menos na igreja Júlia. Entenda de uma vez que você acabou com tudo. Acabou com a confiança que eu tinha em você, com o amor que eu sentia por você, tudo. Você preferiu jogar tudo pro alto por uma aventura que ainda vai te custar muito caro, pode ter certeza.

– Tales, me perdoa, não foi por mal, aconteceu.

– Aconteceu? Não me diga! Porque não abriu o jogo comigo então? Eu ia sofrer, mas ao menos você estaria sendo sincera, usando o pouco da dignidade que pensei que você poderia ter. Chega Júlia, acabou, some da minha frente e não volta nunca mais, nunca mais quero olhar pra sua cara. Sua... Vadia. – diz com os olhos vermelhos.

– Tales...

– Some daqui! – grita a empurrando porta a fora.

Cinco anos se passaram e desde esse dia Tales nunca mais se envolveu com mulher alguma. Tinha casos de uma noite apenas. Não queria mais compromisso e era sempre frio com qualquer mulher que se aproximasse dele. Pra ele todas eram iguais, mais cedo ou mais tarde o fariam sofrer e antes que isso pudesse acontecer, ele decidiu que o faria primeiro. Seu coração nunca mais foi o mesmo e ele nem sabia se um dia poderia voltar a ser.