Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 18
Cap. 18: Acordada Novamente.




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Abri os olhos, devagar. Uma brisa leve entrava pelos buracos não preenchidos pela janela do hospital. A luz estava aquela de início de manhã. Fraca e constante.

  A única coisa que eu mexia eram os olhos. Corria-os pela sala toda branca que estava iluminada pelo sol que contrastava com o céu dando um tom verde claro à sala.

  Só via parelhos de plástico perto do meu rosto e me sentia completamente imponente para dizer, fazer, ou entender algo.

  As coisas eram bem confusas. Era como se eu existisse mas meu cérebro dissesse que não era para eu existir mais.

  Como se ali, apesar daquele mundo ser tão velho para mim, não fizesse mais um sentido completo estar ali. Como se não fosse o meu lugar.

  Sentia como se o vento fosse me levar. Sentia-me fraca. Mais fraca que ele.

E podia ouvir seu som mais limpo. Assim como nunca mais havia parado para ouvi-lo em minha vida, depois da morte de meu pai.

  De repente ouvi uma voz sonora e identifiquei Samantha na porta a me olhar, atônita.

--- Lottie! –Ela sorriu pondo a mão no rosto.

  Pareceu uma fada, doce como era. Porém quando Sam chegou perto, vi uma pessoa diferente. Uma postura não ereta, olheiras se desenhando em seu belo e angelical rosto. Os cabelos estavam sem vida. Os olhos perdidos em pensamentos longínquos.

 

  E de repente minha mãe entrou na sala. Com um ar tenso. Ela pôs a mão na boca, como Sam. Olhou-me, atônita. Então chegou perto de mim, admirada.


          --- Que... Bom te ver acordada, filha. – Disse ela. –

  Afagou meu rosto como se eu fosse tão sutil como uma pena e pudesse ser despedaçada em segundos.

  Olhei-a nos olhos. Percebi que a estava matando. Assim como a todos a minha volta.

  O médico entrou.

 --- Ela teve um “ataque”. –O médico se aproximou de nós. - A doença está em um estágio avançado nela. Parece que a quimioterapia, não vai bastar. Ela precisa de uma medula. E precisa urgentemente. –Ele disse para minha mãe. –Ela tem sorte que sua leucemia é crônica, pois se fosse aguda, ela já estaria morta há um bom tempo... Vocês deveriam tê-la trazido aqui imediatamente... –Ele estranhou.


--- Ela é muito teimosa. Não queria vir ao hospital doutor. Então, como a minha própria filha ameaçou me processar se eu não a  deixasse morrer em casa, pelo menos contratei um médico particular. Mas ela não estava reagindo a quimioterapia. – Eu teria feito uma careta, se estivesse
bemacordada. –Então... A nossa única esperança é o transplante?

--- Sim. E o transplante tem que acontecer logo. Pois a doença está avançando cada vez mais. Diria que, ela tem vinte dias para achar um doador. –Ele disse, muito sério.

--- Tudo bem. –Minha mãe estava me olhando fixamente e lágrimas caíram de seus olhos.

Aquilo me fez ver que eu a estava matando também, apesar de tentar não me importar.

--- Parece que a quimioterapia fez alguns de seus cabelos caírem, mas, se ela afinal não vai fazer quimioterapia, não precisamos raspar sua cabeça. –O médico disse lentamente. –Se quiser, pode ficar com seu couro cabeludo assim, meio sem cabelos.

--- É... – Sam disse. Percebi que ela cochichava com minha mãe.

  Ouvi o nome de Peter.

--- Pe... ter veio... Aqui? –Consegui, com muito esforço, falar devagar.

--- Sim. Não. –As duas balbuciaram em uníssono.

--- Mãe... Quanto tempo fiquei... –Uma falta de voz me fez parar antes de terminar a frase.

--- Cinco dias. –Sam disse.

--- Ah... –Eu murmurei.

--- Bridget está vindo para cá. – Sam disse. - Você vai aceitar o transplante.

--- Sam...–Disse, me esforçando para fazer valer a minha vontade.

  Naquele momento tudo o que eu queria... Tudo pelo qual eu clamava a tanto tempo, viria rápido. Sim, pois eu estava desfalecendo muito rápido. Dores já eram comuns. Apesar de doer muito na região da minha barriga, eu não tinha forçar mais nem para me importar. Estava sofrendo. Agora de verdade. E não havia nada, em nenhum momento de minha curta vida, que eu almejasse mais que a morte.

  Porque além da dor psicológica, agora a física me afetava. Saber que vai sair de uma doença grave, é bom. Mas saber que vai sair de uma dor, para entrar noutra dor, mais infinita ainda, é ruim. Além da minha vontade de viver ter sido drasticamente abalada depois da morte de meu pai, tinham vindo todas essas decepções. Decepções essas que nunca desapareceriam de minha mente. Então a doença não era tão ruim. Era a chance de ver meu pai. Sempre havia pensado que quando a morte chegasse para mim a única coisa que seria boa era vê-lo. Aliás, isso no auge de minha crença em algo. Agora eu só via a morte como o descanso. Como um papel branco limpo que apagaria a lama na qual eu estava toda enfiada, até a cabeça. Sufocada, com dor, angustiada.

--- Não! Não, Lottie! Não tem por favor! –A fúria com que ela gritava e seu rosto amargo me davam pena.

  Sam limpou as lágrimas com o braço.

  Mamãe olhou-a, com um rosto estupefato e ao mesmo tempo raivoso.

--- Lottie... –Minha mãe se aproximou de mim, devagar.

  Ela tocou meu rosto novamente como se fosse sutil como uma pena.

--- Eu sei o quanto está sofrendo. Eu sei que você está cansada. Sei que está aguentando tanta coisa... Que poderia recorrer ao suicídio. Não é fácil descobrir que sua vida é uma grande mentira, logo após ter notícias de que tem câncer. Não é fácil perder tudo no que se acreditava, tudo que era sua base segura, quando mais se precisa dela. E eu, como sua mãe, que sei de todos os seus problemas quando criança, da sua dificuldade para com a morte precoce de seu pai, e tudo o mais, não posso deixá-la neste sofrimento que está ai dentro. Eu sinto tanto a sua dor, Lottie... –Disse ela, chorando muito.

  Olhei-a nos olhos e senti que poderia fazer qualquer coisa por ela. Mas um minuto depois as dores apertaram tanto, quanto uma faca em meu ventre. E então, naquele momento, meu cérebro dizia que eu ia morrer. E meus olhos queriam se fechar, para não ver mais aquilo. Estava desistindo.

--- Então... Eu... Faço qualquer coisa que você quiser. –Disse ela. –Só estando na sua pele, para saber o quão ruim é. Eu aceito a sua decisão. Eu... Aceito. –Disse ela, limpando as lágrimas.

--- Tudo bem, mãe... –Disse, sem forçar para expressar nada. Nem na voz, nem no rosto.

--- Por favor... –Sam murmurou, calma. Diferente de há alguns segundo atrás. –Posso ficar a sós com a Lottie por um segundo, Agh? –Perguntou ela, a minha mãe.

  Sam olhou-me com um rosto esperançoso. E eu me perguntava o que ela teria a dizer.

--- Tudo bem.

  Então saiu, devagar levando algo de esperança que eu tinha tido.

  Samantha chegou mais perto de mim. Suas roupas estavam desleixadamente moldando seu corpo. Um vestido verde e rosa. Em tons pálidos, caía, com cara de desajustado. Seus cabelos tinham a cara do desleixo e abaixo de seus olhos havia olheiras.

  Ela se aproximou lentamente com um sorrisinho triste e estranho. Em meio à seus dentinhos pequenos e muito brancos. Mas que agora apreciam um tanto amarelos. Sam era de um desleixo que eu nunca havia visto em minha vida nela.

  Olhou-me, com o rosto cansado numa esperança triste. Uma tensão evidente.

--- Lottie... Tenho algo para lhe dizer sobre o Peter.

  Apenas abri mais os olhos, surpresa. Não conseguia demonstrar bem, mas por dentro, com as forças restantes que eu tinha, algo foi ficando nervoso de novo.

--- Ele me falou umas coisas. Antes de você acordar. –Sam me olhou atentamente, como se quisesse me examinar, saber mais sobre o que eu achava daquilo.

--- Coi...sas? –Disse, pausadamente.

--- Coisas sobre a vida dele. Tudo que você o perguntava... –Ela agora ficara com um rosto soturno. Um olhar longe.

  A luzes do sol já começavam a transparecer devagar, com pouca iluminação, para dentro do quarto. Gerando uma luz fraca, como luz de tardinha em países tropicais. A manhã estava fria.

  Em meu sentido, lenta. Como se não passasse...

  O silêncio macabro de Sam me deixava perturbada. Cada segundo era como um pingo d´água me atingindo do alto. Como uma tortura. Mas minhas forças eram poucas demais para exigir a fala dela.

  Ela suspirou, e abriu a boca. Senti meu coração gelar. E dei uma piscada que se tornou uma meditação. Queria ouvir aquilo de olhos fechados. Sentia que o choque ia ser grande.



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Notas finais do capítulo

Isso mesmo, fale, Sam.



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