Um Mundo Distante escrita por Autobahn


Capítulo 3
Capítulo 3




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Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,

 I'm not sleepy and there is no place I'm going to

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me        

In the jingle jungle morning I'll come followin' you.

Pablo abriu os olhos ao ouvir o seu despertador tocar uma canção de Bob Dylan, um dos seus cantores favoritos, e se assustou ao ver as horas que o aparelho mostrava:

- Bah! Dez horas! Tenho que ir para a faculdade! - gritou, enquanto se levantava da cama em um pulo.

Não demorou muito para o jovem rapaz trocar de roupa, fazer a sua higiene pessoal e correr para a cozinha, onde esperava tomar um belo café da manhã. Entretanto, Pablo pensou um pouco e percebeu que, naquele horário, Miyuki e Natsumi já estavam no trabalho, patrulhando as ruas da pequena Nuova Perugia; ele morava na casa das duas policiais japonesas (que conhecera numa viagem em Caxias do Sul, dois anos antes) há mais de um ano, desde a sua chegada ao Paraná para cursar Engenharia Civil na universidade.

Ao chegar na cozinha, um pequeno bilhete em Japonês estava sobre a mesa. Pablo já dominava o idioma nipônico e leu o conteúdo da carta:

Pablo,

Desculpe-nos por não ter deixado café-da-manhã para você. Estamos na porta da universidade numa operação de trânsito para evitar confusão no local. Miyuki está comigo e ela voltará mais cedo para casa, pois irei levar minha motocicleta para o conserto. Nos falaremos hoje à noite,

Beijos,

Natsumi Tsujimoto

Após ler a carta, Pablo beijou o papel, colocou seus óculos escuros, saiu da residência e começou a descida da rua até o terminal rodoviário, onde pretendia tomar um ralo café com pão-de-queijo antes de pegar o coletivo até a faculdade, localizada no outro lado da cidade.

Caminhando, ele percebeu que Nuova Perugia não mudara nada. Fundada como uma colônia italiana no começo do Séc. XX, a pequena cidade recebera também uma grande colônia japonesa oriunda do litoral brasileiro durante a II Guerra, quando o governo Getúlio Vargas ordenou a retirada de imigrantes japoneses e alemães das cidades litorâneas. Entretanto, a cidade só se desenvolveu de verdade quando uma multinacional norte-americana implantou uma enorme fábrica de cimento na década de 1950; mas, foi com a criação da Universidade do Sul pelo governo militar, em 1966, que Nuova Perugia passou a ser conhecida como "cidade acadêmica". Desde então, a pequena cidade de 27.000 habitantes (metade descendentes de italianos e outra de japoneses) figurava entre as melhores do continente, com alto padrão de vida.

Pablo tomou um café amargo com pão-de-queijo velho na moderna rodoviária de Nuova Perugia e se dirigiu ao ponto de ônibus urbano, quando uma garota de feições orientais, cabelos azulados, duas grandes malas e uma espécie de mochila cilíndrica o interrompeu, pedindo informações:

- Por favor... Como faço para chegar nesse colégio? - disse a garota, num Português mais ou menos e estendendo um pedaço de papel ao rapaz.

- Ah, você deve ser japonesa, né? - Pablo passou a falar em idioma nipônico, sorrindo.

- Você fala Japonês muito bem! Ainda bem... - a garota sorriu - Finalmente, alguém que me entende... Me diga: como faço para chegar à Academia Nipo-Brasileira? - ela se referia ao melhor colégio do Sul do Brasil, localizado no campus da Universidade e com vagas extremamente concorridas.

- Hum... Fica no campus da Universidade. Estou indo para lá também, nesse ônibus - ele apontou para um veículo DAF holandês amarelo - Vamos, então?

Sempre prestativo, Pablo ajudou a garota no embarque e, logo, o ônibus deixou a rodoviária rumo à Universidade.

- Primeira vez no Brasil? - ele começou a puxar papo com a menina.

- Sim... Eu acabo de ser transferida para esse colégio, depois do terremoto e da crise nuclear que está ocorrendo na região onde eu morava. Meu pai tem uma academia aqui no Brasil e achou melhor que eu viesse para cá. Como você se chama?

- Me chamo Pablo Speranza, mas pode me chamar de "gaijin". Meu nome é difícil de ser pronunciado em Japonês - ele riu, enquanto via o movimento nas ruas centrais pela janela do ônibus.

- Está bem, Pablo - ela disse o nome, sem dificuldades - Me chamo Busujima Saeko (N.A.: personagem de HighSchool of the Dead). Eu morava em Tokonosu, norte do Japão; mas, o terremoto e problemas numa usina nuclear próxima fizeram com que eu deixasse a região.

- Ah, sim, Saeko... - chamou pelo nome, ignorando a etiqueta japonesa de chamar os desconhecidos pelo sobrenome - E essa bolsa cilíndrica? Que é isso?

- É minha espada. Sou de uma família de samurais, um clã milenar que protegeu a família imperial japonesa por séculos. Mas, agora, provavelmente terei que ficar no Brasil durante um bom tempo, até que a poeira abaixe lá onde morava - ela olhou pela janela - Bonita cidade esta, né? Bem diferente do Brasil que me contaram no Japão...

Pablo ficou um pouco envergonhado; pois, morando no Uruguai, sentia na pele a imagem que o Brasil tinha no exterior, como um país de bundas, favelas, mulheres peladas, carnaval e muita violência. Mesmo assim, os dois novos amigos continuaram num descontraído papo até o fim da viagem, já dentro do campus da Universidade.

Ele se despediu de Saeko e logo caminhou em direção ao prédio do departamento de Engenharia, onde faria a rematrícula para aquele ano. O campus estava muito movimentada: era o último dia para a matrícula dos aprovados no último vestibular e o movimento era tamanho que ele desistiu de procurar pela suas duas amigas policiais.

Um outdoor no alto do morro que podia ser visto do campus (Nuova Perugia se localizava em um vale serrano) chamou a atenção de Pablo: KAZOKU, SUA NOVA OPÇÃO PARA APRECIAR A CULTURA JAPONESA. BREVE EM NUOVA PERUGIA.

- Kazoku... Que porra será essa? - disse o rapaz, intrigado e em voz alta.

- Pô, Pablo... Mas, que vocabulário, hein? - uma voz feminina carregada de sotaque oriental se dirigiu para o garoto, que se virou para trás: viu uma pequena oriental de cabelos negros longos montada numa motocicleta Ducati, que acabara de tirar o seu capacete vermelho.

- Oh, Natsuki? Você aqui? - Pablo a reconheceu: era sua amiga, Natsuki Kuga, uma pequena jovem japonesa de 18 anos que vivia no Brasil há um ano.

- Claro, né? Volta do Uruguai e nem liga para mim, seu safado? - uma das características da garota era seu pavio curto, uma legítima tsundere.

- Desculpe, Natsuki... Cheguei ontem de noite. Não é fácil viajar 23 horas de ônibus... - Pablo olhou para a moto dela - E essa moto? Bonita, hein?

- Meu pai me deu, por meio de seu amigo que mora em São Paulo. Foi um presente por eu ter passado no vestibular - ela sorriu - Irei te ver todos os dias agora, Pablito!

- Passou? Qual curso? - ficou espantado com a notícia.

- Medicina. Fui a segunda colocada no ranking geral.

- Nossa, que bacana! - Pablo olhou para a fila da rematrícula que crescia a todo instante - Natsuki, por que não dá uma passada em casa hoje à noite? Estou com um pouco de pressa.

Natsuki ficou meio nervosa por ver a sua conversa cortada, mas se conformou e deu um beijo no rosto de Pablo; em seguida, colocou o capacete e manobrou sua moto rumo ao departamento de Medicina. O rapaz vi a sua amiga se afastar e pensou:

- Esse ano vai ser bem longo... Bem longo mesmo...

- Pessoal, eu quero dar um aviso para vocês. Quero um minuto da atenção de todos! - Motoko entrou no hall da Hinata-sou e encontrou Keitaro e as moradoras assistindo a uma comédia na TV japonesa.

O jovem dono da pensão, herdada da sua avó Hina, se levantou do sofá e virou-se para a samurai.

- OK, Motoko. Pode falar para todos nós que iremos te ouvir. Deve ser coisa da sua irmã, né? - ele ainda estava nervoso com o escândalo que ela fizera na Todai.

- Exatamente - ela ficou em silêncio durante dois minutos, tentando criar coragem - Eu irei embora para o Brasil, com minha irmã, dentro de dois dias!

A notícia caiu como uma bomba nuclear em Hinata-sou.

- Brasil? Não é aquele país onde se dança o tango e tem aquele maluco general no poder? - disse Mitsune, chocada com a declaração de Motoko.

- Kitsune! - Naru a reeprendeu, chamado-a pelo apelido - Para da falar besteira! - virou-se para Motoko - Vai deixar o Japão? Por quê?

- Devido à minha reprovação no vestibular da Todai, minha irmã pediu para que a acompanhasse no Brasil, onde seu marido será transferido para uma fábrica de cimento lá existente. Foi o nosso acordo firmado antes das provas.

- Você nunca nos contou sobre isso - Keitaro não escondia a sua indignação e tristeza ao saber que uma das moradoras da pensão deixaria o país - E a academa de sua família? Seus estudos? Seus amigos aqui em Hinata?

- Meu pai ainda irá aguentar muitos anos em Kyoto. Quando ele morrer, voltarei para lá. Minha vida acabou aqui em Hinata e Tóquio; não tenho mais nada aqui!

Um clima de tristeza profunda invadiu Hinata-sou com muita força. Shinobu não conseguia segurar as lágrimas e Naru se sentia culpada em não ter se esforçado em ajudar Motoko durante os estudos do vestibular. Keitaro também se sentia mal ao ver uma das suas grandes amigas decidida a ir para o outro lado do mundo, numa terra muito distante.

- Tá. Já que a samurai irá embora, vamos fazer uma festa de despedida... Se quiser, ligo para a Su para que ela volte de Moru-Moru o mais rápido possível - sugeriu Mitsune - O que acham?

- Uma ótima idéia, Kitsune! - respondeu Keitaro - Por tudo que ela fez aqui na pensão, ela merecia muito mais que uma festa.. Não é verdade, Motoko? - percebeu que ela já não estava mais no hall - Motoko? Ei, Motoko?

Na varanda, a samurai olhava para as estrelas num céu límpido de uma noite gelada do inverno japonês. Estava triste e aliviada ao mesmo tempo; triste por não ter sido aprovada na Todai e aliviada por deixar a Hinata-sou, logo após descobrir que Keitaro e Naru haviam marcados a data de seu casamento. Tudo que ela queria era estar bem longe daquele lugar, e aquele desejo finalmente estava sendo realizado.

- Que Kami-sama me ajude em minha nova etapa no Brasil... Me ajude, por favor... - Motoko se ajoelhou e começou a rezar, com muitas lágrimas no rosto - Me ajude....

(contiuna)


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Notas finais do capítulo

Eh, amigos... Eis aqui mais um capítulo de minha fic. Ah, um recadinho para a turma do Nyah: eu tinha uma fic parecida de Love Hina chamada "Burajiru", com meu outro apelido ("Europeu"), lá no fundo do baú do site; peço para que deletem a história, pois não gostei da continuação e meu e-mail vinculada àquela conta expirou, impossibilitando o acesso (claro, 2007 está bem longe já, hehehehehe).Comentários são muito bem-vindos. Facebook? Tenho, claro: http://www.facebook.com/profile.php?id=100002461726390Até logo, amigos. Espero pelos contatos, hein?



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