A minha mãe viu que precisávamos conversar a sós e saiu, meio desconfiada.

--- O que está dizendo, Angel? – Eu perguntei, assustada.

--- Peter deve ter voltado para a organização. Ele disse que sem você, ele não tinha mais motivos para não continuar lá. Na “escuridão” dele. – Angel riu. Era uma risada sonora e rouca. –Menino problemático...

--- Ora, Angel, não tem motivo algum para rir. Peter está sendo imbecil fazendo isso. – Eu disse, entediada. Além de mim, agora Peter, que me segurou por todo este tempo, estava ficando louco.

--- É isso, Charllottie. Eu soube que ele confessou tudo o que nós éramos. Não me leve a mal. Eu quero ajudá-la a procurá-lo. Eu sei exatamente onde ele está. Comigo, não vai demorar muito para encontrarmos ele. Sem mim, talvez você nunca o encontre. Eu... fui amiga dele. Não quero que ele se dê mal. Sabe, eu era muito jovem naquela época. E me equivoquei. Não sou mais a mesma. Fiquei mais quieta agora. E não quero aquela vida para ele. – Angel riu de novo. Eu achava meio psicopático aquelas risadas dela de vez em quando. Mas, afinal, como Peter a tinha descrito, ela já tinha sido muito cruel e impiedosa. Ou ainda era.

--- Hm... – Eu fitei o chão. 

--- A há há há há. – Angel soltou uma risada sonora de novo. Rouca- Não se preocupe, eu não sou mais aquela assassina de quem Peter teceu uma caveira para você. – Ela me pareceu sincera. Talvez ela tenha mesmo sido abalada psicologicamente por tudo aquilo.

  Eles tinham apenas quinze anos quando foram confrontados por várias coisas diferentes do seu mundo adolescente. Mas o fato de ela ter parecido ler meus pensamentos sobre o que eu estava pensando dela, me impressionou. Fiquei mais atenta.

--- Hum, bem, eu vou aceitar. – Eu disse, rindo falsamente. Ainda não confiava nela. Ela me era estranha. Talvez eu não fizesse parte de seu mundo. Ainda bem que meu sorriso falso era bem real.

--- Lottie, eu... – Sam abriu a porta de repente e adentrou a sala. – O que essa mulher está fazendo aqui, Lottie? – Sam a fitou, com os olhos semi-cerrados.

--- Olá. Samanta Stranger. Você... Ficou de vir aqui hoje? Eu não sabia. Me desculpe. Não vou mais incomodar. – Angel olhou para Sam, simplesmente abaixou a cabeça e abriu a porta saindo.

--- Hum... Olha quem está bem receptiva e social. Senhorita Angel. Parece que alguém tem duas personalidades. – Sam disse me olhando dos pés a cabeça para saber se eu estava bem. Ela não confiava mesmo em Angel.

--- Sam, eu estou bem. Angel é mesmo esquisita. E... Ela quer me ajudar a encontrar Peter. – Eu fechei os olhos e a boca para ouvir o escândalo.

--- O quê? Você quer ser morta? – Ela disse, aos gritos.

--- Sam, isso aqui é uma droga de hospital, você poderia não gritar e controlar seu  maldito estrogênio? –Murmurei. –Ah, e todos gostariam de saber que somos pessoas doidas que acham que estão sendo perseguidas por uma organização secreta do mal.

--- Eca, Lottie! – Sam esbravejou baixo.

--- Isso mesmo, Sam. Não grite! – Eu disse, em meio riso.

--- A há há há há há há há!!!!!!!!! – Sam gritou.

--- Oh, meu Deus! – Eu sussurei. –Porque não aprendi psicologia reversa com cachorros... –Revirei os olhos - Se vierem aqui e te prenderem, eu juro que finjo que estou dormindo profundamente.

--- Lottie, não vai na onda dessa louca, não é? – Sam disse.

--- É a única pista concreta que tenho de Peter. Não posso ignorar. – Eu disse.

--- Lottie! Não faça isso! – Sam quase aumentou o tom de novo, mas cessou a gritaria quando eu coloquei o dedo na boca fazendo um sinal para que ela fizesse silêncio.

--- Ah, por favor, Sam, seja razoável. Você acha que se a Angel tivesse uma vida de crimes hoje em dia a polícia já não a teria prendido, considerando que ela não faz mais parte de uma organização de proteção contra criminosos? – Eu disse, em sussurro. Não queria que Sam aumentasse o tom.

--- Vou contar a verdade a todos se você for com ela. – Sam disse.

--- Não faria isso se depois eu nunca mais te olhasse na cara. – Eu disse, seriamente.

--- Ah, tudo bem, se quer morrer nas mãos de uma serial killer, tudo bem. – Sam fez um sinal de O.K.

--- Não vou morrer. Sam, em que mundo de fantasias você vive? É claro que ela não é um bicho papão. Ela já foi treinada para matar, mas o que ela poderia ter contra mim? Ela nem me conhece. Eu não seria seu alvo... Ela apenas está querendo se redimir com o Peter. – Eu disse.

--- É... – Sam estava se convencendo.

--- Já sei. Vamos comigo? – Eu disse.

--- Eu? – Sam indagou. –Olá, muito prazer, eu sou Sam e acabei de fazer um algazarra para que você não fosse se matar por ai. –Ela disse, de olhos arregalados. As orbes verdes quase me engoliam.

--- Sim. É brilhante. Minha mãe vai ficar mais tranquila com essa ideia. Além disso, olha que lindo, se Angel for assassina, você e eu morreremos juntinhas. E você, antes um pouco de morrer, vai saber quem estava certa. Nós fazemos as pazes e morremos juntas sabendo se ela era assassina ou não. O que acha? – Eu disse, sarcasticamente.

--- Tudo bem. Vou adorar ver sua cara contrariada. – Sam riu maliciosamente.

--- Cale a boca, S- Fui interrompida.

--- Ora, Lottie, não vai me mandar calar a boca de novo não é? – Sam disse, rindo. –Você mesma disse que não adianta.

 --- É.