Redemption escrita por SakyChan


Capítulo 2
Capítulo 1




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Capítulo I



O dia estava nublado, com cara de que ia chover mais tarde. Dei uma olhada pelo retrovisor do meu carro. Ah, não. James Spencer havia estacionado bem atrás de mim. Eu obviamente queria esquecer o que havia acontecido, mas parece que eu estava em uma maré de azar. Justamente hoje, o primeiro dia de aula. Finalmente o último ano.

Eu sou aquele tipo de garota que odeia chamar atenção, dá para ler na minha cara, pois está estampado nela. Mas eu sempre conseguia chamar atenção. E nos piores momentos. Era como se eu atraísse má sorte. Pensei um pouco. Talvez o governo estivesse precisando de uma máquina de destruição em massa e eu poderia me candidatar ao cargo. E pensar que algo de ruim (para mim) pudesse acontecer, minutos antes de começar a aula, fazia meu estomago embrulhar. Nunca mais como tacos antes de dormir.

Puxei a aba do meu boné de forma que tampasse quase o meu rosto inteiro, respirei fundo, peguei meus livros e sai do carro. Ter um Mustang 1968 sempre fora meu sonho, principalmente depois de assistir Sobrenatural e ver o sexy Jensen Ackles dirigindo um. Pensando nele até que James era parecido com ele. Alto, cabelos bem curtos e meio loiros, olhos esverdeados... Tá, eu já estava começando a babar. Mesmo depois do fim trágico da nossa relação, há três meses, eu não conseguiria olha-lo e não suspirar. James Spencer era um dos caras mais desejados por 99% da escola e não me pergunte como conseguimos namorar. Principalmente pelo fato de eu andar só com meu velho jeans, camisetas de rock ou básicas e o meu também velho All Star. Resumindo: não tinha como eu chamar atenção de um cara desses! Mas em um fatídico dia, no qual eu derramei meu almoço inteiro nele, acabamos nos conhecendo. E ele acabou se interessando por aquela garota anti-social e nada chamativa.

Abracei meus livros enquanto corria contra o vento, prestes a arrancar a minha única proteção: o boné. Isso, mais alguns passos e eu conseguiria chegar até à entrada e finalmente estaria fora do campo de visão dele e das garotas líderes de torcida que já se amontoavam. Então o malvado destino entrou em ação. Não sei como, mas tropecei em um dos meus cadarços e cai. Depois do baque e o barulho de livros e Zoey caindo no chão veio o silêncio. Contei até três, mas foram mais rápidos. Logo todos que estavam no estacionamento estavam rindo. É, acho que minha nada agitada vida social acabou de vez. Podia sentir minhas bochechas queimando. Ajoelhei-me e juntei todos os livros esparramados enquanto repetia silenciosamente que nunca mais voltaria à escola. Talvez Vovó entendesse. Tomara.

Percebi, pelo canto do olho, que James havia me reconhecido. Então vi que meu boné tinha voado durante a queda e estava a dois quilômetros de distancia. Resmunguei baixinho enquanto ele andava até a minha direção. Eu sabia o que ele iria fazer. Ia me humilhar até ver que eu não passava de um monte de roupa usada. Estava na cara que ele era daqueles que pegavam todas só para se divertirem e depois descarta-las. Só que ás vezes eles não importam se estão namorando e traem. Foi por isso que liguei para ele naquele dia e pedi para que terminássemos. Por causa de uma maldita traição. Amaldiçoei as lágrimas que chegaram em meus olhos, mas segurei-as. Droga. Acho que nunca conseguiria passar em um lugar sem ser percebida.

– Zoey! Hey. – ele se ajoelhou ao meu lado e levou a mão ao último livro caído. Peguei-o bruscamente. Ele fingiu não perceber. – Eu te liguei várias vezes, mas você não atendia.

– James. – respirei fundo, lutando contra o mar de emoções que ameaçavam explodir. – Você sabe o que significa a palavra: acabou? – me levantei e comecei a andar, mas sua mão segurou meu braço.

– Espera. Você me acusou injustamente. – me virei para encará-lo, nervosa.

– Injustamente? James, eu o vi lá. Parado, beijando aquela garota. – as imagens voltaram à minha mente, confusas. Eu lembrei daquela festa, comemorando o verão. Afastei-me um pouco e depois o vi beijando outra garota. E não era só uma garota. Era Lindsay. Uma das líderes de torcida mais antipática que existe.

– Deixe-me explicar. – me soltei dele bruscamente. – Eu fui beijado à força.

– Sério? – ri sem nenhum humor. – Pois parecia que você estava gostando, até entrelaçou a cintura dela!

– Zoey, não é isso... – comecei a andar de volta à escola.

– James, me deixa em paz. Você... Você não pode simplesmente me esquecer?

– Não consigo.

– Sinto muito desapontá-lo, mas já o esqueci. – quase corri até a escola. Eu sabia que eu tinha mentido, mas não ia dizer isso na frente dele. Eu consegui tirar James dos meus pensamentos só um pouco, mas o meu lado mais teimoso insistia em conservar lembranças dele.

Podia sentir o olhar de todos concentrado em nós. Aposto que deveriam estar pensando “finalmente ele se livrou desse troço”. Ao entrar no corredor apinhado de alunos, tentei me misturar com a alegre multidão. Obviamente sem sucesso algum. Eu era a única com uma careta de raiva e tristeza no rosto. Pelo menos, enquanto conversávamos consegui evitar ao máximo olhar para o rosto dele, pois sabia que, se olhasse, eu desistiria de tudo e correria para os braços dele. Fui em direção ao meu armário, imersa em pensamentos quase suicidas.

Estava tão distraída que acabei esbarrando em uma pessoa na minha frente. Era um garoto, ele estava de costas para mim. E quando ele se virou... Meu queixo quase caiu – literalmente. Ele deveria ter mais de 1,80m, tinha os cabelos castanhos meio compridos e bagunçados, com um corpo magro e atlético (Graças a Deus, não era extremamente musculoso) e olhos de uma estranha tonalidade dourada. Estávamos tão perto que pude sentir seu cheiro. Não era aquelas colônias em que os caras tomavam banho. Era algo melhor. Eu até diria exótico e sedutor. Diferente.

Consegui me recompor o suficiente para me desculpar.

– Me desculpe. – ele sorriu.

– Sem problema. Evan. – ele esticou a mão, ou pelo menos tentou devido à proximidade. Sem perceber dei um passo para trás. Apertei a mão dele.

– Zoey. – consegui sorrir de volta. Ele com certeza percebeu que era um sorriso forçado. Virei-me e abri meu armário.

– Você está bem? Não precisa responder se você não quiser. – respirei fundo.

– Estou. – pensei durante uns segundos. – Na verdade não. Eu achei que aguentaria, mas... – eu estava desabafando com um garoto que eu mal conhecia. Nossa.

– Aguentar? – quando o olhei quase me assustei com a intensidade de seu olhar.

– Terminei com meu namorado. Faz alguns meses, mas só de vê-lo... É difícil. E ele ainda veio pedir desculpas.

– Você não aceitou. – não era uma pergunta.

– Não. Esse é o ruim de começar um relacionamento. Você tem que se preparar para o que quer que aconteça, mas quando acontece... – dei uma risada forçada.

– Não foi sua culpa. Você deveria seguir em frente. O tempo cura as feridas, pode ficar cicatrizes, mas você consegue se recuperar. Sempre. As pessoas mudam, mas o seu passado não. – ele piscou e saiu. Fiquei parado pensando se não estava sonhando acordada.

A última frase dele ficou presa na minha cabeça. Parecia que ele estava falando de outra coisa, de outra pessoa. Talvez ele estivesse falando dele mesmo. Ainda fiquei lá, parada quando percebi que todos já estavam indo para as salas. Olhei para a entrada. James estava andando, com aquele séquito de idiotas atrás dele. Pela sua expressão ele não parecia muito contente. Fechei meu armário e fui andando rapidamente para a sala. Eu iria evitá-lo o máximo possível. É, eu iria seguir o conselho de Evan. Mesmo que fiquem algumas cicatrizes, e eu já estava cheia delas, eu iria continuar.

Quando entrei na sala, que já estava quase cheia, me surpreendi ao ver Sun com um corte de cabelo Chanel. Ela tinha traços asiáticos, sua mãe era japonesa e o pai americano, então ela dizia que ela era “meio termo”. O novo visual tinha caído bem nela. Sorri, mas por pouco tempo ao perceber que a cadeira ao lado dela já estava ocupada. E quase não havia cadeiras vagas.

– Oi, Baby! – ela me abraçou. Não éramos grandes amigas, mas ela era o que eu tinha de mais próximo de amiga nessa escola. – Essa gorducha se sentou ao meu lado mesmo quando eu disse que já estava reservado. – ela resmungou baixinho e apontou para a garota ao seu lado. – Mas e aí? Como foram as suas férias? Algum gatinho? – ela piscou.

– Nossa calma. – levantei os braços. – Foram a mesma droga e não, nenhum gatinho.

– E o James? Você está bem? – só de ver minha cara ela juntou as sobrancelhas. – Nada bem, hein? Desculpa.

– Não se preocupe. Mas o único problema é aonde vou me sentar. – olhei ao redor.

– Ali! – ela apontou para a outra cadeira ao seu lado. As duas cadeiras estavam vagas. Sentei-me. – Prontinho baby. – ela sorriu. Então Evan entrou pela porta. – Wow!

O estranho é que ele deveria ter chegado antes de mim, pois saiu antes, mas isso não vem ao caso agora.

Sua expressão estava tensa, eu até diria entediada. Percebi que a maioria dos alunos estavam olhando para ele. E quem não olharia? Ele chamaria atenção mesmo estando em um salão cheio. Escutei Sun suspirar. Quando nossos olhares se cruzaram, senti uma corrente elétrica passar pelo meu corpo. Até os pêlos dos meus braços arrepiaram-se. Novamente achei estranho. Um sorriso lento se espalhou pelo seu rosto. Podia sentir que minhas bochechas coravam-se. Não me surpreendi muito quando ele se sentou ao meu lado.

– Zoey. Você novamente. – parecia que ele curtia uma piada interna.

– Evan. – consegui dizer.

– Vocês já se conheciam? – Sun perguntou. – Eu sou a Sun. – ela disse quando ele se inclinou e a olhou.

– Evan. – ele se virou para mim. – Que coincidência. Vou tentar não me surpreender se tivermos outra aula juntos.

– Eu chamaria de destino.

– Destino? Não acredito muito em destino. Acho que fazemos nosso próprio futuro e depois o chamamos de “destino”, ou de uma grande “coincidência”. – ele pôs os cotovelos em cima da mesa. Com isso seus músculos flexionaram um pouco e pude perceber que ele possuía algumas veias altas em seu antebraço. Achei aquilo tão... Sexy.

– Sábias palavras. Parece que foram ditas por alguém que não crê muito.

– Crer em exatamente o que? – ele perguntou, em tom de desafio. Pensei durante alguns segundos.

– Crer que algo, ou alguma força superior, controla nossa vida, nossos passos, nosso futuro. Isso se tivermos futuro. – sorri, orgulhosa de mim mesma. Estávamos tendo um papo bem cabeça. Às vezes eu falava como uma velha, mas durante quase todo o tempo eu era uma adolescente normal.

– Sinceramente não creio nisso. – seus olhos ficaram mais escuros, como se no passado tivessem visto algo e não tivessem gostado do que haviam visto.

Parecia que ele tinha muita experiência para ter apenas 17, 18 anos. Ele parecia até mais antigo. Que estranho. E misterioso. E ele obviamente não tinha pensamentos de um adolescente. Nenhum garoto que conheço falaria assim. Ficariam boiando nessa conversa.

– Creio que fazemos escolhas.

– Bem, tudo é uma questão de perspectiva. É o seu ponto de vista, é o meu ponto de vista. – dei de ombros.

– Você não parece uma adolescente normal. – ele sorriu.

– Nem você. – então pensei em dar uma resposta mais cabeça ainda. - Afinal, o que é normal? É só um padrão imposto pela sociedade. – ele arregalou os olhos.

– Quantos anos você tem mesmo? – ele parecia surpreso, mas havia um sorriso brincando em seus lábios.

– Acho que a verdadeira pergunta é: o que vocês estão fazendo na escola? – Sun disse com uma careta. Nós três demos risadas. Então o professor entrou e quase chamou nossa atenção.

– Como é que alguém consegue comer isso? Ewww. – revirei um dos pequenos milhos que estavam na salada. – Estou quase desistindo do meu “vegetarianismo”.

– E eu já desisti faz tempo. – Sun disse, indo pegar um sanduíche nada vegetariano.

– Isso é interessante. Vocês reclamam disso, mas nem imaginam o que eu já comi. – Evan mexeu um pouco na salada. Quase pulei. Como ele havia aparecido do nada na fila, e bem atrás de mim?

– Que susto! – pus uma mão em meu coração, que estava a mil.

– Oh, desculpe. – ele continuou observando a salada.

– E o que você já comeu? Carne de javali? – falei a primeira comida “exótica” que me veio na cabeça.

– Já experimentou cobra? – fiz uma careta. – Até que javali também não é tão mal. – ele deu de ombros. Fiz um som de nojo e fui andando em direção a mesa, onde Sun já comia seu sanduíche ao lado de Kay e Chris.

Todos levantaram a cabeça e me olharam quando eu cheguei. Kay teve que segurar o queixo. Já ia começar a perguntar o que houve quando percebi que eles olhavam para um ponto atrás de mim. Virei-me bruscamente e dei de cara com Evan se aproximando. Ah, entendi. Ele realmente chama atenção.

– Oi Zozo. – elas conseguiram balbuciar. Chris acenou. Então vi que ele tinha tirado os óculos. Não estou criticando ele, mas Chris era muito nerd. Ele não usava aquelas roupas descoladas, tirava A em todas as matérias e usava óculos. Resumindo: ele sempre nos salvava quando estávamos prestes a ser reprovadas. Agora que ele estava sem óculos ele ficou extremamente diferente. Até diria bonitinho.

– Chris, cadê os seus óculos?

– Finalmente substitui-os por lentes. – pude perceber que ele corou um pouco.

– Olá. Posso me sentar aqui? – escutei Evan perguntar. Ele estava com o sorriso perfeito.

– Claro. – as duas disseram juntas.

– Droga, esqueci o ketchup. Já volto. – ele se virou e saiu andando até o balcão.

– Oh, por favor. Tentem agir normalmente e não fiquem com essas caras de retardadas. – implorei. – Ele é só um garoto.

– E que garoto! – Sun quase gemeu.

– Bumbum super sexy. – Kay suspirou. Chris revirou os olhos.

– Tenho medo de vocês. Um dia estarei andando normalmente pelo corredor e não ficarei surpreso se ver uma de vocês pularem em um garoto e começarem a brigar. – ele reclamou. Eu adorava ver as discussões dos três, tinha vezes em que elas se estendiam durante vários minutos. Chris só dava respostas inteligentes e críticas enquanto Kay e Sun preferiam falar sobre a preferência sexual dele (chamando-o de gay). Se bem que o fato dele não namorar nenhuma garota era um pouco estranho. Oh, não é hora de curtir com o garoto.

– Cala boca, quatro-olhos. – Kay mal o olhou.

– Ahá! – ele gritou. Olhamos para ele assustadas. – Não estou usando óculos mais.

– Mas continua retardado. – Sun debochou.

– E todo garoto que nasce torto? – Kay sorriu.

– Morre torto! Yeah! – elas quase pularam da cadeira.

– O que eu faço com as duas? – Chris as observava com aquele olhar.

– Não sei. Interne-as, pequena. – ele respondeu. Pequena era uma espécie de apelido inventado por elas. Ele também aderiu.

– Voltando ao assunto: garoto-novo-super-gostoso. Conte mais Sun!

– Ele está sentando ao lado dela quase todas as aulas! – Sun me apontou.

– Nossa Zozo! Que sorte. Será que consigo ter uma aula com ele? E se eu mudar o meu horário? – Kay quase pulava na cadeira.

– Daqui a pouco vocês irão convidá-lo para sair conosco no próximo final de semana. Hum, até que é uma boa idéia. – eu não queria dizer isso, mas não consegui me segurar.

– Como é que vocês conseguem ficar tão malucas por um cara? – Chris fez uma careta. – Zoey, você me decepcionou.

– Desculpe. Saiu sem querer.

– Homens não entendem. Esquece, é muito difícil compreender o sexo feminino. – Sun abanou a mão em um gesto de deixa pra lá. Então Evan chegou com quase um litro de ketchup.

– Uau, como você conseguiu tanto? – Kay quase o comia com os olhos.

– Até que foi fácil. – ele deu de ombros. – É um vício.

– Tenso. Você nem acredita qual é o meu. – Sun bebeu um pouco da sua coca.

– Qual? – ele perguntou, com os olhos em certo tom de desafio.

– Eu tenho uma estranha mania de olhar para o braço dos rapazes. Ficar observando aqueles músculos. É até excitante. – Chris fez outra careta.

– Nossa. – Evan olhou para seu braço.

– Pelo menos o meu vício é o mais saudável aqui. – respondi.

– E qual é o seu vício saudável? – Evan se virou com um olhar malicioso.

– Haha, não é esse que você está pensando.

– E no que eu estava pensando? – ele disse inocentemente. Revirei os olhos.

– Você fez um carinha nada inocente. O que espera disso?

– Eu não pensei em nada... Desse tipo. Você é que pensou. E se quer saber minha opinião, nenhum vício é saudável. É um vício.

– Oh, eles vão começar com aqueles papos cabeças. – Sun gemeu. – Não sei como eles conseguem falar sobre tanta coisa chata.

– Isso porque você não tem tempo para filosofar sobre a vida. – dei de ombros.

– É porque eu gasto o meu tempo com coisas mais úteis. Tipo falar sobre moda, garotos.

– É tudo que há de bom. – Kay completou e as duas bateram as mãos.

– Pelo menos Zoey não é tão fútil. – Chris resmungou audivelmente.

– E é isso que me deixa intrigado. – Evan sussurrou tão baixo que quase jurei que era só o vento. Mas não havia vento no refeitório. A não ser que o ar condicionado esteja sussurrando por aí. E isso é pouco provável. Até parecia que ele tinha sussurrado em minha mente, pois no momento em que o olhei ele estava ocupado mastigando seu sanduíche entupido de ketchup. Novamente aquilo era estranho.

Pelo menos durante o resto da semana foi interessante. Mesmo que o final de semana tenha sido entediante, só conversando com Sun pelo telefone, o próximo final de semana seria bem melhor. Cinema! Evan e eu conversamos mais como adolescentes, mas um pequeno fato apareceu para estragar a minha outra semana. Evan começou a andar e falar com Lindsay. Até fiquei um pouco feliz ao vê-la desprezando James, mas vê-la andando e rindo falsamente com Evan foi difícil. Não sei direito como explicar, mas ele não parecia se encaixar naquele modelo de casal estúpido e fútil que todas as escolas têm que ter. Ele merecia coisa melhor. Lindsay o exibia como um troféu pelo corredor. Como se ter conquistado o calouro logo na primeira semana fosse algo que merecia um mérito. Talvez ela até esteja esperando que o presidente venha parabeniza-la por ter sucedido em sua busca por carne fresca e boa.

E Evan se comportava um pouco estranho com ela. Como se ela que fosse a presa, e não ele. Como se ele só estivesse ao seu lado por causa de uma coisa. É, cogitei algumas vezes que ele queria só um pouco de “diversão” no banheiro feminino durante o almoço, mas descartei a idéia. Ele até poderia querer isso, mas algo me fez pensar que não. Uma vez, no refeitório, sai um pouco antes de dar o sinal e em um canto do corredor encontrei Evan com mais alguém. Era uma bela mulher. Ela tinha os cabelos curtos e negros com olhos que pareciam duas esmeraldas. Ela era bem baixinha perto dele, mas ela não parecia indefesa e frágil. A conversa entre eles parecia meio tensa. Escondi-me atrás de um dos armários e acabei escutando. Bem, escutei porque estava muito curiosa e porque se tratava de Evan, ‘o misterioso’.

– Está demorando. As memórias dela são difíceis de ler, as imagens aparecem um pouco confusas. Até agora não vi nada que parecesse animador. – ele parecia impaciente.

– Tenho certeza que você as conseguirá de volta. É só ter um pouco de paciência.

– Tá. Alguma notícia?

–Nada interessante. Acho que Lucius percebeu o que você quer fazer e obviamente não está contente.

– E daí? Ele nunca me perdoará mesmo, por que tenho que desistir dos meus planos por causa dele? Sei que algo grande está por vir, as ocorrências de exorcismos aumentaram, por isso quero recuperá-las. Minha posição aqui não será muito favorável quando essa guerra explodir. Será que alguma Porta foi aberta?

– Se tivesse sido saberíamos. As memórias dela continuam confusas? A Visão ainda não foi muito bem aperfeiçoada, ela só tem 17 anos ainda. E ela não tem uma descendência direta.

– É eu sei. Só estou ao seu lado porque preciso dessas premonições. Pelo nome Dele, você nem sabe o que eu também tive que ver ao olhar as memórias. – quase pude ver um indício de um sorriso malicioso.

– Não sei por que, mas ela tem cara de ser “dessas” garotas. Percebi que ela quase o come com os olhos. – os dois deram uma risada.

– Pelo menos posso contar com a sua ajuda de hoje em diante.

– Com se eu não estivesse ao seu lado durante todos esses séculos.

– Só que agora quero me redimir. Mesmo que tenha que aceitar essa posição. Acho que não vou escolher aleatoriamente. Talvez um humano que seja interessante, ou uma humana que seja atraente. – uma risada maliciosa e um leve tapa. Ela tinha batido no seu ombro.

– Essa sua sexualidade exagerada. – ele revirou os olhos.

– Tenha um bom dia Chrysella. – ele esfregou o ombro.

– Heather. Só me chame de Heather. Não esqueça. Estamos em um local público e cheio de adolescentes com hormônios à flor da pele. – o sinal bateu, me assustando. Com a multidão enchendo novamente os corredores, aproveitei para me misturar.

O que foi aquilo? Tentei processar tudo em etapas. Memórias de alguém. Evan tentava “ler” as memórias de alguém. E ao que tudo indicava era Lindsay. Mas como assim premonições? E o que ele teve que ver? É, ela realmente tinha cara de ser “dessas” garotas. O que Evan tanto quer conseguir de volta? Quem era aquela mulher? Nunca a tinha visto antes aqui. Quem era Lucius, o que Evan fez que ele nunca o perdoará? Exorcismos?

Balancei minha cabeça em uma inútil tentativa de apagar tudo que eu tinha ouvido. Depois de alguns minutos acabei concluindo que Evan deveria estar envolvido naquelas seitas estranhas que sacrificam animais ou algo parecido. Então me lembrei daquela frase dela. Séculos. Como assim séculos? Deveria ser um modo de falar, mas o jeito que ela disse não tinha nenhum humor. Passei a aula inteira pensando nisso e acabei ficando com uma dor de cabeça. Gemi só de pensar que teria que encontra-lo na próxima aula. Então quando ela entrou na sala afundei na cadeira. Era ela. A mulher chamada Heather. Ou Chrysella, tanto faz.

Quando a secretária disse que ela seria a nova professora de literatura que estaria substituindo o Sr. Marsden meu queixo caiu. Que pesadelo. Ela tinha um sorriso perfeito no rosto. Além de ter que aguentar Evan, também teria que aguenta-la. Resolvi que iria evitar os dois, principalmente Evan. O que quer que ele quisesse eu não tinha nada a ver e adoraria manter assim. Pronto, eu manteria uma distancia saudável e não gostaria de aproximações. Mas não pensei que seria tão difícil.

Na última aula, enquanto eu tentava me concentrar no texto – sem sucesso, pois a dor de cabeça estava me matando – ouvi Sun convidar Evan para sair conosco no sábado. Um filme de terror havia estreado e tínhamos combinado de assisti-lo no próximo final de semana. Depois de ele ter aceitado, tentei dizer a Sun que iria sair com minha avó nesse dia, mas ela não aceitou desculpas principalmente quando o gato do Evan iria. Só de pensar em como seria o próximo final de semana minha dor de cabeça aumentou até ficar insuportável.

– Você está bem? – escutei Evan perguntar. Comecei a massagear as têmporas.

– Sim. Não sei o porquê, mas ultimamente ando tendo essas dores de cabeça. – gemi, dando ênfase a minha dor.

– Posso tentar algo? – sem perceber acabei concordando.

Ele pos as mãos acima dos meus olhos, um pouco para o lado. E fechou os olhos. Ele começou a fazer movimentos circulares com os polegares até que comecei a sentir que a dor estava diminuindo. Fechei os olhos. Ficou tão fraca que quase nem a sentia mais.

– Nossa. – suspirei e abri meus olhos. – Como você fez isso? – ele sorriu.

– Pode se dizer que nasci com isso. E não, não sou um profeta ou curandeiro. – ele riu a até me permiti um sorriso. Então me lembrei da conversa. A seita, isso deveria ser algo que ele aprendeu com seus mestres ou algo parecido. Era um pouco difícil de acreditar que ele fazia parte de uma quando ele dava um sorriso tão belo.

– Poxa. Você até pareceu um anjo agora. – Sun disse baixinho para Evan. Quase ri. Ele poderia ser qualquer coisa menos um anjo.

– Anjos não existem. – respondi.

– Quem sabe. – ele disse e piscou, voltando sua atenção ao texto.


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