Um Mundo Distante escrita por Autobahn


Capítulo 4
Capítulo 4




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Rodovia BR-277, Paraná, três semanas depois

- Pô, Natsumi! Já estou no pé da serra de Campo Largo e você me liga para voltar à Curitiba?!? - Pablo berrava em Português ao celular, enquanto parava o Maverick amarelo de Miyuki (que ele trouxera para a capital paranense para uma revisão) no acostamento da rodovia BR-277 - Já fiz um favor para a Miyuki em trazer o carro dela para uma revisão aqui... Por quê não disse antes, merda?

- Desculpe, Pablo... Minha amiga que está chegando de Tóquio acabou de me ligar e disse que já chegou no aeroporto de Curitiba - Natsumi estava em seus típicos passeios de moto durante sua folga e telefonava de uma estrada na região de Ponta Grossa - Faz esse favor para mim... Ela não conhece absolutamente nada daqui e não sabe como chegar à Nuova Perugia! Por favor, faça isso por mim!

O rapaz baixou a cabeça junto ao volante, se desculpou para sua amiga nipônica e concordou em ir até o Aeroporto Afonso Pena, onde pegaria uma conhecida dela que estava chegando do Japão. Desligou o celular, pegou o retorno no início da serra e retornou para Curitiba em alta velocidade, ignorando os radares presentes na estrada.

Antes de chegar ao aeroporto, Natsumi ligou novamente para Pablo, avisando-o que sua amiga já estava no lado de fora do aeroporto, junto ao ponto de táxis. Ele respirou aliviado, pois não precisaria usar o estacionamento e pagar uma fortuna para deixar o carro por algumas horas lá.

- Setor de desmbarque... É só chegar, pegar a guria e voltar para Nuova Perugia... - disse o garoto para si mesmo, já ansioso para voltar à sua cidade, distante 120 Km de Curitiba - Segundo as instruções, é uma garota de estatura mediana, olhos bem puxados, cabelos castanhos curtos e quatro malas, vestindo camiseta branca e calça jenas escura; ah, e é peituda.

Pablo parou o carro bem atrás de um táxi e imediatamente encontrou a garota que o esperava. Desceu do Maverick rapidamente e foi ao encontro dela.

- Boa tarde - disse, em Japonês - Você deve ser amiga da srta. Natsumi Tsujimoto, né? Sua amiga te mandou buscar-a, pois ela não pôde vir...

- Ah, boa tarde... - a menina de 23 anos se curvou em reverência - Entendo. Você é o namorado de Natsumi, né?

- Não, não! - Pablo ficou assustado com a declaração - Apenas um amigo, nada mais! - apontou para as malas - Quer uma ajuda até o carro?

- Sim, claro! Pode pegar-as... Aliás, como você se chama?

- Meu nome é Pablo Speranza. Muito prazer - as malas estavam tão pesadas que a traseira do Maverick afundou - E o seu?

- Prazer, Pab... Pabur... Droga, não sei falar o seu nome....

- Me chame de "gaijin", OK?

- Sim, Gaijin! Assim fica melhor - ela deu uma leve risada - Me chamo Konno Mitsune; mas, pode me chamar de Kitsune, por favor...

- Também, você tem uma cara de raposa mesmo.... - um dos maiores defeitos de Pablo era a sua sinceridade em falar o que pensa - Como você e Natsumi se conheciam?

- Ela frequentava um bar perto de onde eu morava... Depois de uma bebedeira histórica e sem ter como ela voltar para casa, nos tornamos amigas, hehehehehe.....

Pablo não disse nada, e logo os dois entraram no carro, que não mostrou nenhuma deficiência para acelerar com carga extra no porta-malas.

De volta à serra da Campo Largo, já fora de Curitiba, Kitsune estranhou o silêncio do rapaz, muito concentrado ao volante.

- Você é calado assim mesmo? - perguntou.

- Ah? - Pablo ouviu a pergunta - Ah, não... É que estou meio cansado, só isso.

- Entendi... Me diga: essa cidadezinha para onde vamos é muito longe? Achava que ela ficava em Curitiba...

- Não muito. Chegaremos em meia hora, se nada der errado - Pablo trocou de marchas e fez o Maverick voar baixo na BR-277 - Mas, Kitsune, por que você veio ao Brasil? Férias?

- Não, Gaijin... Eu vou trabalhar na loja da irmã de uma amiga que morava comigo no Japão - ela acendeu um cigarro - Eu estava feliz onde eu morava; mas, as coisas ficaram tão deprimidas por lá que não pensei duas vezes em aceitar o convite para vir aqui.

- De onde você é, Kitsune? - de repente, um motoboy apareceu do nada na frente do carro - Filho da puta! - gritou, em Português.

- Nasci em Osaka; mas, eu morava numa pensão em Hinata, perto de Tóquio - ela novamente riu - Semana passada, rolou um casamento lá; uma festa fantástica, Gaijin!

- Casamento?

- Sim! O banana dono da pensão onde eu morava se casou com minha melhor amiga, que também vivia lá... Não sei como aquele frouxo conseguiu conquistar uma garota tão bonita e inteligente como ela.

- Entendo... Banana é o que não falta neste mundo, sobretudo neste país - no rádio, um blues do Country Joe & The Fish invadia o interior do carro - Você vai trabalhar na Kazoku? Ela vai abrir neste sábado.

- Exato, na Kazoku! Sabe, estou tão ansiosa em começar a trabalhar lá... Quero aprender Português e ficar aqui no Brasil para sempre - Kitsune olhou atentamente para o rapaz - Gaijin, você é italiano?

- Nasci no Brasil, mas meus avôs vieram da Itália. Entretanto, minha família mora no Uruguai; meus pais morreram num acidente aéreo há alguns anos atrás e moro com a Natsumi em Nuova Perugia, onde faço faculdade. 

- Sinto muito... - ela olhou para as montanhas próximas de Ponta Grossa - Olhe, Gaijin... Vou puxar um sono, pois 30 horas de voo e três aviões não é fácil. Me acorde quando chegar à cidade?

Pablo acatou o desejo e voltou a sua atenção ao volante. Depois de meia hora, ele finalmente entrou em Nuova Perugia, onde encostou o Maverick num mercado no centro da cidade.

- Kitsune, chegamos! - acordou a garota - Vamos descer um pouco, pois vou comprar algumas coisas para mim.

- Hum... Já? - a menina saiu do carro, meio sonolenta, e olhou para a rua - Pô, tua cidade é bonitinha, hein, Gaijin? Parece a Europa...

Enquanto os dois saíam do carro, uma scooter (pequena motocicleta automática) Suzuki vermelha estacionou bem ao lado do Maverick; sua piloto era uma jovem mulher, de estatura mediana, quimono azul, cinta vermelha, cabelos negros longos e bem lisos, pele relativamente branca e um capacete vermelho, pelo qual só se podia ver os olhos levemente puxados dela.

- É normal ver pessoas de quimono andando por aqui, Gaijin - Kitsune sentiu algo estranho ao ver a garota, ainda com o capacete na cabeça - Engraçado... Ela me parece alguém que conheço...

- Não... Apesar de ser uma colônia japonesa, não é comum ver mulheres de quimono aqui. Aliás, essa mulher parece ser nova aqui... Nunca a vi antes.

Ao descer da scooter e ver Kitsune com Pablo, a garota se assustou e tirou lentamente o capacete, revelando seu rosto. A japonesa de Osaka levou um grande susto, enquanto a menina de quimono a reconhecia, com lágrimas nos olhos:

- Kit.... Kitsune! Kitsune! É você? É você?

(continua)


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