Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

POV Mika.

... chegando ao fim, gente... de Salvation e de minha tese tbm!!! rs..


espero q gostem :)



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Quando Gabriel saiu pela porta, eu quis morrer... de novo. Meu corpo tremia violentamente e as lágrimas quentes molhavam o chão. Minha primeira reação foi querer ir atrás dele, pará-lo, impedi-lo, mas eu sabia que não poderia. Não poderia porque era dia, não poderia porque ele tinha de fazê-lo. Mas meu coração sabia que nunca mais o veria de novo.

As horas seguintes foram como a morte, ou pior, como a antecipação da morte, porque, pior que morrer, é ficar impotente a espera do momento final. Eu não sabia o que faziam a Anjos que transgrediam as regras sagradas, mas eu sabia que Gabriel seria um condenado... condenado por me amar.

Ele tinha sido minha salvação, meu verdadeiro Anjo, e agora estava em perigo... não, isso não podia, não iria acontecer. Eu o amava demais para deixa-lo sozinho. Gabriel me amou, me protegeu, me mostrou o que eu jamais sonhei que pudesse ter outra vez e eu não poderia deixa-lo ser punido por minha causa e não iria.

- Ou não me chamo Michaela. – resmunguei pra mim mesma, cerrando os punhos.

Rapidamente eu me vesti e coloquei as roupas na mochila que ele comprou – todas as roupas, as minhas e as dele. Com o iphone, comecei a pesquisar pela internet sobre anjos, Filhos da Luz, templos sagrados. Eu queria encontra-lo, mas não sabia onde. Não consegui nada online, todas as informações estavam muito misturadas com as crenças e lendas que os humanos cercavam os assuntos que lhes eram desconhecidos.

Reuni todo o dinheiro que tínhamos e esperei. Assim que o sol se pôs, eu desci e fiz o check out. Andei pela rua apressada e logo fiz sinal para um táxi que passou. Céus, eu não fazia a menor idéia de pra onde ele tinha ido. Provavelmente tinha alçado voo rapidamente e eu não poderia rastreá-lo por terra. Eu estava perdida, mas não derrotada, nunca desistira de Gabriel e seria capaz de ir ao inferno para trazê-lo de volta.

Ordenei ao taxista que me levasse ao aeroporto, na outra cidade. Durante o silencioso trajeto, no qual o cara não parava de me secar pelo retrovisor, eu só pensava nele, no meu Anjo. Que inferno, ele não podia me deixar! Ele era o meu sol, a minha luz, meu tudo.

Inconscientemente, peguei o celular descartável que ele mantinha na mochila. Os dedos deslizaram rapidamente entre as teclas e a voz de Gabriel ainda ecoava em minha cabeça, dizendo pra eu ser uma pessoa melhor. Eu senti aquela coisa morna e estranha no peito e quando pensei em desligar, ouvi a voz de minha tia Annelisse no outro lado da linha.

- Alô?

Demorei uma fração de segundo para responder.

- Ah... Annelisse?

- Michaela? Que bom que ligou! Aconteceu alguma coisa? – a voz dela tinha uma nota real de preocupação.

- Não, está tudo bem, eu só... só queria... agradecer por... tudo. Sabe, o jantar, a festa, a recepção. Eu... é... obrigada.

Ouvi uma fungada discreta e o som característico de alguém emocionado.

- Minha menina, você é minha sobrinha. Eu te amo muito, Michaela, e minha maior felicidade depois de todos esses anos foi poder rever você.

OK, admito, eu tive que engolir o nó em minha garganta. Era essa coisas de sentimentalismo idiota que Gabriel tinha colocou em mim novamente, era tão mais fácil sem isso...

- Ah.. bom, eu só liguei pra dizer que vou ter que sair por alguns dias. Foi... foi um problema urgente no trabalho.

- Ah, que pena! Mas eu espero que tudo se resolva logo. – ela disse.

- Sim, eu também. Bom, é só isso eu... volto a ligar em breve. – Nossa, eu disse mesmo aquilo?

- Mika?

- Sim?

- Eu te amo. – Annelisse disse com uma sinceridade tão profunda que me tirou o ar. Foi como ouvir minha mãe falando.

- Eu... eu volto logo, tia. – foi o máximo que consegui responder.

Depois daquela bizarra conversa - normal - com minha tia, levei algumas horas para chegar ao aeroporto e o taxista inconveniente ficou com boa parte do dinheiro que eu carregava comigo. O local estava cheio e eu perambulei sem rumo por um tempo. Essa espera, essa ociosidade por uma resposta, eram enlouquecedoras. Parei em frente ao painel principal, onde anunciavam os voos que sairiam, os destinos, os horários.

Havia uma imensidão de possibilidades, de rotas, de lugares, havia um mundo inteiro para onde ele poderia ter ido. Minha mente sabia que provavelmente não estava no país. Anariel levou alguns dias para chegar ao conselho e pela velocidade que eu sabia que poderiam alcançar, esse lugar sagrado devia ser fora daqui. Além disso, eu duvidava que parassem para descansar, o “chamado” me pareceu urgente demais pra isso. Mas a questão era... onde?

- Ai, Gabriel... onde você está?

Meu sussurro foi baixo e lamurioso. Sinceramente eu esperei por uma resposta, mas minha mente sabia que não viria, afinal, quem poderia me ajudar sobre aquilo? Foi então que eu pensei na coisa mais absurda de todas. Bom, Gabriel disse que eu era filha da um Anjo e, pelo o que me pareceu, era um Anjo bem importante. Se isso fosse verdade, então... então talvez eu também pudesse encontrar o tal lugar, talvez eu pudesse me concentrar em encontrar os Filhos da Luz e o lado angelical de meu pai poderia me guiar até eles.

- Eu devo estar louca, só pode!

- Como é?

Virei para o lado e um senhor me encarava sorridente e confuso.

- Ah... nada eu, falei sozinha mesmo. – respondi meio que andando para me afastar daquele incômodo velho sorridente.

- Bom, você vai pra onde? – ele perguntou me seguindo.

Ai, agora só me faltava essa...

- Eu não sei ainda. – respondi sem parar de caminhar.

- Eu vou para Londres. Sabe, sempre adoro ir até lá. Meu pai era de lá e meu avô e o avô dele e eu também.

- Ah, senhor, é muito interessante, mas eu estou meio ocupada agora, se me dá licença...

Eu virei depressa, querendo me livrar do velhote, e esbarrei em algo, ou alguém. Seguiu-se um barulho alto de várias coisas caindo no chão. Era uma moça, magra e de óculos com a maior cara de nerd. Várias de suas coisas caíram pelo chão com meu esbarrão, inclusive a coitada, que deu de bunda no chão.

- Droga! – resmunguei alto, fechando a cara. Essas pessoas estavam me tirando do sério.

- M-me desculpa...

A voz da magrela saiu nervosa e trêmula. Minha nossa, parecia até que tinha sido ela quem esbarrou em mim! Começai a sentir novamente aquela coisa em meu rosto, será que eu estava ficando vermelha? Senti uma queimação na face e fiquei encabulada. Não podia ser... eu estava me sentindo culpada, era isso?

As palavras saíram de mim antes de eu pensar.

- Me desculpa.

A menina arregalou os olhos e eu fiz o mesmo. Bom, já que estava agindo como uma menininha boazinha era melhor eu terminar o trabalho de uma vez. Comecei a catar as diversas coisas espalhadas pelo chão enquanto a babaca da garota ficava me olhando incrédula, como se não acreditasse que eu estivesse mesmo ajudando-a – nem eu acreditava naquilo!

O velho sorridente foi ajudar a garota a se levantar e algumas poucas pessoas também ajudaram a recolher a papelada que se espalhou. O que aquela menina era, bibliotecária, por acaso?

Então eu me abaixei para catar o último papel do chão. Não era um papel comum, no entanto, era um mapa. Um mapa da Europa. OK, eu já tinha visto um mapa antes , pessoalmente, já tinha até viajado pra lá uma vez na infância com minha mãe, mas de alguma forma, aquele desenho me prendeu. Levante vagarosamente, encarando o papel em minha mão e pouco antes de entregar a quem pertencia, eu vi um ponto brilhar. Foi intenso, apesar de rápido, não deve ter levado mais que uma fração de segundo, mas eu vi. Brilhou bem ali, na minha frente, no pedaço do papel que correspondia um lugar qualquer na Itália. E eu soube, dentro de mim, que era pra lá que deveria ir.

Entreguei as coisas pra garota e nem esperei ouvir o agradecimento – ou o xingamento dela. Corri até o balcão de atendimento e entrei na pequena fila. Quando chegou minha vez eu perguntei qual era o próximo vôo pra Itália. A atendente me deu várias opções, mas não pude escolher nada até o dia seguinte, pois todos os voos chegariam ao destino na parte da manhã. Então comprei uma passagem para a noite seguinte e saí a procura de um hotel para passar o dia.

...

O vôo transcorreu sem problemas e cheguei ao destino quase oito horas depois. Eu precisei encontrar um hotel para passar o dia, que já voltava a clarear – essa era uma das partes chatas em ser um filho do pecado. Eu estava começando a ficar um pouco nervosa, já faziam quase dois dias que eu tinha me separado de Gabriel e a essa altura ele já devia estar bem perto do lugar sagrado. Eu tinha que agir rápido.

Bom, eu decidi tentar mais uma vez o mapa. Pedi a recepcionista do hotel um guia do país e ela me entregou um mapa completo, além de diversas cartilhas e folhetos. Sentei em uma mesa no hall e fiquei apenas olhando para o enorme papel. Vi os pontos turísticos mais comuns e também outros lugares que pareciam interessantes. Peguei a cartilha com todas as igrejas do país – e cá entre nós, quantas igrejas existem naquele lugar!

Passei umas boas horas vasculhando tudo, tentando achar uma ligação com o Templo onde os Filhos da Luz poderiam estar, mas não consegui nada. Estava ficando sem esperanças, angustiada. Então eu decidi tentar a sorte mais uma vez. Peguei a cartilha nas mãos e apertei contra o peito. Naquele instante eu não pensei em nada, não pedi nada, não falei nada. Apenas me concentrei em Gabriel e no meu amor por ele.

Então eu abri o pequeno caderninho em uma página aleatória e deparei-me com duas igrejas, ou melhor, uma igreja e uma capela, uma em cada página. A igreja era linda, eu tive que admitir. Grandiosa, austera, imponente. Ficava em uma cidade vizinha e parecia o paraíso dos turistas católicos. Na outra página, estava a capela. Era simples e ficava em uma cidade um pouco afastada do centro. Percebi que havia um belo campo em volta do pequeno lugar de paredes brancas e lisas. Não era nada mais que uma casa grande e antiga e, certamente, seria o último lugar que eu esperaria para ser um templo tão importante. Mas era. Eu sabia que era.

Quando olhei para aquela foto eu senti algo diferente e podia jurar que meu coração tinha acelerado um pouco. Eu precisava ir até aquele lugar de qualquer maneira. Informei-me melhor com a recepcionista e pelo horário percebi que, mais uma vez, ficaria impedida pela luz do dia, mas tomei todas as precauções para que na noite seguinte eu pudesse ir até lá.

E foi o que fiz. Na terceira noite do terceiro dia eu estava em um carro alugado, numa estradinha de terra batida e sentindo o cheiro da grama e do sereno a minha volta. Havia uma cerca que se estendia por um território tão imenso, que nem minha visão vampírica conseguia enxergar. E lá estava ela, a pequena e simples capela. Quando olhei, meu coração novamente acelerou, descompassado. Senti que Gabriel estava perto.

Estacionei o carro há alguns metros e fui andando na escuridão que me era tão cômoda. Tudo havia ficado no carro. Era apenas eu e minha necessidade urgente de ver se meu Anjo estava bem. Andei sorrateira, aproximando-me do lugar. Por um mínimo instante, fiquei assustada. Se era ali que Gabriel estava, provavelmente ali seria o meu túmulo, porque nem mesmo ele poderia me salvar de seus superiores, apesar de eu ter certeza de que ele tentaria ao máximo. Esse pensamento me fez sorrir. Era tão estranho e bom sentir aquilo, sentir que alguém daria a vida por mim, assim como eu daria a vida por ele, sem pensar.

Sem mais, cheguei à entrada da capela. Vi Anariel parado junto a uma enorme cruz dourada. Ele estava espantado e visivelmente triste. Ouvi de relance palavras como desprovido e asas. Havia um círculo e essas palavras saíram das pessoas que o formavam. Eram Anjos, lindos e magníficos Anjos de asas enorme e cristalinas. Por um momento eu me perdi na beleza e perfeição daquelas figuras.

Mas então, vi Gabriel levantar a cabeça, ainda ajoelhado no meio do círculo sagrado. Ele disse:

- Eu sei que vocês nunca poderão me compreender e entendo e respeito sua decisão. Não tenho arrependimentos, não sinto remorso. Eu aprendi com o Pai que quando seu coração comanda suas atitudes, então suas atitudes são o certo pra você. Eu amo e sempre vou amar Michaela e por isso, aceito humildemente minha sentença.

O silêncio mais profundo caiu sobre o lugar. O que, ele... ele iria perder as asas? Era isso? Eu tinha entendido bem? Gritei, o mais alto que pude. Gritei para que parassem, gritei para que me ouvissem:

- Não! Por favor, não façam isso!


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Notas finais do capítulo

O próximo cap vai ser beeem curtinho, mas mto importante! Aguardem.


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