Hiato escrita por Tatau


Capítulo 3
De que adianta acumular tesouros[...]


Notas iniciais do capítulo

se a alegria não pode se comprar? Titulo do capitulo por Augusto Cury.



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A campainha tinha acabado de tocar, Georgia estava atrás de mim com os olhos inchados, ela fazia suas malas com um ódio que eu podia sentir mesmo não olhando para ela. Eu já sabia que isso ia acontecer, tinha me preparado mentalmente e emocionalmente para isso, mas pelo jeito ela estava pensando que me convenceria do contrário caso ameaçasse terminar comigo. Não foi uma das melhores discutições da minha vida tenho de admitir isso.

-Tom... Não é uma boa ho...

-Cretino!!!!- A voz fina de Georgia me fez encolher os ombros.

-Hora, não é mesmo uma boa hora- Falei meio entre dentes tentando não ser ouvido, mas Tom simplesmente empurrou a porta e olhou para Georgia, depois dela para mim como se estivesse me repreendendo por aquilo.

Tom nunca gostou muito de Georgia, achava que eu estava com ela só por ser uma modelo linda, acho que de inicio sim, mas ela se mostrou uma namorada que me apóia e sempre tenta me agradar, se não sentia amor por mais ninguém não via problema em estar com ela e aproveitar esses caprichos. E por mais que ele não gostasse de Georgia, naquele momento parecia estar do lado dela, pensando como seria ruim ser trocado por uma semimorta, arg, odiava saber que era assim que todos tratavam Luiza.

-Jogar coisas em Danny não vai adiantar Georgia, ele não vai mudar de idéia- Thomas disse se aproximando da mulher e colocando as coisas dela na mala que já estava aberta bem no centro da grade sala. Eu apenas observei enquanto a mulher me encarava com olhos tão fulminantes que poderia me diluir se tivesse algum super poder.

-Seu amigo, Thomas, seu amigo é um cretino! Ele já lhe contou quem vai morar com ele agora? Ahn?- A voz dela saia ríspida e eu a encarei com mais firmeza, eu podia aturar que me xingassem, não estava ligando pro meu auto estima nos últimos dias, mas se Georgia abrisse a boca para falar em voz alta o que pensava de Luiza eu não responderia por mim. Tom não entendeu a principio, eu não tinha contado a ele ainda. Aposto que quando descobriu que eu finalmente sai do hospital ele veio me parabenizar, até procurei por um presentinho debaixo dos braços dele.

-Como assim Daniel?- A pergunta veio mais como uma facada, eu o olhei tentando me desculpar, obvio que não seria forte o bastante de voltar para a minha casa se ela não viesse junto- Você vai... você..

-SIM, ELE VAI- A voz de Georgia estava começando a me irritar profundamente, eu a encarei com o corpo tenso, meus ombros já estavam doendo de tanto que meus músculos se tencionavam, meu punho se fechava sempre que eu sentia que a ameaça dos xingamentos não seriam para mim.

O suspiro de Tom foi pesado, mas ainda assim ele se dirigiu a Georgia e fechou sua mala.

-Não tem nada que você possa fazer, vamos..- Ele disse segurando no braço dela, minha ex-namorada, fazia cinco minutos. Com os olhos marejados ela saiu sendo arrastada por Tom e sem nem olhar para mim, eu agradeci por isso, minha mente chegava ao ponto de que podia ser mesmo fritado a qualquer instante.

Quando Tom voltou, depois de uma meia hora eu acho, eu permanecia na mesma posição. Sentado no sofá com a cabeça enterrada nas próprias mãos, meus olhos ardiam violentamente, minha cabeça latejava de um jeito que nem os milhões de ensaios que já tivemos poderia ser pior que aquilo. Pior que tocar era impossível, eu não conseguia nem dedilhar o violão sem o peso do objeto me fazer ceder, era como se eu não merecesse mais a música, ou qualquer tipo de inspiração se fosse do mundo. Será que estou exagerando demais com tudo isso? Tenho certeza que sim, mas uma vez ouvi dizer que os artistas sentem tudo multiplicado, aumentam sua felicidade assim como aumentam sua dor. O mundo pode ser tão colorido quando algo nos deixa feliz, e três mil vezes mais preto e branco quando algo acaba conosco.

-Danny, eu vou te apoiar, você sabe disso porque foi o que lhe disse há dois dias atrais no hospital- Tom tinha acabado de sentar ao meu lado, mas isso não fez com que eu erguesse meus olhos para ele- Por mais que eu ache tudo isso uma loucura, é isso mesmo que quer? Quer que ela venha morar na sua casa? Uma menina cheia de equipamentos e que nem ao menos está acordada?

Aquilo não soava de forma irônica, Tom estava mesmo querendo saber se era o que eu queria. Honestamente eu não sei, meu medo não era morar com ela, mas sim que algo desse errado, se ela acordasse e não tivesse a assistência necessária? E se ela nunca acordasse e eu morresse naquela casa antes mesmo do que ela? E se ela morresse debaixo do meu teto, será que me culparia mais do que já me culpava? Essa resposta eu já sabia, obvio que me culparia.

-Tenho certeza- Contudo, foi isso que eu respondi. Tinha certeza que se deixasse a mínima borda de duvida Tom me convenceria de que era uma loucura. Ele não podia me convencer a sair daquele hospital, mas saberia me convencer disso, tenho certeza que sim.

-Então vamos ver onde vai ser o quarto dela- Disse rígido se levantando logo em seguida, eu o segui.

Minha casa tinha muitos cômodos, eu me orgulhava disso antes, achava que cada quarto servia para alguma coisa em especial, aquele onde tinham vários jogos, aquele onde eu fazia exercícios de academia, eram cômodos que não acabavam mais. Se me perguntassem há dois meses e três dias atrás se eu algum dia iria me desfazer dos meus cômodos, eu responderia “nem morto”. Agora olhem para mim!! Arrancaria todos os objetos de cada sala se fosse para o bem estar de Luiza, acho que quando falamos a frase “nem morto” esquecemos que mortos não sofreríamos por alguma coisa, mas vivos vendo outros morrendo, isso sim acaba com o ser humano.

-Difícil escolher um dos seus cômodos, você gosta de tudo aqui- Tom disse como se lembrasse do meu antigo eu, aquele Danny não existia mais, eu só estava esperando que Tom notasse isso.

-Vou escolher o da academia, fica do lado do meu quarto e é o maior da casa- Disse simplesmente e vendo que Thomas me encarava abismado.

-Danny, é o seu favorito- Ele disse, como se isso realmente importasse.

-Tom.. É só um cômodo- Acho que nesse momento ele finalmente notou a mudança, o antigo Danny jamais falaria isso, ele podia esperar que eu desse até nomes aos meus pesos, mas não que os chamasse só de “cômodos”. Depois do estado de pasmo em que Tom emergiu, nós começamos a limpar o quarto, o pior eram as esteiras, pesadas pra caramba. Deixei por ultimo o saco de boxe que usava, desamarrei-o do teto e levei para a sala de jogos, era onde tudo estava. A sala de jogos agora se misturava com a sala de academia e virava um belo.. Nada.

Depois de umas duas horas, onde já era o final da tarde e Tom tinha ido embora, a campainha tocou de novo revelando a família de Luiza. Pedi para que eles entrassem, provavelmente já estava tudo organizado para a mudança.

-Tem certeza que quer fazer isso Danny, é uma grande responsabilidade- Sra. Pohl disse olhando para a minha casa, pela primeira vez minha casa estava mais arrumada do que se eu tentasse arrumar, acho que o desanimo não me deixa nem bagunçá-la.

-Sim, eu tenho..- Falei antes que vacilasse na fala. Diogo me encarou com a testa franzida, acho que ele tinha algum poder de pegar a frase das pessoas e achar nelas o tom da duvida. Eu sabia que queria Luh perto de mim, só não queria ser o culpado pela sua morte. O que Diogo já considerava um fato.

-Eu vou vir no mínimo uma vez por mês aqui- Diogo disse enquanto seu pai o encarava, parecia que eles tinham tido uma bela conversa antes de chegar à minha casa- Meus pais não podem ficar indo e voltando, mas eu não me importo.

Balancei a cabeça apenas concordando com o que ele dizia, não é como se eu pudesse descordar. Ele era o irmão e eu não achava aquilo ruim, só um pouco constrangedor. Quer dizer, eu sabia que aquele garoto me odiava com todas as suas forças, mas ele não fazia idéia de que eu também me odiava, não sei provar a minha dor, acho que ela é visível demais aos olhos dos outros e até mesmo aos olhos de Diogo, a diferença é que os outros parecem considerar a minha dor boa o bastante para uma punição enquanto o irmão dela não, ele achava que eu merecia coisa pior e, bem, eu merecia.

-Os médicos devem estar para chegar, disseram para deixar a porta aberta para facilitar o processo, são muitos equipamentos- Sr. Pohl disse quebrando o silencio incomodo que tinha se estabelecido e eu concordei com a cabeça, minha casa viraria um hospital, eu estava plenamente ciente disso. Precisava me desfazer de mais um cômodo e dar o quarto a uma enfermeira que ficaria diariamente na minha casa cuidando de Luiza. Caminhei até a porta abrindo a mesma e ao longe pude ver um carro branco chegar e parar bem em frente a minha casa.

-Sr. Jones, espero que tenha um quarto grande para a cama de hospital e os outros equipamentos- O homem de avental vinha na minha direção e apertava firme minha mão, eu apenas sorri de canto.

-O maior cômodo da casa já está pronto e vazio- Falei seguro, o homem ficou rígido me olhando sério.

-Isso é ótimo, bom ver que você está empenhado, a garota vai precisar dessa força- Força? Aonde ele viu força na minha fala? Eu estava mais cansado do que nunca, minha voz parecia sair como se areia estivesse impedindo o som, eu sentia a minha garganta ser arranhada só pelo ato de falar! Pensei até em contraria que estava fraco, mas acho que não era a melhor revelação que o Dr. teria. Por isso me limitei a acenar com a cabeça de forma positiva e sorri de canto.

Alguns fleches bateram no meu rosto enquanto eu dava passagem para as pessoas que levavam o equipamento para dentro de minha casa. Olhei na direção e alguns paparazzis pareciam se divertir com os vários ângulos que podiam usar para me fotografar levando em conta que eu não estava fugindo como sempre fazia. Minha mão foi automaticamente em minha testa, tentava amenizar o nervosismo e mais um fleche bateu em meu rosto, aquela foto sim devia ter ficado uma beleza.

-Esses caras não cansam?- Perguntou uma voz bem atrás de mim, eu não estava muito acostumado com a voz de Diogo ainda, normalmente ele se dirigia a mim apenas com raiva em seu tom, mas acho que aquela era a primeira vez que estava apenas perguntando com angustia sobre os homens que tiravam fotos da minha casa e conseqüentemente de tudo ao que acontecia.

-Você ficaria surpreso em como uma história dessas atrai mais ainda a atenção deles- Disse em resposta e o vi soltar à fumaça do cigarro para fora da casa. Fiquei com uma tremenda vontade de fumar também, mas nem tive tempo de comprar e pedir um cigarro para Diogo estava fora de cogitação.

-Uhn..- Ele se limitou a dizer, parecia zombar da minha cara, como se pensasse que eu amava toda aquela atenção. Tive vontade de gritar, “olhe para minha cara garoto! Estou exausto, por mim uma bomba podia cair naqueles caras!”, mas me controlei. Eu faria de tudo para não dar razão a Diogo, ele estava esperando por aquilo, por uma brecha, uma simples brecha para me culpar mais ainda. E eu com certeza cairia em depressão se ele conseguisse isso. Afinal, eu saberia que era verdade.

-Senhor Jones- Uma senhora rechonchuda e com os cabelos presos veio até mim tirando-me dos meus devaneios- Sou a enfermeira que ficará com você e Luiza.

O sorriso da senhora era acolhedor e eu dei graças por não ser nenhuma enfermeira atirada, apenas uma velha senhora com cara de mãe amável. Sorri de volta e dei passagem para que ela entrasse.

-Vou mostrar o cômodo de Luiza- Falei entrando na casa e subindo as escadas- Ainda vou precisar esvaziar um quarto para a senhora.. Fique a vontade e escolha o que quiser.

-Oh, não precisa ser tão gentil assim Sr. Jones- A mulher respondeu, bem, eu sei que não preciso ser gentil, o que aquela mulher cobrava por hora era uma facada no peito, uma facada que nem fazia cócegas em mim- E pode me chamar de Rose.

-Então me chame de Danny, afina, nem sou casado para ser chamado de senhor- E agora também não estou namorado. Uhul –ironia.

No final das contas Rose escolhe um cômodo pequeno, ainda bem, seria bem complicado tirar todas as coisas da sala de jogos se ela o escolhesse e eu ficaria sem ter aonde colocar tanta coisa. Tudo estava montado e devidamente no seu lugar, agora já era seguro remover Luh de seus aposentos no hospital e trazê-la até minha casa, senti um nervosismo passar pela minha garganta ao ver a ambulância parando na frente da minha casa. Os pais da garota estavam no andar de cima e Diogo fazia questão de ficar me vigiando, como se eu fosse pular em cima da cabeça de sua irmã!

A maca com Luh saiu da ambulância, ela era carregada com o maior cuidado para dentro da minha casa, mas ainda não escapava dos fleches.

-Querem dar um pouco de privacidade? Credo!- Rose tinha ido até onde estavam os paparazzis e os mandavam embora como se fossem pombos, abanava a mão e fazia alguns olharem dos paparazzis se voltarem para ela meio tortos. Eu não tive como não sorrir ao ver aquilo, ela realmente lembrava uma mãe cuidando de seu filho, mas quem seria o filho no caso? Seria muita bondade da parte dela se fosse eu.

Luiza foi levada para seu quarto em etapas, era importante que todos os equipamentos estivessem ligados nela, então subir as escadas foi meio trabalhoso, me lamentei por não ter escolhido algum cômodo do andar de baixo.

-Não se preocupe, o andar de cima é melhor mesmo, ficará perto do seu quarto- O Dr. Jonathan (tinha acabado de lembrar o nome do médico que cuidava do caso de Luiza, veja como minha memória anda boa) me tranqüilizou enquanto tomava o cuidado com alguns fios ligados a Luh.

Quando tudo finalmente estava parado e no seu devido lugar as pessoas saiam aos poucos, no final deixando apenas a enfermeira Rose, os pais da menina e seu irmão... E bom, eu.

-Tudo parece ter dado certo então- Comentou Sr. Pohl sorrindo para a filha desacordada e passando a mão em seu rosto- E já não onze da noite, acho melhor irmos.

-Eu não vou- Diogo disse ainda sentado na cadeira e encarando com firmeza a cama da irmã.

-Claro que vai mocinho, não podemos ficar aqui, amanhã temos que pegar o vôo de volta para o Brasil e são às seis da manhã! Você não vai dormir aqui.

-Ahn.. Se ele quiser dormir Sra. Pohl- Disse tentando ser educado, mas desejando com vontade que ela não deixasse, Diogo tinha a capacidade de piorar meu estado de culpa e eu realmente não precisava disso. Ou precisava.

-Viu? Ele disse que posso..

-Mas nós estamos dizendo que não- A voz de Sr. Pohl foi rígida, nunca o ouvi ser tão categórico antes e acho que essa era a certeza que eu tinha de que Diogo não dormiria ali.

-‘Ta. Droga- O menino disse se levantando e passando por mim como um furacão, prensei meus lábios fazendo meu rosto parecer uma careta.

-Não precisam se preocupar, eu cuidarei dela.

-Sabemos bem disso, sabemos até demais Danny.. Só não se esqueça de cuidar de si- Sra. Pohl sorriu com doçura e saiu do aposento. Acompanhei a família até a porta, isso é, os pais de Luiza já que Diogo estava sei lá aonde, provavelmente no carro esperando os pais.

-Obrigado por tudo Danny..

-Não agradeça Sr. Pohl, me sinto mais culpado

-Chega de se lamentar garoto. Escute bem, eu sou o pai dela e o que está feito está feito. Agora só quero que Luiza melhore e você parecesse ser o melhor remédio que ela poderia ter, ajude a minha filha a sair dessa.

-Eu não sei se consigo mais prometo que vou tentar com todas as minhas forças Sr.

O homem a minha frente sorriu segurando meu ombro e falando mais baixo como se fosse um segredo de estado que estava prestes a me revelar.

-Luiza significa lutadora, então ela vai achar um jeito.. Só faça o que já estava fazendo.

Dito isso ele se afastou indo até seu carro, Diogo estava ali discutindo com sua mãe, mas não era isso que tomava conta da minha mente e sim o que Sr. Pohl tinha acabado de dizer. Luiza significa lutadora, então ela vai achar um jeito. Era bom que achasse, ou eu acharia


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